The Charioteer

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The Charioteer
O Auriga (BR)
Autor(es) Mary Renault
Idioma Inglês
País Reino Unido
Género romance de guerra
literatura gay
Linha temporal 1940-1941
Localização espacial Inglaterra
Editora Longman
Formato encadernado
Lançamento 1953
Páginas 399
Edição brasileira
Editora Mandarim
Lançamento 1996
Páginas 356
ISBN 9788535400205

The Charioteer (O Auriga no Brasil) é um romance de guerra de Mary Renault publicado pela primeira vez em Londres em 1953. A editora norte-americana de Renault (Morrow) recusou-se a publicá-lo até 1959, devido ao seu retrato geralmente positivo da homossexualidade. The Charioteer é significativo porque apresenta um tema homossexual proeminente - e positivo - numa época recuada e que rapidamente se tornou num êxito de vendas - particularmente junto do público homossexual.[1]

Resumo do enredo[editar | editar código-fonte]

Este romance decorre principalmente em 1940 e 1941, durante o período imediatamente pós-Dunquerque na Segunda Guerra Mundial, num hospital militar na Inglaterra, durante bombardeios nocturnos e apagões. O protagonista da história, Laurie (Laurence) 'Spud' Odell, é um jovem soldado ferido em Dunquerque (Renault tinha estudado enfermagem e durante a guerra foi enviada para um Hospital de Emergência em Winford, nos arredores de Bristol), que deve escolher entre o afecto que sente por um objetor de consciência mais novo, que trabalha no hospital, ou um oficial da marinha que havia "idolatrado", quando ambos eram alunos num internato só para rapazes, e que voltara a encontar inesperadamente.

O objetor de consciência, Andrew Raynes, é um jovem quacre, ainda inconsciente da sua sexualidade, que trabalha como ordenança no hospital militar onde Laurie está a ser tratado. Ralph Lanyon, que comandou o navio mercante que evacuou Laurie de Dunquerque, foi o herói de infância de Laurie na escola, de onde fora expulso por causa de um episódio sexual com um outro rapaz (Hazell). É sexualmente experiente e um membro activo da subcultura homossexual da cidade vizinha.

Laurie deve aceitar sua própria natureza, bem como os dois aspectos diferentes do amor caracterizados por Andrew e Ralph: a natureza 'pura' e assexuada do seu amor por Andrew; e a sensualidade do seu amor a Ralph. O título do romance deriva da alegoria da carruagem empregada por Platão no seu diálogo Fedro, no qual a alma (o auriga) deve aprender a gerir os dois aspectos do amor, o cavalo negro, representando o lado erótico do amor, e o cavalo branco representando o lado altruísta do amor.

As circunstâncias eventualmente obrigam Laurie a escolher Ralph em vez de Andrew, desistindo deste em vez de o forçar a entrar em conflito com suas crenças religiosas e a sua sexualidade ainda não resolvida. Também há altruísmo do lado de Ralph, pois está preparado para se sacrificar em vez de ficar no caminho de Laurie e forçá-lo ao seu estilo de vida, de sexualidade encoberta e 'singular'.[2] Renault está empenhada em que os homens homossexuais sejam membros totalmente integrados da sociedade e não tentem existir num gueto criado por eles mesmos, ilustrado pela festa ("parte bordel, parte clube de solteirões") [3] na qual Ralph e Laurie se encontram. Com Ralph, Renault cria um anti-herói, com potencial para ser um guerreiro nobre (uma alusão ao Banquete (Platão), no qual um personagem filosofa sobre um exército composto por amantes do sexo masculino), a quem Laurie, que ainda não perdeu o seu idealismo juvenil, poderá redimir. Resta a esperança de que Laurie e Ralph possam construir uma relação prolongada e significativa, em vez de uma vida de mera gratificação sexual.

Renault tinha sido treinada como enfermeira e trabalhou durante vários meses no Winford Emergency Hospital, nos arredores de Bristol (que tinha um contingente bastante grande de objetores de consciência, trabalhando como enfermeiros).[4] O cenário de guerra da história permitiu a Renault considerar questões como a dos homossexuais poderem ser valorizados como membros úteis da sociedade, para 'se realizarem como seres humanos'[5] como dizia, permanecendo fiéis à sua natureza. Os outros romances anteriores de Renault também tinham temas homossexuais (principalmente lésbicos), mas nos seus romances seguintes, Renault evitou o século 20 e focou-se em histórias sobre amantes do sexo masculino nas sociedades guerreiras da Grécia antiga. Assim, ela não precisava mais de lidar com questões e preconceitos anti-homossexuais contemporâneos, ficando livre para examinar a natureza do amor masculino e dos heróis como objeto de amor.

Personagens[editar | editar código-fonte]

  • Laurence "Laurie" Patrick ("Spud") Odell: o personagem principal, de 23 anos; ferido em Dunquerque e enviado para um hospital temporário no país - obviamente perto de Bristol (chamado Bridstow no romance)[6]
  • Ralph Ross Lanyon: Um par de anos mais velho que Laurie e ex-prefeito-chefe do internato de Laurie; ele foi expulso após um 'escândalo sexual'; ingressou na marinha mercante e depois na Royal Naval Volunteer Reserve durante a guerra, onde perdeu vários dedos de uma mão enquanto comandava a embarcação que trouxe o ferido Laurie de volta de Dunquerque; um dos amores de Laurie[6]
  • Andrew Raynes: outro interesse amoroso de Laurie; um jovem Quaker e objetor de consciência que trabalha no hospital no qual Laurie é paciente[6]
  • Reg Barker: amigo de Laurie - outro soldado ferido no hospital[6]
  • Madge Barker: a esposa de Reg, uma adúltera[6]
  • Enfermeira Adrian: uma enfermeira no hospital em que Laurie e Reg são pacientes[6]
  • Lucy Odell: mãe de Laurie[6]
  • Michael Odell: pai de Laurie, falecido. Um repórter irlandês que morreu de alcoolismo e pneumonia quando Laurie tinha seis anos.[6]
  • Gareth Straike: o segundo marido da mãe de Laurie[6]
  • Bunny: parceiro de Ralph e antigo co-inquilino[6]
  • Alec Deacon: um médico estagiário, amigo e antigo amante de Ralph[6]
  • Sandy Reid: também estagiário e actual amante de Alec[6]
  • Dave: um Quaker mais velho que também trabalha no hospital e é o líder não oficial dos objetores de consciência que trabalham como enfermeiros; amigo de longa data da família de Andrew. Ele teve, pelo menos, uma 'paixão' pelo pai de Andrew (Bertie) antes de ambos se casarem[6]


Recepção e análise crítica[editar | editar código-fonte]

David Sweetman, biógrafo de Renault, observa que alguns críticos associaram o livro ao crescente movimento pela reforma das leis contra a homossexualidade na Grã-Bretanha e "até conseguiram o apoio do jornal oficial da Igreja da Inglaterra".[7] Anthony Slide observou que The Charioteer era um êxito de vendas junto da comunidade homossexual.[1] Michael Bronski chamou ao romance "um apelo direto à tolerância dos homossexuais" e elogiou-o como "sincero e bem escrito".[8]

The Charioteer não foi classificado entre os 100 melhores romances gays e lésbicos compilados pelo The Publishing Triangle em 1999. No entanto, os visitantes do site votaram-no número 3 (entre 100).[9]

The Charioteer nunca deixou de ser publicado desde a sua primeira edição, continuando a influenciar os leitores mesmo depois de mais de 60 anos.[10] e[11]

Em 2013, o livro foi reeditado pela Virago Press como uma de suas séries Modern Classics; esta edição tem uma introdução útil por Simon Russell Beale .[12]

The Charioteer foi publicado em espanhol em 1989 - traduzido por María José Rodellar - sob o título El Auriga,[13] em grego em 1990 com o título Hō eniochos.[14] e em português brasileiro com o título O Auriga, Mandarim (1996).

Em 2008, um fã criou sua versão do trailer de um filme (nunca feito) do romance. Há também um número considerável de 'criações' no Tumblr com personagens e citações de Cocheiros.

Referências

  1. a b Slide, Anthony (2003). Lost Gay Novels: A Reference Guide to Fifty Works from the First Half of the Twentieth Century. [S.l.]: Routledge  Como foi publicado em 1953, The Charioteer, embora brevemente mencionado (p. 152) não é realmente discutido neste livro.
  2. Capítulo 6 «A festa já ia animada. Laurie foi acometido de uma revelação momentânea, enquanto observava tudo aquilo. Depois de alguns anos de pensamentos confusos sobre o assunto, de repente via claramente do que estava a fugir. Porque tinha recusado o primeiro convite de Sandy, e porque tinha havido aquele problema com Charles. Enfrentava o mesmo problema, percebeu então, com nove décimos das pessoas que estavam ali naquela noite. Eram todos uns "especialistas". Eles não apenas aceitavam as suas limitações, como Laurie estava pronto a aceitar as suas, fiel à sua humanidade, se não mesmo ao seu sexo, e trazendo uma humildade extra para uma avaliação objectiva da experiência humana. Identificavam-se com as suas limitações e estavam a fazer delas um modo de vida. Aquela gente tinha-se desviado de todas as outras realidades, enrolando-se nestas confortavelmente, como se fossem um útero.»
  3. Capítulo 14 «Não quero com isso dizer que só lá estivessem panascas. Aquilo era uma festa bizarra: era assim uma coisa entre clube de solteirões e bordel amador.»
  4. The Winford Team: a record of the life and work of a group of conscientious objectors engaged on orderly duties at Winford Hospital, Bristol. 1940-1944... London?: Edgar G. Dunstan. 1945. 61 páginas 
  5. Capítulo 16 «Boa sorte, Spud. Sempre achámos que, fosse à direita, à esquerda ou ao centro, o mais importante era sermos humanos. Eu falhei, mas você vai conseguir.»
  6. a b c d e f g h i j k l m Renault, Mary (1959). The CharioteerRegisto grátis requerido First US ed. New York: Pantheon. 347 páginas 
  7. Sweetman, David (1993). Mary Renault. United States: Harcourt Brace & Company 
  8. Bronski, Michael (2003). Pulp Friction: Uncovering the Golden Age of Gay Male PulpsRegisto grátis requerido. New York: St. Martin's Griffin. pp. 359–360. ISBN 9780312252670 
  9. «Publishing Triangle». www.publishingtriangle.org. Consultado em 12 de julho de 2019 
  10. Crawford, David S. "A Bookish Moment". National Post; Don Mills, Ont. [Don Mills, Ont] 11 Sep 1999: 9.
  11. Mendelsohn, Daniel. New Yorker January 7, 2013. https://www.newyorker.com/magazine/2013/01/07/the-american-boy
  12. Renault, Mary (2013). The Charioteeer. London: Virago : Modern Classics. 420 páginas 
  13. Renault, Mary (1989). El auriga. Barcelona: Grijalbo 
  14. Renault, Mary (1990). Hō eniochos. Athens: Ekdoseis Kaktos