Alexandre I da Sérvia

Alexandre I | |
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Rei da Sérvia | |
Reinado | 6 de março de 1889 a 11 de junho de 1903 |
Coroação | 2 de julho de 1889 |
Predecessor | Milan I |
Sucessor | Pedro I |
Dados pessoais | |
Nascimento | 14 de agosto de 1876 Belgrado, Principado da Sérvia |
Morte | 11 de junho de 1903 (26 anos) Belgrado, Reino da Sérvia |
Sepultado em | 12 de junho de 1903 Igreja de São Marcos, Belgrado, Reino da Sérvia |
Esposa | Draga Mašin |
Casa | Obrenović |
Pai | Milan I da Sérvia |
Mãe | Natália Ketchko |
Hino Real | Bože Pravde/Deus de Justiça |
Religião | Ortodoxa Sérvia |
Alexandre I da Sérvia ou Alexandre Obrenović (em sérvio: Александар Обреновић; romaniz.: Aleksandar Obrenović; Belgrado, 14 de agosto de 1876 – Belgrado, 11 de junho de 1903) foi rei da Sérvia de 1889 a 1903.[1] Alexandre foi o último membro da casa Obrenović a reinar na Sérvia.
Ascensão
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Alexandre nasceu a 14 de agosto de 1876, filho do rei Milan I da Sérvia e de sua consorte Natália Ketchko. Por nascimento, era membro da Casa de Obrenović, a dinastia governante do Principado da Sérvia e, a partir de 1882, do Reino da Sérvia.[2] Seu padrinho de baptismo foi o czar Alexandre II da Rússia.[3]
Em 1889, Milan abdicou inesperadamente e retirou-se para a vida privada, proclamando Alexandre rei da Sérvia. Dado que o rei tinha apenas treze anos, foram nomeados três regentes, sendo Jovan Ristić o mais proeminente entre eles.[4]
Em 1892, Nikola Tesla visitou a Sérvia. Após a recepção cerimonial, no dia seguinte ele visitou o Ministro da Educação, Andra Mitrović , que o levou ao rei para uma audiência que durou cerca de 1 hora.[5] Cerca de dez dias depois, a Regência, em nome de Alexandre, concedeu a Tesla a Ordem de São Sava II.[5]
No dia 13 de abril de 1893, Alexandre ordenou a prisão dos regentes, proclamando-se maior de idade e dissolvendo a Assembleia Nacional. A 21 de maio, aboliu a constituição liberal de 1889 do seu pai e restaurou a constituição anterior (de 1869). Em 1894, o jovem rei trouxe de volta a Sérvia o seu pai, Milan, e, em 1898, nomeou-o comandante-em-chefe do exército. Durante esse período, Milan foi considerado o governante de facto do país.[6] Em 1898, foram aplicadas penalidades aos partidos Radical e Russófilo, que a corte procurava vincular a uma tentativa de assassinato do ex-rei Milan.[7]
A atitude de Alexandre durante a Guerra Greco-Turca (1897) foi de estrita neutralidade.[6]
Reinado
[editar | editar código-fonte]Monarca nos Balcãs
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Heinrich Waßmuth, 1894
Em 28 de junho de 1896, durante as comemorações do Dia de São Vito, em Belgrado, ocorreu um evento significativo na história das relações entre a Sérvia e Montenegro, quando Alexandre e o príncipe Nicolau Petrović-Njegoš se reuniram, sendo o primeiro encontro entre governantes de respectivas nações. Alexandre preparou uma recepção grandiosa para o príncipe montenegrino na estação ferroviária, comandou seu esquadrão militar e foi o primeiro a cumprimentar o príncipe montenegrino. Na ocasião, Nicolau proferiu um longo discurso, no qual saudou a cooperação entre a Sérvia e o Montenegro. Nicolau Petrović-Njegoš ficou emocionado ao participar, no mesmo dia, de uma cerimônia memorial às vítimas de Kosovo na Igreja Catedral. Após o serviço religioso e o discurso patriótico do arcebispo Mihailo, o príncipe, vestido com um traje dourado montenegrino e com uma espada dos Nemanjić à cintura, ajoelhou-se, beijou a terra e rompeu em lágrimas. Dois anos depois, começaram a fazer-se preparativos para um casamento entre Alexandre e uma filha de Nicolau, a princesa Xenia de Montenegro.[8] Contudo, quando Alexandre visitou a corte montenegrina para lhe pedir a sua mão em casamento, Xenia achou-o tão "nojento e horrendo" tanto em aparência como em maneiras que, mesmo apesar das tentativas do pai, se recusou a casar com ele, humilhando-o e enfurecendo-o tanto que as relações diplomáticas entre a Sérvia e o Montenegro ficaram congeladas.[9] Quando Alexandre escolheu o irmão de Xenia, Mirko, para seu herdeiro em 1901, foi, entre outras coisas, para esquecer estas velhas afrontas.[8]
Em abril de 1896, durante os Jogos Olímpicos de Verão realizados em Atenas, Alexandre pediu a mão da princesa Maria, filha do rei Jorge I da Grécia, em casamento.[10] A princesa rejeitou-o, achando Alexandre "muito feio",[10] o que esfriou as relações entre a Sérvia e a Grécia. Após o início da Revolta de Creta de 1897-1898, as relações entre a Sérvia e a Bulgária tornaram-se mais tensas. Alexandre foi criticado por não ter aproveitado a Guerra Greco-Turca para deteriorar as relações com a Rússia.[11] O rei Alexandre fez uma visita oficial ao príncipe Fernando da Bulgária em Sófia, a 19 de fevereiro de 1897, onde assinou o "Acordo Sérvio-Búlgaro". De acordo com este tratado, previa-se uma colaboração em questões que envolviam os sérvios e búlgaros no Império Otomano.[12]
Política e constituição
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Alexandre tentou reconciliar os partidos políticos ao apresentar uma nova constituição liberal, por iniciativa própria, em 1901, introduzindo, pela primeira vez na história constitucional da Sérvia, o sistema bicameral (skupština e senado). Esta medida reconciliou os partidos políticos, mas não apaziguou o exército, que, já insatisfeito com o casamento do rei, ficou ainda mais descontento com os rumores de que um dos dois irmãos impopulares da rainha Draga, o tenente Nikodije, seria proclamado herdeiro presumido ao trono.[6]
As boas relações de Alexandre e a crescente dependência do país em relação à Áustria-Hungria foram amplamente rejeitadas pela opinião pública sérvia.[13] Segundo Heinrich Berghaus, mais de dois milhões de sérvios viviam na Áustria-Hungria, com mais de um milhão no Império Otomano, embora muitos tivessem emigrado para a Sérvia.[14][15]
Entretanto, a independência do senado e do conselho de estado começaram a causar crescente irritação a Alexandre. Em março de 1903, o rei suspendeu a constituição por meia hora, tempo suficiente para publicar decretos que demitiam e substituíam os antigos senadores e conselheiros de estado. Este ato arbitrário aumentou o descontentamento no país.[16]
Tentando apaziguar a oposição, Alexandre concedeu uma amnistia aos Radicais perseguidos e, em 1901, emitiu uma constituição moderadamente liberal. Foi instituído um Conselho de Estado e uma segunda câmara para o parlamento.[7]
Em 1902, o rival de Alexandre, Pedro Karađorđević, foi proclamado rei por seus seguidores em Šabac, e Alexandre respondeu organizando um gabinete militar e suspendendo a constituição. Os Radicais começaram a conspirar para assassinar o rei.[7]
Casamento
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No verão de 1900, Alexandre anunciou inesperadamente o seu noivado com Draga Mašin, uma viúva de má reputação, casada anteriormente com um engenheiro obscuro.[7][17] Alexandre conhecera Draga em 1897, quando ela servia como dama de companhia de sua mãe. Draga era nove anos mais velha do que o rei, impopular na sociedade de Belgrado, conhecida pelos seus supostos numerosos envolvimentos sexuais e amplamente acreditava-se que era infértil.[17] Como Alexandre era filho único, era imperativo garantir a sucessão através da produção de um herdeiro. A oposição à Mašin, entre as classes políticas, era tão intensa que o rei encontrou grande dificuldade em recrutar candidatos adequados para cargos seniores.[17]
Antes de anunciar o seu noivado, Alexandre não consultou o seu pai, que estava de férias em Karlsbad e a fazer preparativos para garantir o casamento do seu filho com a princesa Alexandra de Eschaumburgo-Lipa, membro de uma antiga casa real alemã e irmã da rainha de Württemberg, e uma noiva adequada para Alexandre. Também não consultou o seu primeiro-ministro, Dr. Vladan Đorđević, que se encontrava na Exposição Universal em Paris na altura do anúncio.[18] Ambos os responsáveis renunciaram imediatamente, e Alexandre teve dificuldade em formar um novo governo. A sua mãe também se opôs ao casamento e foi, posteriormente, exilada do reino.[19]
A oposição à união pareceu diminuir temporariamente com a publicação das felicitações do czar Nicolau II da Rússia ao rei pelo noivado, bem como a sua concordância em ser a testemunha principal no casamento. O casamento realizou-se, de facto, em agosto de 1900. No entanto, a impopularidade da união enfraqueceu a posição do rei aos olhos do exército e da nação em geral.[6]
Assassinato
[editar | editar código-fonte]A impressão geral era de que mantendo-se o senado leal ao casal real, e obtendo-se ampla maioria nas eleições gerais, Alexandre não hesitaria em proclamar o irmão da rainha como herdeiro aparente do trono.[6] Assim, o governo sérvio compactuou para que príncipe Mirko de Montenegro, casado com Natália Konstantinović, neta da princesa Anka Obrenović, por sua vez tia do ex-rei Milan, tornar-se-ia o rei da Sérvia se o casal real não tivesse filhos.[20]
Aparentemente para evitar que o irmão da rainha fosse nomeado herdeiro presumido, mas em realidade para substituir Alexandre por Pedro Karađorđević, uma conspiração foi organizada por militares. O grupo era liderado pelo capitão Dragutin Dimitrijević, também conhecido como "Apis", e Novak Perišić, um jovem militante ortodoxo sérvio que estava ao serviço do Império Russo,[21] bem como o líder da organização nacionalista sérvia Mão Negra, responsável pelo assassinato do arquiduque Francisco Fernando em 1914. Vários políticos também faziam parte da conspiração, sendo supostamente incluído o ex-primeiro-ministro Nikola Pašić.[22]
O palácio do casal real foi invadido, e eles se esconderam num armário no quarto da rainha. Os conspiradores revistaram o palácio e acabaram descobrindo o casal real e os assassinaram na madrugada de 11 de junho de 1903. Eles foram baleados e seus corpos mutilados e estripados, após o que, de acordo com relatos de testemunhas oculares, foram jogados de uma janela do segundo andar do palácio em pilhas de esterco de jardim.[22]
Honras
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Sérvias:
- 28 de junho de 1889: Ordem de São Príncipe Lázaro (Fundador)[23]
- 1898: da Ordem de Miloš, o Grande (Fundador)[23]
Estrangeiras:
- 1891:
Grã-Cruz da Ordem de Santo Estêvão[24]
- 1894:
Cavaleiro da Ordem da Fidelidade[25]
- 1894:
Cavaleiro da Ordem de Bertoldo I[25]
- 25 de novembro de 1896:
Cavaleiro da Ordem da Anunciação[26]
- 5 de agosto de 1893:
Grã-Cruz da Banda das Três Ordens[27]
Cavaleiro da Ordem de Santo André[28]
- 24 de setembro de 1897:
Grã-Cruz da Ordem de Carlos III[29]
Referências
- ↑ Graca, John V. Da (1985). Heads of State and Government (em inglês). Berlim: Springer. p. 261. ISBN 9781349079995
- ↑ Kane 2014, p. 12.
- ↑ «Званични део - крштење». digarhiv.nbs.rs. Српске новин]. 12 de outubro de 1876. Consultado em 12 de abril de 2023. Cópia arquivada em 12 de abril de 2023
- ↑ Ward, Prothero & Leathes 1920, p. 411.
- ↑ a b «Неслужбени део - Никола Тесла у Београду». digarhiv.nbs.rs. Српске новине. 24 de maio de 1892. Consultado em 16 de maio de 2023. Cópia arquivada em 16 de maio de 2023
- ↑ a b c d e Mijatovich 1911.
- ↑ a b c d Ward, Prothero & Leathes 1920, p. 412.
- ↑ a b "Late Gossip of Foreign Courts", The Washington Post, 7 de Setembro de 1901
- ↑ "Late Gossip of Foreign Capitals", The Washington Post, 11 de Outubro de 1899
- ↑ a b Marie Georgievna, Grand Duchess of Russia, A Romanov Diary p. 51
- ↑ Cox 2002, p. 55.
- ↑ Карановић, Огњен. "КРАЉ АЛЕКСАНДАР I ОБРЕНОВИЋ КРАЉ ИЛИ КРАЈ СРПСКОГ АПСОЛУТИЗМА". 28/07/2019.
- ↑ Bataković, Dušan (2017). «On Parliamentary Democracy in Serbia 1903–1914 Political Parties, Elections, Political Freedoms». Balcanica (XLVIII). p. 123–142. doi:10.2298/BALC1748123B
- ↑ «Popisom iz 1846. Na prostoru Hrvatske živelo skoro 2,5 miliona Srba»
- ↑ «СРБИ У АУСТРОУГАРСКОЈ МОНАРХИЈИ» (PDF). tspupin.org. Consultado em 15 de setembro de 2024
- ↑ «Kralj Aleksandar Obrenović (Seminarski Rad) 10.03.2012. | PDF»
- ↑ a b c Clark, Christopher (2012). The sleepwalkers : how Europe went to war in 1914. New York, NY: HarperCollins Publishers. p. 8. ISBN 9780061146664
- ↑ «Die Memoiren des Königs Milan. Zehn Kapitel aus dem Leben des ersten Serbenkönigs by Milan:: Halbleinen, Frakturschrift (1902) | Versandantiquariat Schäfer»
- ↑ Haydn, Joseph (1906). Haydn's Dictionary of Dates and Universal Information Relating to All Ages and Nations 24 ed. [S.l.]: G. P. Putnam's Sons. p. 1199
- ↑ Leroy, Pierre Olivier (2004). «Biography of Prince Mihajlo Petrovic Njegos». The Njegoskij Fund Public Project. Consultado em 28 de setembro de 2007. Cópia arquivada em 27 de setembro de 2007
- ↑ C. L. Sulzberger, The Fall of Eagles, p. 202, Crown Publishers, New York, 1977
- ↑ a b Sulzberger, p. 202
- ↑ a b «Orders and Medals». The Royal House of Obrenovic. Consultado em 16 de setembro de 2020
- ↑ "A Szent István Rend tagjai" Arquivado em 2010-12-22 no Wayback Machine
- ↑ a b Hof- und Staats-Handbuch des Großherzogtum Baden (1896), "Großherzogliche Orden" pp. 63, 77
- ↑ Italia : Ministero dell'interno (1898). Calendario generale del Regno d'Italia. [S.l.]: Unione tipografico-editrice. p. 54
- ↑ Oliviera, Humberto Nuno de (2010). «Subsídio para a história das relações bilaterais entre Portugal ea Sérvia». Lusíada História. 2 (7). p. 449. ISSN 0873-1330. Consultado em 21 de março de 2020
- ↑ Justus Perthes (1902). Almanach de Gotha (em francês). 139. [S.l.: s.n.] p. 96
- ↑ «Real y distinguida orden de Carlos III». Guía Oficial de España (em espanhol). [S.l.: s.n.] 1900. p. 170. Consultado em 7 de maio de 2020
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