Arraia-de-colares

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Estado de conservação
Espécie em perigo crítico
Em perigo crítico (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Chondrichthyes
Ordem: Myliobatiformes
Família: Dasyatidae
Género: Fontitrygon
Espécie: F. colarensis
Nome binomial
Fontitrygon colarensis
H. R. S. Santos, U. L. Gomes & Charvet-Almeida, 2004
Sinónimos
Dasyatis colarensis (H. R. S. Santos, U. L. Gomes & Charvet-Almeida, 2004)

A arraia-de-colares[2] (nome científico: Fontitrygon colarensis) é uma espécie de raia tropical da família dos dasiatídeos (Dasyatidae), nativa das águas salobras rasas do estuário do rio Amazonas, no norte do Brasil. Habita baías costeiras durante a estação seca e se afasta da costa na estação chuvosa. É caracterizada por um disco de barbatana peitoral romboide, focinho alongado e uma faixa escura no lábio inferior. Uma espécie razoavelmente grande, com os machos e fêmeas atingindo larguras de disco de 63 centímetros (25 polegadas) e 91 centímetros (36 polegadas) respectivamente. As fêmeas dão à luz de 1 – 4 filhotes, possivelmente anualmente. A arraia-de-colares é visada e capturada como captura incidental pela pesca artesanal e comercial brasileira; essas pressões, juntamente com seu pequeno alcance e baixa taxa reprodutiva, levaram a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) a listar essa espécie como criticamente ameaçada de extinção.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Raia deriva do latim rāia ou rāja,ae em sentido literal. Foi registrada pela primeira vez no século XIII como raya.[3] Arraia é uma provável forma protética, fruto da aglutinação do substantivo com o artigo definido a. Nessa forma, ocorreu pela primeira vez em 1367 como arraya.[4]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

A arraia-de-colares foi descrita por Hugo Ricardo Secioso Santos, Ulisses Leite Gomes e Patricia Charvet-Almeida em 2004, na revista científica Zootaxa. O epíteto específico refere-se à ilha de Colares, na baía de Marajó, onde o espécime-tipo, um macho com 2,07 metros (6,8 pés) e com maturidade sexual, foi capturado.[5] Originalmente, a espécie foi classificada dentro do gênero Dasyatis, mas numa reavaliação conduzida em 2016, foi atribuída ao gênero Fontitrygon.[6]

Distribuição e habitat[editar | editar código-fonte]

A distribuição da arraia-de-colares parece restrita à foz do Rio Amazonas, no norte do Brasil, na área estuarina afetada pela descarga de água doce do rio; também pode ocorrer em áreas adjacentes até a Venezuela.[1] Encontrada a uma profundidade de seis metros (20 pés),[7] realiza movimentos anuais que são influenciados pela salinidade: na estação seca é encontrada nas baías costeiras como Marajó, enquanto na estação chuvosa sai das baías e se desloca para o mar.[1]

Descrição[editar | editar código-fonte]

A arraia-de-colares tem disco de barbatana peitoral em forma de diamante tão longo quanto largo, com margens arredondadas e um focinho longo que se afunila numa ponta. O focinho da fêmea é mais curto que o do macho, e as bordas do focinho mergulham ligeiramente perto da ponta. Os olhos são pequenos e seguidos por grandes espiráculos. Há uma aba de pele entre as narinas com uma margem posterior franjada e cantos arredondados. O lábio inferior é em forma de arco e forrado por uma distinta faixa reta e escura. A dentição é sexualmente dimórfica: os machos têm dentes pontiagudos e recurvados em 43-45 fileiras de dentes superiores e 45-60 fileiras de dentes inferiores, enquanto as fêmeas têm dentes de coroa plana em 66-77 fileiras de dentes superiores e 75-77 fileiras de dentes inferiores. Existem três-quatro papilas numa fileira transversal no assoalho da boca, que podem ter pontas bifurcadas. As nadadeiras pélvicas são triangulares, com as pontas pontiagudas se estendendo além do disco. A cauda é longa e semelhante a um chicote, medindo mais de duas vezes o comprimento do disco.[5][8]

Pequenos tubérculos achatados são dispostos aleatoriamente ao longo da linha média dorsal da base da cauda até entre os olhos, afinando em direção à ponta do focinho. As fêmeas também têm tubérculos na parte inferior. A coloração dorsal é marrom-claro uniforme, tornando-se mais escura na cauda e nos clásperes (nos machos), e com margem posterior clara nas nadadeiras pélvicas. A parte inferior é pálida, escurecendo em direção às margens das nadadeiras. Os machos atingem 2,07 metros (6,8 pés) de comprimento e 63 centímetros (25 pés) de largura, enquanto as fêmeas atingem 2,61 metros (8,6 pés) de comprimento e 91 centímetros (36 pés) transversalmente.[5][8]

Biologia e ecologia[editar | editar código-fonte]

Tal como outras arraias, é vivípara aplacentária; apenas fêmeas recentemente emprenhadas podem ser encontradas na costa, sugerindo que os movimentos anuais desta espécie podem estar relacionados com a reprodução. Os tamanhos de ninhada observados variam de um a quatro, e o ciclo reprodutivo pode durar um ano.[1]

Conservação[editar | editar código-fonte]

A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) avaliou a arraia-de-colares como criticamente ameaçada, citando sua distribuição geográfica limitada, provavelmente baixa taxa reprodutiva e suscetibilidade a equipamentos de pesca. Esta espécie é abundante na Baía de Marajó durante a estação seca. É capturada de modo acidental na pesca artesanal e comercial visando o bagre no estuário do Amazonas. Além disso, embarcações de pesca industrial do Pará começaram a pescar diretamente essa espécie na década de 2000, com suas capturas sendo exportadas para a Europa. A UICN recomendou que o Brasil implementasse esquemas de conservação de habitat e manejo pesqueiro.[1] Em 2007, a espécie foi classificada como vulnerável na Lista de espécies de flora e fauna ameaçadas de extinção do Estado do Pará;[9] como vulnerável na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014;[10] em 2018, como vulnerável no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio);[11] e como vulnerável no anexo três (peixes) da Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção da Portaria MMA Nº 148, de 7 de junho de 2022[12][13]

Referências

  1. a b c d e Pollom, R.; Charvet, P.; Barreto, R.; Faria, V.; Herman, K.; Marcante, F.; Nunes, J.; Rincon, G. (2020). «Fontitrygon colarensis». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2020: e.T60151A104170822. doi:10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T60151A104170822.enAcessível livremente. Consultado em 15 de novembro de 2021 
  2. Charvet-Almeida, Patrícia; Lins, Paulo Marcelo de Oliveira; Almeida, Maurício Pinto de (2008). «Composição da dieta da arraia Dasyatis colarensis Santos, Gomes & Charvet-Almeida, 2004 (Chondrichthyes: Dasyatidae) na região da Ilha de Colares, Pará, Brasil». Arquivo de Ciências do Mar. ISSN 2526-7639. Consultado em 15 de abril de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 15 de abril de 2023 
  3. Grande Dicionário Houaiss, verbete raia
  4. Grande Dicionário Houaiss, verbete arraia
  5. a b c Santos, H.; U. Gomes; P. Charvet-Almeida (2004). «A new species of whiptail stingray of the genus Dasyatis Rafinesque, 1810 from the Southwestern Atlantic Ocean (Chodrichthyes: Myliobatiformes: Dasyatidae)». Zootaxa. 492: 1–12 
  6. Froese, R.; Pauly, D. «Fontitrygon colarensis (Santos, Gomes & Charvet-Almeida, 2004)». World Register of Marine Species (WoRMS). Cópia arquivada em 20 de outubro de 2021 
  7. Froese, Rainer; Pauly, Daniel (eds.) (2009). "Dasyatis colarensis" em FishBase. Versão Novembro 2009.
  8. a b Santos, H.; P. Charvet-Almeida (2007). «Descrição de fêmeas da raia Dasyatis colarensis Santos, Gomes & Charvet-Almeida, 2004 (Chondrichthyes, Myliobatiformes, Dasyatidae) / Description of females of the stingray Dasyatis colarensis Santos, Gomes & Charvet-Almeida, 2004 (Chondrichthyes: Myliobatiformes: Dasyatidae)». Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro. 65 (1): 19–25. Cópia arquivada em 27 de outubro de 2022 
  9. Extinção Zero. Está é a nossa meta (PDF). Belém: Conservação Internacional - Brasil; Museu Paraense Emílio Goeldi; Secretaria do Estado de Meio Ambiente, Governo do Estado do Pará. 2007. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 2 de maio de 2022 
  10. «PORTARIA N.º 444, de 17 de dezembro de 2014» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). Consultado em 24 de julho de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2022 
  11. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  12. «Portaria MMA N.º 148, de 7 de junho de 2022» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). Consultado em 14 de abril de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 1 de março de 2023 
  13. «Dasyatis colarensis Santos, Gomes & Charvet-Almeida, 2004». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBr). Consultado em 23 de abril de 2023. Cópia arquivada em 23 de abril de 2023