Azarapates

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Azarapates, segundo Hesíquio de Alexandria, azabarites segundo Ctésias de Cnido[1] e azaropte ou azariptos segundo a inscrição trilíngue de Sapor I, mas também conhecido nas formas em persa antigo (*hazārapati-), parta (hzrwpt) e persa médio (hazārbed, hz’lwpt), foi um título persa de alta patente criado durante o Império Aquemênida, fundido ao grego quiliarca durante o período helenístico, e recriado durante o Império Sassânida.[2]

História[editar | editar código-fonte]

O título de azarapetes aparece na inscrição trilíngue de Sapor I (r. 240–270) do Cubo de Zaratustra e na inscrição bilíngue de Paiculi de Narses I (r. 293–302). Também aparece como empréstimo no báctrio uazaroxto e no armênio hazarapet e hazarwuxt. Segundo Shayegan, as fontes epigráficas sugerem que o termo deveria ser lido como hazāruft em vez de hazārbed e é provável que as formas com -uft foram as originais, de modo que aquelas com -bed foram criadas em analogias aos demais títulos sassânidas escritos dessa forma. O. Szemerényi, contudo, sugeriu que as formas armênias refletiram, respectivamente, um parta hazārbed oriundo de *hazāˊra-páti- e um persa médio oriundo de *hazārá-pati-, posição contestada por Shayegan devido a carência de evidência textual; as mais antigas atestações dos termos estão na tradução armênia do século V da Bíblia e nas obras historiográficas dos séculos V e VI de Fausto, o Bizantino, Eliseu e Lázaro de Parpi.[3][4][5]

Inúmeros estudiosos atualmente supõem que havia um ofício arsácida análogo ao sassânida e aquemênida, mas não há evidências para confirmar. Segundo Shayegan, a inscrição trilíngue de Sapor I indica que foi estabelecido pela primeira vez durante o período sassânida sob Artaxes I (r. 224–242); o primeiro titular conhecido foi Pabeco, que exerceu função sob Artaxes e Sapor I. O ofício é mencionado nas listas de dignitários destes monarcas imediatamente após os nomes dos membros da realeza e do ofício de vitaxa (vice-rei). Na inscrição bilíngue de Paiculi, contudo, certo argapetes de nome Sapor é listado antes do vitaxa e do azarapates. Segundo Pedro, o Patrício, quando Narses recebeu o emissário romano Sicório Probo para estabelecer a Paz de Nísibis (297/299), ele estava acompanhado por dois oficiais, o prefeito pretoriano Afarbã e o arcapetes Barasabor. Provavelmente a tradução "prefeito pretoriano" feita por Pedro represente o azarapates, enquanto o arcapetes o argapetes.[2]

De início é provável que o azarapates estivesse encarregado com a segurança do rei, como seu predecessor aquemênida, e o comando do regimento de guardas.[6][7] Seus deveres não incluíam aqueles do parta niwēδbed (persa médio *āyēnīg?), "introdutor chefe", como sugerido pelas homílias coptas,[8] nem aqueles do aspabedes (comandante do exército), mesmo embora seja possível que sob Sapor I ele temporariamente assumiu as funções do aspabedes, pois o último não aparece nas listas de dignitários, onde, em vez disso, aparece o aspabides (comandante da cavalaria); na lista de Paiculi, por sua vez, o aspabedes é reintroduzido.[9] Dentre as unidades de guarda sob seu comando estavam a pustiguebã, a darigã (a guarda palaciana) e a tardia unidade de 4 000 dailamitas que serviram sob Cosroes II (r. 590–628).[10]

Mais adiante, a julgar pela evidência armênia, o azarapates tornou-se um equivalente do grão-framadar (grão-intendente).[11] Mir-Narses, um alto oficial sob Isdigerdes I (r. 399–420), descreveu-se em sua inscrição em Firuzabade como grão-framadar, enquanto Eliseu descreve-o como "grão-framadar do Irã e não Irã"[12][13] e "grão-azarapates dos iranianos e não iranianos".[14][15] Apesar disso, numa passagem do Sinódico Oriental sobre o Concílio de Selêucia-Ctesifonte de 410, cita-se que Isdigerdes enviou dois oficiais para aprovar as decisões dos bispos, o grão-framadar Cosroes-Isdigerdes e Mir-Sapor da "casa do Argapetes".[16] Shayegan avalia que é provável que Mir-Sapor foi o argapetes, cujo comando tornou-se hereditário a partir do século V, enquanto grão-framadar reflete a evolução do ofício de azarapates no Império Sassânida Tardio como o paralelismo entre Mir-Sapor (argapetes) e Cosroes-Isdigerdes (grão-framadar) e Barasabor (argapetes) e Afarbã (azarapates) sugere.[2] Na glosa de Hesíquio de Alexandria de meados do século V, azarapates é definido como "arrumador, anunciador".[17]

Referências

  1. Briant 2002, p. 258; 1175.
  2. a b c Shayegan 2003, p. 93-95.
  3. Fausto, o Bizantino 1989, p. 108.
  4. Eliseu 1992, p. 76, 82, 180.
  5. Lázaro de Parpi 1991, p. 252, 256, 277-78, 294, 302, 314, 324.
  6. Frye 1984, p. 249-250.
  7. Wiesehöfer 1994, p. 251.
  8. Gignoux 1991, p. 423.
  9. Gignoux 1990, p. 2-3.
  10. Morony 2005, p. 92.
  11. Gignoux 1991, p. 424.
  12. Hübschmann 1897, p. 182-83, n. 354.
  13. Eliseu 1992, p. 77, nn. 3-4.
  14. Hübschmann 1897, p. 174, n. 328.
  15. Eliseu 1992, p. 82.
  16. Labourt 1904, p. 97.
  17. Hinz 1975, p. 120.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Briant, Pierre (2002). From Cyrus to Alexander: A History of the Persian Empire. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns 
  • Eliseu (1992). Thomson, R. (trad.), ed. Elishe: History of Varadan and the Armenian War. Cambridge: Cambridge University Press 
  • Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, N. G. (trad.), ed. The Epic Histories Attributed to Pʿawstos Buzand (Buzandaran Patmutʿiwnkʿ). Cambridge: Cambridge University Press 
  • Frye, R. N. (1984). The History of Ancient Iran. Munique: C.H. Beck 
  • Gignoux, Ph (1990). «Chiliarch». EIr. V 
  • Gignoux, Ph (1991). «Chiliarch». EIr. V 
  • Hinz, W. (1975). Altiranisches Sprachgut der Nebenüberlieferungen. Wiesbaden: Otto Harrassowitz 
  • Hübschmann, Johann Heinrich (1897). Armenische Grammatik I. Armenische Etymologie. Lípsia: Druck und Verlag von Breitkpf & Hartel 
  • Labourt, J. (1904). Le christianisme dans l’Empire perse sous la dynastie des Sassanides. Paris: V. Lecoffre 
  • Lázaro de Parpi (1991). R. W. Thomson (trad.), ed. The History of Lazar P'arpec'i. Lovaina: Peeters Publishers 
  • Morony, Michael G. (2005). Iraq After The Muslim Conquest. Piscataway, Nova Jérsei: Gorgias Press. ISBN 978-1-59333-315-7 
  • Wiesehöfer, J. (1994). Das antike Persien von 550 v. Chr. bis 650 n. Chr. Munique e Zurique: Patmos