Batalha de Queroneia (86 a.C.)

Batalha de Queroneia | |||
---|---|---|---|
Primeira Guerra Mitridática | |||
![]() Diagrama da Batalha de Queroneia
| |||
Data | 86 a.C. | ||
Local | Queroneia, na Beócia | ||
Coordenadas | |||
Desfecho | Vitória romana | ||
Beligerantes | |||
| |||
Comandantes | |||
| |||
Forças | |||
| |||
Baixas | |||
| |||
Localização de Queroneia no que é hoje a Grécia | |||
A Batalha de Queroneia foi travada entre as forças romanas de Lúcio Cornélio Sula e o exército do Reino do Ponto, comandado pelo general Arquelau, perto de Queroneia (em latim: Chaeronea), na Beócia, em 86 a.C.. A batalha terminou com a destruição completa do exército pôntico e uma vitória decisiva dos romanos.
Forças
[editar | editar código-fonte]A estimativa das forças pônticas na batalha variam muito, entre 76 500 e 120 000 homens. Destes, entre 75 000 e 110 000 são de infantes e o restante, entre 1 500 e 10 000, seria de cavaleiros ou carros de guerra. Os números romanos são mais firmes e giram em torno de 30 000 homens, com cerca de 17 000 sendo romanos e o restante, uma composição de aliados macedônios e gregos. O número de baixas é bastante controverso. O próprio Sula afirma que 110 000 soldados pônticos foram mortos e apenas quatorze dos seus teriam desaparecido, dos quais dois apareceram no dia seguinte.
Reino do Ponto
[editar | editar código-fonte]Um dos generais de Mitrídates, Taxiles, foi enviado com uma força de cerca de 110 000 infantes e 10 000 cavaleiros para se juntar com o exército do general Arquelau na planície Elateia.[7][8] Baker cita um número bem menor. Segundo ele, os romanos teriam uma força de menos de 17 000 homens e afirma que os pônticos os superavam em cinco para um, ou seja, teriam um exército de cerca de 85 000 homens.[9] Delbruck apresenta um número "suposto" de 120 000 e um outro, mais modesto, composto por 60 000 pônticos, 15 000 gregos e 1 500 cavaleiros, um total de 76 500.[10] Ele ainda comenta as principais fontes primárias e faz uma referência específica à "vaga e fanfarrônica" obra de Sula, a fonte utilizada pelos historiadores da época como Plutarco.[10]
O exército de Mitrídates era uma composição de elementos gregos e orientais; a infantaria era composta de falanges no estilo macedônico e falangistas pônticos cuidando dos projéteis; a cavalaria era uma composição de cavaleiros a cavalo e carros de guerra com lâminas.[11]
Tropas de Sula
[editar | editar código-fonte]As forças de Sula eram aproximadamente 30 000 homens,[10][12] com Baker comentando que destes, menos de 17 000 eram romanos e o resto eram aliados gregos e macedônicos.[13] Porém, o próprio Baker não fornece um número para estes aliados e simplesmente nota uma disparidade de "mais de três para um" entre as forças pônticas e romanas se os aliados fossem contados.[13]
As forças romanas eram compostas de legiões veteranas com algum apoio de cavalaria.[12][14]
Geografia
[editar | editar código-fonte]Logo depois de conquistar Atenas, Sula avançou com seu exército até a Beócia e se encontrou com Quinto Hortênsio Hórtalo, que vinha da Tessália, ao norte, cuidadosamente para evitar uma emboscada, em Filobeto (em latim: Philoboetus).[7][8] Segundo Baker, este movimento deixou Sula em uma posição muito favorável, seus suprimentos assegurados, amplo acesso a madeira e água, estradas até a Tessália que podiam ser facilmente protegidas e com a vantagem do terreno elevado das colinas[7][8] Segundo ele, Sula "...comandava a planície de Elateia e o vale do Cefiso".[7] Sula estava determinado a ditar a hora e o local da batalha.[13]
O general Taxiles e seu poderoso exército teve que seguir para o norte através de um desfiladiro antes de entrar num vale estreito entre Orcômeno e Queroneia para se encontrar com Arquelau e seu exército, que também vinha de Atenas.[7][8] A consequência disto foi que, depois que Taxiles e suas forças chegaram, ficou impossível recuar e uma batalha tornou-se inevitável.[7] O exército estava acampado no vale numa posição que permitia que os dois generais vigiassem o exército romano.[13] O plano de Arquelau era seguir numa guerra de atrito, mas Taxiles, com seu grande exército, estava determinado a derrortar os romanos em combate e insistiu em sua estratégica. Como Arquelau vinha de uma derrota em Atenas, não havia como se opor.[15]
Prelúdio
[editar | editar código-fonte]Os generais pônticos, acampados no vale, enviaram diversas unidades de batedores que saquearam e queimaram todo o vale[7][8] e Sula, sem nada que pudesse fazer, pois estava em enorme desvantagem numérica, apenas assistiu de sua posição no alto da colina.[7][8] Porém, Sula enviou seus homens para cavarem trincheiras nos flancos de seu acampamento para proteger sua força contra um possível movimento da cavalaria pôntica. Ele também ordenou a construção de paliçadas à frente para defender sua linha contra o avanço dos carros de guerra.[16] A intenção de Sula era dupla: primeiro ele buscava assegurar a disciplina de seus soldados, mantendo-os ocupados, e depois, ele esperava cansá-los com atividades tediosas para que passassem a desejar cada vez mais o combate.[11][17] Quando suas tropas pediram a batalha, Sula os desafiou, citando que esta nova vontade de lutar nada mais seria do que uma resposta à preguiça para trabalhar, a ocuparem a colina de "Parapotamos" (em latim: Parapotamii).[17] Seus homens aceitaram o desafio. Arquelau também desejava conquistar a colina e a disputa tornou-se uma corrida.[17] Baker afirma que o local era "quase inexpugnável" e o ocupante não teria escolha senão a de se voltar para o leste, na direção de Queroneia, para avançar; se um combate irrompesse ali, um exército ou o outro poderia acabar tendo que lutar em uma posição desfavorável, em ângulo.[17]
Ordem de batalha
[editar | editar código-fonte]Para Roma, Sula estava no comando do flanco direito do exército romano. O legado Lúcio Licínio Murena comandou o flanco esquerdo enquanto que Hortênsio e Galba assumiram o comando das coortes da reserva, com Hortênsio à esquerda e Galba à direita.[8][14] Finalmente, Aulo Gabínio e uma legião inteira foi enviado para ocupar a cidade de Queroneia.[14]
Do lado pôntico, Arquelau tinha o comando.[14]
Batalha
[editar | editar código-fonte]
Sula iniciou o combate fingindo um recuo: enquanto Gabínio tomou e defendeu Queroneia, Murena recebeu ordens de recuar até o monte Túrio enquanto o próprio Sula marchou ao longo da margem direita do rio Cefiso.[14] Arquelau, em resposta, Avançou para ocupar a posição de frente para Queroneia e enviou uma força lateral para atacar as tropas de Murena.[14] Sula então se juntou às forças de Queroneia e estendeu a linha de combate romano através do vale.[14] A posição de Murena era a mais frágil, possivelmente indefensável, e, para resolver a situação, Gabínio, com a aprovação de Sula, recrutou os locais e os enviou para lá.[14] Sula já havia assumido sua posição à direita e a batalha começou.[18]
Murena, com o auxílio da força de locais, lançou um ataque cauteloso contra o flanco direito pôntico, que, atacado morro abaixo, sofreu pesadas perdas.[8][19] Arquelou enviou seus carros de guerra em direção ao centro, onde estava Gabínio, que recuou para trás da paliçada e das estacas, frustrando o ataque.[19] Enquanto recuavam, os carros foram atingidos pelos projéteis romanos, o que provocou grande confusão e deixou a principal linha de frente de Arquelau, suas falanges, vulnerável.[16]
As legiões romanas começaram a avançar contra as falanges do centro com o apoio de projéteis atirados pelas fileiras de trás.[20] As falanges, sem conseguir realizar uma carga, se engalfinharam com as legiões,[20] o que obrigou os legionários a enfrentarem as longas lanças pônticas com suas espadas curtas.[20][21]
Com o centro em combate, Arquelau estendeu sua ala direita numa tentativa de flanquear os romanos.[8][21] Hortênsio tentou conter o movimento, mas, ao fazê-lo, deixou sua unidade vulnerável a um contra-ataque.[8][21] A cavalaria de Arquelau aproveitou a oportunidade e lançou com sucesso uma carga e conseguiu cercar as tropas de Hortênsio.[8][21] Sula, que até então havia se mantido na espera, rapidamente movimentou sua ala para ajudar.[8][21] Arquelau, percebendo a manobra, reconvocou sua cavalaria e ordenou que ela atacasse o enfraquecido flanco direito romano.[21]
Murena acabou sendo forçado a enfrentar as tropas de Taxiles também[21] e Hortênsio moveu sua unidade para ajudar enquanto Sula retornava para o flanco direito, a partir de onde liderou uma nova carga contra a esquerda pôntica.[21] Neste ponto da batalha, as linhas romanas começaram a avançar em todos os pontos[8][21]: a ala esquerda de Arquelau, já bem enfraquecida, foi derrotada e expulsa do campo de batalha; o centro, liderado por Gabínio, avançou e estava massacrando o inimigo; na direita, Murena, apesar do perigo, também avançou.[21] O exército pôntico inteiro foi desbaratado e começou a recuar com os romanos em perseguição.[8] Segundo as fontes antigas, somente 10 000 dos homens de Arquelau conseguiram chegar ao acampamento.[8] As memórias de Sula relatam que 110 000 pônticos foram assassinados e que apenas quatorze de seus homens teriam desaparecido, dos quais dois apareceram no dia seguinte.[11] Contudo, estes números são considerados um grande exagero pelas fontes modernas.[10][11] O que é certo é que os romanos, apesar da disparidade numérica, se saíram vitoriosos.[22]
Eventos posteriores
[editar | editar código-fonte]Na sequência da batalha, Sula mandou construir um troféu dedicado ao deus romano Marte em agradecimento pela vitória e à deusa Vênus pela sorte dos romanos.[22] Além disto, Sula bancou a realização de jogos em Tebas, durante os quais ele soube da aproximação do exército de Lúcio Valério Flaco, enviado pelos seus inimigos populares que controlavam Roma.[8][22] Flaco e Sula se encontraram na Tessália e os dois acamparam um de frente para o outro esperando um movimento da outra parte.[23] Nenhum ataque aconteceu e, com o passar do tempo, os soldados de Flaco começaram a desertar para o exército de Sula, primeiro aos poucos, mas depois em massa; Flaco acabou obrigado a levantar seu acampamento sob o risco de perder todo o seu exército.[23] Enquanto isso, Arquelau, que invernou na Eubeia, recebeu o reforço de um grande exército em Cálcis e resolveu invadir novamente a Beócia.[8][11][23] Tanto Sula quanto Flaco sabiam disto e, ao invés de desperdiçarem tropas romanas lutando um contra o outro, Flaco marchou com seus homens para a Ásia Menor enquanto Sula permaneceu para lutar contra Arquelau novamente.[24] Sula movimentou seu exército para uns poucos quilômetros para o oeste de Queroneia, perto de Orcômeno, um local escolhido por ele pela facilidade de defesa.[24] Ali Sula venceu — novamente em desvantagem numérica — mais uma vez Arquelau na Batalha de Orcômeno.[16]
Referências
- ↑ Piganiol, André (1989). Le conquiste dei Romani (em italiano). Milão: [s.n.] p. 394
- ↑ a b Apiano, História Romana, Guerras Mitridáticas 41.
- ↑ Plutarco, Vidas Paralelas, Vida de Sula 15.1.
- ↑ a b Plutarco, Vidas Paralelas, Vida de Sula 19.4
- ↑ a b c Apiano, História Romana, Guerras Mitridáticas 45
- ↑ Lívio, Periochae Ab Urbe Condita LXXXII.1
- ↑ a b c d e f g h Baker (2001), p. 198
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q Venning (2011), p. 207
- ↑ Baker (2001), p. 199–200
- ↑ a b c d Delbruck (1990), p. 438
- ↑ a b c d e Warry (2015), p. ?
- ↑ a b Eggenberger (2012), p. 85
- ↑ a b c d Baker (2001), p. 199.
- ↑ a b c d e f g h Baker (2001), p. 200–201
- ↑ Baker (2001), p. 198–199
- ↑ a b c Tucker (2009), p. 113
- ↑ a b c d Baker (2001), p. 200
- ↑ Baker (2001), p. 201–202
- ↑ a b Baker (2001), p. 202
- ↑ a b c Baker (2001), p. 202–203
- ↑ a b c d e f g h i j Baker (2001), p. 203
- ↑ a b c Baker (2001), p. 204
- ↑ a b c Baker (2001), p. 218
- ↑ a b Baker (2001), p. 219
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Baker, George (2001). Sulla the Fortunate: Roman General and Dictator (em inglês). [S.l.]: Rowman and Littlefield. ISBN 1-4617-4168-8
- Delbruck, Hans (1990). Warfare in Antiquity (em inglês). [S.l.]: University of Nebraska Press. p. 438. ISBN 0-8032-9199-X
- Eggenberger, David (2012). An Encyclopedia of Battles (em inglês). [S.l.]: Courier Corporation. ISBN 0-486-14201-9
- Tucker, Spencer (2009). A Global Chronology of Conflict: From the Ancient World to the Modern Middle East (em inglês). [S.l.]: ABC-CLIO. ISBN 1-85109-672-8
- Venning, Timothy (2011). A Chronology of the Roman Empire (em inglês). [S.l.]: A&C Black. ISBN 1-4411-5478-7
- Warry, John (2015). Warfare in the Classical World: War and the Ancient Civilizations of Greece and Rome (em inglês). [S.l.]: Pavillion Books. ISBN 1-84994-315-X