Bioluminescência em cupinzeiros
A bioluminescência em cupinzeiros é um fenômeno luminoso natural onde cupinzeiros, isto é, a estrutura física de uma colônia de cupins, passa a ser tomado externamente por dezenas de pequenos pontos luminosos de coloração esverdeada, observáveis principalmente durante o período crepuscular ou noturno. Vários pesquisadores, ao descreverem esse fato de maneira popular, comparam os cupinzeiros onde este fenômeno ocorre à “prédios” onde se pode observar várias “janelas” com “luzes acesas” ou mesmo semelhante às luzes que circundam uma árvore de Natal.[1][2]
Tal fenômeno bioluminescente é gerado não pelos cupins, mas por larvas de uma determinada espécie de vaga-lume.[3] Essas larvas possuem hábitos predatórios e vivem escondidas em pequenas fendas sobre o cupinzeiro. Durante a noite, aproveitam-se da sua capacidade de gerarem luz como uma espécie de armadilha para atraírem outros insetos, tornando-os suas presas. As principais vítimas dessas larvas são os indivíduos alados dos próprios cupins (reis e rainhas, ou “aleluias”) que, regularmente abandonam os cupinzeiros para acasalarem e formarem novas colônias.[1]
A área de ocorrência do fenômeno é restrita ao Brasil, ocorrendo principalmente na região do Parque Nacional das Emas, em Goiás.[4][5] O parque, que é uma unidade de conservação da flora e fauna do Cerrado brasileiro, possui ampla ocorrência de cupinzeiros durante toda a sua extensão, muitos deles possuidores desse fenômeno, o que também é motivo de atração para a visita de muitos turistas do mundo todo. Fenômeno semelhante também tem sido observado nas áreas de transição entre o cerrado e a região de floresta amazônica.[3]
Descrição
[editar | editar código-fonte]O fenômeno é gerado por larvas de besouros do gênero Pyrearinus, mais especificamente pela espécie Pyrearinus termitilluminans. As fêmeas adultas desses besouros, após o acasalamento, fazem a postura de seus ovos preferencialmente na base de cupinzeiros abandonados.[2] Essa precaução é tomada já que num cupinzeiro ainda ativo, os ovos e as larvas poderiam ser atacados por cupins soldados, o que não contribuiria para a sobrevivência dessas larvas.[1][3]
Quando os ovos eclodem, as larvas sobem pela superfície do cupinzeiro e se instalam em pequenas fendas ou buracos, tornando-os verdadeiras tocas, onde passarão a maior parte de seu estado larval. Enquanto o corpo da larva fica protegido dentro da fenda, sua cabeça fica posicionada estrategicamente para fora, de modo que é a única parte deste inseto que fica acessível sobre a estrutura de barro do cupinzeiro. As larvas, nessa posição, deixam suas grandes mandíbulas para fora e abertas, quase que formando um ângulo de 180 graus, ficando à espreita de qualquer pequena criatura que se aproxime e que elas possam vir a predar.[3]
Quando anoitece, as larvas se utilizam de suas capacidades bioluminescentes, tornando-se cada uma um ponto luminoso esverdeado sobre a superfície do cupinzeiro. A luz gerada acaba por ser notada por outros insetos, principalmente insetos voadores, que são atraídos em sua direção e acabam sendo devorados pelas larvas dos besouros.[1][3]
Aspecto evolutivo
[editar | editar código-fonte]A ciência não possui ainda uma explicação evolutiva definitiva sobre como o fenômeno se originou. No entanto, há sugestões sendo feitas por pesquisadores. Tem se observado que a maioria dos besouros do gênero Pyrearinus desenvolvem-se em meio a troncos de árvores em decomposição ou mesmo no solo. As larvas desses besouros também são carnívoras e bioluminescentes de um modo geral. Tendo em vista que estes são os mesmos habitats onde cupins também se desenvolvem, acredita-se que em algum momento da história natural as larvas desses besouros sofreram uma adaptação vantajosa por ficarem próximas dos cupinzeiros, onde evidentemente encontrariam maior acesso a alimento. Logo, deve ter havido preferência dos besouros adultos por realizar a postura de seus ovos especificamente em cupinzeiros, como se observa no cenário atual.[3]
Preservação e turismo
[editar | editar código-fonte]Embora seja considerado um fenômeno singular no mundo, a preservação ambiental da área onde se localizam esses cupinzeiros é constantemente ameaçada pelo avanço do agropecuarismo. Parte da região tem cedido lugar para o plantio de soja e outros grãos cultivados, o que contribui para a destruição dos cupinzeiros onde o fenômeno ocorre.[1]
Em diversos países europeus, como Portugal, Maldivas ou País de Gales, diferentes fenômenos bioluminescentes marinhos atraem turistas, o que ajuda na preservação e na economia locais.[6] Cientes disso, pesquisadores têm sugerido maior investimento em turismo no Brasil como forma não apenas de ajudar no combate à devastação da região do cerrado, mas também, de conscientização ambiental sobre as espécies que ali vivem.[1]
Estima-se que ao todo existam cerca de 25 milhões de cupinzeiros (ativos e inativos) em toda a extensão do Parque Nacional das Emas. No entanto, nem todos eles apresentam o fenômeno bioluminescente.[7] De acordo com o site do Parque Nacional das Emas, nas épocas de maior ocorrência do fenômeno, realizam-se visitas agendadas noturnas aos cupinzeiros do parque.[5]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c d e f «Luzes Vivas na Escuridão: Fatos e Casos» (PDF). Revista Virtual de Química. 25 de outubro de 2014. Consultado em 29 de julho de 2017
- ↑ a b Coghlan, Andy (12 de julho de 2017). «Bioluminescent termite mounds lure insects to their death». New Scientist. Consultado em 29 de julho de 2017
- ↑ a b c d e f Alisson, Elton (8 de julho de 2016). «Vagalumes iluminam cavernas e cupinzeiros na Amazônia para atrair presas». Agência FAPESP. Consultado em 29 de julho de 2017
- ↑ «Conheça o singular fenômeno da bioluminescência em cupins». R7.com. 8 de novembro de 2015. Consultado em 29 de julho de 2017
- ↑ a b «Parque Nacional das Emas guarda belezas do Cerrado». Instituto Chico Mendes. 25 de janeiro de 2017. Consultado em 29 de julho de 2017
- ↑ Dennys, Marcel. «Conheça o paradisíaco efeito natural do mar luminoso». UOL. Consultado em 29 de julho de 2017
- ↑ Zago, Adriano (8 de março de 2012). «Aves e vaga-lumes são atrações do Parque Nacional das Emas, em Goiás». G1. Consultado em 29 de julho de 2017