Camarilha de Fengtian

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Camarilha de Fengtian
奉系

Zhang Zuolin, "O Tigre do Norte", o líder da camarilha de Fengtian.
País China
Fidelidade Governo de Beiyang
Tipo de unidade Facção de senhores da guerra
Período de atividade 1920–1931
História
Guerras/batalhas Guerra Zhili-Anhui
Primeira Guerra Zhili-Fengtian
Segunda Guerra Zhili-Fengtian
Expedição do Norte
Comando
Comandantes Zhang Zuolin
Zhang Xueliang
Comandantes
notáveis
Zhang Zongchang
Wu Junsheng

A camarilha de Fengtian (chinês: 奉系军阀, pinyin: Fèngxì JūnfáWade-Giles: Feng-hsi Chün-fa) foi uma das diversas camarilhas ou facções político-militares hostis entre si que surgiram da camarilha de Beiyang na Era dos senhores da guerra a começos do período republicano. A clique recebeu o nome da província de Fengtian, que serviu como base original de apoio, mas rapidamente passou a controlar todas as Três Províncias do Nordeste da China. A clique de Fengtian era liderada pelo senhor da guerra Zhang Zuolin, o mais poderoso senhor da guerra no período, e cujo exército esteve envolvido direta ou indiretamente em todas as guerras dos senhores da guerra na década de 1920.[1]

A camarilha recebeu apoio do Japão em troca da proteção dos interesses militares e económicos japoneses na Manchúria. Após a Guerra Zhili-Anhui de 1920 e 1921, as camarilhas de Fengtian e Zhili exerceram o controle conjunto de Pequim e do governo de Beiyang. As tensões logo começaram a aumentar entre os dois, resultando em confrontos pelo controle de Pequim, conhecidos como a Primeira Guerra Zhili-Fengtian (1922). A Segunda Guerra Zhili-Fengtian (1924) começou mais tarde durante a invasão Zhili do que restara da camarilha de Anhui, que se tornaram aliados da clique de Fengtian, e que resultou em uma vitória Fengtian, com a camarilha de Zhili recuando para o sul até Henan.

O poder da camarilha de Fengtian começou a diminuir durante a Expedição do Norte do Kuomintang. Em 1928, enquanto ele se retirava para o norte, os patrocinadores japoneses de Zhang Zuolin explodiram seu trem, matando-o. Após o assassinato de Zhang, seu filho, Zhang Xueliang, assumiu a liderança da camarilha. Ele preferiu trabalhar com o Kuomintang em vez de com os japoneses e jurou simbolicamente lealdade ao governo nacionalista em Nanquim. Na prática, a camarilha de Fengtian continuou a governar de forma independente a Manchúria até a invasão japonesa em 1931.

Origens[editar | editar código-fonte]

Durante o final da Dinastia Qing, a Manchúria foi organizada como o Vice-Reino das Três Províncias do Nordeste, consistindo em Jilin, Fengtian e Heilongjiang. A capital ficava em Shenyang (então conhecida como Mukden) em Fengtian; actualmente Liaoning. Quando a Revolta de Wuchang eclodiu, os revolucionários estabeleceram redes no Novo Exército da Manchúria.

Ao contrário de outras províncias, a revolução teve muito menos apoio da população. O governador Zhao Erxun e a milícia local formaram uma aliança, colaborando com as elites locais e os constitucionalistas. Depois que o menino imperador Puyi abdicou do trono em 1912, os nobres manchus da região tentaram estabelecer um Estado manchu independente, uma tentativa que falhou. Huang Xing, comandante-em-chefe da República da China, estava disposto a ceder a Manchúria ao Japão e mencionou o conceito de uma China propriamente dita ao pedir apoio ao império. Anteriormente, a Manchúria havia sido o palco da Guerra Russo-Japonesa travada dentro do território Qing, enquanto as Três Províncias do Nordeste sediavam a politicamente tensa Ferrovia Oriental Chinesa, uma concessão russa, cuja metade sul havia sido cedida ao Japão em 1905. Este contexto regional influenciou decisões políticas e económicas na Manchúria.[2]

Numa conferência entre os revolucionários da Manchúria, a assembleia provincial, Zhao Erxun, e autoridades, o constitucionalista Wu Jinglian propôs que a Revolução era irresistível, mas que o povo chinês na Manchúria não deveria juntar-se cegamente à luta e, em vez disso, manter-se em guarda contra o Japão e a Rússia. Song Gong e o líder da patrulha fronteiriça, Zhang Zuolin, seguiram esta política de contenção. Quando Yuan Shikai foi declarado presidente, Zhao prometeu a lealdade das Três Províncias do Nordeste à República da China. A Manchúria permaneceu assim como parte da China.

Zhang Zuolin, que pacificou a assembleia provincial com a ameaça de força, foi nomeado comandante da 27ª Divisão. Esta divisão cresceria gradualmente no Exército Fengtian. Durante a tentativa de Yuan Shikai de restaurar o Império da China, Yuan tentou obter o apoio de Zhang promovendo-o ao cargo de governador militar de Fengtian. Quando Yuan morreu em 1916, Zhang aproveitou a oportunidade para expulsar o governador militar da Manchúria, Duan Zhigui. Em vez de ser punido por suas ameaças sutis de força e expulsão do governador militar, Zhang foi promovido por Duan Qirui a Inspetor Geral das Três Províncias do Nordeste no final de 1918, pois este precisava da cooperação de Zhang.

Muitas elites locais de Fengtian, como Yuan Jinkai e Yu Chonghan, que foram beneficiários do caos político, apoiaram Zhang Zuolin para arrancar o poder de seus inimigos políticos. Zhang e estas elites formaram uma aliança contra as ordens e nomeações do governo central. Esta aliança entre Zhang, figuras militares e a elite local ficou conhecida como camarilha de Fengtian. A elite do Nordeste formou diversos “partidos políticos”, como o Partido Democrático (Minzhudang). Zhang explorou protestos anti-impostos para fortalecer a sua autoridade civil local e a sua posição perante o Governo Central. Em 1916, Yuan Jingkai discutiu com Zhang a expulsão de Duan Zhigui. Zhang foi auxiliado após sua ascensão ao poder por burocratas locais e elites civis. No entanto, ele também convidou pessoas do resto da China para irem à Manchúria para servir como autoridades e oficiais.

Campanhas militares[editar | editar código-fonte]

Tomou parte nas sucessivas guerras entre os senhores da guerra da década de 1920, com sorte diversa. Derrotada na Primeira Guerra Zhili-Fengtian (1922), teve de ceder o controle da capital à rival camarilha de Zhili. Na Segunda Guerra Zhili-Fengtian (1924), conseguiu derrotar a clique de Zhili graças a uma ampla coalizão e à traição de Feng Yuxiang, que desbaratou a estratégia de Wu Peifu, o líder militar de Zhili.

Mais tarde pôde desfazer-se de Feng Yuxiang graças à colaboração de Wu Peifu, que tinha conseguido reunir em torno de si os senhores menores da camarilha de Zhili do sul do país.

O poder da camarilha de Fengtian começou a minguar durante a Expedição do Norte do Guomindang (Wade-Giles: Kuomintang). Durante sua retirada para o norte em 1928, o trem em que viajava Zhang Zuolin foi explodido por oficiais japoneses, que anteriormente tinham sido seu maior apoio, morrendo no atentado. Depois do atentado sucedeu-lhe à cabeça da camarilha seu filho Zhang Xueliang, "O Jovem Marechal". Descartando a política pró-japonesa de seu pai, Zhang Xueliang traspassou sua lealdade ao novo governo nacionalista de Jiang Jieshi (Wade-Giles: Chiang Kai-Shek).

O Exército Fengtian[editar | editar código-fonte]

O Exército Fengtian, chamado assim pela província natal de seu fundador e dirigente durante grande parte da década de 1920, Zhang Zuolin, a localidade de Fengtian (奉天), chamada Liaoning (辽宁) hoje em dia.

O exército de Zhang Zuolin foi um dos mais modernos dentre aqueles dos senhores da guerra, empregando tecnologias que muitos rivais não tinham. Esta incluiu o tanque francês Renault FT-17 e uma numerosa força aérea de cerca de 100 aviões, incluindo 14 bombardeiros ligeiros Breguet e 15 caças da mesma empresa. O filho de Zhang, e herdeiro após sua morte, dirigiu a força aérea da camarilha. Durante sua estadia no Japão tinha mostrado grande interesse nestas novas armas. Aparte destas unidades mais modernas, o exército de Zhang Zuolin não era muito diferente de outros exércitos de senhores da guerra da época.

Junto às tropas chinesas, o exército Fengtian empregou a muitos voluntários russos brancos em seu exército, como a unidade de lanceiros de Mukden.

Comandantes Fengtian[editar | editar código-fonte]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Jowett, Philip; Walsh, Stephen (2010). Chinese Warlord Armies 1911–30. Col: Men-at-Arms 463 (em inglês). Oxford: Osprey Publishing. p. 13. ISBN 978-1849084024. OCLC 671398098 
  2. Man, Kwong Chi (11 de fevereiro de 2014). «Finance and the Northern Expedition: From the Northeast Asian Perspective, 1925–1928». Cambridge University Press. Modern Asian Studies (em inglês). 48 (6): 1695–1739. ISSN 0026-749X. doi:10.1017/S0026749X13000139. Consultado em 16 de outubro de 2023 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]