Capela de São João Batista (Lagos)

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Capela de São João Baptista
Capela de São João Batista (Lagos)
Capela de São João Baptista, em 2018.
Estilo dominante Renascentista e Barroco
Inauguração 1174
Diocese Diocese do Algarve
Ano de consagração São João Baptista
Património Nacional
DGPC 72481
SIPA 2885
Geografia
País Portugal
Cidade Lagos
Coordenadas 37° 06' 42" N 8° 40' 51" O

A Capela de São João Baptista, também conhecida como Ermida de São João Baptista, é um edifício religioso localizado na cidade de Lagos, em Portugal. Embora possa ter sido construída em 1174, os primeiros registos à sua existência só surgem no Século XIV.[1] Foi profundamente modificada no século XVI, destruída no Sismo de 1755, e reconstruída nos inícios do século XIX.[1]

Alçado ocidental da capela, em 2007.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Localização e composição[editar | editar código-fonte]

A capela está situada numa zona urbanizada em Lagos, junto à Ribeira de Bensafrim.[2]

O edifício da capela em si, de pequenas dimensões,[2] é composto por uma nave e uma capela-mor, organizadas de forma desarticulada.[1] Grande parte do edifício apresenta uma aparência típica da primeira metade do século XVI,[2] sendo a capela-mor considerada um dos principais exemplos da arquitectura daquele período no Algarve.[2] Apresenta traça renascentista, com uma planta de forma oitavada, centralizada, rematada por uma cúpula ladeada por pináculos, marcando os ângulos das paredes.[1] Este tipo de construção era típica das pequenas capelas devocionais, instaladas principalmente nas zonas rurais, e que apresentavam um estilo renascentista relativamente erudito.[2] Junto à capela situam-se vários edifícios, construídos originalmente para servirem de sacristia, e que foram posteriormente reaproveitados.[1] A fachada principal, provavelmente modificada nos inícios do século XIX, é rasgada por um um portal recto, encimado por um janelão disposto de forma vertical.[2] Em cada lado da fachada existe uma torre sineira.[2] Em Lagos existia um outro edifício com forma semelhante, a Capela de Nossa Senhora da Piedade,[3] que foi demolida para a construção de um farol.[4]

No interior destaca-se o retábulo-mor, no estilo Barroco,[3] que é de dimensões consideráveis,[2] e decorado com motivos de pâmpanos e dois pares de colunas torsas[3] pseudo-salomónicas.[2] Nas traseiras no edifífio, no sentido Nordeste, situa-se um conjunto de vários tanques de água e de uma nora.[3]

Classificação e conservação[editar | editar código-fonte]

No século XXI, o edifício apresenta alguns problemas de conservação no seu interior, como a porta barroca na nave, que estava quase em ruína,[3] e o retábulo, que estava incompleto, devido ao apodrecimento de vários elementos.[2] A capela não está protegida pelo governo português, uma vez que não foi considerada de valor patrimonial suficiente para ser classificada.[2]

Postal antigo mostrando uma festa, provavelmente uma romaria, junto à capela. A fotografia é provavelmente anterior a 1920, data em que a alameda foi substituída por uma nova estrada.

História[editar | editar código-fonte]

Construção e remodelação[editar | editar código-fonte]

A ermida é origem medieval, tendo provavelmente sido fundada em 1174, de acordo com uma inscrição sobre a porta principal, que já desapareceu, além de vários relatos relativamente lendários.[2] Caso esta data seja verídica, é um dos templos cristãos mais antigos na região do Algarve.[2] Porém, a referência documental mais antiga à sua existência data de 1325.[2] Devido à falta de articulação entre a nave e a capela-mor, esta poderá ter constituído originalmente um edifício próprio, talvez um morabito.[3] O edifício estava situado numa zona que então fazia parte dos arrabaldes de Lagos, junto à estrada que rodeava o rio e seguia para Silves.[2]

O edifício foi alvo de grandes obras de remodelação na primeira metade do século XVI,[1] apresentando uma traça típica daquele período.[2] Segundo o historiador Manuel João Paulo Rocha, na Câmara Municipal de Lagos existia um pergaminho referindo que o rei D. João III tinha ordenado em 16 de Março de 1536 que a autarquia organizasse nesta ermida uma cerimónia religiosa anual em 24 de Julho, que deveria ser acompanhada pelos membros da nobreza, e que fosse dada uma esmola de 320 réis.[5] Esta última parte pode indicar que o edifício ainda estaria em obras, ou que estas tivessem sido concluídas recentemente.[2] A parte da capela-mor acabou por permanecer como o único elemento de traça renascentista, já que o restante corpo do edifício passou por profundas obras de modificação.[2] Com efeito, a capela está situada junto às margens da ria, numa zona muito húmida e que sofria frequentemente com inundações, o que acelerava a degradação do edifício, pelo que necessitava de obras regulares.[2] A primeira foi ainda nos finais do século XVI, por iniciativa do Governador do Algarve.[2] Entretanto, em Agosto de 1573, a capela terá sido visitada pelo rei D. Sebastião, durante a passagem do monarca pela vila de Lagos.[3]

Painel de azulejos junto aos tanques de água, mostrando as lavadeiras a trabalhar, nos princípios do século XX.
Tanques de água, 2023

Séculos XVIII a XX[editar | editar código-fonte]

O edifício foi muito danificado pelo Sismo de 1755, principalmente pelos efeitos do maremoto.[3] Porém, só foi reconstruído em 1805,[6] tendo então sido feitas algumas modificações básicas e do ponto de vista utilitário, como o alteamento das paredes da nave, da portal principal e do elemento do pau de fileira, que ficou encastrado na cúpula, a instalação de uma janela para iluminar o coro,[3] e a construção dos edifícios para as sacristias.[1] O principal elemento que restou desta campanha de reconstrução é a fachada principal.[2] Porém, nos dois séculos após as obras o edifício ficou num estado de semi-abandono, tendo deixado de ser um local para romarias.[2]

Nos inícios do século XX, a zona da capela de São João Baptista ganhou fama entre os habitantes de Lagos como um local de passeio, e o próprio templo ainda estava em bom estado de conservação, com o adro decorado com flores e parreiras.[7] Porém, em 1920 foi aberta uma nova estrada, que separou o edifício da antiga alameda de acesso à cidade,[3] e em 1929 já a maior parte das árvores tinham sido derrubadas, enquanto que a capela estava ao abandono, com os edifícios anexos em ruínas.[7] O complexo passou a ter outras utilizações, como taberna,[2] enquanto que as antigas sacristias foram reaproveitadas, no século XX, como habitações particulares e como casa do aqueduto.[1] Foram igualmente instalados vários tanques para a lavagem nas proximidades.[1] A situação melhorou ligeiramente na segunda metade do século, com o assoreamento da ria, que permitiu o arranjo urbanístico da zona em redor, com a instalação de jardins e de um grupo de tanques para lavagem da roupa, junto à fachada posterior do edifício,[2] e foram construídos novos anexos, que passaram a servir de sacristia.[3] Em 1969, a capela foi atingida por sismo, que a derrubou parcialmente.[3]

Em 9 de Março de 1984, o Instituto Português do Património Cultural iniciou o processo para a classificação do imóvel, tendo o conselho consultivo proposto a sua classificação como Imóvel de Valor Concelhio.[2] Porém, em 17 de Setembro de 2010 a Direcção Regional do Algarve propôs o arquivamento do processo, por considerar que o imóvel não tinha valor nacional, tendo o despacho para a revogação sido emitido em 7 de Outubro de 2010 pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico.[2] Entretanto, em 1985 o edifício foi alvo de trabalhos de conservação.[3] Em 1992 os arquitectos Rui Mendes Paula e Frederico Mendes Paula apresentaram um plano para a reabilitação da nora e dos tanques de água, que incluía a instalação de um auditório de forma circular, um quiosque com esplanada, uma área ajardinada, e um parque infantil.[3] No entanto, este plano não foi aprovado pela autarquia, que em vez disso escolheu uma solução orientada para a rentabilidade, com a concessão de alvarás para a instalação de um edifício comercial e de loteamentos para urbanização.[3] Em 1993, a autarquia fez obras na capela, que incluíram o levantamento de um pano em tijolo, que entaipou a porta do púlpito, a instalação de uma viga transversal para reforço, a instalação dos equipamentos eléctricos, a construção de sanitários, e a demolição de um muro de taipa em redor da capela-mor, que poderá ter sido parte de um pequeno alpendre em madeira.[3]

Século XXI[editar | editar código-fonte]

Em 2001 a autarquia fez obras de arranjo no adro, tendo aberto um novo acesso, e consolidou os tanques da lavagem da roupa.[3]

Fachada posterior da capela, mostrando a capela-mor, de forma octogonal.

Ver também[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre a Capela de São João Baptista

Referências

  1. a b c d e f g h i «Ermida de S. João Baptista». Câmara Municipal de Lagos. Consultado em 12 de Outubro de 2020 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z «Capela de São João Baptista». Património Cultural. Direcção Geral do Património Cultural. Consultado em 12 de Outubro de 2020 
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q COSTA, Anouk; CELADA, Marta; VIEGAS, Patrícia; FERNANDES, Paulo (2000–2001) [1998]. «Capela de São João Baptista / Ermida de São João Baptista». Sistema de Informação para o Património Arquitectónico. Direcção Geral do Património Cultural. Consultado em 13 de Outubro de 2020 
  4. «Ponta da Piedade: Requalificar o Ex-Libris natural e paisagístico de Lagos». Revista Municipal de Lagos. Lagos: Câmara Municipal de Lagos. Agosto de 2018. p. 4-7. Consultado em 13 de Outubro de 2020 – via Issuu 
  5. ROCHA, 1909:88
  6. «Capela de São João Baptista». Portal do Arqueólogo. Direcção Geral do Património Cultural. Consultado em 13 de Outubro de 2020 
  7. a b «Aspectos de Lagos» (PDF). Terra Algarvia. Ano I (29). Lagos. 30 de Junho de 1929. p. 2. Consultado em 11 de Outubro de 2020 – via Hemeroteca Digital do Algarve / Universidade do Algarve 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ROCHA, Manoel João Paulo (1991) [1909]. Monografia de Lagos [Monographia: As Forças Militares de Lagos nas Guerras da Restauração e Peninsular e nas Pugnas pela Liberdade]. Faro: Algarve em Foco Editora (publicado originalmente pela Typographia Universal, no Porto). 488 páginas 


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