Carlos Varela

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Carlos Varela
Carlos Varela
Nome completo Carlos Alberto Varela da Costa
Nascimento 5 de janeiro de 1964
Sá da Bandeira, Angola Portuguesa
Morte 13 de maio de 2000 (36 anos)
Funchal, Portugal
Nacionalidade Portugal Portugal
Ocupação professor e radialista

Carlos Alberto Varela da Costa, mais conhecido como Carlos Varela (Sá da Bandeira, 5 de Janeiro de 1964 - Funchal, 13 de Maio) foi um professor e radialista português, e grande impulsionador do teatro na Região Autónoma da Madeira. Foi fundador e coordenador e coordenador do grupo teatral ‘O Moniz’, e membro fundador e primeiro presidente da companhia teatral "Contigo Teatro".[1]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Carlos nasceu a 5 de Janeiro de 1964 na freguesia de São José do Lubango, em Sá da Bandeira (actual Lubango), na então África Ocidental Portuguesa, filho de José Coelho da Costa e de Maria Manuela Ferreira da Silva Varela, sendo o terceiro dos quatro filhos rapazes do casal. Quando tinha pouco mais de um ano, a família foi viver para Moçâmedes, onde Carlos iniciou os estudos e permaneceu até aos onze anos.[2]

Em Setembro de 1975, após a revolução de 25 de Abril de 1974, veio com a mãe e os irmãos para Portugal, tendo-se-lhes juntado o pai um ano mais tarde. Viveu os três primeiros meses na casa dos avós maternos na Rua da Fábrica do Papel, em Leiria, de onde era natural a sua mãe. Em Dezembro do mesmo ano, a família foi viver para a terra natal do seu pai, a aldeia de Chão Pardo, no concelho de Porto de Mós, ainda provisoriamente. Em 1976 regressou a Leiria, vindo a residir na Rua D. Afonso Henriques, onde passou grande parte da sua adolescência e juventude. Aqui foi membro co-fundador, atleta, monitor desportivo e animador cultural do Clube Académico de Leiria, que dava então os primeiros passos.[2]

Aprendeu expressão dramática em acções de formação promovidas pelo Instituto da Juventude, à época denominado Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ), que o motivaram para a dinamização de actividades culturais, tanto no clube como mais tarde como professor. Foi neste contexto que criou, com o amigo Vítor Vides, o grupo de teatro de fantoches “Os Saltimbancos”, apresentando espectáculos nas escolas e associações culturais do distrito de Leiria.[2]

No início da década de 1980 participou em algumas iniciativas do Teatro Experimental de Leiria (TELA), sob a direcção artística de Carlos Fragateiro, cuja orientação e ensinamentos viriam a ser sempre uma referência nas suas práticas. Iniciou-se também nesta época na vida política, como membro da Juventude Socialista, participando activamente nas iniciativas da organização.[2]

Estudou até ao 9º ano na Escola Domingues Sequeira, concluindo o ensino secundário na Escola Secundária Rodrigues Lobo, ambas em Leiria. Matriculou-se na Universidade Nova de Lisboa em 1983, aí se licenciando em Filosofia, na variante de História das Ideias.[2]

Casou em 1986 com Maria José Silva de Assunção, natural do Funchal, com quem viria a ter dois filhos, João Pedro e Luís Miguel. Estabeleceu-se na Madeira em 1987, iniciando a sua atividade profissional como professor de Educação Física na Escola Secundária Ângelo Augusto da Silva, onde também começou a leccionar a disciplina de Filosofia no ano lectivo seguinte. Em 1989 começou a exercer funções na Escola Secundária Jaime Moniz, passando a fazer parte do quadro desta escola em 1990. Nesse mesmo ano fez parte da equipa organizadora do I Congresso de Filosofia, que teve lugar durante vários anos naquela escola.[2]

Teatro[editar | editar código-fonte]

Foi também em 1990 que Carlos Varela fundou o grupo de teatro “O Moniz”, inicialmente com cinco elementos. na sua primeira actividade deram voz a textos de Eugénio de Andrade no espectáculo “Poemas (em) cenários”. No mesmo ano, no âmbito do projecto multidisciplinar “A Escola e os Descobrimentos Portugueses “, foi encarregado da coordenação e preparação dos quadros do projecto "História ao Vivo", concretizado no Funchal, em Dezembro de 1991.[2]

Em 1993, organizou o Primeiro Encontro de Grupos de Teatro Escolar da Região Autónoma da Madeira, que viria a impulsionar a criação de outros grupos de teatro, dinamizando e promovendo a actividade teatral entre jovens de diversas escolas. O evento foi renomeado no ano seguinte como Festival Regional de Teatro Escolar (FRTE), acolhendo várias escolas da região. Em 1997, Carlos Varela candidatou-se à organização do XIX Festival Nacional de Teatro Escolar, que veio a ter lugar em 1998, acolhendo mais de uma dezena de grupos de teatro escolar de vários pontos do país e onze grupos observadores no palco da Escola Secundária Jaime Moniz.[2]

Em Fevereiro de 1999, apoiado por alguns professores e antigos membros do teatro “O Moniz”, Carlos Varela criou Associação Companhia Contigo Teatro, com vista a possibilitar a continuidade da arte teatral aos jovens já fora da escolaridade. A primeira peça do grupo, “Duas Horas Antes”, foi realizada em co-autoria por Carlos Varela e Marcela Costa. No ano seguinte, o grupo levou à cena a peça “O grande Circo Real “, com argumento de José Gil e Marcela Costa, e encenação de Carlos Varela, que também participou na peça como actor. Este veio a ser o seu último trabalho em teatro.[2]

Comunicação social[editar | editar código-fonte]

A primeira experiência de Carlos Varela na rádio teve lugar em 1990, na Rádio Girão, com o programa desportivo "Rodas no Ar". Em 1992 integrou a equipa de trabalho do jornal escolar “Versus”, coordenando e realizando, conjuntamente com Lina Marques e António Fonseca, um programa intitulado "Outra Margem" no Posto Emissor do Funchal (PEF), com o objectivo de discutir e reflectir sobre ensino e educação, dando voz activa às escolas. O programa viria a dar lugar ao "Clube Diário", uma co-produção entre o PEF e o Diário de Notícias, com edições de segunda a sexta-feira, coordenadas por Carlos Varela e por Ivo Caldeira.[2]

Após suspender a actividade docente entre 1996 e 1997 para se dedicar ao projecto de cooperação entre as escolas e a rádio, devido ao grande número de escolas envolvidas, voltou ao ensino com um novo projecto de divulgação das comunidades educativas, o programa "Jornal das Escolas", transmitido todos os dias úteis,na Rádio Diário TSF. Continuou na TSF nos anos seguintes, sendo responsável pela coordenação e apresentação de programas sobre temas da actualidade e de natureza cultural. Foi ainda colaborador do Diário de Notícias com vários artigos de opinião, tendo coordenado vários números do suplemento Kurt daquele periódico.[3][2]

Política[editar | editar código-fonte]

Na política evidenciou-se nas suas intervenções como membro da Juventude Socialista, com particular evidência na década de 1990, tendo desempenhado as funções de vice-presidente, membro da comissão política regional e membro da comissão nacional da Juventude Socialista. Posteriormente fez parte do secretariado regional do Partido Socialista, tendo sido vogal da assembleia da junta de freguesia de São Gonçalo entre 1990 e 1993.[2]

Às 6:30 da manhã do dia 13 de Maio de 2000, encontrando-se em casa, no Funchal, Carlos Varela foi repentinamente acometido de ataque cardíaco, vindo a morrer a caminho do Hospital Central do Funchal.[4] A 17 de Maio a Assembleia Legislativa Regional aprovou por unanimidade um voto de pesar pela morte de Carlos Varela, pelo seu destaque e legado em vários domínios, em particular na cultura, e em especial no teatro da região.[5] O funeral realizou-se nesse dia, sendo enterrado em jazigo do Cemitério de Nossa Senhora das Angústias, em São Martinho.[6]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Em 2001, o Festival Regional de Teatro Escolar (FRTE), fundado por Carlos Varela em 1993, passou a designar-se Festival Regional de Teatro Escolar Carlos Varela em sua homenagem.[2] Em 2016, foi estabelecido um protocolo entre a Câmara Municipal do Funchal, através da direcção do Teatro Municipal Baltazar Dias, e a Escola Secundária Jaime Moniz, criando o prémio "Carlos Varela", atribuído à melhor peça de teatro no decorrer desse festival.[7][8]

Em 2004, a Câmara Municipal do Funchal homenageou Carlos Varela, reconhecendo o seu papel como professor e dinamizador cultural, com destaque para a valorização do teatro na educação dos jovens, atribuindo o seu nome a um arruamento da freguesia de São Martinho,[2] a Rua Doutor Carlos Varela.[9]

Referências

  1. Sandra S. Gonçalves. «Companhia Contigo Teatro sobe ao palco com espectáculo 'Estaleiro, obras em curso para um amanhã qualquer'». www.dnoticias.pt. Consultado em 23 de março de 2019 
  2. a b c d e f g h i j k l m n «varela, carlos». Aprender Madeira. 11 de maio de 2015. Consultado em 23 de março de 2019 
  3. Fernandez, Nicolas (17 de maio de 2000). «Ponto de Ordem: A Deus» (PDF). Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira. Diário de Notícias: 21 
  4. Silva, Agostinho (14 de maio de 2000). «Ponto de Ordem: Uma má notícia» (PDF). Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira. Diário de Notícias: 25 
  5. Aguiar, Marsílio (18 de maio de 2000). «Aprovados por unanimidade: Votos de pesar por Carlos Varela» (PDF). Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira. Diário de Notícias: 5 
  6. «Participações: Carlos Alberto Varela da Costa» (PDF). Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira. Diário de Notícias: 24. 17 de maio de 2000 
  7. «'Graças ao Eça!', do 'Liceu', vence 'Prémio Carlos Varela' e vai ao Baltazar Dias». JM Madeira. 15 de março de 2019. Consultado em 24 de março de 2019 
  8. Franco, Erica. «Festival Carlos Varela regressa ao Liceu de 11 a 15 de Março». www.dnoticias.pt. Consultado em 24 de março de 2019 
  9. «Código Postal». Código Postal. Consultado em 24 de março de 2019