Casamento Místico de Santa Catarina

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Casamento Místico de de Santa Catarina
Casamento Místico de Santa Catarina
Autor Hans Memling
Data c. 1480
Técnica óleo sobre carvalho
Dimensões 68,3cm × 73,3cm 
Localização Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque

Casamento Místico de Santa Catarina (de Alexandria ou de Sena) ou (Virgem e o Menino com as Santas Catarina de Alexandria e Bárbara de Nicomédia) é uma pintura a óleo sobre carvalho datada de c. 1480, do pintor flamengo Hans Memling.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Encontra-se, atualmente, no Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque. O painel mostra a Virgem, no trono, a segurar o Menino Jesus. Santa Catarina de Alexandria e Santa Bárbara estão sentadas a seu lado. Ao lado do trono, encontram-se anjos a tocar instrumentos; a figura masculina à esquerda presume-se que seja o patrono. A cena está inserida numa paisagem com uma igreja ao fundo que provavelmente seja uma representação da Igreja dos 14 Santos Auxiliares.

Sendo um retrato devocional de um doador, o painel combina iconografia de Maria e do Menino como hortus conclusus, sacra conversazione e a Virgo inter Virgines – esta última apresenta sempre Maria com Jesus menino e com as Santas Catarina de Alexandria e Bárbara.

Este trabalho é característico do estilo sereno de Memling; tipicamente harmonioso na sua estrutura e cor.[1] Memling combina técnicas aprendidas com os seus antecessores Rogier van der Weyden, do qual provavelmente foi aprendiz, e Jan van Eyck, sintetizando elementos do trabalho deste artista.

A composição é uma cópia quase exata do painel central do Retábulo de São João de Memling .[1] Não se sabe ao certo a data da pintura; 1480 parece ser uma data provável de acordo com a análise aos anéis da sua madeira. O arco da árvore sobre o trono da Virgem foi acrescentado mais tarde, provavelmente no século XVI.[2]

Descrição[editar | editar código-fonte]

A pintura retrata a Virgem e o Menino Jesus cercados por santos e anjos; o patrono ajoelha-se a esquerda das figuras santas. A Virgem está sentada em um trono sob um baldaquino de um rico brocado com a criança em seu colo. No jardim ao fundo, uma íris é visível. Dois anjos vestidos com roupas litúrgicas e instrumentos musicais estão dos dois lados do trono; o da esquerda toca um órgão portátil e o da direita, uma harpa. A grande mártir virgem, Santa Catarina de Alexandria, está ajoelhada diante a Maria à esquerda, do lado oposto está Santa Bárbara, sentada a direita, lendo um missal.[1] O patrono está ajoelhado atrás de Santa Catarina de Alexandria, segurando um conjunto de contas de rosário. Amarrado em sua cintura, pouco visível, há uma pequena bolsa ou um brasão. [3]

Detalhe da Santa Catarina recebendo o anel, do anjo e do patrono.

Santa Catarina de Alexandria sempre foi muito venerada na Idade Média, perdendo em popularidade só para Santa Maria Madalena.[4] O imperador Maxêncio torturou Catarina de Alexandria em uma roda de ferro e, quando ela se proclamou casada com Cristo, cortou-lhe a cabeça.[1] De acordo com sua história, o casamento aconteceu em um sonho do qual ela acordou com um anel em seu dedo. Seus emblemas são uma roda da tortura quebrada e uma espada, vistos em primeiro plano, espreitando sob sua volumosa saia.[5]

Para indicar que faz parte da realeza, Santa Catarina de Alexandria usa uma coroa e está vestida com roupas caras - um manto branco, mangas de veludo vermelho e uma saia com um rico brocado. Ela estende sua mão esquerda para o Menino Jesus, que coloca um anel em seu dedo, simbolizando seu noivado espiritual.[1] James Snyder escreveu que isso é típico da arte de Memlings: "o drama do momento não é de maneira nenhuma refletido nas expressões dos envolvidos". [5]

Outra noiva é Santa Bárbara, sentada do lado oposto a Santa Catarina de Alexandria[5], em fronte a uma torre, emblema do lugar onde seu pai a manteve prisioneira e onde ela foi secretamente batizada (outra versão para o prédio que se encontra atrás da pintura). Tem o formato de um ostensório, que abriga hóstia; as três janelas simbolizam a Trindade.[3]

Em 1910, James Weale identificou Santa Catarina de Alexandria como um possível retrato de Maria de Borgonha e Santa Bárbara de Nicomédia muito semelhando com Margarida de Iorque[6], o que o historiador de arte medieval Thomas Kren acha plausível. As duas mulheres pertenceram ao "Guild of St. Barbara" em Gante; Margarida de Iorque foi uma ávida bibliófila que encomendou vários manuscritos, entre eles "Life of St Catherine".[7]

As características dos rostos femininos mostram o desenvolvimento de Memling, de acordo com Ainsworth, que escreveu que nesse período ele "estabeleceu um certo tipo feminino bem sucedido" com um gracioso rosto oval, olhos grandes e queixos estreitos, e expressões que refletem "um estado de aceitação suave e beatífico". [1]

Iconografia[editar | editar código-fonte]

Master of the Virgo inter Virgines, a Virgem e o Menino Jesus com santas mártires. Final dos anos 1480.

Uma representação comum de Maria na arte gótica foi o Hortus conclusus, retratando a Virgem e o Menino Jesus em um jardim fechado. Memling amplia o tema posicionando o grupo contra o fundo de uma paisagem aberta. A pintura também contem elementos de uma sacra conversazione e, mais especificamente, Virgo inter Virgines[8]. Em uma Sacra Conversizione, a Virgem e o Menino Jesus estão agrupados com santos e patronos, enquanto uma Virgo inter Virgines apresenta a Virgem e o menino Jesus somente com santas virgens e mártires e, frequentemente, sem o patrono. O último ganhou popularidade nos Países Baixos durante o fim do século 15; o cenário era quase sempre um jardim fechado, o grupo sempre incluia a Virgem e o Menino Jesus com Santa Catarina de Alexandria e Santa Bárbara de Nicomédia. Frequentemente, o casamento de Santa Catarina de Alexandria é retratado. Dependendo do que era pedido pelo patrono ou dos propósitos da obra, outra virgem santa, como Santa Dorotea ou Santa Cecília, eram adicionadas ao grupo. Paula Pumplin escreveu que o subgênero pode ter sido criado por Hugo van der Goes ou por Memling.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f Ainsworth (1998), 116
  2. "Virgin and Child with Saints". Metropolitan Museum of Art. 19 de Abril de 2015.
  3. a b Ridderbos (2005), 136
  4. Ridderbos (2005), 136
  5. a b c Snyder (1987), 35
  6. Weale (1910), 177
  7. Kren (1992), 43
  8. Blum (1969), 93
  9. Pumplin (2010), 317–18

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • Blum, Shirley Neilson. Early Netherlandish Triptychs: A Study in Patronage. Los Angeles: University of California Press, 1969.
  • Kren, Thomas. Margaret of York, Simon Marmion, and The Visions of Tondal. Los Angeles: Getty Publication, 1992.
  • Pumplin, Paula. "The Communion of Saints: The Master of the Virgo inter Virgines' Virgin and Child with Saints Catherine, Cecilia, Barbara and Ursula". The Rijksmuseum Bulletin, Vol. 58, No. 4, 2010.
  • Ridderbos, Bernhard; Van Buren, Anne; Van Veen, Henk. Early Netherland Paintings: Rediscovery, Reception and Reserach. Amsterdam: Amsterdan University Press, 2005.
  • Snyder, James. The Renaissance in the North. New York: Metropolitan Museum of Art, 1987.
  • Weale, James. "Notes on Some Portraits of the Early Netherlands School. Three Portraits of the House of Burgundy". The Burlington Magazine for Connoisseurs, Vol. 17, No. 87 (June 1910).

Ligações externas[editar | editar código-fonte]