Cerco de Piratininga

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Cerco de Piratininga
Guerra dos Tamoios

Praça da Sé, onde, supostamente, Jaguaranho foi morto. Óleo sobre tela de José Wasth Rodrigues, 1912.
Data 9 de junho de 1562
Local São Paulo dos Campos de Piratininga, Capitania de São Vicente
Desfecho
  • Vitória portuguesa
Beligerantes
Comandantes

O Cerco de Piratininga ou A Guerra de Piratininga são os nomes dados ao ataque realizado em 9 de julho de 1562 à então vila de São Paulo dos Campos de Piratininga, hoje cidade de São Paulo, por índios das tribos guarulhos, guaianás e carijós,[1] que se uniram numa coligação e se rebelaram contra a aliança entre Tibiriçá e os jesuítas. Alguns destes índios eram familiares de Tibiriçá, outros haviam morado na aldeia dos padres e recebido a catequese, mas agora os renegavam.[2]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

A união entre portugueses e os tupis causava desconfiança e antipatia entre os nativos mais radicais que, se procuravam qualquer pretexto para atacarem os europeus, encontraram um bastante importante: a prática da escravidão por parte dos colonizadores. Pressentindo a hostilidade crescente, os portugueses trataram de nomear João Ramalho chefe da defesa militar de São Paulo em 28 de maio de 1562, de acordo com o cargo já exercido anteriormente em Santo André da Borda do Campo.[3] Em 3 de julho de 1562 um índio que vivia com aqueles que pretendiam atacar, mas que tinha parentes vivendo entre os homens de Tibiriçá, avisou aos jesuítas prevenindo-os para que se defendessem do ataque iminente. Cinco dias antes do ataque, por ordens de Tibiriçá os índios abandonaram suas casas e lavouras, num costume de guerra indígena, preparando-se para a guerra. Jaguaranho ("cão bravo" em tupi) temendo pela vida de seu tio, Tibiriçá, tentou convencê-lo a abandonar a defesa dos padres, sem conseguir.[4]

O cerco[editar | editar código-fonte]

Incomodados com essa aliança, as tribos rebeldes desferiram o ataque na manhã de 9 de julho de 1562,[5] dois anos após São Paulo ser elevada à condição de vila. O ataque ocorreu no local onde estava estabelecido o colégio dos jesuítas, onde hoje está o Pátio do Colégio. Eram realizados aos gritos de jukaí karaíba (morte aos portugueses). Os invasores estavam todos pintados e emplumados, de acordo com sua tradição militar.

O cerco foi liderado por Jaguaranho, que provavelmente agiu sob ordens de seu pai, Piquerobi, líder da aldeia rebelde de Ururaí, localizada onde hoje fica o bairro de São Miguel Paulista, na zona leste da cidade. Piquerobi era irmão de Tibiriçá e de Caiubi, outro aliado dos europeus. João Ramalho, embora tivesse um relacionamento distante dos jesuítas, chegando mesmo a uma inimizade, tratou de lutar corajosamente contra os índios invasores, levando consigo, na defesa da vila, muitos indígenas e mamelucos.[6] Além de estar cumprindo seu papel de chefe da defesa militar, João Ramalho era genro de Tibiriçá, e naturalmente não ficaria ausente nesse momento. Brás Cubas enviou reforços de Santos, ajudando na defesa dos jesuítas.[6]

Logo no primeiro dia da batalha, Jaguaranho, após vencer as linhas de defesa, preferiu arrombar as portas da igreja onde as mulheres índias e mamelucas estavam rezando à atacar os padres, que se encontravam vulneráveis. Enquanto procurou arrombar a porta foi flechado na barriga e morreu no local, fato que reverteu a vantagem dos invasores.[7] O combate prosseguiu até o dia seguinte, 10 de julho, com vitória para os portugueses e aliados. Durante o combate o chefe tupiniquim Tibiriçá matou seu irmão Piquerobi.[8]

A vitória representou a continuidade da existência da Vila de São Paulo, o que se mostraria fundamental para a expansão colonial ocorrida nos séculos seguintes. Mas talvez devido a aglomeração de pessoas, e certamente pela falta de comida, a peste disentérica fez muitas vítimas no planalto, entre eles o próprio Tibiriçá, morto em 25 de dezembro de 1562.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. TAUNAY, Afonso d'Escragnolle. São Paulo nos primeiros anos. São Paulo no século XVI. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
  2. TOLEDO, Roberto Pompeu de. A Capital da Solidão: Uma História de São Paulo das origens a 1900. 1ª ed., Rio de Janeiro: Objetiva, 2003, pág. 105.
  3. Atas da Câmara de São Paulo, I, 14-15. cit. in: ANCHIETA, José de. Minhas Cartas. São Paulo: Editora Melhoramentos, pág. 90.
  4. PREZIA, Benedito A. Genofre. Os Tupis de Piratininga: Acolhida, resistência e colaboração. 2008. Tese. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP.
  5. ANCHIETA, José de. Minhas Cartas. Do Ir. José de Anchieta ao Geral P. Diogo Laínes, Roma.. São Paulo: Editora Melhoramentos, pág. 93.
  6. a b HANSEN, João Adolfo (2010). Manuel da Nóbrega. [S.l.]: Massangana. p. 41. ISBN 978-85-7019-515-9 
  7. DONATO, Hernâni. As Mulheres do Começo de São Paulo. in: BUENO, Eduardo (org.). Os Nascimentos de São Paulo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. pág. 152.
  8. BUENO, E. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro. Objetiva. 1999.
  9. ANCHIETA, José de. Minhas Cartas, Do Ir. José de Anchieta ao Geral P. Diogo Laínes, Roma. pág. 93.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • São Paulo no Século XVI. Affonso Taunay. Editora: Tours E. Arrault. Ano: 1921
  • A Guerra de Piratininga, Benedito Prezia, FTD, 1991 - Obra inteiramente dedicada à guerra dos índios
  • Os Indígenas do Planalto Paulista, Benedito Prezia, Edusp, 1997 - Análise dos índios paulistas vistos por viajantes, cronistas e missionários dos séculos 16 e 17

Ligações externas[editar | editar código-fonte]