Conservatória (Valença)

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Conservatória
  Distrito do Brasil  
Antiga Estação Ferroviária, atual rodoviária de Conservatória
Antiga Estação Ferroviária, atual rodoviária de Conservatória
Antiga Estação Ferroviária, atual rodoviária de Conservatória
Localização
Estado Rio de Janeiro
Município Valença (Rio de Janeiro)
Características geográficas
Área total 320 Km²
População total 6,500 hab.

Conservatória é o sexto distrito do município de Valença, no estado do Rio de Janeiro. A 370 quilômetros de São Paulo, 142 quilômetros do Rio de Janeiro, 28 quilômetros de Barra do Piraí e a 34 quilômetros da sede municipal.

O distrito tem uma população de 4.182 habitantes, de acordo com o Censo 2010 do IBGE.

Anteriormente denominado Povoado de Santo Antônio do Rio Bonito, situa-se em um vale da Serra do Rio Bonito, com área aproximada de 240 km². Faz divisa com o estado de Minas Gerais, com os distritos de Santa Isabel do Rio Preto, Parapeúna, Pentagna, Valença (sede do município de mesmo nome) e com o município de Barra do Piraí.

Famoso por suas serenatas, tradição conservada pelo turismo, e pela observação de OVNIs na Serra da Beleza.

História[editar | editar código-fonte]

Escultura de locomotiva.

Conservatória cresceu e prosperou durante o ciclo do café da economia brasileira, a partir do século XIX. A cidade, hoje distrito do município de Valença, foi um importante elo na produção e circulação do produto, levando mais de 100 fazendas a plantarem o café e o escoavam pelo antigo caminho ferroviário que vinha das Minas Gerais e ia para a Corte, na cidade do Rio de Janeiro, de onde seguia para o porto e outras cidades do país.

Cabe observar que o centro histórico de Conservatória, que antes representava a própria cidade, registra a primeira urbanização projetada por um engenheiro no Brasil. Projeto do engenheiro italiano Cezar Capolino, contratado pelos grandes fazendeiros plantadores de café da região, para esse trabalho. Conservatória ostenta o formato perfeito de um triângulo, com ruas e calçadas com larguras generosas, fruto de um projeto apresentado 34 anos (1838) antes ao funcionamento do primeiro "motor" movido a vapor ser apresentado por James Watt (1872), uma época em que automóveis com motores a explosão interna sequer faziam parte da ficção científica.

O primeiro registro da localidade data do final do século XVIII, a partir de um relato de 1789, em que Conservatória era reserva dos índios Araris, "elegantes e desembaraçados", segundo o naturista Milliet de Saint-Adolphe, um dos primeiros historiadores a registrar o fato. Diversas histórias justificam a origem do nome, sendo que comprovado historicamente, diz que no lugar foi implantado um "conservatória" para registrar e catalogar os índios, o que fez com que o povoado de Santo Antônio do Rio Bonito, passasse a ser conhecido como "Conservatória dos índios", um lugar de excelente clima e protegido por montanhas, onde os Araris se recolhiam para se recuperar de doenças que dizimavam as tribos e local no qual resolveram se instalar definitivamente. Em 1826, existiam cerca de 1.400 índios aldeados na reserva, vivendo felizes no lugar de onde seriam exterminados pelos desbravadores colonialistas. Vestígios dos Araris, como artefatos em cerâmica e algumas ossadas, já foram encontrados em escavações feitas em diversos locais da região.

Segundo Saint Adolphe, cientista botânico francês, os índios "Araris" "eram quase" brancos, elegantes e desembaraçados e, ainda, segundo Auguste de Saint-Hilaire, outro cientista francês que andou por estas plagas, "esses índios, pela aparência, costumes e desenvoltura, deviam ser descententes dos "Goitacás de Campos". E. Rugendas: "Os Araris eram, sem dúvida, resultantes do cruzamento dos "Coropós" com os temíveis "Goitacás" de Campos, que os venceram em batalha e os assimilaram.

Trabalho escravo[editar | editar código-fonte]

Com a colonização, o povoado ganhou inicialmente o nome de Santo Antônio do Rio Bonito, em homenagem ao padroeiro da cidade e ao rio que atravessa a região. Mas a tradição dos índios falou mais alto, e o nome Conservatória ficou marcado para sempre. A prosperidade e riqueza vieram com a expansão da cultura do café, que utilizou largamente o trabalho escravo. As centenárias construções da vila, em estilo colonial, algumas do século XVIII, até hoje preservadas, evidenciam sua origem e algumas, inclusive, ainda ostentam telhas de época. As ruas principais mantêm as pedras de pé-de-moleque originais da construção.

O braço escravo também está presente em outros monumentos da cidade, como a Ponte dos Arcos - construída para dar passagem a um dos trechos da antiga Rede Mineira de Viação, Conservatória-Santa Isabel do Rio Preto (e daí até Santa Rita de Jacutinga, em Minas Gerais) -, exemplo histórico da engenharia da época, com traços perfeitos e utilização de óleo de baleia com argila nas ligas das pedras. Ou o Túnel Que Chora - assim conhecido por conta das gotas vindas da nascente sobre ele , com 100 metros de extensão, cavado na pedra bruta a mão pelos escravos e por onde trafegava a Maria Fumaça.

Serenata e paixão[editar | editar código-fonte]

A prosperidade econômica do final do século XIX deu início a outra tradição na vila: a das serenatas - a música cantada sob o sereno. As serenatas sempre foram tradição em qualquer cidade do interior, assim como também na Capital do Estado. Entretnto, ao final da década de 50,mais precisamente em 1958, José Borges de Freitas Netto, carioca do Irajá, advogado e funcionário da delegacia do trabalho de São Paulo, teve a ideia despretenciosa de registrar nas fachadas do casario, plaquinhas de aço inoxidável, com o nome de músicas e respectivos autores que haviam se mantido na memória romântica popular e, com isso, apoiado por seu irmão Joubert Cortines de Freitas, professor de matemática no Rio de Janeiro e Luiz Gonzaga Pinto Magalhães, carioca do Engenho de Dentro, funcionário público federal, ex-violonista de rádio em uma época que não existia a televisão,contratado das maiores rádios do País na época.

Conservatória, primeira metade do século XX. Arquivo Nacional.

Um dos grandes motivadores da tradição da música na cidade é o Museu da Seresta (hoje extinto), que tem acervo de músicas de serestas, criado pelos irmãos Joubert Cortines de Freitas e José Borges de Freitas Neto, já falecidos, e reunindo os seresteiros às sextas-feiras e sábados à noite, que de lá saiam para cultivar o hábito, raramente quebrado, de cantar pelas ruas da cidade. Hoje a tradição se mantem com encontros na Casa de Cultura e na "Rua do Meio" (Travessa Professora Geralda Fonseca, rua que antes era conhecida por BECO DA FELIZARDA)

Em 1998, Conservatória comemorou 120 anos de serenatas (desde que se possa considerar as serenatas rotineiras de todas as cidades do interior a aquela época) . Conta a história que a tradição nasceu com um romântico professor de música e tocador de violino, Andreas Schmidt, que, em uma noite enluarada no silêncio do vilarejo, atraiu espectadores, e o professor Andreas passou a ter como rotina tocar seu violino na praça, nas noites estreladas.

Música e grandes paixões sempre estiveram de mãos dadas em Conservatória e geraram muitas histórias de amor. Há uma lenda de que certa vez, em 1938, Antonio Castello Branco, um abastado fazendeiro de Santa Isabel, distrito vizinho, que vivia uma paixão não correspondida por uma moça de Conservatória, resolveu demonstrar seu amor conforme a tradição. Colocou seu piano de cauda em cima de um caminhão e percorreu mais de 20 quilômetros em estrada de terra esburacada, só para tocar e cantar sob a janela da amada. Consta que o gesto deu resultado, e ele chegou a namorar a moça. Todavia é necessário que se tenha a isso como uma verdadeira lenda, pois se sabe que um piano ao ser transportado nas melhores condições possíveis nos dias de hoje, já tem uma probabilidade imensa de desafinar; imagine-se naquela época, em estrada de terra ruim, sobre a carroceria de um caminhão de suspensão precaria daquela época.

Conservatória exprime uma das formas de reação contra as consequências da urbanização acelerada, que caracteriza nossa etapa de desenvolvimento da humenidade, mas assim mesmo sofrendo com o crescimento demográfico e a consequente necessidade de empregos e estrutura de serviços na área de saúde, educação e segurança, o que sabemos é inevitável, mantendo suas características bucólicas de arraial, pacata e tranquila, cujos moradores de fala branda, afáveis e educados preservam seus costumes e se reúnem, vez por outra, para manter a tradição das festas juninas, da dança, da música, das quadrilhas, e das serestas que tornam seu pequeno vilarejo um pólo de atração turística no estado do Rio de Janeiro.

O fim do ciclo da agropecuária, nos anos 80, resultou na decadência da agricultura na região, e de algumas das centenárias fazendas da região. Algumas estão preservadas, outras mudaram sua atividade produtiva, mas a beleza do lugar, sua deslumbrante paisagem, composta por vales e cachoeiras, as relíquias históricas preservadas no tempo abriram outros caminhos de sucesso para Conservatória.

Um dos símbolos da história do lugar que está logo na entrada na cidade: a antiga "Maria Fumaça 206", da Rede Mineira de Viação, que puxava os vagões de passageiros e também o trem com a produção de café, hoje estacionada em frente à antiga Estação Ferroviária de Conservatória, preservada e atualmente com a função de rodoviária. A linha ferroviária e a estação, inauguradas por D. Pedro II em 21 de novembro de 1883, foram extintas após a instalação da indústria automobilística no Brasil e da política de construção de rodovias para privilegiar o transporte rodoviário de cargas, nos anos 1960. Por aquela ferrovia, o vilarejo se interligava com o Rio e Minas, partindo de Barra do Piraí - município do qual Conservatória foi distrito de 1943 a 1948, quando passou a pertencer a Valença - e chegando até Soledade de Minas, após Santa Rita do Jacutinga, Baependi e Caxambu, em Minas.

Com o fim da ferrovia, Conservatória ficou isolada dos grandes centros. O acesso, por Barra do Piraí, Santa Isabel, Valença ou São José do Turvo, era precário, por estradas de terra, com cerca de 30 quilômetros, que muitas vezes ficavam interditadas na época das chuvas. Nem mesmo essas dificuldades, no entanto, afastaram os amantes das serestas e da cidade, que permaneceram fiéis à tradição, frequentando e divulgando o lugar.

Nos anos 1980, teve início a pavimentação do trecho de estrada ligando Barra do Piraí à Ipiabas, facilitando o trajeto até a cidade. Em 1998, finalmente, foi inaugurada a pavimentação por asfalto do trecho de 15 quilômetros entre Ipiabas e Conservatória, reforçando o desenvolvimento turístico da cidade e abrindo novas perspectivas econômicas para a região.

Música: fator de desenvolvimento local[editar | editar código-fonte]

Conservatória sofre, como outras localidades do Estado do Rio de Janeiro, o problema do êxodo rural. Mas esse fenômeno não lhe traz grande abatimento econômico devido ao fluxo turístico, 90% do Rio de Janeiro e de São Paulo, atraído pela tranquilidade bucólica.

A tradicional serenata, realizada toda sexta-feira e sábado, partindo às 23h dos pontos já citados e seguindo noite adentro, é o elemento nuclear das atrações musicais, que também incluem a Solarata (realizada nas manhãs de domingo) e as serestas (canto em espaços fechados) realizados em diferentes hotéis, pousadas, restaurantes e até mesmo residências. Os turistas são atraídos pela atmosfera romântico-musical das diferentes apresentações, hospedando-se nos hotéis e pousadas para poderem acompanhá-las. Geram, dessa forma fluxo de renda e consequente emprego de mão-de-obra local. Conservatória conta atualmente com mais de 2 mil leitos para atender os turistas, e esse fluxo exige uma qualificação maior de seus técnicos nas fazendas, hotéis, pousadas e restaurantes[1].

Teatro Sonora[editar | editar código-fonte]

Idealizado e fundado em 2011 pela cantora e musicista Juliana Maia, é localizado no centro histórico de Conservatória. Referência cultural e turística da região sul fluminense, proporcionando espetáculos enaltecendo a nossa música popular Brasileira. O local tem uma "calçada da fama", cadeiras de cinema antigo, objetos retrô e uma cafeteria gourmet, onde se reverencia grandes ícones da MPB e cultura, como Elis Regina, Dolores Duran, Cartola, Dalva de Oliveira, Carmen Miranda e outros. A sua responsabilidade social é ser um dos patrocinadores do Centro Cultural Juliana Maia, sede do projeto social "Harmônicos de Conservatória", escola musical gratuita para crianças e jovens da comunidade de Conservatória e sede da 1º orquestra de Conservatoria.[editar | editar código-fonte]

Centro Cultural Juliana Maia

O centro cultural Juliana Maia é um espaço de propostas alternativas de aprendizado multidisciplinar onde a arte é a matriz de múltiplos desdobramentos nas áreas da educação e da assistência social,  promovemos ações que estimulam expressões coletivas de cultura e de economia criativa em suas diversidades e especificidades.

Com projetos totalmente gratuitos para crianças e jovens da rede pública de ensino e de vulnerabilidade social, retornamos a sociedade civil um leque de oportunidades que movimentam a cena cultural no Sul Fluminense e promovem oportunidades de geração de emprego e renda para várias famílias. A equipe do Centro Cultural Juliana Maia, formada por profissionais, técnicos e artistas fluminenses de qualidade reconhecida no mercado, desenvolve ações estratégicas necessárias para que novos talentos possam ser revelados, absorvidos e mantidos pela economia criativa do Interior do Estado do Rio de Janeiro.

Fazenda histórica Florença[editar | editar código-fonte]

A Fazenda Florença foi fundada pelo clã dos Teixeira Leite, de origem portuguesa. Vindos de Minas Gerais, eles foram atraídos para o Vale do Paraíba pela riqueza do café no século XIX. Os Barões de Itambé e de Vassouras foram considerados os membros de maior renome na família, que se afazendou por locais como Conservatória, Rio das Flores, Barra Mansa e Valença. A atual sede do casarão foi erguida em 1852 e nela destaca-se um imponente alpendre, de influência italiana, encimado por um frontão que é sustentado por colunas de madeira trabalhada. A construção foi feita em base de pedra e piso de peroba do campo e possui detalhes no estilo neoclássico. Essa atmosfera do século XIX que inspirou a realização de saraus históricos, onde personagens caracterizados da época do Brasil Império proporcionam aos hóspedes e visitantes, uma experiência inesquecível, através de interpretações e apresentações musicais. O cenário se completa com as estátuas em tamanho natural, do Imperador D. Pedro II e de sua esposa, a Imperatriz D. Teresa Cristina. Os encontros, realizados nos finais de semana e feriados também são uma excelente oportunidade para experimentar as delícias da gastronomia da época. No interior do casarão os hóspedes fazem uma surpreendente viagem pelo tempo em forma de objetos originais do século XIX, como bengalas, cartolas, porcelanas, entre outros. A sede da fazenda está aberta à visitação em horário programado.

Avistamento de OVNIs[editar | editar código-fonte]

A Serra da Beleza, localizada na divisa entre Santa Isabel, Rio Preto e Conservatória, é famosa por ter muitos relatos de avistamento de OVNIs. Marco Antonio Petit, principal editor da revista UFO, fotografou um OVNI em 1982 e coletou mais de 400 relatos de avistamento na região.[2]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «RJTV» [ligação inativa] 
  2. «Ufólogo aponta lugares no Brasil com relato de avistamento de Ovnis». Globo Ciência. 9 de junho de 2012. Consultado em 7 de fevereiro de 2022. Segundo Marco Antônio Petit, Serra da Beleza no Rio de Janeiro, Quixadá, no Ceará e Mucugê, na Bahia, são municípios que concentram depoimentos 
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