Dor miofascial em animais

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O termo "dor miofascial" faz referência a um conjunto de condições dolorosas que podem afetar o sistema músculo-esquelético, podendo ocorrer tanto em seres humanos quanto em animais, como cães. Essa condição desconfortável pode resultar em dor, rigidez e restrição de movimento. As origens da dor miofascial são variadas, sendo as mais comuns as contraturas musculares, agudas ou crônicas, e a Síndrome Dolorosa Miofascial (SDM).

Tipos[editar | editar código-fonte]

Contraturas Agudas[editar | editar código-fonte]

As contraturas agudas são geralmente causadas por traumas musculares, como lesões diretas ou decorrentes de cirurgias. Elas podem ser classificadas em graus 1, 2 e 3. As contraturas de grau 1 são consideradas leves, envolvendo lesões mínimas em algumas fibras musculares, com pouca inflamação e perda de função mínima. Elas normalmente se resolvem por conta própria em alguns dias. Já as contraturas de grau 2 causam danos mais extensos, com hematoma e edema, exigindo tratamento analgésico e resolvendo-se em algumas semanas com tratamento adequado. As contraturas de grau 3 apresentam danos severos com perda completa de função, extensos hematomas e dor intensa, requerendo tratamento medicamentoso e intensa reabilitação, podendo levar semanas a meses para cicatrizar completamente.

O tratamento das contraturas agudas segue o princípio PRICE (Protection, Rest, Ice, Compression, Elevation - proteção, repouso, gelo, compressão e elevação), adaptado da medicina humana. Dependendo do grau da lesão, são indicadas técnicas de reabilitação, incluindo bandagens elásticas, ultrassom, eletroterapia analgésica, laserterapia e, após a fase aguda, alongamentos, exercícios e mobilizações para restaurar a função muscular.

Contraturas Crônicas[editar | editar código-fonte]

Os principais tipos de contraturas crônicas em animais incluem contraturas miostáticas, contraturas por miofibrose e aquelas decorrentes de espasticidade. As contraturas miostáticas são resultado de contraturas agudas que se tornaram crônicas ou de lesões musculares crônicas devido a sobrecarga, lesões repetitivas ou alterações biomecânicas. Elas causam inflamação muscular e aderências miofasciais, encurtando o músculo e resultando em dor e disfunção. O tratamento inclui técnicas de termoterapia, alongamentos e exercícios de fortalecimento.

As contraturas por miofibrose são casos graves, frequentemente envolvendo o quadríceps, e podem levar à deformidade permanente. O tratamento inclui bloqueio da contração muscular com toxina botulínica e o uso de bandagens ou órteses para evitar deformidades.

As contraturas espásticas são decorrentes de lesões neurológicas que causam hipertonia muscular em todo o membro. O tratamento visa aliviar a dor crônica por meio de bolsas quentes, mobilização, alongamento e massoterapia. Em alguns casos, a toxina botulínica pode ser aplicada nos principais músculos hipertônicos.

Síndrome Dolorosa Miofascial[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Síndrome dolorosa miofascial

A Síndrome da Dor Miofascial (SDM) é uma dor crônica que afeta os tecidos moles, como músculos e tecidos conjuntivos. Ela é caracterizada por pontos-gatilho, que são áreas de fibras musculares tensas que causam dor localizada quando pressionadas. Esses pontos podem resultar de lesões, má postura, uso excessivo, estresse ou trauma. O diagnóstico em cães envolve histórico clínico e palpação para identificar os pontos-gatilho. O tratamento inclui terapia manual, técnicas de desativação de pontos-gatilho, alongamentos, exercícios de fortalecimento, modalidades físicas e, em alguns casos, intervenções farmacológicas.

Os pontos-gatilho (trigger points, em inglês) são áreas específicas de tensão muscular que podem causar dor e desconforto em animais, assim como ocorre em seres humanos. Esses pontos-gatilho são caracterizados por nódulos palpáveis e dolorosos dentro do tecido muscular, e quando estimulados, podem desencadear dor referida em áreas distantes do corpo do animal. Essas áreas de dor referida muitas vezes são interpretadas como dor localizada, mas a fonte real do problema está nos pontos-gatilho.

A formação de pontos-gatilho em animais pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo:

Trauma: Lesões musculares agudas ou repetidas podem desencadear o desenvolvimento de pontos-gatilho. Isso inclui quedas, contusões, estiramentos musculares e outras formas de trauma físico.

Sobrecarga muscular: O uso excessivo de certos músculos devido à atividade física intensa, treinamento inadequado ou postura incorreta pode levar à formação de pontos-gatilho.

Estresse: O estresse crônico ou agudo pode aumentar a tensão muscular, contribuindo para o desenvolvimento de pontos-gatilho.

Alterações biomecânicas: Problemas na biomecânica do corpo do animal, como desalinhamentos articulares ou alterações na marcha, podem levar ao desenvolvimento de pontos-gatilho.

Lesões nervosas: Danos nos nervos que inervam os músculos podem resultar em pontos-gatilho.

Os sintomas associados aos pontos-gatilho em animais podem incluir:

Dor: O sintoma mais comum é a dor localizada ou dor referida em outras áreas do corpo.

Alterações no comportamento: Animais com pontos-gatilho podem apresentar mudanças no comportamento, como irritabilidade, resistência a atividades físicas ou dificuldade em se mover.

O diagnóstico de pontos-gatilho em animais geralmente envolve uma avaliação clínica cuidadosa realizada por um veterinário ou fisioterapeuta veterinário. Isso pode incluir a palpação dos músculos para identificar nódulos dolorosos e a observação do comportamento do animal.[1]

O tratamento dos pontos-gatilho em animais pode envolver várias abordagens, incluindo:

Terapia manual: Isso inclui técnicas como liberação miofascial e massagem terapêutica para liberar a tensão muscular nos pontos-gatilho.

Terapia de pontos-gatilho: A aplicação de pressão nos pontos-gatilho pode ser feita manualmente ou com o uso de dispositivos como agulhas secas.

Exercícios de alongamento e fortalecimento: Esses exercícios visam melhorar a flexibilidade muscular e fortalecer os músculos afetados, ajudando a prevenir a recorrência dos pontos-gatilho.

Modalidades físicas: Terapias como calor, eletroterapia (como a estimulação elétrica nervosa transcutânea - TENS) ou terapia a laser podem ser usadas para aliviar a dor, melhorar a circulação sanguínea e promover a cicatrização dos tecidos.

Intervenções farmacológicas: Em alguns casos, podem ser prescritos medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) ou relaxantes musculares para aliviar a dor associada aos pontos-gatilho.

É importante lembrar que o tratamento de pontos-gatilho em animais deve ser realizado por profissionais de saúde veterinária qualificados. O diagnóstico e o tratamento adequados podem aliviar o desconforto do animal e melhorar sua qualidade de vida.

Em resumo, tanto as contraturas quanto a síndrome da dor miofascial podem afetar cães, e o tratamento eficaz depende do diagnóstico precoce e da aplicação adequada de técnicas de reabilitação e terapia. Isso pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes caninos.

Referências

  1. Formenton, Maira Rezende; Portier, Karine; Gaspar, Beatriz Ribeiro; Gauthier, Lisa; Yeng, Lin Tchia; Fantoni, Denise Tabacchi (janeiro de 2023). «Location of Trigger Points in a Group of Police Working Dogs: A Preliminary Study». Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI) (em inglês) (18). 2836 páginas. ISSN 2076-2615. doi:10.3390/ani13182836. Consultado em 8 de setembro de 2023