Economia de mercado socialista
A economia de mercado socialista é o modelo econômico empregado pela República Popular da China. É baseado em empresas estatais e uma economia de mercado, e teve suas origens na política de Deng Xiaoping que chamou o seu sistema econômico de socialismo com características chinesas. Este sistema substituiu, a partir de 1978 após as reformas econômicas chinesas, a economia socialista clássica do tipo soviético.
Apesar de seu título formal, este sistema tem sido amplamente citado como uma forma de capitalismo de Estado. Alguns o consideram como uma economia mista, outros o consideram como capitalismo[1][2][3]
Semelhantes, embora muito menos extensas reformas foram realizadas no Vietnã, onde o sistema econômico é chamado de economia de mercado de orientação socialista.
Após o Grande Salto Adiante (1958-1961) e a destituição da Camarilha dos Quatro do poder, o presidente da China Deng Xiaoping estava disposto a considerar métodos de crescimento econômico baseados no mercado, de modo a revitalizar a economia da China e encontrar um sistema econômico específico compatível com as condições da China. No entanto, ele permaneceu comprometido com o controle centralizado do estado com um partido único semelhante ao leninismo.
Descrição
[editar | editar código-fonte]A economia de mercado socialista foi um conceito proposto por Deng Xiaoping, a fim de incorporar a economia de mercado na economia planificada da República Popular da China e, mais tarde, utilizada pelo Vietnã.[4] Após a sua implementação, este sistema econômico complementou a economia planificada na República Popular da China, e as altas taxas de crescimento do PIB durante as últimas décadas têm sido atribuídas a ele. Dentro deste modelo, empresas de propriedade privada se tornaram um componente importante do sistema econômico ao lado empresas estatais federais e das coletivas municipais.
Existem algumas semelhanças com as economias mistas ocidentais, mas com algumas diferenças fundamentais. A distinção fundamental entre os modelos chineses e ocidentais de "economia mista de mercado" reside menos na implementação do modelo de economia mista, mas sim na filosofia política alternativa, por exemplo, com a implementação do Centralismo democrático[5] de origem leninista, o que evita as noções ocidentais preconcebidas de democracia, direitos individuais, e Estado de Direito.[6] É importante frisar que o pensamento e a sociedade chinesa tem uma origem diferente da ocidental, com inspiração confuciana e taoista, além do budismo, correntes filosóficas muito presentes na sociedade chinesa e que podem causar estranhamento àqueles que vivem de maneira ocidental.[7][8]
O setor de estado
[editar | editar código-fonte]Até 2005, as reformas orientadas para o mercado, incluindo a privatização, foram praticamente interrompidas e algumas reverteram parcialmente.[9] Em 2006, o governo chinês anunciou que o armamento, geração e distribuição de energia, petróleo e petroquímica, telecomunicações, carvão, aviação e indústrias marítimas tinha que permanecer sob "controle estatal absoluto".[10] O Estado detém o controle indireto da economia não estatal através do sistema financeiro, que dá de acordo com as prioridades do estado.
A principal diferença da antiga economia socialista planejada é a reestruturação das empresas estatais ao longo de uma base comercial.[11] Em 2008, essas empresas estatais tornaram-se cada vez mais dinâmicas e em grande parte contribuindo para o aumento de receitas para o Estado.[12][13] Em 2009, o governo considerou um regime de seguro do estado para ampliar a cobertura de saúde.[14]
O Estado-sector conduziu o processo de recuperação econômica e aumento do crescimento econômico em 2009 após a crise financeira, em parte porque a maior parte do pacote de estímulo chinês foi direcionado para empresas estatais.[15] O setor estatal produzia em 2009 entre 40 a 50 porcento do PIB da China.[16]
História
[editar | editar código-fonte]A transição para uma economia de mercado socialista começou em 1978, quando Deng Xiaoping apresentou o seu programa de "socialismo com características chinesas". Reformas iniciais em privatização da agricultura e permitindo empresas privadas e investimentos estrangeiros no final de 1970 e início de 1980 levou a reformas radicais em larga escala, resultando na privatização parcial do setor estatal, a liberalização do comércio e dos preços, e o desmantelamento da segurança no trabalho na década de 1990. Desde o início das reformas de Deng Xiaoping, o PIB da China aumentou de cerca de 150 bilhões de dólares para mais de 1,6 trilhões de dólares, com um aumento anual de 9,4 por cento.[17] A partir de 2004, 50% das empresas estatais foram transformadas em Empresa de capital aberto.[17]
A participação do setor privado do PIB subiu de menos de 1% em 1978 para 70% até 2005. Devido ao fraco desempenho das empresas tradicionais do Estado na economia de mercado, a China embarcou em um programa de reestruturação maciça das empresas estatais. Desde 2013, mais de 40% do PIB chinês advinha das empresas estatais, cerca de 75 das suas 100 maiores empresas de capital aberto são estatais, além das demais políticas de apoio governamental as empresas privadas.[18] Dentro deste regime, o Estado mantém a propriedade e o controle de grandes empresas, porém, muitas empresas ainda tentam driblar as medidas governamentais implementadas.[19]
Atualmente, vemos um grande crescimento da política econômica da China para fora de seus territórios, ou seja, uma internacionalização de investimentos em empresas exteriores, como retrata o documentário American Factory. Em 2008, a China representava cerca de 8% dos fluxos totais de mercado.[20] O próprio Brasil, em 2020, já tinha somado mais de U$100 bilhões de investimentos de origem chinesa.[21] Provavelmente, essa escolha financeira, tem origem na intenção política, tanto em sentido de filosofia política, ou seja, o socialismo internacional, quanto intenção futura no mercado brasileiro e do MERCOSUL.
Dificuldades
[editar | editar código-fonte]Apesar do grande crescimento da economia chinesa, alguns problemas são encontrados no país, como o acesso as finanças estatais por algumas empresas, principalmente os pequenos negócios. Porém, nos últimos anos, a organização governamental conseguiu diminuir boa parte dos problemas financeiros.[22]
Além disso, vemos um grande recuo de uma parte da população de Hong Kong à adoção das medidas socialistas em seus meios de mercado, principalmente com o início dos protestos de Hong Kong em 2019. A região é conhecida como o polo capitalista do país.[23] Apesar de representar de 3-4% do PIB, a região ainda é considerada de boa relevância para o cenário nacional. Porém, em 2020, a China já iniciou a retomada do controle político na região, mesmo com dura pressão externa internacional.[24][25]
Referências
- ↑ «Subscribe to read | Financial Times». www.ft.com. Consultado em 8 de dezembro de 2022
- ↑ The Economist, ed. (21 de janeiro de 2012). «The rise of state capitalism»
- ↑ Bremmer, Ian (2009). Council on Foreign Relations, ed. «State Capitalism Comes of Age» Parâmetro desconhecido
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ignorado (ajuda); - ↑ Vuong, Quan Hoang (2010) Financial Markets in Vietnam's Transition Economy: Facts, Insights, Implications. ISBN 978-3-639-23383-4, VDM Verlag, 66123 Saarbrücken, Germany
- ↑ «Constituição de 4 de Dezembro de 1982 da República Popular da China». bo.io.gov.mo. Consultado em 26 de agosto de 2020
- ↑ Yu, Verna (7 September 2010) "Shenzhen speeches show divide on 'political reform'", South China Morning Post
- ↑ Rocha, Hélio (22 de junho de 2019). «Taoísmo e confucionismo: os alicerces da sociedade chinesa - Hélio Rocha». Brasil 247. Consultado em 26 de agosto de 2020
- ↑ «Confucionismo, taoísmo, budismo, marxismo...». Vermelho. Consultado em 26 de agosto de 2020
- ↑ Hederman, Rea. «10 China Myths for the New Decade | The Heritage Foundation». Heritage.org. Consultado em 7 de setembro de 2010. Arquivado do original em 10 de setembro de 2010
- ↑ China Daily, ed. (19 de dezembro de 2006). «China names key industries for absolute state control». Consultado em 7 de setembro de 2010
- ↑ «Reassessing China's State-Owned Enterprises». Forbes. 8 de julho de 2008. Consultado em 7 de setembro de 2010
- ↑ «InfoViewer: China's champions: Why state ownership is no longer proving a dead hand». Us.ft.com. 28 de agosto de 2003. Consultado em 7 de setembro de 2010. Arquivado do original em 11 de julho de 2011
- ↑ «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 13 de janeiro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 20 de julho de 2011
- ↑ Ramzy, Austin (9 de abril de 2009). «China's New Healthcare Could Cover Millions More». TIME. Consultado em 7 de setembro de 2010
- ↑ «Business | China grows faster amid worries». BBC News. 16 de julho de 2009. Consultado em 7 de setembro de 2010
- ↑ Chinese companies shore up government ties to survive
- ↑ a b China has socialist market economy in place (People's Daily Online, 2005).
- ↑ «Estatais representam mais de 40% do PIB da China». Agencia de Notícias CNI. Consultado em 26 de agosto de 2020
- ↑ «Reform of China's State-owned Enterprises A Progress Report of Oxford Analytica». Worldbank.org. Consultado em 7 de setembro de 2010
- ↑ Nonnenberg, Marcelo José Braga (junho de 2010). «China: estabilidade e crescimento econômico». Brazilian Journal of Political Economy. 30 (2): 201–218. ISSN 0101-3157. doi:10.1590/S0101-31572010000200002
- ↑ «Investimentos de empresas chinesas no Brasil superam US$ 100 bilhões». www.sna.agr.br. Consultado em 26 de agosto de 2020
- ↑ «CHINA: Reformas de empresas estatais para criar campeões nacionais»
- ↑ Vitrine, Revista (22 de setembro de 2014). «Hong Kong: Uma cidade-estado chinesa capitalista, hospitaleira e com clima ameno». IPC DIGITAL. Consultado em 26 de agosto de 2020
- ↑ «União Europeia pede respeito à liberdade de expressão em Hong Kong». Valor Investe. Consultado em 26 de agosto de 2020
- ↑ Minas, Estado de; Minas, Estado de (7 de agosto de 2020). «EUA sanciona autoridades de Hong Kong em nova ofensiva contra China». Estado de Minas. Consultado em 26 de agosto de 2020