Apolônio de Carvalho: diferenças entre revisões

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'''Apolônio de Carvalho''' ([[Corumbá]], [[9 de fevereiro]] de [[1912]] — [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], [[23 de setembro]] de [[2005]]) foi um [[militar]] [[brasil]]eiro e um dos fundadores do [[Partido dos Trabalhadores]] (PT).
'''Apolônio de Carvalho''' ([[Corumbá]], [[9 de fevereiro]] de [[1912]] — [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], [[23 de setembro]] de [[2005]]) foi um [[militar]] [[brasil]]eiro e um dos fundadores do [[Partido dos Trabalhadores]] (PT).



==Vida==
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Apolônio de Carvalho foi uma figura ímpar no cenário da vida [[política]] brasileira. Poucos como ele viveram com tanta intensidade a «paixão libertária» que o impeliu, desde os seus anos de cadete da [[Escola Militar de Realengo]], a engajar-se na luta pelos ideais [[socialista]]s e contra os regimes de opressão, com uma coerência que se manifestou em todos os episódios vividos: da militância no [[Partido Comunista Brasileiro]] (PCB) e na ANL ([[Aliança Nacional Libertadora]]) à participação na [[Guerra Civil Espanhola]] e na [[Resistência]] [[França|Francesa]] contra o [[fascismo]]; da luta clandestina contra a [[ditadura militar]] no [[Brasil]], como membro do [[PCBR]], à militância no PT, desde o momento da fundação do partido até sua morte.
Apolônio de Carvalho foi uma figura ímpar no cenário da vida [[política]] brasileira. Poucos como ele viveram com tanta intensidade a «paixão libertária» que o impeliu, desde os seus anos de cadete da [[Escola Militar de Realengo]], a engajar-se na luta pelos ideais [[socialista]]s e contra os regimes de opressão, com uma coerência que se manifestou em todos os episódios vividos: da militância no [[Partido Comunista Brasileiro]] (PCB) e na ANL ([[Aliança Nacional Libertadora]]) à participação na [[Guerra Civil Espanhola]] e na [[Resistência]] [[França|Francesa]] contra o [[fascismo]]; da luta clandestina contra a [[ditadura militar]] no [[Brasil]], como membro do [[PCBR]], à militância no PT, desde o momento da fundação do partido até sua morte.


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[[Imagem:S15.jpeg|thumb|200px|left|Cartaz [[Segunda República Espanhola|republicano]] do período da [[Guerra Civil Espanhola]].]]
Com a saída da prisão em junho de [[1937]], Apolônio ingressa no Partido Comunista Brasileiro. Segundo disse Apolônio a Teoria e Debate , o ideário do PCB "era muito parecido com o da ANL: contra os monopólios estrangeiros, pela [[reforma agrária]], pela autonomia sindical, pelas liberdades sindicais, pelas amplas conquistas sociais". Recebe a orientação de embarcar para a [[Espanha]] onde, juntamente com outros vinte brasileiros, combaterá nas [[Brigadas Internacionais]] ao lado das forças Republicanas contra os fascistas liderados pelo general [[Francisco Franco]].
Com a saída da prisão em junho de [[1937]], Apolônio ingressa no Partido Comunista Brasileiro. Segundo disse Apolônio a Teoria e Debate , o ideário do PCB "era muito parecido com o da ANL: contra os monopólios estrangeiros, pela [[reforma agrária]], pela autonomia sindical, pelas liberdades sindicais, pelas amplas conquistas sociais". Recebe a orientação de embarcar para a [[Espanha]] onde, juntamente com outros vinte brasileiros, combaterá nas [[Brigadas Internacionais]] ao lado das forças Republicanas contra os fascistas liderados pelo general [[Francisco Franco]].


[[Imagem:Flag of the International Brigades.svg|right|thumb|150px|Bandeira das Brigadas Internacionais]]
Apolônio deixa a Espanha juntamente com as Brigadas Internacionais em fevereiro de [[1939]] e parte para a [[França]], onde permanece em campos de refugiados até maio de [[1940]], quando consegue fugir do campo de [[Gurs]], dirigindo-se a [[Marselha]]. É nesta cidade portuária que ele ingressa na [[Resistência Francesa]], em [[1942]], da qual se torna comandante da [[guerrilha]] dos [[partisans]] para a região sul, com sede em [[Lyon]]. É também em 1942 que conhece Renée, uma jovem militante comunista da Resistência, que se tornaria sua companheira para o resto da vida. Em janeiro de [[1944]], Apolônio e Renée se instalam em [[Nîmes]], onde em fevereiro, se organiza o ataque à prisão daquela cidade, libertando 23 militantes da Resistência. Em maio, mudam-se para [[Toulouse]]. Em agosto, Apolônio comanda a liberação de [[Carmaux]], [[Albi (França)|Albi]] e [[Toulouse]]. Em novembro, nasce o primeiro filho do casal, René-Louis.
Apolônio deixa a Espanha juntamente com as Brigadas Internacionais em fevereiro de [[1939]] e parte para a [[França]], onde permanece em campos de refugiados até maio de [[1940]], quando consegue fugir do campo de [[Gurs]], dirigindo-se a [[Marselha]]. É nesta cidade portuária que ele ingressa na [[Resistência Francesa]], em [[1942]], da qual se torna comandante da [[guerrilha]] dos [[partisans]] para a região sul, com sede em [[Lyon]]. É também em 1942 que conhece Renée, uma jovem militante comunista da Resistência, que se tornaria sua companheira para o resto da vida. Em janeiro de [[1944]], Apolônio e Renée se instalam em [[Nîmes]], onde em fevereiro, se organiza o ataque à prisão daquela cidade, libertando 23 militantes da Resistência. Em maio, mudam-se para [[Toulouse]]. Em agosto, Apolônio comanda a liberação de [[Carmaux]], [[Albi (França)|Albi]] e [[Toulouse]]. Em novembro, nasce o primeiro filho do casal, René-Louis. Por sua coragem, é considerado um herói na França.


[[Imagem:Ww2-102.jpg|thumb|250px|left|Oficial do [[exército americano]] ao lado de um [[partisan]] integrante da resistência francesa.]]
O fim da guerra encontra a família em [[Paris]], de onde embarca no ano seguinte para o [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]. Em [[1947]] nasce o segundo filho do casal, Raul. Apolônio, Renée e as duas crianças passam a viver na clandestinidade, militando entre Rio e [[São Paulo]] até [[1953]], quando ele parte para um curso na [[União Soviética]] que dura cerca de quatro anos. Em [[1955]], Renée o encontra em [[Moscou]] e, em [[1957]], a família está de volta ao Brasil, vivendo na semi-legalidade, situação que se estende até o [[golpe militar de 1964]].
O fim da guerra encontra a família em [[Paris]], de onde embarca no ano seguinte para o [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]. Em [[1947]] nasce o segundo filho do casal, Raul. Apolônio, Renée e as duas crianças passam a viver na clandestinidade, militando entre Rio e [[São Paulo]] até [[1953]], quando ele parte para um curso na [[União Soviética]] que dura cerca de quatro anos. Em [[1955]], Renée o encontra em [[Moscou]] e, em [[1957]], a família está de volta ao Brasil, vivendo na semi-legalidade, situação que se estende até o [[golpe militar de 1964]].


[[Imagem:Castelobranco.jpg|thumb|200px|right|<center>'''Humberto de Alencar Castelo Branco'''<center>o primeiro dirigente do [[Ditadura militar no Brasil (1964-1985)|regime militar]] brasileiro.]]
Na [[década de 60]], participou da oposição popular e democrática ao regime militar. Logo após o golpe de [[31 de março]] de [[1964]], Apolônio passa a viver em profunda clandestinidade no estado do Rio de Janeiro, longe da família. Em conseqüência das divergências com o [[Comitê Central]] do Partido Comunista (do qual era membro) Apolônio e a [[Corrente Revolucionária]] do Estado do Rio deixam o PCB, em [[1967]]. Em abril do ano seguinte, juntamente com [[Mário Alves]], [[Jacob Gorender]] e outros dissidentes, Apolônio fundará o PCBR ([[Partido Comunista Brasileiro Revolucionário]]).
Na [[década de 60]], participou da oposição popular e democrática ao regime militar. Logo após o golpe de [[31 de março]] de [[1964]], Apolônio passa a viver em profunda clandestinidade no estado do Rio de Janeiro, longe da família. Em conseqüência das divergências com o [[Comitê Central]] do Partido Comunista (do qual era membro) Apolônio e a [[Corrente Revolucionária]] do Estado do Rio deixam o PCB, em [[1967]]. Em abril do ano seguinte, juntamente com [[Mário Alves]], [[Jacob Gorender]] e outros dissidentes, Apolônio fundará o PCBR ([[Partido Comunista Brasileiro Revolucionário]]).


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Durante os anos que teve de ficar fora das terras brasileiras, mantém contato com o Brasil e se articula com os exilados no exterior. A volta ao Brasil será em outubro de [[1979]], depois da [[Anistia]] de agosto daquele ano.
Durante os anos que teve de ficar fora das terras brasileiras, mantém contato com o Brasil e se articula com os exilados no exterior. A volta ao Brasil será em outubro de [[1979]], depois da [[Anistia]] de agosto daquele ano.


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No final dos [[anos 70]], aproximou-se dos grupos que então trabalhavam para criar o PT, tornando-se um de seus fundadores. "Nós tivemos uma imensa simpatia pelo PT", disse ele. "Em fevereiro de [[1980]], quando se lança (o partido) oficialmente, vemos o primeiro partido de esquerda em todo o século que pleiteia, como um de seus traços essenciais, a conquista da legalidade".
No final dos [[anos 70]], aproximou-se dos grupos que então trabalhavam para criar o PT, tornando-se um de seus fundadores. "Nós tivemos uma imensa simpatia pelo PT", disse ele. "Em fevereiro de [[1980]], quando se lança (o partido) oficialmente, vemos o primeiro partido de esquerda em todo o século que pleiteia, como um de seus traços essenciais, a conquista da legalidade".


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Entusiasta do [[Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]] (MST), ao qual sempre prestou apoio e junto ao qual esteve sempre presente, enfrentou nos últimos meses de sua vida a derrocada do Partido dos Trabalhadores, frente ao que não abriu mão da crítica ou da esperança. Para ele, um novo mundo (socialista) era sempre possível e poderá estar sempre ao alcance de nossas mãos, desde que estejamos dispostos a nos organizar e a lutar por ele.
Entusiasta do [[Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]] (MST), ao qual sempre prestou apoio e junto ao qual esteve sempre presente, enfrentou nos últimos meses de sua vida a derrocada do Partido dos Trabalhadores, frente ao que não abriu mão da crítica ou da esperança. Para ele, um novo mundo (socialista) era sempre possível e poderá estar sempre ao alcance de nossas mãos, desde que estejamos dispostos a nos organizar e a lutar por ele.


A atribuição ''Herói de Três Pátrias'' se deu pelo fato de Apolônio ter lutado contra o [[fascismo]] em três países: [[Brasil]], [[Espanha]] e [[França]].
A atribuição ''Herói de Três Pátrias'' se deu pelo fato de Apolônio ter lutado contra o [[fascismo]] em três países: [[Espanha]], [[França]] e [[Brasil]].


O documentário 'Vale a pena sonhar' de Stela Grisotti e Rudi Bohm é um documento indispensável sobre a vida de Apolonio de Carvalho. Nele estão depoimentos preciosíssimos, entre os quais o da grande figura da resistência francesa Lucie Aubrac. Também se ouve os depoimentos de sua mulher e de seus filhos.
O documentário 'Vale a pena sonhar' de Stela Grisotti e Rudi Bohm é um documento indispensável sobre a vida de Apolonio de Carvalho. Nele estão depoimentos preciosíssimos, entre os quais o da grande figura da resistência francesa Lucie Aubrac. Também se ouve os depoimentos de sua mulher e de seus filhos.



=={{Ligações externas}}==
=={{Ligações externas}}==

* [http://www.fpabramo.org.br/especiais/apolonio/apolonio.htm Artigo na Fundação Perseu Abramo]
* [http://www.fpabramo.org.br/especiais/apolonio/apolonio.htm Artigo na Fundação Perseu Abramo]
* [http://www.mst.org.br/biblioteca/lutadores/apolonio.htm Lutadores e Lutadoras do Povo - MST]
* [http://www.mst.org.br/biblioteca/lutadores/apolonio.htm Lutadores e Lutadoras do Povo - MST]



{{Biografias}}
{{Biografias}}


[[Categoria:Militares do Brasil]]


[[Categoria:Militares do Brasil]]
[[Categoria:Corumbaenses]]
[[Categoria:Corumbaenses]]
[[Categoria:Partido dos Trabalhadores]]
[[Categoria:Partido dos Trabalhadores]]

Revisão das 20h41min de 5 de maio de 2008

Apolônio de Carvalho
Nascimento 9 de fevereiro de 1912
Corumbá
Morte 23 de setembro de 2005
Rio de Janeiro
Nacionalidade Brasil Brasileira


Apolônio de Carvalho (Corumbá, 9 de fevereiro de 1912Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2005) foi um militar brasileiro e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT).


Vida

Apolônio de Carvalho foi uma figura ímpar no cenário da vida política brasileira. Poucos como ele viveram com tanta intensidade a «paixão libertária» que o impeliu, desde os seus anos de cadete da Escola Militar de Realengo, a engajar-se na luta pelos ideais socialistas e contra os regimes de opressão, com uma coerência que se manifestou em todos os episódios vividos: da militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e na ANL (Aliança Nacional Libertadora) à participação na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa contra o fascismo; da luta clandestina contra a ditadura militar no Brasil, como membro do PCBR, à militância no PT, desde o momento da fundação do partido até sua morte.

Apolônio de Carvalho era filho de um soldado sergipano e de mãe gaúcha. Teve contato com a política bem jovem, na época em que cursou a escola militar, conforme disse à revista Teoria e Debate em 1989: "Em fins de 1933 eu já era oficial, achava que era necessário mudar a sociedade brasileira", contou ele. Dois anos depois, ajudou a criar a ANL: "um colega do Rio Grande do Sul, um capitão do Exército, me falou da ANL (...) Então, eu participei da organização dessa frente popular" Preso em 1936 pelo governo de Getúlio Vargas, tem sua patente militar destituída e é expulso do Exército.

Ficheiro:S15.jpeg
Cartaz republicano do período da Guerra Civil Espanhola.

Com a saída da prisão em junho de 1937, Apolônio ingressa no Partido Comunista Brasileiro. Segundo disse Apolônio a Teoria e Debate , o ideário do PCB "era muito parecido com o da ANL: contra os monopólios estrangeiros, pela reforma agrária, pela autonomia sindical, pelas liberdades sindicais, pelas amplas conquistas sociais". Recebe a orientação de embarcar para a Espanha onde, juntamente com outros vinte brasileiros, combaterá nas Brigadas Internacionais ao lado das forças Republicanas contra os fascistas liderados pelo general Francisco Franco.

Bandeira das Brigadas Internacionais

Apolônio deixa a Espanha juntamente com as Brigadas Internacionais em fevereiro de 1939 e parte para a França, onde permanece em campos de refugiados até maio de 1940, quando consegue fugir do campo de Gurs, dirigindo-se a Marselha. É nesta cidade portuária que ele ingressa na Resistência Francesa, em 1942, da qual se torna comandante da guerrilha dos partisans para a região sul, com sede em Lyon. É também em 1942 que conhece Renée, uma jovem militante comunista da Resistência, que se tornaria sua companheira para o resto da vida. Em janeiro de 1944, Apolônio e Renée se instalam em Nîmes, onde em fevereiro, se organiza o ataque à prisão daquela cidade, libertando 23 militantes da Resistência. Em maio, mudam-se para Toulouse. Em agosto, Apolônio comanda a liberação de Carmaux, Albi e Toulouse. Em novembro, nasce o primeiro filho do casal, René-Louis. Por sua coragem, é considerado um herói na França.

Ficheiro:Ww2-102.jpg
Oficial do exército americano ao lado de um partisan integrante da resistência francesa.

O fim da guerra encontra a família em Paris, de onde embarca no ano seguinte para o Rio de Janeiro. Em 1947 nasce o segundo filho do casal, Raul. Apolônio, Renée e as duas crianças passam a viver na clandestinidade, militando entre Rio e São Paulo até 1953, quando ele parte para um curso na União Soviética que dura cerca de quatro anos. Em 1955, Renée o encontra em Moscou e, em 1957, a família está de volta ao Brasil, vivendo na semi-legalidade, situação que se estende até o golpe militar de 1964.

Humberto de Alencar Castelo Branco
o primeiro dirigente do regime militar brasileiro.

Na década de 60, participou da oposição popular e democrática ao regime militar. Logo após o golpe de 31 de março de 1964, Apolônio passa a viver em profunda clandestinidade no estado do Rio de Janeiro, longe da família. Em conseqüência das divergências com o Comitê Central do Partido Comunista (do qual era membro) Apolônio e a Corrente Revolucionária do Estado do Rio deixam o PCB, em 1967. Em abril do ano seguinte, juntamente com Mário Alves, Jacob Gorender e outros dissidentes, Apolônio fundará o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário).

Em janeiro de 1970, no bojo de quedas que atingiram dezenas de militantes do PCBR, Apolônio e Mário Alves são presos no Rio e Jacob Gorender em São Paulo. Todos são violentamente torturados e Mário Alves, assassinado. Em fevereiro, os filhos Raul e René-Louis também são presos.

Em junho, Apolônio e outros 39 presos políticos brasileiros chegam a Argel, trocados pelo embaixador alemão, seqüestrado por um comando revolucionário no Rio de Janeiro. René-Louis será libertado em 1971, trocado (juntamente com 69 outros presos políticos) pelo embaixador da Suíça. Raul sai da prisão no ano seguinte. Depois disso que Renée deixa o Brasil e a família se reúne em Paris. Durante os anos que teve de ficar fora das terras brasileiras, mantém contato com o Brasil e se articula com os exilados no exterior. A volta ao Brasil será em outubro de 1979, depois da Anistia de agosto daquele ano.

No final dos anos 70, aproximou-se dos grupos que então trabalhavam para criar o PT, tornando-se um de seus fundadores. "Nós tivemos uma imensa simpatia pelo PT", disse ele. "Em fevereiro de 1980, quando se lança (o partido) oficialmente, vemos o primeiro partido de esquerda em todo o século que pleiteia, como um de seus traços essenciais, a conquista da legalidade".

Permanece na direção do novo partido até 1987, quando se afasta por orientação médica.

Apesar das limitações da saúde e da idade, Apolônio prossegue um militante que não se furtará jamais aos debates e à manifestação pública de suas posições de socialista convicto. Um socialista que soube combater criticamente as distorções do socialismo real mas que, nem por isto (ou por isto mesmo), a queda do muro de Berlim ou o diversionismo das teorias propagadas pelo capital conseguiram dobrar.

Entusiasta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao qual sempre prestou apoio e junto ao qual esteve sempre presente, enfrentou nos últimos meses de sua vida a derrocada do Partido dos Trabalhadores, frente ao que não abriu mão da crítica ou da esperança. Para ele, um novo mundo (socialista) era sempre possível e poderá estar sempre ao alcance de nossas mãos, desde que estejamos dispostos a nos organizar e a lutar por ele.

A atribuição Herói de Três Pátrias se deu pelo fato de Apolônio ter lutado contra o fascismo em três países: Espanha, França e Brasil.

O documentário 'Vale a pena sonhar' de Stela Grisotti e Rudi Bohm é um documento indispensável sobre a vida de Apolonio de Carvalho. Nele estão depoimentos preciosíssimos, entre os quais o da grande figura da resistência francesa Lucie Aubrac. Também se ouve os depoimentos de sua mulher e de seus filhos.


Ligações externas