Fábrica de Louças Santa Catharina

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S.A. Fábrica de Louças Santa Catharina
Saída de funcionários da Fábrica de Louças Santa Catharina, 1922
Atividade Louças
Fundação 1913
Fundador(es) Romeo Ranzini
Encerramento 1927
Sede São Paulo
Empregados 1000
Produtos Utensílios domésticos de louça
Sucessora(s) Cerâmica Matarazzo

A S.A. Fábrica de Louças Santa Catharina foi a primeira indústria do Brasil a produzir louça branca em grande quantidade, saturando o mercado com grande quantidade de produtos em série. Fundada em 1913, no distrito da Lapa, em São Paulo, pelo imigrante italiano Romeo Ranzini e mais cinco sócios da família Fagundes, a empresa foi responsável pelo desenvolvimento deste setor da indústria em nosso país. Inicialmente a empresa funcionou com o nome “Fagundes, Ranzini & Cia.”[1][2]

História[editar | editar código-fonte]

Em 1912, após realizar estudos com argilas, quartzo e granito, encontrados em São Paulo, e o caulim de Santo Amaro e São Caetano, Romeo Ranzini decidiu criar uma empresa para produzir cerâmica branca; chamada cerâmica de pó de pedra. Para tanto, levantou capital junto aos produtores de café; associando-se à família Fagundes, pertencente a aristocracia de produtores de café. Em seguida, viajou para a Itália a fim de contratar operários e técnicos ceramistas; uma vez que no Brasil só existiam especialistas em cerâmica vermelha. Aproveitou a viagem, também, para importar maquinário alemão.[3]

De volta ao Brasil, em 1913 deu início à produção de louças com a marca Fagundes Ranzini & Cia., antecessora da S.A. Fábrica de Louças Santa Catharina. Químico por formação, Ranzini sempre procurava desenvolver novas fórmulas de pastas para a produção de louças e novos pigmentos de cores para vernizes, enquanto outro sócio majoritário, Euclydes Fagundes, cuidava da parte administrativa e financeira da empresa.[3]

No início da década de 1920, já funcionando com a nova razão social, cujo nome seria uma homenagem à santa de devoção da família, a empresa já era reconhecida no país por produzir peças de alta qualidade e beleza, que rivalizavam com as melhores similares estrangeiras. Eram aparelhos de jantar, canecas, vasos, xícaras, peças decorativas e louça sanitária. Em determinada época chegou a produzir até mesmo velas filtrantes, a base de caulim, que eram utilizadas, por exemplo, pelo Instituto Butantã, em filtros especiais usados na fabricação de soro antiofídico.[3]

A iniciativa de Ranzini motivou outros empresários a investirem no setor; e os técnicos que ele trouxe da Itália foram fundamentais para o surgimento de novas empresas. Durante o período da I Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, as empresas brasileiras tiveram grande desenvolvimento, lideradas pela Santa Catharina, e passaram a abastecer todo o mercado nacional. Depois da guerra, as louças produzidas na Inglaterra, mais baratas e de melhor qualidade, voltaram a dominar o mercado; mas o setor de louças brancas já estava consolidado no país, com diversas indústrias em São Paulo e nas cidades vizinhas.[3]

Os símbolos, ou selos, impressos no fundo das louças produzidas pela S.A. Fábrica de Louças Santa Catharina apresentam grande variante de desenhos e cores; alguns com as letras FR&C, de Fagundes Ranzini e Cia; outros com as letras F.S.C. ou F.L.S.C., de Fábrica Santa Catharina e Fábrica de Louças Santa Catharina. Tudo indica que não existia logomarca única para identificação da empresa.[3]

As instalações[editar | editar código-fonte]

Linha de fornos, com carril externo para transporte das peças. 1922

Romeu Ranzini e seu pai, Xisto Ranzini, eram empreiteiros da construção civil e foram eles os responsáveis pela edificação dos galpões da fábrica. O projeto foi fornecido pela empresa alemã August Reissmann, fabricante do maquinário que Ranzini adquiriu por ocasião de sua viagem à Itália.[3]

O terreno tinha área de 36.000 m², limitado pelas ruas Aurélia, Coriolano, Fábia e Catão; na Vila Romana, no distrito da Lapa. A construção dos primeiros pavilhões foi concluída em 1912, e ampliações foram sendo feitas ao longo de sua existência.[3]

A empresa possuía 10 fornos intermitentes, que funcionavam com carvão ou lenha, sendo 4 com 4 metros de diâmetro; 2 com 6 metros de diâmetro; e outros 4 com 8 metros de diâmetro. As chaminés desses fornos chegavam a 55 metros de altura. As primeiras máquinas eram de origem alemã, e as demais, obtidas para ampliação da produção, eram nacionais.[3]

Nos primeiros anos, as máquinas utilizada pela Santa Catharina não tinham motor próprio; dependendo de uma máquina a vapor, chamada locomóvel, para funcionarem.[1] Isso pode parecer estranho, já que em 1912 existiam várias usinas produtoras de eletricidade no Estado de São Paulo, e a Light and Power Company já atuava na distribuição de eletricidade na cidade. Entretanto, até o ano de 1920, a eletricidade produzida em São Paulo era de uso, prioritário, no transporte público; o que justifica a utilização de uma locomóvel pela indústria.[4]

Além dos setores diretamente ligados à atividade-fim, a empresa também tinha setores auxiliares como: oficina de carpintaria e caixotaria; oficina mecânica, para fabricação de peças e manutenção das máquinas; setor de embalagens; setor de exposição de peças; e laboratório quimico.[3]

Os funcionários[editar | editar código-fonte]

Funcionários da Fábrica de Louças Santa Catharina, 1922

Inicialmente, Romeo Ranzini contou com o conhecimento e a experiência de técnicos e operários italianos que haviam assumido compromisso em contrato, para organizar e dar início à produção. Quando, por volta de 1916, os contratos terminaram, esses italianos especializados deixaram a Santa Catharina para realizarem o sonho de fundar suas próprias empresas em São Paulo, ou em cidades vizinhas. Assim surgiram, em 1918, a Manetti Pedotti & Cia, que se estabeleceu em Pilar, hoje Mauá; e a Indústria de Louças Zappi S/A, no bairro de Vila Prudente; e muitas outras.[1]

A Santa Catharina foi a primeira indústria brasileira a produzir louça branca em grande quantidade, de modo que seus operários não tinham nenhuma experiência nesse tipo de produção, entretanto, isso não afetava a qualidade dos produtos porque a empresa adotou um sistema taylorista, que conjugava mão-de-obra intensiva com equipamentos simples.[3]

No início da década de 1921 a Fábrica de Louças Santa Catharina contava com, aproximadamente, mil operários de várias nacionalidades, sendo grande parte, mulheres e crianças. Um texto da época, com teor propagandístico, informava que entre os imigrantes havia, inclusive, japoneses. Também anunciava o aumento das instalações da fábrica e previa que o número de operários iria dobrar.[1]

A extinção[editar | editar código-fonte]

Depois de sucessivas crises financeiras e a morte de Euclydes Fagundes, um dos sócios majoritários responsável pela administração financeira da empresa; em 1927 a Cia. Santa Catharina é incorporada ao Grupo Matarazzo, como pagamento de dívidas contraídas com o Banco Matarazzo. Romeu Ranzini permaneceu, por quatro anos, coordenando a produção da então Cerâmica Matarazzo. Anos mais tarde, Romeu Ranzini fundou outra empresa na Lapa; a Fábrica de Louças Romeu Ranzini, e, em 1940, outra fábrica em Osasco.[3]

Referências

  1. a b c d Pereira, José H. M. (2007). «As fábricas paulistas de louça doméstica» (PDF). FAUUSP. Consultado em 20 de dezembro de 2019 
  2. Hagop. «A história da Fábrica de Louças RR». Indústria Ranzini. Consultado em 20 de dezembro de 2019 
  3. a b c d e f g h i j k Souza, Rafael de Abreu (2010). «Louça branca para a paulicéia» (PDF). USP Museu de Arqueologia e Etnologia. Consultado em 20 de dezembro de 2019 
  4. Escames, Edson F. (2011). «Usina Parque: Aproveitamento e Valorização do Patrimônio Energético, Ambiental e Histórico da Usina Hidrelétrica Henry Borden» (PDF). UFABC. Consultado em 20 de dezembro de 2019