Ifigénia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Ifigênia em Áulis)
 Nota: Para outros significados, veja Ifigénia (desambiguação).
Ifigénia

O sacrifício de Ifigênia
Afresco antigo de Pompeia.
Pais Agamemnon e Clitemnestra
Irmão(s) Orestes, Crisótemis e Electra

Ifigénia (português europeu) ou Ifigênia (português brasileiro) (em grego clássico: Ἰφιγένεια), também Ifigenia,[nota 1] na mitologia grega, era a filha mais velha de Agamemnon e Clitemnestra, irmã de Orestes e Electra e sobrinha de Menelau e Helena. Princesa de Micenas e símbolo de auto-sacrifício feminino. Seu nome significa "forte desde o nascimento".[1] Eurípedes morreu sem concluir as peças, então várias versões existem na tentativa de concluí-la seguindo as inteções originais do autor. Acredita-se que Eurípedes, o jovem, filho ou sobrinho de Eurípedes, concluiu a peça e a apresentou 400 a.C. onde ganhou o primeiro lugar pela obra.

O sacrifício de Ifigênia
Por Giovanni Battista Tiepolo, 1757, Villa Valmarana

Família[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Casa de Atreu
Aquiles furioso defendendo Ifigênia e Clitemnestra
Jacques-Louis David
Museu de Arte Kimbell

Agamemnon e Clitemnestra tiveram um filho, Orestes, e três filhas, Crisótemis, Ifigênia e Electra.[2] Agamemnon e Menelau eram filhos de Atreu,[3][4][5][6][7] sendo sua mãe Aérope.[4][8] ou, de acordo com outras versões, filhos de Plístene, filho de Atreu.[9][10]

Clitemnestra era filha de Tíndaro e Leda; Leda teve um filho e uma filha de Zeus, Pólux e Helena, e um filho e uma filha de Tíndaro, Castor e Clitemnestra.[11] Clitemnestra havia sido casada com Tântalo, filho de Tiestes; tanto Tântalo quanto o filho recém nascido do casal foram assassinados por Agamemnon, que, em seguida, desposara Clitemnestra.[12]

A briga entre os descendentes de Atreu e do seu irmão Tiestes começou com o adultério de Aérope, esposa de Atreu, com Tiestes.[13] Em seguida, Atreu assassinou os filhos de Tiestes, e deu para ele comer os filhos, revelando, ao final, quem ele estava comendo.[14] Tiestes engravidou sua própria filha, com quem teve um filho, Egisto; Egisto matou Atreu e entregou Micenas a Tiestes.[15] Tíndaro removeu Tiestes do trono de Micenas, entregando a cidade a Agamemnon, e casando suas duas filhas Clitemnestra e Helena, respectivamente, com Agamemnon e Menelau.[12]

Ifigênia em Áulis[editar | editar código-fonte]

Orestes atormentado pelas Fúrias por ter matado sua mãe
Por William-Adolphe Bouguereau, 1862
Chrysler Museum of Art

Segundo Eurípedes, antes de partir para Troia, Agamemnon irritou Ártemis ao caçar um cervo em uma floresta sagrada e se gabar de ser o melhor caçador. Como punição os ventos no porto de Áulis pararam e Agamenon deveria sacrificar sua filha em um altar a Ártemis, para que a deusa fizesse soprar bons ventos para a partida dos exércitos gregos a Troia. Agamemnon manda uma carta a sua esposa, Clitemnestra, para que traga a filha com a promessa que ela se casaria com Aquiles. Depois se arrepende e tenta mandar uma nova carta, que é lida por Menelau que briga com o irmão. Mas já é tarde demais e Clitemnestra, Orestes e Ifigênia já haviam chegado a Áulis. [16]

Agamemnon tenta convencer Clitemnestra voltar para Micenas mas ela se recusa a não participar do casamento da filha. Quando encontra Aquiles, que desconhece a trama, ambos descobrem a verdade sobre o cruel destino a espera da filha, e que fora enganada pelo marido. O exército se revolta com a demora, mas Aquiles defende Ifigênia mesmo da raiva dos mirmidões. Ifigênia decide se sacrificar para impedir que a revolta continue, para que Aquiles não seja ferido em vão e para ajudar os gregos a seguirem para Troia. Para admiração de Aquiles ela segue para o altar ignorando as súplicas da mãe que se desespera com seu destino cruel. No último momento, Ártemis substituiu a princesa por uma corça, e a fez sua suma sacerdotisa, levando-a para Táurida. [16] Em outra versão ela é realmente sacrificada mas sua alma é resgatada e imortalizada pelos deuses.

Orestes e as fúrias[editar | editar código-fonte]

Clitemnestra não admitiu Agamemnon sacrificar sua própria filha, e por isso matou-o quando ele estava na piscina do palácio. Sete anos depois, quando Orestes, irmão de Ifigênia, retorna a Micenas e descobre o que havia ocorrido, por pressão de Electra, sua irmã mais nova, mata sua mãe e o amante dela na tentativa de vingar a morte de seu pai. Por ter cometido matricídio passou a ser castigado pelas fúrias com chicotadas e tochas até enlouquecer. Seu melhor amigo desde a infância, Pílades, o acompanha tentando mantê-lo são.

Ifigênia em Táurida[editar | editar código-fonte]

Orestes, Pilades sendo levados a Ifigênia
Por Joseph Strutt (1749 - 1802), Museu de Belas Artes de São Francisco

Orestes procurou o Oráculo de Delfos para descobrir como se livrar das chicotadas das Fúrias. O oráculo revelou que ele só seria libertado caso conseguisse se apossar de uma estátua de Ártemis em Táurida. Seu amigo Pílades o acompanha nessa viagem e ambos são protegidos por Atena por sua coragem. Quando chegam, Orestes tem um ataque de loucura e tenta matar os bezerros dos camponeses acreditando que eles são as Fúrias que o atormentam. Ambos são capturados e levados para serem sacrificados pela suma sacerdotisa virgem no templo de Ártemis.[17]

Ifigênia e Orestes não se reconhecem imediatamente, mas durante os ritos pré-sacrifício, ao descobrir que ele é de Micenas, questina-o se Orestes ainda está vivo. Ele diz que sim, então ela propõe que poupará sua vida caso ele entregue uma carta a Orestes. Orestes pede a seu amigo que retorne a Micenas para entregar a carta deixando lá para ser sacrificado sozinho, mas este se recusa e revela a identidade de Orestes. Após esclarecimentos, Ifigênia planeja uma fuga com sua sagacidade e engana os outros sacerdotes dizendo que o estrangeiro não serve como sacrifício por ser um matricida e por seu amigo ser cumplice e que agora deverá levar a estátua maculada para ser purificada no mar. Com a ajuda de Atenas os três conseguem fugir de volta para Micenas e derrotar quem os perseguia. Quando chegam ao palácio, Electra reencontra Ifigênia que conta o ocorrido. Quando menciona que deveria sacrificar o irmão Electra ameaça matar sua irmã, mas Orestes se revela e a salva do mal entendido. Orestes recupera sua sanidade e se torna rei, casando-se com sua prima Hermíone. Sua irmã Electra se casa com Pílades e Ifigênia seguiu como sacerdotisa de Ártemis. [18]O destino da estátua de Ártemis ainda é disputado por mais de cinco cidades diferentes. Existem relatos de que por muitos anos diversos rituais onde eram aplicadas chicotadas em jovens até cobrir a estátua de sangue foram feitos diante dessas estátuas na tentativa de agradar a deusa.

Notas

  1. Da tônica latina, Maria Helena Ureña Prieto recomenda Ifigenia como forma correta, mas não desabona as exceções do uso corrente da acentuação grega. Prieto, Maria Helena de Teves Costa Ureña; Torres, Maria Isabel Greck; Abranches, Cristina Maria Negrão (1995). Do grego e do latim ao português (em grego). [S.l.]: Fundação Calouste Gulbenkian. Citada por Marta, Eunice; Rocha, Carlos (23 de setembro de 2010). Acentuação de nomes de origem grega. Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

Referências

  1. «ἰφι^-γένεια^». Henry George Liddell, Robert Scott, A Greek-English Lexicon 
  2. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, Epítome, 2.16
  3. Pausânias, Descrição da Grécia, 3.1.5
  4. a b Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, Epítome, 3.12
  5. Higino, Fabulae, CXXIV, Reis dos Aqueus
  6. Higino, Fabulae, LXXXVIII, Atreu
  7. Higino, Fabulae, XCV, Ulisses
  8. Higino, Fabulae, XCVII, Os que foram à Guerra contra Troia, e o número dos seus navios
  9. João Tzetzes, Exeg. Iliad. 68. 19H
  10. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, 3.2.2
  11. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, 3.10.7
  12. a b Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, Epítome, 2.15
  13. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, Epítome, 2.10
  14. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, Epítome, 2.13
  15. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca, Epítome, 2.14
  16. a b Ifigênia em Áulis de Eurípides
  17. Robert Graves. O grande livro dos mitos gregos. Ifigênia em Táurida.
  18. «Encyclopedia of Greek and Roman mythology». Choice Reviews Online (01): 48–0022-48-0022. 1 de setembro de 2010. ISSN 0009-4978. doi:10.5860/choice.48-0022. Consultado em 23 de julho de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]