Interlúdio Estranho
Strange Interlude | |
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Autor(es) | Eugene O'Neill |
Idioma | inglês |
País | Estados Unidos |
Gênero | Drama |
Localização espacial | Pequena cidade universitária em New England; vários lugares em Nova Iorque |
Editora | Boni & Liveright |
Lançamento | 1928 |
Interlúdio Estranho (Strange Interlude) é uma peça de teatro experimental do dramaturgo norte-americano Eugene O'Neill que a completou em 1923, mas que foi encenada e publicada pela primeira vez em 1928,[1] tendo obtido neste ano o Prêmio Pulitzer para Teatro (Drama).
Devido à sua duração, de mais de quatro horas, a peça tem sido por vezes encenada com um intervalo para jantar ou parcialmente em dias consecutivos. O assunto principal da peça, bastante controverso nos anos 1920, levou a que a mesma fosse objecto de censura ou mesmo banida em muitas cidades dos EUA, nelas não se incluindo Nova Iorque.
Em Strange Interlude o autor emprega amplamente a técnica do solilóquio, em que as personagens expressam os seus pensamentos para o público. Em algumas encenações os actores usaram máscaras para distinguir o seu discurso falado dos seus solilóquios, embora na maior parte das encenações a distinção se faça pelo estilo de representação apenas. Em Strange Interlude os solilóquios tomam na maior parte das vezes a forma de relativamente breves apartes, e não longos discursos à maneira shakespeareana.
Resumo do enredo
[editar | editar código-fonte]A trama é centrada em Nina Leeds, a filha de um professor duma universidade conceituada (Ivy League), que fica arrasada quando o seu adorado noivo é morto na I Guerra Mundial, antes de terem tido a oportunidade de consumar a sua paixão. Ignorando o amor incondicional do escritor Charles Marsden, Nina embarca numa série de casos sórdidos antes de decidir casar-se com um idiota simpático, Sam Evans. Quando está grávida do filho de Sam, Nina descobre um horrível segredo conhecido apenas da mãe de Sam: A demência ataca a família Evans e poderia ser herdada por um filho de Sam. Percebendo que uma criança é essencial para a sua próprio felicidade e para a de Sam, Nina decide uma solução "científica". Ela decide abortar o filho de Sam e conceber uma criança com o médico Ned Darrell, fazendo com que Sam pense que é dele. O plano sai pela culatra quando a intimidade entre Nina e Ned os leva a apaixonarem-se. Vinte anos depois, o "filho" de Sam, Gordon Evans, está a atingir a idade adulta, sendo Nina e Ned os únicos cientes da verdadeira paternidade do menino.
O significado do título é sugerido pela envelhecida Nina numa frase sua no final da peça: "As nossas vidas são interlúdios estranhos e escuros no mundo feérico de Deus pai!"
Personagens
[editar | editar código-fonte]- Charles Marsden
- Professor Henry Leeds
- Nina Leeds, filha de Henry
- Edmund Darrell
- Sam Evans
- Sra. Amos Evans, mãe de Sam
- Gordon Evans
- Madeline Arnold
Cenas
[editar | editar código-fonte]PRIMEIRA PARTE
Acto Um - Na Biblioteca da casa dos Leeds numa pequena cidade universitária da Nova Inglaterra. Uma tarde no final do verão
Acto Dois - No mesmo local. Outono do ano seguinte. À noite.
Acto Três - Na sala de jantar da residência dos Evans no norte do estado de Nova Iorque. Final da Primavera do ano seguinte. De manhã.
Acto Quatro - No mesmo local dos Actos Um e Dois. Outono do mesmo ano. À noite.
Acto Cinco - Sala de estar de uma pequena casa que Evans arrendou à beira mar num subúrbio de Nova Iorque. Em Abril do ano a seguir. De manhã.
SEGUNDA PARTE
Acto Seis - No mesmo local. Cerca de um ano mais tarde. À noite.
Acto Sete - Sala de estar do apartamento de Evans na Park Avenue. Cefca de onze anos mais tarde. Ao princípio da tarde.
Acto Oito - No convés do veleiro de Evans que está ancorado perto da linha final de Poughkeepsie. Dez anos mais tarde. À tarde.
Acto Nove - No terraço do imóvel de Evans em Long Island. Alguns meses mais tarde. Ao fim da tarde.
Encenações
[editar | editar código-fonte]Strange Interlude foi pela primeira vez levada ao palco na Broadway pela companhia de teatro Theatre Guild, com estreia em 30 de Janeiro de 1928, no John Golden Theatre. O encenador foi Philip Moeller tendo cenários de Jo Mielziner. O melodrama em nove actos teve uma duração de cinco horas, tendo começado às 5:15 p.m., teve um intervalo para jantar às 7:40 p.m., e recomeçou às 9 p.m.[2]
Elenco da produção original:
- Tom Powers como Charles Marsden[2]
- Philip Leigh como Professor Leeds[2]
- Lynn Fontanne como Nina Leeds[2]
- Earle Larimore como Sam Evans[2]
- Glenn Anders como Edmund Darrell[2]
- Helen Westley como Mrs. Amos Evans[2]
- Charles Walters como Gordon Evans, enquanto rapaz [2][3]
- Ethel Westley como Madeline Arnold[2]
- John J. Burns como Gordon Evans, enquanto adulto[2][3]
Cinco elementos do elenco original — Powers, Helen Westley, Burns, Ethel Westley and Walters — continuavam a representar a peça quando esta atingiu o seu primeiro aniversário, não tendo falhado uma única sessão.[4] Powers foi obrigado a abandonar o elenco no final de Março de 1929 por exaustão.[5]
Esta produção original esteve em cena na Broadway durante 17 meses.[6] e foi incluida na lista The Best Plays of 1927-1928 (Melhores Peças de 1927-1928) criada pelo crítico de teatro Burns Mantel, lista que ainda actualmente é publicada.[7]
A peça foi representada novamente na Broadway em 1963 e 1985.[8] A peça também foi representada no Lyric Theatre do West End de Londres em 1931.
Adaptações cinematográficas
[editar | editar código-fonte]Strange Interlude foi adaptada ao cinema em Hollywood apenas uma vez, em 1932, numa produção da MGM, dirigida por Robert Z. Leonard e em que contracenavam Norma Shearer no papel de Nina Leeds e Clark Gable no de Ned Darrell. Foi uma versão encurtada e amenizada da peça. Foram usados narradores nos solilóquios.[9]
A encenação em 1963 pela Actors Studio[10] dirigida por Jose Quintero foi gravada pela Columbia Masterworks Records e publicada em 1964. Nos actores contavam-se Betty Field, Jane Fonda, Ben Gazzara, Pat Hingle, Geoffrey Horne, Geraldine Page, William Prince, Franchot Tone, e Richard Thomas. O conjunto era composto por cinco LPs e foi nomeado para os Grammy na categoria de Best Documentary, Spoken Word Or Drama Recording (other Than Comedy).[11]
Em 1988 foi emitida uma versão para televisão dirigida por Herbert Wise, que foi baseada numa encenação de 1985 em Londres, e em que participaram Edward Petherbridge como Charles, Glenda Jackson como Nina, David Dukes como Ned e Kenneth Branagh como Gordon Evans. Esta versão seguiu de perto o texto original de O'Neill (excepto quanto à eliminação da maior parte do Act 7), dizendo os actores os seus solilóquios naturalmente, no modo da encenação em palco.[12]
Em 2013 o National Theater de Londres apresentou a peça com Anne-Marie Duff no papel de Nina, mas tendo reduzido a duração da peça para 3,5 horas.[13]
Referências culturais
[editar | editar código-fonte]- Groucho Marx gracejou com a peça no filme Animal Crackers de 1930 dos Irmãos Marx. No primeiro de três "interlúdios", ele diz: "Perdoem-me, enquanto eu tenho um estranho interlúdio", e então fica em grande plano e faz comentários filosóficos acerca da situação para si mesmo e para os espectadores.[14]
- O filme Me and My Gal de 1932, dirigido por Raoul Walsh graceja com a versão fílmica da peça lançada nesse mesmo ano, que usou vozes de fundo em vez de solilóquios. Spencer Tracy e Joan Bennett falam acerca de terem visto "Strange Innertubes", e a seguir têm uma cena romântica que imita aquela técnica.[15]
- A cadeia de restaurantes Howard Johnson's que estava no seu início recebeu um impulso em 1929 quando o mayor de Boston proibiu a representação de Strange Interlude na cidade. O Theatre Guild deslocou a produção para o subúrbio Quincy, onde era apresentado com um intervalo para jantar. O primeiro restaurante Howard Johnson's localiaza-se perto do teatro, e assim centenas de Bostonianos influentes tomaram conhecimento do restaurante, o que acabou por dar publicidade de âmbito nacional àquela cadeia de restaurantes.
- No filme C'eravamo tanto amati (Todos nos amávamos muito) de 1974 dirigido por Ettore Scola, os personagens Antonio e Luciana assistem à peça de teatro de O´Neill, sendo usada várias vezes a técnica de solilóquio no decurso da história.[16]
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Theatre Guild on the Air adaptação radiofónica da peça – Parte 2 1946 em Internet Archive
Referências
[editar | editar código-fonte]- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Strange Interlude».
- ↑ Eugene O'Neill, Strange Interlude, Boni & Liveright, 1928, Project Gutenberg Australia, http://gutenberg.net.au/ebooks04/0400161h.html
- ↑ a b c d e f g h i j Atkinson, Brooks (31 de Janeiro de 1928). «Strange Interlude Plays Five Hours». The New York Times
- ↑ a b «Strange Interlude». The Playbill Vault. Playbill. Consultado em 24 de dezembro de 2015. Arquivado do original em 24 de dezembro de 2015
- ↑ «One Year of 'Strange Interlude'». The New York Times. 27 de Janeiro de 1929
- ↑ «Powers Leaves Cast». The New York Times. 1 de Abril de 1929
- ↑ Atkinson, Brooks (18 de Junho de 1963). «Critic at Large: A Theatergoer's Impressions on Seeing 'Strange Interlude' After 35 Years». The New York Times
- ↑ http://www.bestplays.org/
- ↑ IBDB, http://www.ibdb.com/Show/View/8339
- ↑ IMDB, http://www.imdb.com/title/tt0023523/?ref_=fn_tt_tt_1
- ↑ «IBDB Reference». IBDB
- ↑ «1964 Grammy Awards». Metrolyrics.com
- ↑ IMDB, http://www.imdb.com/title/tt0094051/?ref_=fn_tt_tt_2
- ↑ Strange Interlude Arquivado em 14 de outubro de 2013, no Wayback Machine., nationaltheatre.org.uk;.
- ↑ Cena com Groucho Marx, Margaret Dumont e Margaret Irving em Animal Crackers, acessível no Youtube.
- ↑ http://www.imdb.com/title/tt0023202/?ref_=fn_tt_tt_2
- ↑ http://worldcinemadirectory.co.uk/component/film/?id=939