Isbul

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Isbul
Nacionalidade Primeiro Império Búlgaro
Ocupação caucano (primeiro-ministro)
Título General nas Guerras bizantino-búlgaras
Regente
Co-governante

Isbul (em búlgaro: Исбул; fl. décadas de 820 e 830) foi um caucano, uma espécie de primeiro-ministro, do Primeiro Império Búlgaro durante o reinado dos cãs Omurtague (r. 815–831), Malamir (r. 831–836) e Presiano I (r. 836–852). Nomeado por Omurtague, Isbul foi também o regente dos menores Malamir e Presiano. Durante o governo dos dois, Isbul liderou as vitoriosas campanhas búlgaras contra os bizantinos no sul da Trácia e na Macedônia e que resultaram numa significativa expansão territorial do império. Como co-governante de Malamir, Isbul também financiou a construção de um aqueduto na capital, Plisca. Como segundo homem mais importante do império, Isbul detinha um enorme poder e era imensamente rico, o que fazia com que seu nome aparecesse muitas vezes ao lado do nome do monarca em inscrições. Por causa de suas conquistas, Isbul é considerado como um dos arquitetos do estado búlgaro medieval pelos historiadores.

História[editar | editar código-fonte]

Parte da Inscrição de Presiano que faz referência a Isbul

O posto de caucano era um título hereditário durante o Primeiro Império Búlgaro, monopolizado por membros de uma família chamada "Caucano" pelos estudiosos.[1] Para aceder à posição, Isbul deve, portanto, ter pertencido a ela, o que é indiretamente evidenciado pelo seu nome em búlgaro.[2] O historiador Plamen Pavlov teoriza que Isbul pode ter começado sua carreira sob o comando de Crum (r. 803–814) e que, na época do filho dele, Omurtague (r. 815–831), Isbul já seria um nobre influente. Como ele é citado como caucano e regente do monarca seguinte, Malamir (r. 831–836), conjectura-se que ele teria sido nomeado para o posto em algum momento do reinado de Omurtague.[1] [3]

O mais antigo registro de Isbul é a epígrafe em pedra conhecido como "Crônica de Malamir" que afirma que Malamir "reinou junto com o caucano Isbul". Malamir era o filho mais novo de Omurtague e deve ter sido considerado jovem demais para reinar por conta própria e, por isso, um regente teve que ser nomeado. Omurtague escolheu Malamir por que o seu primogênito, Enravota, era cristão.[4] Os bizantinos esperavam poder se aproveitar da instabilidade na Bulgária na época, provocada principalmente pela presença de um menor no trono, e romperam a longa paz criada pelo Tratado de 815, que eles haviam inicialmente reconfirmado quando Malamir ascendeu ao trono. Em 836, estava encarregado das tropas búlgaras que repeliram a invasão bizantina e passaram a atacar o território inimigo.[2] [5]

Como parte desta campanha, Isbul e Malamir capturaram as fortalezas trácias de Próbato (perto de Adrianópolis), e Burdizo (moderna Babaeski)[6] Depois de conquistar as duas fortalezas, as tropas búlgaras chegaram a Filipópolis e, como a guarnição de defesa havia abandonado a cidade, Isbul e Malamir negociaram com a população para persuadi-los a entregar o castelo sem luta.[7] Pavlov defende que a guerra terminou e o tratado de 815 foi restabelecido. Ele acredita ainda que o imperador bizantino Teófilo (r. 829–842) foi forçado a fazer concessões à Bulgária, entre elas, possivelmente, a incorporação de Filipópolis e redondezas ao Império Búlgaro.[1]

Durante seu período como co-governante e caucano de Malamir, Isbul financiou a construção do aqueduto ou fonte em Plisca,[3] que ele doou a Malamir.[1] A construção foi ocasião para um grande banquete organizado pelo monarca[4] e para presentear a nobreza,[5] ambos testemunhos da influência de Isbul.[2] Na fonte literária sobre esta obra, Isbul é aclamado junto com Malamir: "Que Deus permita que o monarca nomeado por Deus viva cem anos junto com o caucano Isbul". Normalmente, estas bençãos eram dirigidas unicamente ao monarca e este é o único caso conhecido da época do Primeiro Império Búlgaro.[1] A inscrição também menciona a avançada idade de Isbul na ocasião.[8]

Depois da morte repentina de Malamir em 836, o trono búlgaro passou para Presiano I (r. 836–852), que provavelmente também era menor de idade.[9] Como evidenciado pela Inscrição de Presiano, de Filipos, Isbul manteve sua posição como caucano e sua influência sobre a corte. No ano seguinte, a tribo eslava dos esmolenos (smolyani/smolenoi), que habitavam o baixo Nesto (Mesta) e a Trácia Ocidental perto de Drama, se rebelaram contra seus mestres bizantinos.[5] A inscrição de Filipos menciona uma atividade búlgara em grande escala na região dos esmolenos. O exército búlgaro era liderado por Isbul, pelo izurgu-bulia (o comandante da guarnição da capital) e pelo sumo-sacerdote da corte.[10][11] Como a inscrição está danificada, não se sabe qual lado Isbul e Presiano apoiaram no conflito.[12][13] Porém, nesta campanha o exército búlgaro conquistou a maior parte da Macedônia, incluindo Filipos, onde a inscrição foi encontrada.[9][14] Depois disto, Isbul desaparece do registro histórico e não se sabe quando morreu e nem em que circunstâncias.[11]

Análise[editar | editar código-fonte]

Em sua biografia de Isbul, Pavlov sublinha seus "extraordinários méritos no desenvolvimento do estado búlgaro"[1] e o descreve como "um dos arquitetos do estado búlgaro medieval durante os anos de sua ascensão".[11] O historiador romeno Florin Curta enfatiza a similaridade entre os papéis de Isbul e o dos prefeitos do palácio do século VIII nas terras francas dos merovíngios.[5]

Referências

  1. a b c d e f Andreev 1999, p. 175.
  2. a b c Fine 1991, p. 109.
  3. a b Bakalov 2003.
  4. a b Andreev 1999, p. 66.
  5. a b c d Curta 2006, p. 165.
  6. Beshevliev 1981, p. 77.
  7. Ziemann 2007, p. 337.
  8. Beshevliev 1981, p. 35.
  9. a b Andreev 2004, p. 175.
  10. Ziemann 2007, p. 339.
  11. a b c Andreev 1999, p. 176.
  12. Ziemann 2007, p. 340.
  13. Beshevliev 1981, p. 85.
  14. Andreev 1999, p. 318.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Andreev, Ĭordan; Ivan Lazarov; Plamen Pavlov (1999). Quem é quem na Bulgária Medieval (em búlgaro). Sófia: Petar Beron. ISBN 978-954-402-047-7 
  • Andreev, Ĭordan; Andreĭ Pantev (2004). Cãs e tsares búlgaros (em búlgaro). Veliko Tarnovo: Abagar. ISBN 978-954-427-216-6 
  • Bakalov, Georgi; Milen Kumanov (2003). «Isbul (século IX)». Edição eletrônica "História da Bulgária" (em búlgaro). Sófia: Trud, Sirma. ISBN 954528613X 
  • Beshevliev, Veselin (1981). Registros epigráficos búlgaros (em búlgaro). Sófia: Izdatelstvo na Otechestveniya front. OCLC 8554080 
  • Curta, Florin (2006). Southeastern Europe in the Middle Ages, 500–1250. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-81539-0 
  • Fine, John Van Antwerp (1991). The Early Medieval Balkans: A Critical Survey from the Sixth to the Late Twelfth Century (em inglês). Ann Harbor, Michigan: University of Michigan Press. ISBN 0472081497 
  • Ziemann, Daniel (2007). Dos nômades para o Grande Poder: a emergência da Bulgária no início da Idade Média (século VII-IX) (em alemão). Viena: Böhlau Verlag. ISBN 978-3-412-09106-4