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Jerónimo Soares

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Jerónimo Soares
Bispo da Igreja Católica
Bispo de Elvas
Bispo de Viseu
Atividade eclesiástica
Diocese Diocese de Viseu
Nomeação 30 de agosto de 1694
Predecessor Richard Russell
Sucessor António de Guadalupe
Mandato 30 de agosto de 1694 - 18 de janeiro de 1720
Ordenação e nomeação
Nomeação episcopal 6 de março de 1690
Ordenação episcopal por 29 de junho de 1690
Dados pessoais
Nascimento Lisboa
1635
Morte Viseu
18 de janeiro de 1720
Nacionalidade português
Bispos
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo

D. Jerónimo Soares (Lisboa[1], 1635[2] - Viseu, 18 de janeiro de 1720) foi um clérigo e bispo português, tendo sido Bispo-Inquisidor do Tribunal de Évora, Bispo emérito de Elvas, e Bispo de Viseu, nomeado por Inocêncio XII até à sua morte, sucedendo a Richard Russell.[3][4]

Durante a sua vida e atividade, foi defensor da presença e manutenção da Inquisição Portuguesa enquanto instituição.[5][6]

Foi o Bispo que lançou a primeira pedra da Igreja Matriz de Treixedo[7], ampliou o Convento dos Néris[8], e eleito provedor da Santa Casa da Misericórdia de Viseu[9], e quem confirmou os estatutos da Irmandade da Nossa Senhora da Conceição.[10]

Publicou, em 1719 Consensus constitutionis unigenitus praesitus.[2]

D. Jerónimo Soares nasceu em Lisboa em 1635[1][11], filho de João Alvares Soares da Veiga Avelar e Taveira, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Provedor da Alfândega de Lisboa e de D. Maria Soares de Melo, filha do Secretário de Estado Diogo Soares, e senhores do Solar dos Soares, na Cotovia(atual Imprensa Nacional).[12]Era irmão mais novo de Diogo Soares da Veiga Avelar e Taveira, e Provedor da Alfândega de Lisboa também.[11][12]

Descendente, por um ramo antigo, do judeu Cristóvão Lagarto[13][14], foi clérigo pertencente ao Tribunal do Santo Ofício, sendo Bispo-Inquisidor do Tribunal de Évora.[15][6][16]

Doutor em Cânones, foi em 1668 ministro da Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Coimbra.[17]

Defesa da Inquisição em Portugal

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Aquando a suspensão da Inquisição Portuguesa, entre 1670 e 1674, Jerónimo Soares vai defender os interesses desta instituição, tanto nacional como internacionalmente. Quando é redigido ao papa pelos cristãos-novos portugueses vários documentos e cartas, a queixarem-se da operação da Inquisição Portuguesa, o papa decide suspender a mesma. Dentro dos vários apoiantes do lado dos cristãos-novos, um jesuíta, padre António Vieira, redigiu vários pareceres favoráveis aos queixosos, contra a operação da Inquisição. Derivado a isto, em Roma, Jerónimo Soares iria ser rival político do padre António Vieira, e desenvolver-se-ia a partir daí, uma inimizade e rivalidades que perdurariam até ao falecimento do segundo.[18]

A 28 de maio de 1674, deslocou-se a Roma, juntamente com o doutor Gonçalo Borges Pinto, de modo a que tentasse impedir o sucesso das pressões dos cristãos-novos de suspender e acabar com a Inquisição, juntamente da Santa Sé. Esteve incumbido de tal tarefa, até 1682.[15][6][5][19][20][21][22]

Durante a sua estadia em Roma, foi recebido pelo papa, Clemente X, e estabeleceu uma boa rede de influências dentro da Santa Sé. Convivia bastante com o Cardeal Portocarrero, e tinha boas relações com a poderosa facão castelhana da Congregação do Santo Ofício em Roma.[23]

Em 1677, aquando o processo de inquérito do Papa Inocêncio XI sobre a atuação da Inquisição Portuguesa e dos seus alegados abusos, a comissão eclesiástica portuguesa, da qual fazia parte Jerónimo Soares. Com a recusa dos argumentos a favor da inquisição pelo Cardeal Cibo, envia ao papa várias certidões, de modo a comprovar as pretensas e os argumentos da comissão portuguesa.[24]

Mandato como Bispo de Elvas

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Igreja do Salvador, Elvas

Em 1682 regressa a Portugal, e continua as suas funções no Conselho Geral, sob a presidência de D. Veríssimo. Em 1690, é nomeado, por D. Pedro II sucessor a Valério de São Raimundo como bispo de Elvas. A 15 de maio de 1690, toma oficialmente posse como Bispo de Elvas.[11]

Durante o curto tempo que esteve como bispo de Elvas, denota-se a inauguração da Igreja do Salvador em Elvas, com um grande cerimonial a 17 de Agosto de 1692.[25][26]

Enquanto Bispo de Elvas, faz também uma viagem ad limina a Roma.[27]

Foi Bispo de Elvas até 29 de outubro de 1694.[11]

Mandato como Bispo de Viseu

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Com a morte do anterior bispo de Viseu, o inglês Richard Russell, é emitida a bula pelo papa Inocêncio XII, dirigida ao Cabido da Igreja de Viseu. Anuncia-lhe a nomeação de D. Jerónimo Soares, bispo de Elvas, para o bispado de Viseu, que que vagara por morte de D. Ricardo Russel; e ordena-lhe que o aceite, como seu prelado.[28] Em 1695, é traslado de um breve do papa Inocêncio XII, pelo qual o Hospital de Roma deve dar determinada quantia ao bispado de Viseu, sendo bispo D. Jerónimo Soares.[29] Jerónimo Soares confirma os estatutos da formada Irmandade de Nossa Senhora da Conceição.[10]

Tal como sucedeu noutras dioceses, no século XVIII o exercício do cargo de provedor deixou, por norma, de ser exercido por bispos para passar a ser exercitado por figuras pertencentes à oligarquia viseense, mormente por gente da nobreza local e capitulares. D. Jerónimo Soares, apesar de uma prelatura longa, parece ter exercido funções de provedor apenas no ano em que entrou na diocese, isto é, em 1695.[30]As intervenções do monarca na nomeação dos provisores e a situação financeira de inúmeras Misericórdias, foram fatores que estiveram por trás do afastamento dos bispos da administração das confrarias.[30]

Foi o bispo D. Jerónimo Soares, que pagou a reforma do sino da igreja da Misericórdia de Viseu.[30]

Em 1696, escreve um pastoral, pela qual manda que nenhuma pessoa pesque nos rios do bispado, com cruas ou somente venenosas.[31]

Em 1698, é feito um assinado que fazem Francisco de Albuquerque e Maria dos Santos de Albuquerque, moradores em Esmolfe, em como receberam do bispo de Viseu D. Jerónimo Soares, o quartel do ordinário.[32] Nesse mesmo ano, em dezembro, cria a paróquia de Ranhados, com sede na capela da Nossa Senhora da Ouvida, construída em 1656 pela Irmandade de Nossa Senhora da Conceição. Antes porém, estivera sediada na capela da Santa Eufémia do Olival, desde 1629, ano da sua aprovação eclesiástica.[33]

Em 1699, D. Manuel de Moura Manuel, clérigo e amigo pessoal do agora bispo de Viseu, em viagem para as termas de São Pedro do Sul, falece ao pé de Ferreiros, Viseu, no qual é o próprio, Jerónimo Soares a fazer o seu funeral, e mandando-o sepultar na capela mor da igreja da freguesia da Vista Alegre.[34] Nesse mesmo ano, pôs à disposição da Congregação do Seminário Maior (Convento dos Néris) 12 000 cruzados, para se erguer uma nova igreja mais ampla. O início das obras, efetivou-se em 1704, que foram morosas, pois o terreno encontrava-se em zona alagada por água. O projeto foi de António Mendes Coutinho, sendo preterido um risco de Manuel Álvares. A 8 de junho desse mesmo ano, realiza-se em Viseu um sínodo episcopal.[35][36]

Em 1708, D. Jerónimo Soares opta por uma planta mais pequena que a prevista inicialmente.[35]

Em 1709, dá-se um problema jurídico em Pinhel, derivado a freiras se quererem eximir da jurisdição da Ordem de S. Francisco. De modo a averiguar as causas, D. Jerónimo desloca-se até a Pinhel e manda elaborar-se uma inquirição de testemunhas.[37]

Com o prelado de D. Jerónimo Soares, o bispado de Viseu tem um crescimento acentuado, denotando-se um aumento de receitas, da cidade, que orçavam por quarenta e cinco mil cruzados, crescimento de mais de metade comparado à segunda metade da década de oitenta anterior.[38]

Em 1713, dá-se um incêndio no paço episcopal anexo à Sé de Viseu. Derivado a isso, o bispo decide ir residir para o Paço Episcopal do Fontelo, onde residirá até 1716.[35] No seu último ano de vida, publica Consensus constitutionis unigenitus praesitus.

A 18 de janeiro de 1720, com cerca de 85 anos, falece em Viseu, D. Jerónimo Soares, deixando uma vastíssima obra, tanto clerical como política, tendo sido uma figura importante na defesa da Inquisição em Portugal, como o obreiro e patrono de variadas reformas nos bispados de Elvas e Viseu, durante a sua vida.[1][2][4][12]

Precedido por
Valério de São Raimundo

Bispo de Elvas

16901694
Sucedido por
Bento de Beja e Noronha
Precedido por
Richard Russell
Brasão episcopal
Bispo de Viseu

1694-1720
Sucedido por
António de Guadalupe
  1. a b c «Bishop Jerónimo Soares [Catholic-Hierarchy]». www.catholic-hierarchy.org. Consultado em 26 de julho de 2024 
  2. a b c Enciclopedia universal ilustrada europeo-americana ... (em espanhol). [S.l.]: Espasa-Calpe. 1927 
  3. «Bula - Arquivo Distrital de Viseu - DigitArq». digitarq.advis.arquivos.pt. Consultado em 26 de julho de 2024 
  4. a b «Histórico de Bispos». Diocese de Viseu. Consultado em 26 de julho de 2024 
  5. a b Azevedo, João Lúcio (1921). História dos Christãos novos Portugueses. [S.l.]: Livraria clássica editora de A.M. Teixeira 
  6. a b c Paixão, Alexandre da (1938). Monstruosidades do tempo e da fortuna. [S.l.]: Depositários: F. Machado 
  7. «Monumentos». www.monumentos.gov.pt. Consultado em 26 de julho de 2024 
  8. «Monumentos». www.monumentos.gov.pt (em inglês). Consultado em 26 de julho de 2024 
  9. Sousa, Leonardo de. «VII». Memorias históricas e cronológicas dos bispos de Viseu. Col: Tomo III. II. [S.l.: s.n.] 
  10. a b «Freguesia de Mundão: História» 
  11. a b c d Portugueza (Lisboa), Academia Real da Historia (1721). Collecçam dos documentos, e memorias da Academia Real da Historia Portugueza: que neste anno de ... se compuzeraõ. 1721. [S.l.: s.n.] 
  12. a b c Sousa, António Caetano de (1738). HISTORIA GENEALOGICA DA CASA REAL PORTUGUEZA: DESDE A SUA ORIGEM ATÉ O PRESENTE, com as Familias illustres, que procedem dos Reys, e dos Serenissimos Duques de Bragança, JUSTIFICADA COM INSTRUMENTOS, e Escritores de inviolavel fé, E OFFERECIDA A ELREY D. JOAÕ V. NOSSO SENHOR. [S.l.]: Na Regia Officina SYLVIANA, e da Academia Real 
  13. Salvador, José Gonçalves (1969). Cristãos-novos, Jesuítas e Inquisição (Aspectos de sua atuação nas capitanias do Sul, 1530-1680). [S.l.]: Livraria Pioneira Editora 
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  15. a b Nascimento dos Santos, Josival (Setembro 2015). «D. João de Melo bispo de Elvas, Viseu e Coimbra» (PDF) 
  16. Paiva, José Pedro (1 de fevereiro de 2011). Baluartes da fé e da disciplina: o enlace entre a Inquisição e os bispos em Portugal: 1536-1750. [S.l.]: Imprensa da Universidade de Coimbra / Coimbra University Press 
  17. Silva, Ana Margarida Dias da (1 de outubro de 2013). Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da cidade de Coimbra: 1659-2008. [S.l.]: CEHR-UCP 
  18. Farinha, Maria do Carmo Jasmins Dias (1990). Os arquivos da Inquisição. [S.l.]: Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Serviço de Publicações e Divulgação 
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  20. Garrido, Álvaro. Representar e negociar a favor da Inquisição: A missão em Roma de Jerónimo Soares 1674-1682. [S.l.]: Coimbra 
  21. Pinto, Pedro. Fora do Secreto. Um contributo para o conhecimento do Tribunal do Santo Ofício em arquivos e bibliotecas de Portugal (PDF). [S.l.]: Universidade Católica Portuguesa 
  22. Lisboa, Academia das Ciências de (1936). Corpo diplomatico portuguez contendo os actos e relações politicas e diplomaticas de Portugal com as diversas potencias do mundo: pt. 1. Relações com a cúria romana, 1677-1678. [S.l.]: Typ. de Academia Real das Sciencias 
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