José Henrique dos Santos Barros
José Henrique dos Santos Barros | |
---|---|
Nascimento | 1 de janeiro de 1946 Angra do Heroísmo |
Morte | 20 de maio de 1983 (37 anos) Mérida |
Cidadania | Portugal |
Ocupação | poeta, ensaísta |
José Henrique dos Santos Barros (Angra do Heroísmo, 1 de janeiro de 1946 — Mérida, Espanha, 20 de maio de 1983) foi um poeta, contista, crítico literário e animador cultural que se destacou no movimento de renovação cultural que ocorreu nos Açores nas décadas de 1960 e 1970.[1][2][3]
Biografia
[editar | editar código-fonte]J. H. Santos Barros nasceu na cidade de Angra do Heroísmo, onde conclui os ensinos básico e secundário, empregando-se de seguida como funcionário público. Publicou em 1964 as suas primeiras poesias, aos 18 anos de idade, com poemas incluídos na obra Novíssima Poesia Açoriana,[4] publicado em parceria com Gil Reis. Foi mobilizado para a Guerra Colonial, cumprindo o serviço militar obrigatório como furriel miliciano em Angola entre 1969 e 1971, regressando nesse ano à sua cidade natal.
Após o seu regresso dedica-se à poesia e à literatura, à animação cultural, ao suplementarismo nos jornais locais e ao ensaio literário. Também se envolve na contestação ao Estado Novo, em boa parte através do então incipiente sindicalismo. Em pouco tempo demonstrou grande propensão para a dinamização cultural, especialmente desde a criação, por iniciativa do também poeta Carlos Faria, do suplemento Glacial no jornal angrense A União, de que foi coordenador entre 1972 e 1974.[1] Ficaria assim associado ao movimento de renovação cultural que ocorreu nos Açores, mas em especial na cidade de Angra do Heroísmo, nas décadas de 1960 e 1970.
Nesse período, J. H. Santos Barros acreditou na possibilidade de unir numa só frente uma postura de vanguarda ideológica, militante, com a ideia libertária de uma cultura popular e de grupo. Com outros intelectuais angrenses, fundou a galeria de artes plásticas Degraue liderou processos de animação cultural de cooperativas, sindicatos, rádios e jornais. Fundou e dirigiu o suplemento Cartaz (nova série, 1972-1974) e a revista A Memória da Água-Viva, editada de parceria com Urbano Bettencourt de 1978 a 1980.
Após a Revolução dos Cravos, foi militante do MES – Movimento Esquerda Socialista e esteve presente no primeiro comício nacional daquele partido realizado a 21 de agosto de 1974, no Clube Atlético de Campo de Ourique, onde falou dos problemas do povo açoriano.[5] Foi colaborador do periódico O Trabalhador, que se publicou em Angra do Heroísmo em 1974 e 1975. Entretanto, desencantado com o ambiente político e social que se vivia nos Açores após a Revolução de 25 de abril de 1974, especialmente com a perseguição aos intelectuais tidos como de esquerda movida por elementos ligados à extrema-direita e à corrente independentista liderada pela Frente de Libertação dos Açores, em 1975 foi obrigado a mudar-se para Lisboa, onde se fixou a partir de 1979, e depois para Grândola, de onde era originária a esposa, aí vivendo até falecer.[6] António Brandão Moniz diz sobre a ida de Santos Barros para Lisboa que «sofreu a guerra colonial, o miopismo político e extremista do separatismo e o cortejo de misérias que são inerentes às do intelectual cada vez mais mecanizável mesmo quando simula o contrário».[7]
Na vertente poética, foi publicando a sua obra, muitas vezes de forma improvisada em cadernos policopiados e opúsculos, saídos a público regulamente desde 1964 até pouco antes do seu falecimento. A sua poesia, apesar dos temas insulares, conjuga a açorianidade e o tradicional como matriz e ponto de partida da alternância entre ilha e o Mundo, muitas vezes assumindo uma «poética do quotidiano».[1] No prefácio à edição póstuma da obra poética completa de J. H. Santos Barros, Lobo Antunes aponta os poemas do final de vida do poeta como peças de primeira água pelas quais [J.H. Santos Barros] deverá ser julgado, referindo que quatro ou cinco (…) resistirão ao tempo.[8] Como contista, foi autor de alguns contos dispersos, marcados pelos imaginários oníricos e surrealizantes.[1]
No campo do ensaio literário e da crítica, interessou-se pela conjugação da «açorianidade» com a «universalidade» da Literatura. No campo da crítica literária a sua melhor produção apareceu no suplemento Contexto, do jornal Açores (de Ponta Delgada), no qual desenvolveu um trabalho de animação e coordenação que se estenderia à crítica, à polémica literária e à ensaística.[1] Nesse mesmo jornal protagonizou uma experiência heteronímica, subscrevendo com diversos nomes, posições e conceitos propositada e provocatoriamente contraditórios. São desse período os textos publicados no suplemento Contexto sob o pseudónimo de Ricardo Ascensão, ou não assinados, a que se soma a narrativa Defoe no Corvo. Santos Barros assumiu Ricardo Ascensão como um heterónimo, para o qual escreveu uma biografia, que o dava como nascido em Lisboa, em 1950, neto de açorianos da ilha Terceira. Com este mesmo heterónimo publicou o folheto O Partido da Poesia. Usou outros heterónimos reconhecidos publicados no suplemento Contexto, incluindo poemas assinados como M.N. Duarte, como A.J. Peixoto e como A. Espírito Santo.[8]
Faleceu em Mérida, Espanha, vítima de um acidente de viação, no qual também morreu a sua mulher, a escritora Ivone Chinita. Deixou inédito um diário, intitulado O Aprendiz de Mundos, e vários poemas, os quais foram incluídos na edição póstuma da sua obra poética completa, saída a público em 2018.[8]
Obras publicadas
[editar | editar código-fonte]Entre outras obras dispersas na imprensa periódica, é autor das seguintes monografias:[1]
- Poesia
- Novíssima Poesia Açoriana (em co-autoria com Gil Reis). Angra do Heroísmo, ed. dos autores, 1964.
- Aventura em Sete Poemas. Lisboa, ed. do autor, 1968.
- Canto de Abril. Lisboa, Ed. Panorama, 1970.
- Imagem Fulminante. Angra do Heroísmo, Galeria Gávea, 1971.
- Testes e Versos Para Andar na Rua. Angra do Heroísmo, Galeria Degrau (ed. a stencil), 1973.
- Topiária. Angra do Heroísmo, Galeria Degrau (ed. mimeografada), 1974.
- As Crónicas. Lisboa, ed. do autor (policopiado), 1976.
- Catedral Iluminada, 1977.
- A Humidade. Lisboa, Cooperativa Semente, 1979.
- Os Alicates do Tempo. Porto, Ed. Afrontamento, 1979.
- São Mateus, Outros Lugares e Nomes. Lisboa, Ed. Vega, 1981.
- Alexandrina, como era : todos os poemas (obra completa de J. H. Santos Barros, com organização e direção literária de Jorge Reis-Sá, prefácio de António Lobo Antunes e capa e design de André Letria). Lisboa : Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2018.
- Ensaio
- 20 Anos de Literatura e Arte nos Açores. Lisboa, ed. do autor, 1977.
- O Lavrador de Ilhas. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, 1981.
- Textos e canções (autor: José Afonso; organiz. e notas J. H. Santos Barros). Lisboa, Assírio & Alvim, 1988.
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b c d e f Enciclopédia Açoriana: «Barros, José Henrique dos Santos».
- ↑ Obra Completa de J.H. Santos Barros, “Alexandrina, como era”, inclui inéditos.
- ↑ Lusa Maria de Melo Ponte, Le supplément Glacial A União das Letras e das Artes (1967-1974) et l’affirmation du champ littéraire açorien, vol. II, p. 112. Thèse de doctorat. Université Paris-Sorbonne/Paris IV, 2010.
- ↑ Gil Reis, José Henrique dos Santos Barros, Novíssima poesia açoriana. Angra do Heroísmo : Gil Reis, José Henrique dos Santos Barros, 1963.
- ↑ Diário Insular, edição de 25 de agosto de 1974.
- ↑ Teófilo Braga, «Santos Barros para além da poesia» in Correio dos Açores, n.º 32217, edição de 26 de agosto de 2020, p. 9.
- ↑ António Brandão Moniz, «Santos Barros: poeta da minoria» in A Ideia, n.º 30, de 31 de outubro de 1983.
- ↑ a b c Alexandrina, como era : todos os poemas (obra completa de J. H. Santos Barros, com organização e direção literária de Jorge Reis-Sá, prefácio de António Lobo Antunes e capa e design de André Letria). Lisboa : Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2018.