José Pereira da Cunha da Silveira e Sousa Júnior

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José Pereira da Cunha da Silveira e Sousa Júnior
José Pereira da Cunha da Silveira e Sousa Júnior
Nascimento 7 de agosto de 1864
Velas
Morte 14 de março de 1927 (62 anos)
Velas
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Alma mater
Ocupação político, engenheiro agrônomo

José Pereira da Cunha da Silveira e Sousa, Jr. (Velas, 7 de agosto de 1864 — Velas, 14 de março de 1927) foi um político açoriano, líder local do Partido Progressista, agrónomo e abastado proprietário rural, que, entre outras funções, foi deputado às Cortes e governador civil do distrito de Angra do Heroísmo. Como agrónomo e grande proprietário na ilha de São Jorge, dedicou-se à melhoria das pastagens e ao desenvolvimento da indústria dos lacticínios, com destaque para o queijo de São Jorge, de cuja produção foi o principal dinamizador, devendo-se-lhe a melhoria das técnicas de produção e o incremento da sua exportação.[1][2][3][4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

José Pereira da Cunha da Silveira e Sousa Júnior era filho de Brites Vitória de Abreu dos Reis Duarte e de José Pereira da Cunha da Silveira e Sousa, o mais rico proprietário da ilha de São Jorge, deputado às Cortes e um influente cacique local na altura ligado ao Partido Progressista. Uma sua irmã casou com Emídio Lino da Silva Júnior, deputado por Angra do Heroísmo e governador civil daquele ex-distrito. Essa ligação aproximou-o de Jacinto Cândido da Silva, irmão de Emídio Lino, que seria Ministro da Marinha e Ultramar e fundador do Partido Nacionalista. Nasceu assim no seio de um poderoso clã económico e político, tendo cultivado, ao longo de toda a sua vida relações familiares e políticas que consolidaram o poder mobilizador da família e a sua influência em São Jorge e na ilha Terceira.

Depois de estudos preparatórios nas Velas e em Angra do Heroísmo, ingressou no curso de Agronomia do Instituto de Agronomia e Veterinária, de Lisboa, que concluiu em 1886. Terminado o curso desempenhou por curto período funções na Escola Agrícola de Santarém e fez parte da comissão, presidida por Mariano Cirilo de Carvalho, que foi encarregue de realizar o Inquérito Agrícola de 1887.[5]

Pouco depois regressou aos Açores, sendo aí nomeado chefe da 12.ª Região Agronómica, funções que exerceu por poço tempo, já que se fixou em São Jorge e se dedicou à administração das suas vastas propriedades agrícolas, com destaque para as suas pastagens onde produzia queijo de São Jorge. Foi dos primeiros técnicos a dedicar-se à melhoria do maneio das pastagens açorianas e às questões tecnológicas da produção do queijo de vaca com leite cru, tecnologia em que investiu vastas somas, contratando técnicos estrangeiros e estudando com afinco todos os aspectos da produção, cura e comercialização daquele produto.

A ilha de São Jorge ficou-lhe a dever o incremento daquela indústria, a qual ainda hoje constitui o principal pilar da sua economia e uma das suas principais potencialidades nas áreas agro-alimentar e do turismo.

Tal como seu pai, foi presidente da Câmara Municipal de Velas e acabou por abandonar o campo progressista, gravitando para o Partido Regenerador nos princípios da década de 1890, acabando por assumir a liderança local do partido, estabelecendo relações de amizade pessoal com aquele político, as quais foram importantes no relacionamento dos políticos açorianos com o governo de Hintze-Franco durante a génese do Decreto de 2 de Março de 1895 que permitiu a autonomia açoriana.

Eleito deputado pelo círculo eleitoral de Angra do Heroísmo nas eleições gerais de 1895, integrado na lista do Partido Regenerador. Fez parte das comissões parlamentares ligadas à agricultura e à marinha e ultramar, ao que não deve ser alheia a sua ligação a Jacinto Cândido da Silva, então o respectivo ministro. As suas intervenções foram escassas e limitadas a matérias relacionadas com os Açores.

Mantendo a tradição familiar de criar alianças matrimoniais que robustecessem a sua influência, José Pereira da Cunha da Silveira e Sousa Júnior casou em Angra do Heroísmo, na Igreja Paroquial Belém a 16 de Abril de 1898, com Francisca Dart de Castro, filha de Emília Dart de Castro e de Henrique de Castro, membro destacado do Partido Progressista, antigo governador civil do distrito de Angra do Heroísmo e grande capitalista e negociante, proprietário da principal fábrica de produção de álcool de batata-doce da Terceira.

Quando ocorreu a saída de João Franco do Partido Regenerador, foi um dos apoiantes da dissidência franquista, mantendo-se fiel à sua amizade. Foi reeleito nas eleições gerais de 1900, desta feita pelo círculo das Velas. Durante o seu percurso parlamentar foi pouco interventor, limitando-se a questões do seu círculo, em especial as questões agrícolas e as ligadas aos transportes marítimos.

Em 29 de Maio de 1906 foi nomeado governador civil do distrito de Angra do Heroísmo pelo governo franquista, mas foi obrigado a abandonar o cargo a 4 de Novembro de 1907 já que a sua actuação à frente do distrito era fortemente contestada e não conseguia o apoio dos regeneradores terceirenses, adeptos das posições antifranquistas. Foi substituído no lugar por Aristides Moreira da Mota.

Com a proclamação da República Portuguesa afastou-se da política activa, mas manteve-se um declarado defensor da causa monárquica, pertencendo a alguns dos seus órgãos coordenadores.

Publicou algumas obras, infelizmente ainda dispersas, sobre as questões dos lacticínios açorianos, sendo um dos pioneiros do tratamento técnico-económico desta temática. Foi membro do Conselho de Estado e em 1907 foi agraciado com a grã-cruz da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

Foi pai de Henrique de Sampaio e Castro Pereira da Cunha da Silveira, atleta olímpico (esgrima), medalha de bronze em 1928, de José de Sampaio e Castro Pereira da Cunha da Silveira, agrónomo, professor universitário e deputado durante o Estado Novo,[6] e de João de Sampaio e Castro Pereira da Cunha da Silveira, historiador.[7]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Sousa Júnior, José Pereira da Cunha da Silveira» na Enciclopédia Açoriana.
  2. Maria Filomena Mónica (coordenadora), Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910, vol. III, Assembleia da República, Lisboa, 2006.
  3. Almanaque dos Açores para 1904, pp. 82-83, Angra do Heroísmo, 1903.
  4. "O Angrense", n.º 2763, edição de 21 de Abril de 1898, n.º 2817, edição de 20 de Maio de 1899, n.º 2981, de 3 de Março de 1904, n.º 3008, de 19 de Janeiro de 1905, n.º 3025, de 13 de Julho de 1905, n.º 3054, de 5 de Maio de 1906, n.º 3058, de 16 de Junho de 1906 e n.º 3069, de 22 de Setembro de 1906.
  5. «Conselheiro José Pereira da Cunha» no Álbum Açoreano, p. 396. Lisboa, 1903.
  6. Biografia parlamentar de José Cunha da Silveira.
  7. Nota biográfica de João da Silveira.

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

  • Os Lacticínios na Região Açoriana Ocidental, Angra do Heroísmo, 1887.
  • A Indústria dos Lacticínios nos Açores, Separata do Boletim AGROS, Lisboa, 1927.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]