Lista de couraçados do Império Otomano

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O Turgut Reis em janeiro de 1915

A Marinha Otomana adquiriu ou tentou adquirir uma série de couraçados entre as décadas de 1890 e 1920. A frota sofreu de uma crônica falta de dinheiro no decorrer da década de 1880 que deixou muitos de seus navios obsoletos e em péssimo estado, ao mesmo tempo que sua rival, a Marinha Real Helênica, se fortaleceu. Em resposta, os otomanos iniciaram em 1892 a construção do pré-dreadnought Abdül Kadir, porém a falta de verbas fez com que as obras prosseguissem lentamente até pararem, com o navio nunca sendo finalizado. Ainda desejando fazer frente aos gregos, a Marinha Otomana comprou em 1910 dois couraçados alemães da Classe Brandenburg, que se tornaram o Barbaros Hayreddin e o Turgut Reis.

Os otomanos começaram a procurar mais navios no exterior a partir de 1911, encomendando o primeiro membro da Classe Reşadiye de um estaleiro britânico no mesmo ano. Isto levou a uma corrida armamentista naval com a Grécia, que encomendou dois novos couraçados nos anos seguintes. Em resposta, a Marinha Otomana encomendou um segundo membro da Classe Reşadiye e comprou da Marinha do Brasil um couraçado que também estava sendo construído no Reino Unido, que se tornou o Sultan Osman-ı Evvel. Além disso, o cruzador de batalha alemão SMS Goeben fugiu para o Império Otomano quando a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, com ele sendo transferido para a Marinha Otomana e renomeado para Yavuz Sultan Selim.

O Barbaros Hayreddin e Turgut Reis pouco fizeram na Guerra Ítalo-Turca além de proteger Dardanelos, mas foram empregados de forma mais ativa nas Guerras dos Bálcãs, enfrentando a frota grega em duas ocasiões. O Reşadiye e Sultan Osman-ı Evvel estavam sendo finalizados quando a Primeira Guerra Mundial começou em agosto de 1914 e foram tomados pela Marinha Real Britânica, servindo com esta durante todo o conflito. O Barbaros Hayreddin e Turgut Reis não foram muito utilizados, com o primeiro sendo afundado em agosto de 1915 depois de ser torpedeado por um submarino britânico. O Yavuz Sultan Selim foi utilizado principalmente em operações no Mar Negro contra a Marinha Imperial Russa, continuando a servir com as frotas otomana e turca até a década de 1950. O Turgut Reis foi desmontado em 1956 e o Yavuz Sultan Selim em 1973.

Legenda
Armas principais Número e tamanho dos canhões da bateria principal
Deslocamento Deslocamento do navio totalmente carregado
Propulsão Número e tipo do sistema de propulsão e velocidade máxima
Batimento Data em que o batimento de quilha ocorreu
Lançamento Data em que o navio foi lançado ao mar
Comissionamento Data em que o navio foi comissionado em serviço
Destino Fim que o navio teve

Couraçados pré-dreadnought[editar | editar código-fonte]

Abdül Kadir[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Abdül Kadir (couraçado)
Desenho do Abdül Kadir

A Marinha Otomana sofreu de uma crônica falta orçamentária pelo decorrer da década de 1880, resultado da grande suspeita que o sultão Abdulamide II nutria em relação a oficiais navais, que tinham participado do golpe de estado que depôs seu predecessor Murade V. Consequentemente, a frota otomana ficou rapidamente obsoleta e em péssimo estado de manutenção. A Marinha Real Helênica se fortaleceu durante este mesmo período, fazendo o governo otomano encomendar um couraçado em resposta, que se tornaria o Abdül Kadir. A construção do navio começou em 1892, mas prosseguiu muito lentamente e foi paralisada repetidas vezes por falta de recursos financeiros. As obras pararam definitivamente em 1906, época em que o casco estava apenas parcialmente coberto de placas. Nesta altura os blocos que sustentavam o casco tinham se movido, destruindo a quilha. O navio incompleto foi desmontado em 1909.[1][2]

Navio Armas
principais[3]
Deslocamento[3] Propulsão[3] Serviço[3]
Batimento Lançamento Comissionamento Destino
Abdül Kadir 4 × 283 mm 8 100 t 2 motores de tripla-expansão;
18 nós (33 km/h)
outubro de 1892 Desmontado em 1909

Barbaros Hayreddin e Turgut Reis[editar | editar código-fonte]

O Barbaros Hayreddin c. 1910

O governo otomano ainda queria fazer frente à expansão naval grega no final da década de 1900, assim o adido naval alemão em Constantinopla começou em 1909 a conversar com os otomanos sobre a possível venda de alguns navios capitais. As negociações foram longas e por fim os alemães ofereceram os quatro antigos pré-dreadnoughts da Classe Brandenburg ao custo de dez milhões de marcos, com os otomanos escolhendo os dois mais modernos, que se tornaram o Barbaros Hayreddin e o Turgut Reis.[4]

Os dois pouco fizeram durante a Guerra Ítalo-Turca, sendo usados principalmente na defesa de Dardanelos contra ataques italianos.[5] Por outro lado, eles tiveram um serviço bem ativo durante as Guerras dos Bálcãs, falhando em duas tentativas de furar o bloqueio grego de Dardanelos em dezembro de 1912 e janeiro de 1913,[6] além de darem suporte de artilharia para forças terrestres otomanas na Trácia.[7] Também participaram da Primeira Guerra Mundial, com o Barbaros Hayreddin afundando em 8 de agosto de 1915 depois de ser torpedeado pelo submarino britânico HMS E11.[8][9] O Turgut Reis pouco fez durante esse conflito, parcialmente por sua baixa velocidade máxima. Foi transformado em um navio-escola em 1924 e usado como tal até ser desmontado entre 1956 e 1957.[8]

Navio Armas
principais[10]
Deslocamento[10] Propulsão[10] Serviço[8][11][12]
Batimento Lançamento Comissionamento Destino
Barbaros Hayreddin 6 × 283 mm 10 670 t 2 motores de tripla-expansão;
16,5 nós (30,6 km/h)
maio de 1890 junho de 1891 setembro de 1910 Afundado em 1915
Turgut Reis dezembro de 1891 Desmontado em 1956–57

Couraçados dreadnought[editar | editar código-fonte]

Classe Reşadiye[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Classe Reşadiye
O HMS Erin em 1915, antes Reşadiye

O governo otomano foi procurar em 1911 mais couraçados para adquirir no exterior. Como não conseguiram encontrar nenhum em construção ou já pronto para compra, a Marinha Otomana encomendou um couraçado dreadnought novo com os estaleiros britânicos da Vickers, que se tornaria o Reşadiye.[12] Seu projeto foi baseado na Classe King George V da Marinha Real Britânica, mas incorporando alguns melhoramentos implementados na sucessora Classe Iron Duke, como uma bateria secundária de canhões mais poderosos.[13] Isso levou a uma corrida armamentista naval entre Império Otomano e Grécia,[14] com esta encomendado dois dreadnoughts nos ano seguintes, fazendo os otomanos encomendarem um segundo navio de mesmo projeto, o Fatih Sultan Mehmed.[15]

Os britânicos adiaram a entrega do Reşadiye em julho de 1914 devido às tensões cada vez maiores na Europa depois do assassinato do arquiduque Francisco Fernando, mesmo os últimos pagamentos já tendo sido realizados.[16] Os britânicos formalmente tomaram o controle da embarcação em agosto para que não fosse adquirida pela Alemanha ou algum de seus aliados.[17] Tudo isto também levou ao cancelamento do Fatih Sultan Mehmed, cujas obras tinha começado um mês antes.[15] A tomada do Reşadiye e do Sultan Osman-ı Evvel criou uma animosidade considerável no Império Otomano contra o Reino Unido.[18] O Reşadiye foi renomeado para HMS Erin e atuou com a Grande Frota durante toda a Primeira Guerra Mundial e realizou principalmente patrulhas no Mar do Norte, mas participou em meados de 1916 da Batalha da Jutlândia. Foi colocado na reserva após o conflito e desmontado em 1923.[13]

Navio Armas
principais[15]
Deslocamento[13] Propulsão[15] Serviço[13][15][19]
Batimento Lançamento Comissionamento Destino
Reşadiye 10 × 343 mm 25 250 t 2 turbinas a vapor;
21 nós (39 km/h)
agosto de 1911 agosto de 1913 Desmontado em 1923
Fatih Sultan Mehmed junho de 1914 Cancelado em 1914

Sultan Osman-ı Evvel[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: HMS Agincourt (1913)
O HMS Agincourt em 1915, anteriormente o Sultan Osman-ı Evvel

O Sultan Osman-ı Evvel foi originalmente encomendado de um estaleiro britânico para a Marinha do Brasil como o Rio de Janeiro, porém os brasileiros enfrentaram uma crise econômica entre 1912 e 1913 e se viram incapazes de continuar pagando pelo navio, assim resolveram colocá-lo à venda ainda incompleto, com o Império Otomano fechando a compra em janeiro de 1914.[20][21]

O navio estava quase completo quando a Primeira Guerra Mundial começou, com os britânicos tomando-o em agosto apesar de protestos otomanos. Isto foi feito com o objetivo de impedir que o couraçado fosse usado pela Alemanha ou algum de seus aliados, mas teve a consequência de criar uma enorme animosidade pública no Império Otomano contra o Reino Unido.[22] Foi renomeado para HMS Agincourt e comissionado na Grande Frota, onde serviu por toda duração da guerra. Suas principais atividades foram patrulhas e surtidas, mas participou em 1916 da Batalha da Jutlândia. Foi tirado de serviço depois do fim do conflito e desmontado em 1924.[23]

Navio Armas
principais[24]
Deslocamento[25] Propulsão[26] Serviço[25][27]
Batimento Lançamento Comissionamento Destino
Sultan Osman-ı Evvel 14 × 305 mm 27 500 t 4 turbinas a vapor;
22 nós (41 km/h)
setembro de 1911 janeiro de 1913 Desmontado em 1924

Yavuz Sultan Selim[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: TCG Yavuz
O Yavuz Sultan Selim em 1915

O cruzador de batalha alemão SMS Goeben estava no Mar Mediterrâneo quando a Primeira Guerra Mundial começou,[28] fugindo para Constantinopla no início de agosto para que não fosse capturado ou afundado pelos britânicos.[29] Foi transferido para a Marinha Otomana depois de chegar, sendo renomeado para Yavuz Sultan Selim. Isto ajudou a conquistar o apoio público otomano em favor da Alemanha na guerra, especialmente depois do Reino Unido ter tomado o Reşadiye e Sultan Osman-ı Evvel.[28]

O Yavuz Sultan Selim operou principalmente no Mar Negro contra a Marinha Imperial Russa, com suas principais atividades sendo operações de bombardeio litorâneos e escoltas de outros navios, porém em algumas ocasiões chegou a entrar em combate contra navios russos, mais notavelmente na Batalha do Cabo Saric em novembro de 1914. Chegou a enfrentar brevemente forças britânicas em 1918.[30] Depois da guerra passou por reparos e aprimoramentos entre 1927 e 1930.[31] Continuou a servir com as Forças Navais Turcas até ser descomissionado no final de 1950, permanecendo inativo até ser finalmente desmontado entre 1973 e 1976.[15]

Navio Armas
principais[32]
Deslocamento[32] Propulsão[32] Serviço[33][34]
Batimento Lançamento Comissionamento Destino
Yavuz Sultan Selim 10 × 283 mm 25 400 t 4 turbinas a vapor;
25,5 nós (47,2 km/h)
agosto de 1909 março de 1911 agosto de 1914 Desmontado em 1973–76

Referências[editar | editar código-fonte]

Citações[editar | editar código-fonte]

  1. Lyon 1979b, pp. 388–391
  2. Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 140
  3. a b c d Lyon 1979b, p. 391
  4. Langensiepen & Güleryüz 1995, pp. 16–17
  5. Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 15
  6. Hall 2000, pp. 64–65
  7. Erickson 2003, p. 264
  8. a b c Lyon 1979b, p. 390
  9. Halpern 1995, p. 119
  10. a b c Gröner 1990, p. 13
  11. Lyon 1979a, p. 247
  12. a b Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 17
  13. a b c d Preston 1985, p. 36
  14. Sondhaus 2001, p. 220
  15. a b c d e f Mach 1985, p. 391
  16. Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 29
  17. Fromkin 1989, pp. 56–57
  18. Hough 1967, pp. 143–144
  19. Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 141
  20. Hough 1967, p. 75
  21. Langensiepen & Güleryüz 1995, pp. 17–18
  22. Hough 1967, pp. 121, 143–144
  23. Burt 1986, p. 250
  24. Preston 1985, p. 37
  25. a b Sondhaus 2001, p. 220
  26. Burt 1986, pp. 245, 250
  27. Burt 1986, p. 245
  28. a b Hore 2006, p. 72
  29. Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 28
  30. Halpern 1995, pp. 227–258
  31. Brice 1969, p. 277
  32. a b c Gröner 1990, p. 54
  33. Staff 2006, p. 12
  34. Gröner 1990, p. 55

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Brice, Martin H. (1969). «S.M.S. Goeben/T.N.S. Yavuz: The Oldest Dreadnought in Existence—Her History and Technical Details». Toledo: Naval Records Club. Warship International. VI (4) 
  • Burt, R. A. (1986). British Battleships of World War One. Annapolis: Naval Institute Press. ISBN 0-87021-863-8 
  • Erickson, Edward J. (2003). Defeat in Detail: The Ottoman Army in the Balkans, 1912–1913. Santa Bárbara: Greenwood Publishing Group. ISBN 978-0-275-97888-4 
  • Fromkin, David (1989). A Peace to End All Peace: The Fall of the Ottoman Empire and the Creation of the Modern Middle East. Nova Iorque: H. Holt. ISBN 978-0-8050-0857-9 
  • Gröner, Erich (1990). German Warships: 1815–1945. I: Major Surface Vessels. Annapolis: Naval Institute Press. ISBN 978-0-87021-790-6 
  • Hall, Richard C. (2000). The Balkan Wars, 1912–1913: Prelude to the First World War. Londres: Routledge. ISBN 978-0-415-22946-3 
  • Halpern, Paul G. (1995). A Naval History of World War I. Annapolis: Naval Institute Press. ISBN 1-55750-352-4 
  • Hough, Richard (1967). The Great Dreadnought: The Strange Story of H.M.S. Agincourt: The Mightiest Battleship of World War I. Nova Iorque: Harper & Row. OCLC 914101 
  • Langensiepen, Bernd; Güleryüz, Ahmet (1995). The Ottoman Steam Navy 1828–1923. Londres: Conway Maritime Press. ISBN 978-0-85177-610-1 
  • Lyon, David (1979a). «Germany». In: Chesneau, Roger; Kolesnik, Eugene M. Conway's All the World's Fighting Ships 1860–1905. Londres: Conway Maritime Press. ISBN 0-85177-133-5 
  • Lyon, Hugh (1979b). «Turkey». In: Chesneau, Roger; Kolesnik, Eugene M. Conway's All the World's Fighting Ships 1860–1905. Londres: Conway Maritime Press. ISBN 0-85177-133-5 
  • Mach, Andrzej V. (1985). «Turkey». In: Gardiner, Robert; Gray, Randal. Conway's All the World's Fighting Ships 1906–1921. Annapolis: Naval Institute Press. ISBN 0-85177-245-5 
  • Preston, Antony (1985). «Great Britain and Empire Forces». In: Gardiner, Robert; Gray, Randal. Conway's All the World's Fighting Ships 1906–1921. Annapolis: Naval Institute Press. ISBN 0-85177-245-5 
  • Sondhaus, Lawrence (2001). Naval Warfare, 1815–1914. Nova Iorque: Routledge. ISBN 978-0-415-21478-0 
  • Staff, Gary (2006). German Battlecruisers: 1914–1918. Oxford: Osprey Books. ISBN 978-1-84603-009-3 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]