Magrebe

O Magrebe ou Magreb (em árabe: المغرب; romaniz.: Al-Maghrib; lit. "Ocidente") é a região noroeste da África.
O "Pequeno Magrebe" inclui Marrocos, Argélia e Tunísia. O Grande Magrebe inclui também a Mauritânia e Líbia.[1]
Na época do Império Romano, era conhecido como África menor, enquanto na Idade Média eram os Mouros, herdeiros da província romana da Mauritânia.[2] A região foi dominada pelos árabes e pela sua religião, o Islamismo, durante mais de 1300 anos.
Al-Maghrib opõe-se a Maxerreque ("nascente"), que designa o oriente árabe e se estende desde o Egito até o Iraque e a Península Arábica. O Magrebe está limitado pelo Mar Mediterrâneo a norte, pelo Oceano Atlântico a oeste, pelo Golfo de Gabes a leste, e pelo deserto do Saara a sul.
Países
[editar | editar código]Pequeno Magrebe
[editar | editar código]A Argélia é uma República semipresidencialista independente da França desde 1962. A revolução que deu lugar à libertação nacional foi sangrenta e a população, em certa medida, ficou traumatizada no confronto de oito anos entre exército francês e as guerrilhas locais, algumas das quais, continuaram extremadas até aos dias de hoje, devotando-se ao terrorismo.[2]
Marrocos é uma Monarquia Constitucional.[3] Foi deste território que se partiu à conquista da Península Ibérica em 711. Os árabes seriam expulsos de Portugal (século XIII) e Espanha (século XV) e depois invadidos, primeiro pelos portugueses com a conquista de Ceuta (1415) e, em seguida, por outras potências europeias, finalmente até à independência da França em 1955.
A Tunísia é uma República semipresidencialista independente da França desde 1956. O seu povo deriva dos antigos Cartagineses vencidos pelos romanos nas Guerras Púnicas (séculos III-II a.C.). Era considerado um país moderado, muito escolhido por europeus para fazer turismo até à revolução de Jasmim (2010/11). Atualmente possui um governo de unidade nacional.[2]
Países inclusos no Grande Magrebe
[editar | editar código]A Líbia é país independente da França desde 1947. Foi considerado Estado pária, durante décadas, na confluência das principais rotas migratórias de sul para norte. Vive em guerra civil desde a Primavera Árabe (2011) e, por agora, possui um governo de acordo nacional reconhecido no exterior mas de poder limitado.[4]
Geografia física
[editar | editar código]O Magrebe está limitado pelo Mar Mediterrâneo a norte, pelo Oceano Atlântico a oeste, pelo Golfo de Gabes a leste, e pelo deserto do Saara a sul. A grande cordilheira do Atlas, com as suas ramificações separadas por planaltos com cerca de 1000 metros de altitude, estende-se na sua parte ocidental. O restante do território é deserto, interrompido por oásis e cordilheiras montanhosas solitárias.
Argélia e Líbia são países grandes e grande parte do seu território é desértico. Porém, tanto um como o outro, e ainda a Tunísia, possuem reservas abundantes de petróleo e gás natural. A agricultura, tornada possível através de projetos de irrigação, é ainda importante para a região. Muitos habitantes são nómades, andando de terra em terra com as suas manadas ou rebanhos.
Ao longo da costa do Mediterrâneo e do Atlântico existe uma faixa fértil onde vive a maioria da população. É uma zona de clima mediterrânico, com precipitações escassas, salvo em zonas montanhosas viradas para a zona litoral. Ao longo da maior parte da costa e nas terras altas os verões são quentes e secos e os invernos amenos e úmidos. A temperatura diurna média no deserto é cerca de 38 °C, mas à noite é baixa. A pluviosidade no deserto pode ser de apenas 25 mm por ano e é irregular.

Montanhas do Atlas
[editar | editar código]As montanhas do Atlas consistem em várias cadeias montanhosas que se estendem por 2410 km desde a costa Atlântica de Marrocos até ao Cabo Bon, na Tunísia Oriental. A cordilheira é a barreira física entre o Mar Mediterrâneo e o Deserto do Saara. A maioria dos habitantes é de povos berberes. A montanha mais alta é o Jbel Toubkal, com 4 167 m, localizado no sul de Marrocos. O pico é um dos mais altos do continente e é o mais alto do Norte da África.

Saara
[editar | editar código]O deserto do Saara é conhecido por ser o maior deserto quente do mundo e ocupa uma área de 9 065 000 km². O deserto do Saara se distinguem dois trechos, um dominado por dunas arenosas e denominado Erg, e outro bastante pedregoso denominado Hamadas.
A segunda inclui vastas extensões planas de rocha e cascalho e montanhas como a cordilheira de Hoggar, na Argélia, cujo pico mais elevado mede 2 918 m.
Dromedários e cabras são os animais predominantes no Saara. Por causa das suas habilidades de sobrevivência, da resistência e da velocidade, o dromedário é o animal favorito dos nômades
História
[editar | editar código]A região do Magrebe, localizada no noroeste da África, possui uma rica história de interações culturais e ocupações por diversas civilizações ao longo dos séculos.
Período Fenício e Cartaginense
[editar | editar código]Os fenícios foram os primeiros a estabelecer colônias comerciais na costa mediterrânea do Magrebe, por volta do século IX a.C. Entre as colônias mais notáveis está Cartago, que se tornou um poderoso império comercial e militar, rivalizando com Roma durante as Guerras Púnicas. A influência fenícia pode ser observada em restos arqueológicos e práticas culturais assimiladas pela região.[5]
Domínio Romano
[editar | editar código]Após a destruição de Cartago em 146 a.C., o Magrebe tornou-se uma parte integral do Império Romano, formando as províncias da África Proconsular, Numídia e Mauritânia. Os romanos introduziram infraestrutura avançada, incluindo aquedutos, estradas e cidades planejadas, como Timgad e Volubilis. A agricultura prosperou, com a região tornando-se o "celeiro de Roma", graças à produção de trigo e azeite.[6]

Influências Bizantinas e Vândalas
[editar | editar código]Com o colapso do Império Romano do Ocidente no século V, a região foi invadida pelos vândalos, que estabeleceram um reino temporário. No entanto, no século VI, o Império Bizantino reconquistou partes do Magrebe, trazendo sua própria administração e influências culturais, embora sem alcançar um domínio completo sobre as tribos berberes locais.
Conquista Árabe e Islamização
[editar | editar código]No século VII, os exércitos árabes islâmicos conquistaram o Magrebe, introduzindo o Islã e a língua árabe. Essa transformação marcou profundamente a cultura, religião e identidade da região. Apesar disso, as línguas e tradições berberes continuaram a influenciar o cotidiano. O Magrebe também tornou-se um importante centro de aprendizado islâmico e comércio transaariano.[7]
Domínio Otomano
[editar | editar código]A partir do século XVI, grandes partes do Magrebe, como a Argélia, a Tunísia e a Líbia, tornaram-se estados vassalos do Império Otomano, enquanto o Marrocos manteve sua independência sob dinastias locais. Durante esse período, cidades costeiras como Argel e Túnis tornaram-se importantes portos no comércio mediterrâneo e bases de corsários.[8]
Colonização Europeia
[editar | editar código]No século XIX, o Magrebe foi gradualmente colonizado por potências europeias. A França ocupou a Argélia em 1830, estabelecendo uma colônia de assentamento, e mais tarde instaurou protetorados na Tunísia (1881) e no Marrocos (1912). A Espanha também controlou partes do norte de Marrocos, enquanto a Itália anexou a Líbia em 1911. A colonização trouxe modernização, mas também desencadeou movimentos de resistência local.
Patrimônio Cultural e Arqueológico
[editar | editar código]Hoje, o Magrebe é conhecido por seu rico patrimônio arqueológico e cultural. Ruínas como Cartago (Tunísia), Timgad e Djemila (Argélia), e Volubilis (Marrocos) atraem visitantes de todo o mundo, testemunhando a longa e diversa história da região.
Berberes
[editar | editar código]Os berberes, ou Imazighen (plural de Amazigh, que significa "homem livre" em tamazight), são os povos autóctones do Norte da África, com presença milenar na região do Magrebe. Sua história, cultura e língua precedem a chegada dos árabes e de outras influências externas, mantendo-se como um dos pilares da identidade magrebina.
História
[editar | editar código]A presença berbere no Magrebe remonta à pré-história, evidenciada por pinturas rupestres em sítios como Tassili n'Ajjer, que retratam uma biodiversidade abundante, indicando que o Saara já foi uma região fértil. Durante a Antiguidade, os berberes estabeleceram reinos como a Numídia e a Mauritânia, interagindo com fenícios, cartagineses e romanos. Com a conquista árabe no século VII, muitos berberes foram islamizados, embora tenham mantido aspectos de sua cultura e organização social.[9]
Cultura e Sociedade
[editar | editar código]Os berberes possuem uma rica tradição oral, com destaque para a poesia, música e danças tradicionais. Suas línguas pertencem à família afro-asiática e são escritas utilizando o alfabeto Tifinagh, cuja origem remonta aos antigos hieróglifos egípcios. A organização social berbere varia entre estruturas tribais, aristocráticas e teocráticas, com destaque para as assembleias comunitárias (jama'a), que desempenham papel central na administração local.[10]
Distribuição Geográfica
[editar | editar código]Atualmente, os berberes estão distribuídos principalmente por Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Mauritânia, além de comunidades significativas em países do Sahel, como Mali e Níger. Estima-se que entre 58 e 75 milhões de pessoas falem línguas berberes, consolidando uma herança cultural e linguística que abrange vastas áreas do Norte da África.[11]

Tuaregues
[editar | editar código]Os tuaregues são um subgrupo berbere seminômade que habita o deserto do Saara, principalmente no sul da Argélia, norte do Mali, Níger, sudoeste da Líbia e partes do Chade e Burkina Faso. Conhecidos como "os homens do véu" devido ao uso do tagelmust, um turbante que cobre o rosto, os tuaregues mantêm uma sociedade matrilinear, onde a linhagem e a herança são transmitidas pela linha materna. Sua língua, o tamasheq, é escrita em Tifinagh, e eles desempenharam um papel crucial nas rotas comerciais transaarianas.[12]
Ver também
[editar | editar código]- Ceuta
- ibne Caldune - Historiador desta região no século XIV;
- Maxerreque
- Melilha
- Plazas de soberanía
Referências
- ↑ «Esteves, Pedro (s.d.) "O papel de Portugal no Magrebe – um caminho para uma parceria euro-med-atlântica" (documento de trabalho de GEEMA)» (PDF). www.geema.org. Consultado em 22 de fevereiro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 17 de maio de 2014 acessado a 22 de fevereiro de 2012
- ↑ a b c Galito, Maria Sousa (2019). «Sahel e Magreb : ensaio sobre o norte de África, uma região em convulsão». Consultado em 26 de dezembro de 2022
- ↑ «Morroco» (PDF). European Forum for Democracy and Solidarity (em inglês). 2021. Consultado em 26 de dezembro de 2022
- ↑ «Libya» (PDF). European Forum for Democracy and Solidarity (em inglês). 2020. Consultado em 26 de dezembro de 2022
- ↑ «Carthage | History, Location, & Facts | Britannica». www.britannica.com (em inglês). 24 de abril de 2025. Consultado em 29 de maio de 2025
- ↑ whc.unesco.org https://whc.unesco.org/en/list/194. Consultado em 29 de maio de 2025 Em falta ou vazio
|título=(ajuda) - ↑ «Maghreb | History, Location, Languages, Map, & Facts | Britannica». www.britannica.com (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2025
- ↑ «Ottoman Empire | Facts, History, & Map | Britannica». www.britannica.com (em inglês). 29 de abril de 2025. Consultado em 29 de maio de 2025
- ↑ Centre, UNESCO World Heritage. «Tassili n'Ajjer». UNESCO World Heritage Centre (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2025
- ↑ «Berber languages | Berber Language Family, History & Culture | Britannica». www.britannica.com (em inglês). Consultado em 29 de maio de 2025
- ↑ Tapetes, Avanti (15 de julho de 2022). «Avanti Pelo Mundo: Povo Berbere, Cultura que Inspira». Avanti Tapetes. Consultado em 29 de maio de 2025
- ↑ «eHRAF World Cultures». ehrafworldcultures-yale-edu.translate.goog. Consultado em 29 de maio de 2025


