Martim Gonçalves de Ataíde

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Martim Gonçalves de Ataíde
Alcaide-mor de Chaves
Martim Gonçalves de Ataíde
Armas do chefe da linhagem dos Ataídes (Livro do Armeiro-mor, de 1509)
Nascimento c. 1350
  Reino de Portugal
Morte c. 1392
  Reino de Castela
Cônjuge D. Mécia Vasques Coutinho
Pai Gil Martins de Ataíde, senhor da honra e torre de Ataíde
Mãe Teresa Vasques de Resende
Ocupação Fidalgo, Militar
Filho(s) D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, 1.º Conde de Atouguia

Vasco Fernandes de Ataíde, governador da Casa do Infante Dom Henrique

Martim Gonçalves de Ataíde (c. 1350 - Castela, c. 1392) foi um fidalgo e militar português do século XIV, figura destacada do reinado de D. Fernando I e partidário de Castela na crise de 1383 - 85.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em data desconhecida, provavelmente cerca de 1350; filho de Gil Martins de Ataíde e de Teresa Vasques de Resende e bisneto de Gonçalo Viegas de Ataíde, que no ano de 1290 (Inquirições de D. Dinis) era senhor da honra e torre de Ataíde, no antigo julgado de Santa Cruz de Riba Tâmega (atual concelho de Amarante).[1]

Foi Rico-Homem do reinado de D. Fernando I, senhor de Ataíde e também de Gouveia (do Tâmega), Brunhais e Água Revez, por carta régia de 11.08.1377.[2]

Partidário de Leonor Teles[editar | editar código-fonte]

Sendo muito próximo da rainha Leonor Teles, foi com o conde de Andeiro a Castela em 1382, para tratar do enlace da Infanta D. Beatriz com o rei de Castela João I. O seu casamento com Mécia Vasques Coutinho foi também estimulado por Leonor Teles, tendo Martim Gonçalves recebido, nessa ocasião, a estrategicamente importante alcaidaria-mor do Castelo de Chaves.

Nos finais do ano de 1383 começaram as hostilidades entre o mestre de Avis e o monarca castelhano. Como apoiador de Leonor Teles, Martim Gonçalves acompanhou a rainha a Alenquer, tendo sido por esta encarregado de defender a vila. Seguidamente, ao ser combinado um encontro entre a rainha e o rei de Castela, Ataíde começou por se manifestar contra o mesmo, por considerar que haveria o risco de que D. Leonor acabasse por ser presa pelo genro, com o objetivo de o monarca castelhano obter para ele o juramento das terras que se haviam pronunciado por D. Leonor. Mas depois mudou de opinião e acompanhou a rainha no encontro, em janeiro de 1384. Nessa ocasião, em que beijou a mão do rei de Castela, recebeu a confirmação da alcaidaria de Chaves e o encargo de defender o castelo e toda a região de Trás-os-Montes.[3]

Alcaide-mor de Chaves[editar | editar código-fonte]

Depois de tomar posse do castelo, Martim Gonçalves conduziu forças militares, unidas às do arcebispo de Santiago, para sitiar a cidade do Porto, em maio de 1384,[3] mas a operação não teve sucesso e, na sequência, regressou a Chaves.[4]

O Castelo de Chaves, de que Martim Gonçalves de Ataíde foi Alcaide, tal como está representado no Livro das Fortalezas, de Duarte de Armas

Mesmo depois das vitórias do mestre de Avis nas batalhas contra Castela, Ataíde recusou-se a entregar o castelo de Chaves. D. João I decidiu assim sitiar a praça logo que teve a confirmação dos apoios de Martim Vasques da Cunha e de Gonçalo Vasques Coutinho (cunhado de Martim Gonçalves). O cerco de Chaves iniciou-se em Janeiro de 1386, depois de Ataíde se ter novamente recusado a abandonar a cidade, desprezando a promessa de mercês por parte de D. João I. O condestável D. Nuno Álvares Pereira veio também a Chaves para participar no cerco.

Com as notícias sobre o iminente desembarque do duque de Lancaster em Castela (aliado de D. João I e com pretensões ao trono de Castela) e da chegada dos reforços de D. Nuno Álvares Pereira, Ataíde resolveu oferecer a rendição de Chaves, mas somente após um período de quarenta dias. D. João I receava que o monarca castelhano viesse pessoalmente em auxílio de Martim Gonçalves (Juan I estava em Valladolid e com boas condições para intervir, pois tinha solicitado o apoio da França e do antipapa Clemente VII), pelo que aceitou a proposta[5], recebendo como refém um dos filhos do Alcaide-mór[6]. O parentesco da esposa de Ataíde com Gonçalo Vasques Coutinho, um dos principais apoiadores de D. João I em 1383 - 85, também terá inclinado o rei português a fazer o acordo com o Alcaide. Mécia Vasques Coutinho e os seus filhos estavam acompanhando o marido durante o cerco, e já anteriormente, em atenção ao seu parentesco e por provável intercessão de Gonçalo Vasques Coutinho, D. João I concedera-lhe o privilégio de um cântaro de água por dia[7].

Durante esse período de 40 dias, foi visitá-lo um escudeiro seu amigo, que estava do lado das forças sitiantes e Martim Gonçalves teve com ele este diálogo: "que faz lá esse vosso Mestre (de Avis)?" e tendo-lhe o escudeiro retorquido "não sei o que faz, mas parece-me que fez 'pirolas' para vos colocar daqui para fora pela força", retorquiu o Alcaide-mór: "o demo que lhe agradeça essa física".[6]

Exílio em Castela[editar | editar código-fonte]

Depois de obter a autorização do monarca castelhano, que lhe agradeceu os serviços e lhe prometeu mercês em Castela, Martim Gonçalves de Ataíde entregou finalmente a praça em finais de abril de 1386, depois de cerca de 4 meses de cerco[6]. Partiu logo para Castela (dias antes de entregar as chaves, havia enviado sua esposa e seus filhos para Monterey), sendo os seus bens confiscados e entregues a Gonçalo Vasques Coutinho, com exceção de Chaves, que passou para a posse de Nuno Álvares Pereira e subsequentemente, por essa via, para a casa de Bragança.

Martim Gonçalves de Ataíde ainda estava vivo em 1392, quando matou um português com uma lança, em Villalobos, durante a incursão portuguesa em Castela, nesse ano.[8]

Casamento e descendência[editar | editar código-fonte]

Do seu casamento com Mécia Vasques Coutinho, irmã do vencedor de Trancoso, Gonçalo Vasques Coutinho, teve Martim Gonçalves de Ataíde os seguintes filhos:[9]

  • D. Helena de Ataíde, casou com Pedro Vaz da Cunha, 2.º senhor de Angeja e Pinheiro, com geração.
  • D. Catarina de Ataíde, dama da mesma rainha, teve igual moradia na sua casa.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra, Livro Primeiro. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 80. Consultado em 12 de outubro de 2019 
  2. Campos, Nuno Luís de Vila-Santa Braga (2013). A Casa de Atouguia, os Últimos Avis e o Império. Dinâmicas entrecruzadas na carreira de D. Luís de Ataíde (1516-1581). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. p. 36. Consultado em 12 de outubro de 2019 
  3. a b Freire, Anselmo Braamcamp, op. cit., p. 77
  4. Campos, Nuno, op. cit., p.37
  5. Lopes, Fernão (1990). Crónica de D. João I. 2 volumes, introdução de Humberto Baquero Moreno e prefácio de António Sérgio. Barcelos: Livraria Civilização. pp. vol. II, cap. LXV 
  6. a b c Freire, Anselmo Braamcamp, op. cit., p. 79
  7. Lopes, Fernão, op. cit, vol. II, cap. LXIII
  8. Campos, Nuno, op. cit. p. 38
  9. Freire, Anselmo Braamcamp, op. cit., p.84
  10. Arquivo Nacional Torre do Tombo, Casa de Povolide: https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4162272
  11. Arquivo Municipal de Penafiel, ms. C-16, p. 2v e 3
  12. «Manuel Abranches de Soveral - Origem dos Souza ditos do Prado». www.soveral.info. Consultado em 12 de novembro de 2019