Meia-noite dada
"Meia-noite dada" é uma canção de Natal tradicional portuguesa, originária da Ilha da Madeira.[1]
História
[editar | editar código-fonte]Como se trata de uma canção popular,[1] desconhece-se o seu autor e a sua data de composição. O texto, um romance "ao divino", foi publicado pela primeira vez em 1880 no Romanceiro do Arquipélago da Madeira, coligido por Álvaro Rodrigues de Azevedo em Machico.[1]
Esse romance foi, posteriormente, estudado por Teófilo Braga. Segundo este autor, o contexto em que Jesus nasce (à meia-noite em ponto, aquando do cantar do galo) tem raízes numa antiga superstição portuguesa, já referida no Auto das Fadas de Gil Vicente, segundo a qual, todos os encantos e poderes malévolos são quebrados com o cantar do galo à meia-noite, anunciando o nascimento do sol, que vem vencer as trevas. Não se estranha, por isso, a colocação do nascimento do Messias em tal contexto.[2] Vale ressaltar que a figura de um galo é frequente nos presépios tradicionais portugueses.[3]
Álvaro Rodrigues de Azevedo descreve os romances da sua coleção como medievais, se não na origem, pelo menos no carácter, o que se deveria, segundo o mesmo autor, ao isolamento do arquipélago da Madeira após o seu povoamento no século XV.[1] De facto, para além do já referido uso de crenças do Medievo, o texto possui algumas semelhanças com um outro romance de possível origem medieval ou quinhentista, chamado "Nossa Senhora lavadeira", tanto na forma como nalguns temas usados:
- Numa cena da vida quotidiana o Menino Jesus chora com frio.
- Maria acalma o Menino Jesus com os versos "Calai-vos, meu Filho, / Jesus, meu amor" (versos equivalentes a "Calai, meu Menino / Calai, meu amor").
- Maria incita o Menino Jesus a aceitar a miséria em que se encontram.
Harmonizações
[editar | editar código-fonte]Foi harmonizada por vários compositores como o Pe. Manuel Simões[4], Ian Mikirtoumov[carece de fontes] e Luís Cipriano.[5]
Letra
[editar | editar código-fonte]O tema deste romance madeirense é o nascimento humilde de Jesus.[2] Enquanto que este menino nasce chorando, em oposição, o galo canta. Numa segunda parte, a Virgem Maria exorta o seu Filho a deixar de chorar, pedindo para se conformar com a sua pobreza.
Versão recolhida em 1880 | Letra atualizada |
---|---|
Meia-noite dada, |
Meia-noite dada, |
E la mãe lhe disse |
A Virgem lhe disse |
Dormide no feno, |
Que não tenho berço, |
Ai, Senhor do mundo, |
Menino tão lindo, |
Discografia
[editar | editar código-fonte]
- 1995 — Natal Português. Coral T.A.B. Ovação Records. Faixa 10.
- 2000 — A banda do Zéthoven: vol. 2. Zéthoven. Public-art. Faixa 5.[5]
Referências
- ↑ a b c d e Azevedo, Álvaro Rodrigues de (1880). Romanceiro do Arquipélago da Madeira 1 ed. Funchal: Typ. da «Voz do Povo»
- ↑ a b Braga, Teófilo (1885). O povo português nos seus costumes, crenças e tradições. 2 1 ed. Lisboa: Livraria Ferreira Editora. p. 153. 545 páginas
- ↑ Museu de Arte Popular. «Figura (de presépio de Estremoz)». Matriznet. Consultado em 27 de julho de 2015
- ↑ Coral Cristo Rei de Algés; Pe. Manuel Simões. «Meia noite dada» (pdf). Consultado em 27 de julho de 2015
- ↑ a b Zéthoven. «A banda do Zéthoven». Consultado em 27 de julho de 2015
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Interpretação de "Meia-noite dada" (excerto)». gravada pelo Grupo Voz Nua Aveiro.
- «Partitura da harmonização de Manuel Simões» (PDF)