Mulata (canção)
Mulata é o título original da marcha composta pelos Irmãos Valença em 1929.
Conhecida e cantada nos bares do Recife,[1] teve repercussão nacional pelo lançamento feito por Lamartine Babo e pela ação judicial que causou.
História
[editar | editar código-fonte]Os irmãos João e Raul Valença, autores conhecidos de frevos-canção e maracatus no Carnaval de Pernambuco, enviaram à Gravadora Victor, no Rio de Janeiro, a partitura de sua composição, denominada Mulata.[2]
A gravadora pediu a Lamartine Babo que a ajustasse ao gosto carioca. O compositor assim o fez, e a lançou com letra ligeiramente modificada (o estribilho ficou intocado) e com o título de O teu cabelo não nega, que era exatamente o primeiro verso da composição original. No selo do disco então lançado estava escrito: "Letra e música de Lamartine Babo (sobre motivo do Norte)".
Essa atitude levou os Irmãos Valença a entrar com ação judicial contra a gravadora,[3][4] ação vencedora em todas as instâncias, tendo a gravadora sido obrigada a pagar indenização aos legítimos autores e adicionar seus nomes na autoria da composição, ficando os mesmos com metade do arrecadado com direitos autorais.
Uma vez que houve acréscimo de letra por Lamartine Babo, a pedido da gravadora, os Irmãos Valença acederam e deixaram seu nome aparecer como coautor. Porém, até hoje, os verdadeiros autores aparecem em segundo lugar.
Música
[editar | editar código-fonte]Em compasso binário, com letra cheia de gíria da capital pernambucana na época de sua composição[nota 1], foi baseada em uma mulata que passeava pelos bares das cercanias da Avenida Guararapes. Falava em corrente da Trama, em alusão à empresa Pernambuco Tramways, então concessionária de distribuição de energia elétrica em Pernambuco.
Aproveitando toda sua melodia e o estribilho, Lamartine Babo acrescentou-lhe estrofes com outro arranjo[nota 2][2] e a lançou no Rio de Janeiro com o título de O teu cabelo não nega.
Letra
[editar | editar código-fonte]Letra original
[editar | editar código-fonte]O teu cabelo não nega, mulata,
que tu és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata,
Mulata, eu quero o teu amor
Me deste um curto-circuito, que fruido,
que se queimou-se os fusive, incrive,
pruque nesses teus dois quartos de fama, mulata,
Letra adaptada por Lamartine Babo
[editar | editar código-fonte]O teu cabelo não nega, mulata,
que tu és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata,
Mulata, eu quero o teu amor
Tens um sabor bem do BrasilTens a alma cor de anil
Mulata, mulatinha, meu amor
Fui nomeado teu tenente interventor
O teu cabelo não nega, mulataque tu és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, eu quero o teu amor
Quem te inventou, meu pancadãoTeve uma consagração
A lua te invejando faz careta
Porque, mulata, tu não és deste planeta
Quando, meu bem, vieste à TerraPortugal declarou guerra
A concorrência, então, foi colossal
Vasco da Gama contra o batalhão naval
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]Notas
- ↑ "Me deste um curto-circuito, que fruido
que se queimou-se os fusive, incrive,
pruque nesses teus dois quartos de fama, mulata,
passa a corrente da trama" - ↑ Sérgio Cabral, em seu livro Pixinguinha, vida e obra, afirma que foi Pixinguinha o arranjador da composição modificada, e não Lamartine Babo, como se afirmava.