Neoescolástica

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A neoescolástica, também conhecida como neotomismo, é um movimento filosófico-teológico de revitalização da escolástica medieval. Representa uma recuperação criativa da metafísica e epistemologia de Tomás de Aquino. Impulsionado pela encíclica Aeterni Patris, do Papa Leão XIII, de 4 de agosto de 1879, e desenvolvido na primeira metade do século XIX, o movimento alcançou sua mais ampla difusão entre as décadas de 1910 e 1960.

Por vezes a neoescolástica tem sido chamada de neotomismo, em parte porque Tomás de Aquino deu a forma final à escolástica no século XIII. Assim, fixou-se a ideia do tomismo como a mais destacada vertente da escolástica - o pensamento teológico e filosófico cristão medieval desenvolvido nas universidades, entre o século VIII e o Renascimento. Ademais, dentro da Ordem dos Dominicanos, o escolasticismo tomista permaneceu, desde o tempo de Tomás de Aquino, mesmo depois da devastação causada pela Reforma, pela Revolução Francesa e pela ocupação napoleônica. A partir da morte de São Tomás de Aquino, as legislações dos Capítulos Gerais, assim como das Constituições da Ordem, exigiam que todos os dominicanos ensinassem a doutrina de São Tomás, tanto em filosofia como em teologia, o que foi importante para a preservação do tomismo e para o surgimento do neotomismo. O método escolástico declinou com o advento do humanismo, nos séculos XV e XVI, após o que passou a ser visto por alguns como rígido e formalista. Mas a filosofia escolástica não desapareceu.

No século XVI, teve lugar um importante movimento de reavivamento tomístico - a escola de Salamanca -, que enriqueceu a literatura escolástica com muitas contribuições eminentes. Gabriel Vásquez (1551-1604), Francisco de Toledo Herrera (1532-1596), Pedro da Fonseca (1528-1599), Francisco de Vitoria (1483-1546), Domingo de Soto (1494 - 1560), Luis de Molina (1535 — 1600) e, especialmente, Francisco Suárez (1548-1617) foram pensadores profundos, dignos dos grandes mestres cujos princípios haviam adotado." [1] É comum aplicar-se o termo "neoescolástica" à escola de Salamanca .[2]

Na primeira metade do século XX surgiram importantes escolas neotomistas, principalmente na França e na Bélgica (Universidade Católica de Louvain), mas também na Itália (Universidade Católica do Sagrado Coração, em Milão), no Canadá (Universidade de Ottawa e Universidade Laval) e nos Estados Unidos (Universidade Católica da América, em Washington).[3] Entre os representantes contemporâneos mais conhecidos do neotomismo estão Jacques Maritain, Étienne Gilson, André Marc, Erich Przywara, Johannes Baptist Lotz, Walter Brugger, Karl Rahner, Bernard Lonergan e Emerich Coreth,

Correntes[editar | editar código-fonte]

Corrente tradicional[editar | editar código-fonte]

Os representantes desse movimento não pretenderam enriquecer a doutrina tomista, mas mostrar aquilo que é eternamente durável em metafísica. Assim, adotaram uma atitude defensiva e desafiante contra os "erros" da modernidade, contra a qual o tomismo ergueu um infalível bastião. A maioria das obras desse fluxo são escritas em latim, como é o caso de:

1- Tommaso Maria Zigliara (1833-1893), autor italiano de Summa philosophica, em 3 volumes. O Papa Leão XIII nomeou-o cardeal e presidente da Academy of St. Thomas;

2- Albert Farges, autor de Estudos filosóficos, em 9 volumes e um curso de filosofia, adotado como livro-texto para muitos seminários;

3- Reginald Garrigou-Lagrange (1877-1964), autor de Uma síntese tomista e Deus;

4- O cardeal Louis Billot (1846-1931), cujo retorno ao St. Thomas manifestou a sua independência em face de Francisco Suárez (que tem grande influência sobre a neoescolástica alemã).

Corrente progressista[editar | editar código-fonte]

Essa corrente não se contenta em restaurar as antigas doutrinas tomistas, mas tenta incorporar todo o lado bom do pensamento moderno, visando enriquecer o tomismo (severa contra os "erros" do pensamento moderno). A figura central dessa corrente é o cardeal Désiré Félicien-François-Joseph Mercier. Muitas escolas afirmam pertencer a essa tendência.

Escolas[editar | editar código-fonte]

Histórica[editar | editar código-fonte]

A escola histórica do tomismo foi aplicada ao estudo da filosofia medieval e contribuiu para redescobri-la usando os métodos de crítica moderna:

1- Na Bélgica: Maurice De Wulf;

2- Na Alemanha: Martin Grabmann;

3- Na França: Pierre Mandonnet, fundador da Bibliothèque thomiste, Étienne Gilson e Marie-Dominique Chenu;

4- Em Espanha: Miguel Asin Palacios, autor de Estudos comparativos de espiritualidades cristãs e muçulmanas.

Progressista[editar | editar código-fonte]

A escola tem como objetivo enriquecer e renovar o tomismo progressiva. O pensamento escolástico se expandiu em todas as áreas, da política à metafísica, da epistemologia à moral. O principal representante francês dessa tendência, assim como Antonin Sertillanges, é Jacques Maritain. Ele também destaca o cardeal Joseph Désiré-Félicien-François Mercier, fundador do Instituto Superior de Filosofia da Universidade Católica de Leuven, onde ensinou Joseph Maréchal.

Finalmente, a neoescolástica italiana da Escola de Milão, fundada por Agostino Gemelli, fundador da Revue de filosofia escolástica. Enfrentaram o positivismo científico e o idealismo hegeliano de Benedetto Croce e Giovanni Gentile. Atualmente, o trabalho dessa escola é centrado em torno das ligações entre tomismo e as tendências atuais, como a fenomenologia, particularmente a obra de Emmanuel Falque.

Elementos tradicionais[editar | editar código-fonte]

A neoescolástica procura restaurar as doutrinas orgânicas fundamentais consagradas na escolástica do século XIII. Ela argumenta que a filosofia não varia de acordo com cada fase da história e que, se os grandes pensadores medievais (Tomás de Aquino, Boaventura e João Duns Escoto) conseguiram construir um sistema filosófico sólido sobre as informações fornecidas pelos gregos, especialmente Aristóteles, deve ser possível elevar o espírito da verdade que contém a especulação da Idade Média.

Visões externas[editar | editar código-fonte]

Émile Boutroux pensou que o sistema aristotélico poderia servir como uma compensação ao kantismo. Paulsen e Rudolf Christoph Friedrich declararam a neoescolástica como o rival do kantismo e afirmaram o conflito entre eles como o "choque de dois mundos". Adolf von Harnack, Seeberg e outros argumentaram contra subestimar o valor da doutrina escolástica. No final do século XIX, a neoescolástica ganhou terreno entre os católicos contra outros pontos de vista, como o tradicionalismo, o ontologismo, o dualismo de Anton Günther e o pensamento cartesiano. Foi aprovada em quatro congressos católicos: Paris (1891), Bruxelas (1895), Freiburg (1897) e Munique (1900).

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Perrier, Joseph Louis. The Revival of Scholastic Philosophy in the Nineteenth Century, Chapter VIII: "Forerunners of the Neo-Scholastic Revival".
  2. Alejandro Guzmán Brito El derecho como facultad en la neoescolástica española del siglo XVI ISBN 978-84-9890-038-5
  3. "Neotomismo" leyderecho.org.
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