Papagaio-do-mar-de-penachos

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Papagaio-do-mar-de-penachos adulto em época de reprodução na Ilha de São Paulo, Alasca.
Papagaio-do-mar-de-penachos adulto em época de reprodução na Ilha de São Paulo, Alasca.
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Charadriiformes
Família: Alcidae
Género: Fratercula
Espécie: F. cirrhata
Nome binomial
Fratercula cirrhata
Pallas, 1769
Distribuição geográfica
Mapa de distribuição do papagaio-do-mar-de-penachos      área de residência      área de reprodução      área de visita no inverno
  • Mapa de distribuição do papagaio-do-mar-de-penachos
  •      área de residência
  •      área de reprodução
  •      área de visita no inverno
Sinónimos
  • Alca cirrhata (Pallas, 1769)
  • Lunda cirrhata (Pallas, 1769)
  • Sagmatorrhina lathami (Bonaparte, 1851)

O papagaio-do-mar-de-penachos[1][2] (nome científico: Fratercula cirrhata) é uma ave marinha pelágica da família Alcidae encontrada no Oceano Pacífico Norte. Ela é uma das três espécies de papagaios-do-mar que formam o gênero Fratercula e é facilmente reconhecida por seu bico vermelho e tufos amarelos.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Papagaios-do-mar-de-penachos são os maiores entre as espécies de papagaios-do-mar, com cerca de 35 centímetros de comprimento e de envergadura e pesando cerca de 750 gramas. Pássaros das populações do Pacífico ocidental tendem a ser maiores que aqueles das populações do Pacífico oriental, e os machos costumam ser ligeiramente maiores que as fêmeas.[3]

Adulto com plumagem de inverno.

Eles possuem penas majoritariamente pretas com uma mancha branca na face e, como outras espécies de papagaios-do-mar, um bico grosso predominantemente vermelho com manchas amarelas e verdes ocasionais. Sua característica mais distintiva e origem de seu nome são seus penachos amarelos (em latim: cirri) que aparecem uma vez por ano em pássaros de ambos os sexos um pouco antes da época de reprodução no verão. Seus pés se tornam vividamente vermelhos e sua face se torna vividamente branca no verão. Durante a época de alimentação, o pássaro muda de penas perdendo seus penachos. Além disso, sua plumagem, bico e pés perdem sua vividez.[3]

Assim como as de outros pássaros da família Alcidae, suas asas são relativamente curtas e adaptadas para mergulhar, nadar embaixo d'água e capturar presas ao invés de planar, coisa da qual eles são incapazes. Como consequência, eles possuem músculos do peito grossos e ricos em mioglobinas, adaptados para uma cadência rápida e aerobicamente extenuante que eles podem manter por longos períodos de tempo.[3]

Papagaios-do-mar-de-penachos jovens se assemelham a adultos no inverno, mas com uma tonalidade castanha-acinzentada no peito a branca na barriga, bem como um bico raso e castanho-amarelado.[3] O papagaio-do-mar-de-penachos mais velho a ser observado tinha seis anos de idade e foi encontrado no Alasca, mesma região onde ele havia sido registrado.[4]

Ilustração de papagaios-do-mar-de-penachos jovens.

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

O papagaio-do-mar-de-penachos foi descrito pela primeira vez em 1769 pelo zoólogo alemão Peter Simon Pallas. O nome científico Fratercula vem do latim medieval fratercula, frade, uma referência à plumagem preta e branca que se assemelha a vestes monásticas. O nome da espécie cirrhata significa "cabeça encaracolada" em latim, derivado de cirrus, um cacho de cabelo.[5]

Exemplares jovens foram inicialmente identificados incorretamente por Charles Lucien Bonaparte como uma espécie distinta de um gênero monotípico e nomeados Sagmatorrhina lathami (lit. "bico-de-sela de Latham" de sagmata "sela" e rhina "nariz").[6][7]

Distribuição e habitat[editar | editar código-fonte]

Adulto do lado de fora de uma toca nas Ilhas Curilas.

Papagaios-do-mar-de-penachos formam densas colônias de reprodução durante o verão desde o estado americano de Washington e a Colúmbia Britânica, passando pelo sudeste do Alasca e as Ilhas Aleutas, a Península de Camecháteca e as Ilhas Curilas até o Mar de Ocótsqui.[8] Apesar de ocuparem o mesmo habitat que alguns papagaios-do-mar-cornudos (F. corniculata), os papagaios-do-mar-de-penachos ocupam regiões em geral mais orientais. Ninhos desses pássaros já foram encontrados em pequenos números até nas Ilhas do Canal da Califórnia.[9] Entretanto, o último avistamento confimado nessas ilhas ocorreu em 1997.[10]

Papagaios-do-mar-de-penachos tipicamente escolhem ilhas ou penhascos relativamente inacessíveis a predadores, próximos a águas produtivas, e com altitude o suficiente para que possam voar com sucesso. O habitat ideal é íngreme mas com substrato do solo relativamente macio e grama para a criação de tocas.[11]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

Adultos em época de reprodução no Oregon Coast Aquarium em Óregon.

A reprodução acontece em ilhas isoladas: mais de 25 mil pares já foram observados em uma única colônia perto da costa da Colúmbia Britânica. O ninho é geralmente uma simples toca cavada com o bico e os pés, mas por vezes uma fenda entre rochas é utilizada em seu lugar. Ela é bem preenchida com vegetação e penas. Adultos são monogâmicos e voltam anualmente para o mesmo ninho.[12] O cortejo ocorre através de poses, pavoneamento e batida de bicos.[13] Um único ovo é posto, geralmente em junho, e incubado pelos dois pais por cerca de 45 dias.[14] Filhotes deixam o ninho cerca de 45 dias depois do nascimento.[12]

Dieta[editar | editar código-fonte]

Papagaios-do-mar-de-penachos se alimentam de uma variedade de peixes e invertebrados marinhos, que capturam ao mergulharem. Entretanto, sua dieta varia de acordo com a idade e local do animal. Adultos costumam depender em grande parte de invertebrados, especialmente lulas e krill. Filhotes em colônias costeiras se alimentam principalmente de peixes como Sebastidae e galeotas, enquando filhotes em colônias mais próximas a habitats pelágicos se alimentam de invertebrados. Peixes demersais são consumidos em alguma quantidade por quase todos os filhotes, sugerindo que papagaios-do-mar se alimentam até certo ponto no fundo do oceano.[15]

Predadores e ameaças[editar | editar código-fonte]

Papagaios-do-mar-de-penachos são predados por várias espécies de aves como corujas-das-neves, águias-carecas e falcões-peregrinos, e por mamíferos como raposas-do-ártico. Raposas parecem preferir papagaios-do-mar a outras aves, tornando este pássaro um alvo principal. Escolher penhascos inacessíveis e ilhas livres de mamíferos protege-os de predadores terrestres, enquanto pôr ovos em tocas os protege de caçadores de ovos como gaivotas e corvos.[3]

Um número elevado de mortes na Ilha de São Paulo, Alasca, entre outubro de 2016 e janeiro de 2017 foi atribuído a mudanças no ecossistema graças ao aquecimento global.[16]

Relacionamento com humanos[editar | editar código-fonte]

Os povos aleútes e ainus do Pacífico Norte tradicionalmente caçavam papagaios-do-mar-de-penachos para sua carne e penas. Sua pele era usada para a criação de parcas, vestidas com o lado das penas para dentro, e os penachos eram utilizados para trabalhos ornamentais. Atualmente, a caça de papagaios-do-mar-de-penachos é ilegal ou desencorajada.[11]

Conservação no estuário de Puget[editar | editar código-fonte]

Muitas regras foram estabelecidas para a conservação de peixes e aves costeiras no estuário de Puget. O Departamento de Recursos Naturais do Estado de Washington criou reservas aquáticas ao redor das ilhas Smith e Minor.[17] Mais de 150 km2 de habitats de terras marítimas e do fundo do mar foram incluídos na reserva aquática proposta. Além disso, a reserva da Ilha Protection também foi barrada ao público para ajudar na reprodução de aves marinhas. Essa ilha contém uma das duas últimas colônias de papagaios-do-mar no estuário de Puget, e cerca de 70% da população de papagaios-do-mar-de-penachos possui ninhos nessa ilha.[18]

Referências

  1. Costa, Hélder; Araújo, António; Farinha, João Carlos, eds. (2000). Nomes portugueses das aves do paleártico ocidental. Col: Deméter. Lisboa: Assírio & Alvim 
  2. S.A, Priberam Informática. «papagaio-do-mar-de-penachos». Dicionário Priberam. Consultado em 8 de agosto de 2023 
  3. a b c d e Gaston, Anthony J.; Jones, Ian Lawrence (1998). The auks: alcidae. Col: Bird families of the world. Oxford: Oxford university press 
  4. «Tufted Puffin Overview, All About Birds, Cornell Lab of Ornithology». www.allaboutbirds.org (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2023 
  5. Jobling, James A. (2010). The Helm Dictionary of Scientific Bird Names: From Aalge to Zusii 1. Aufl. ed. London: Christopher Helm 
  6. Coues, Elliott (1868). «A Monograph of the Alcidæ». Proceedings of the Academy of Natural Sciences of Philadelphia: 2–81. ISSN 0097-3157. Consultado em 8 de agosto de 2023 
  7. Ridgway, Robert; Friedmann, Herbert (1901). The birds of North and Middle America : a descriptive catalogue of the higher groups, genera, species, and subspecies of birds known to occur in North America, from the Arctic lands to the Isthmus of Panama, the West Indies and other islands of the Caribbean sea, and the Galapagos Archipelago. Washington: Govt. Print. Off 
  8. Артюхин, Ю.Б.; Бурканов, В.Н. [Artyukhin, Yu.B.; Burkanov, V.N.] (1999). Морскиые птитсы и млекопитаыущиые Далнего Востока России [Aves marinhas e mamíferos do Extremo Oriente russo] (em russo). Moscou: AST Publishing. p. 215 
  9. McChesney, Gerard J.; Carter, Harry R.; Whitworth, Darrell L. (1995). «Reoccupation and Extension of Southern Breeding Limits of Tufted Puffins and Rhinoceros Auklets in California». Colonial Waterbirds (1): 79–90. ISSN 0738-6028. doi:10.2307/1521401. Consultado em 8 de agosto de 2023 
  10. McChesney, G. J.; Carter, H. R. (2008). Studies of Western Birds. 1. [S.l.: s.n.] pp. 213–217 
  11. a b Stirling, Katie. «Fratercula cirrhata (tufted puffin)». Animal Diversity Web (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2023 
  12. a b «Tufted Puffin». Simon Fraser University. Consultado em 8 de agosto de 2023 
  13. «Tufted Puffin Life History, All About Birds, Cornell Lab of Ornithology». www.allaboutbirds.org (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2023 
  14. «It's almost fledging time for our tufted puffin chicks!». www.seattleaquarium.org. Consultado em 8 de agosto de 2023 
  15. Piatt, John F.; Kitaysky, Alexander S. (2002). «Tufted Puffin (Fratercula cirrhata), version 2.0». Birds of North America (em inglês). doi:10.2173/bna.708. Consultado em 8 de agosto de 2023 
  16. Shankman, Sabrina (29 de maio de 2019). «Mass Die-Off of Puffins Raises More Fears About Arctic's Warming Climate». Inside Climate News (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2023 
  17. «Smith & Minor Islands Aquatic Reserve Management Plan» (PDF). Washington State Department of Natural Resources (em inglês). 2010. Consultado em 8 de agosto de 2023 
  18. Chew, Jeff (4 de novembro de 2010). «DNR ceremony seals Protection Island Aquatic Reserve». Peninsula Daily News (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2023