Paul Vageler
Paul Vageler | |
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Nascimento | 30 de outubro de 1882 Pasłęk |
Morte | 3 de dezembro de 1963 (81 anos) São Paulo |
Cidadania | Brasil, Alemanha |
Ocupação | professor, pedologist, viajante, professor universitário |
Empregador(a) | Universidade de Hamburgo |
Paul Wilhelm Eduard Vageler (Maeken, Preußisch Holland (hoje Pasłęk, Polónia), 30 de outubro de 1882 — São Paulo, Brasil, 3 de dezembro de 1963) foi um pedologista e agrónomo que se dedicou ao estudo do aproveitamento agronómico do solos das regiões tropicais e aos estudos coloniais.[1] Destacou-se por ter presidido à comissão constituída em 1933 para analisar possibilidades de colonização alemã no Brasil, que ficaria conhecida pela "Comissão Vageler".[2]
Biografia[editar | editar código-fonte]
Vageler nasceu em Maeken, localidade próxima de Königsberg (hoje Kaliningrad), na Prússia Oriental, filho do administrador de um feudo senhorial. Ingressou no ano de 1900 na Universidade de Königsberg (Albertus-Universität Königsberg), o principal centro de formação universitária dos alemães do Báltico, onde estudou Geologia, Pedologia, Química Agrícola e Biologia. Obteve o grau de doutor em 1904 com a defesa da dissertação intitulada Über den Einfluss der Vegetationsperiode und der Düngung auf die chemischen Bestandteile der Kartoffelknollen (Sobre a influência do período de crescimento e adubação sobre os constituintes químicos dos tubérculos de batata).
Terminados os seus estudos, trabalhou em diversas instituições alemãs de investigação pedológica, dedicando-se ao estudo da fertilidade do solo. Em 1909 foi admitido como especialista do Serviço Colonial do Império (em alemão: Reichskolonialamt), tendo prosseguido a sua formação, obtendo agregação na Universidade de Königsberg nas especialidades de Química Agrícola e Bacteriologia. Esta nova passagem por Königsberg ocorreu num período de grande exaltação nacionalista, o movimento em prol do Deutschtum, que influenciou decisivamente Vageler.[2]
Terminada a formação foi enviado para o Sudoeste Africano Alemão (actual Namíbia) como conselheiro económico. Em Agosto de 1914 ingressou como oficial miliciano voluntário na Schutztruppe (Forças de Auto-Protecção) da colónia, integrando a expedição enviada para estudo do sul de Angola e que acabou envolvida no incidente de Naulila. Manteve o serviço militar até à rendição da colónia às forças da União Sul-Africana em Março de 1915. Ficou internado como prisioneiro de guerra até ser deportado para a Alemanha em 1919.
Os estudos realizados no sul de Angola e na Namíbia deram origem a alguns artigos científicos relevantes, em particular sobre a geologia daquela região.[3] A sua participação na expedição científica ao sul de Angola, num período de grande tensão internacional motivada pelo dealbar da Primeira Guerra Mundial, associada à sua função militar, fez de Paul Vageler simultaneamente um participante relevante nos incidentes de Naulila entre forças alemãs e portuguesas e uma testemunha qualificada daqueles eventos, autor de um dos mais claros relatos dos eventos, obviamente quando vistos sob a óptica alemã.[4]
Regressado à Alemanha após mais de quatro anos de cativeiro em África, a partir de 1920 Vageler empreendeu várias viagens de investigação pedológica para diversas regiões tropicais, acumulando uma extensa experiência e múltiplos materiais de estudo e dados. Entre 1924 e 1928, trabalhou em Java, então parte das Índias Orientais Neerlandesas, como director de um laboratório de estudos agro-geológicos. Em 1930 ele publicou um livro sobre a pedologia tropical e subtropical, que ainda mantém valor como referência para aquele tipo de solos. Em 1932 publicou uma obra abrangente sobre os catiões e o balanço hídrico do solo mineral em condições tropicais e subtropicais.
Em 1932 foi enviado pelo governo imperial alemão para o Brasil, para estudar em diferentes regiões climáticas as possibilidades de colonização alemã através da fixação de colónias agrícolas compostas por imigrantes alemães e para estabelecer, em cooperação com o governo brasileiro, um serviço de investigação pedológica. A missão da comissão era realizar estudos de terras em diferentes regiões climáticas no sentido de comprovar se eram adequadas para o estabelecimento de colonos alemães.[2]
A partir de 1933, a comissão, que ficaria conhecida como a "Comissão Vageler", dedicou-se a analisar possibilidades de colonização alemã no Brasil, em especial nas vastas terras da Companhia de Viação São Paulo-Matto Grosso.[2]
Em 1934 foi nomeado professor e investigador no Instituto Agronômico de Campinas. Em 1939, com o desencadear da Segunda Guerra Mundial, retornou à Alemanha.
Sobre suas viagens através do continente africano Vageler editou, em plena Segunda Guerra Mundial, um um livro intitulado Afrikanisches Mosaik (Mosaico Africano) que obteve grande popularidade. Naquela obra, o autor exalta o seu papel de poliglota, qual Kara Ben Nemsi, sendo claro o seu compromisso com nazismo e um mal disfarçado racismo. Aliás, a 1 de novembro de 1931 tinha aderido formalmente ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP).
De 1940 a 1945 foi professor e director do Instituto Colonial de Ciência do Solo e Tecnologia Agrária da Universidade de Hamburgo. Vageler dirigiu em 1943, com a Franz Heske, o Departamento Florestal e de Ciência do Solo do Instituto Alemão de Paris, ao tempo cidade sob ocupação alemã.[5]
Em 1948 Vageler voltou para o Brasil, empregando-se como principal conselheiro em matéria de solos e fertilidade do solo da Sociedade Rural Brasileira, de São Paulo, e como professor e investigador do Instituto Agronômico do Norte, no Pará. Através do seu empenho e trabalho dedicado, contribuiu decisivamente para promover a investigação em ciências do solo e a formação de cientistas do solo no Brasil. Já com idade avançada, publicou contribuições científicas e práticas para o conhecimento dos solos brasileiros.
O seu último trabalho publicado surgiu em colaboração com Kurt Renz, em 1957, com um livro sobre a história, o presente e o futuro do Brasil.[6]
O seu nome é recordado na toponímia brasileira, com a "Rua Professor Paul Vageler", em Vila Zat, São Paulo.[7]
Obras publicadas[editar | editar código-fonte]
Entre muitas outras, Paul Vageler é autor das seguintes obras:
- Bodenkunde. Berlin 1909, 2. Auflage Berlin 1921 = Sammlung Göschen Bd. 455.
- Über die Düngungsfrage in den Deutschen Kolonien. Berlin 1911 = W. Süssrott´s Koloniale Abhandlungen H. 36/37.
- Grundriß der tropischen und subtropischen Bodenkunde für Pflanzer und Studierende. Berlin 1930, 2. verm. Aufl. ebd. 1938.
- Der Kationen- und Wasserhaushalt des Mineralbodens vom Standpunkt der physikalischen Chemie und seine Bedeutung für die land- und forstwirtschaftliche Praxis. Berlin 1932.
- Afrikanisches Mosaik, Verlag Paul Parey, Berlin 1941.
- Die Untersuchung tropischer Böden und ihre Auswertung für die Praxis. Berlin 1942.
- Brasilien. Gigant der Zukunft. Streiflichter und Eindrücke aus Vergangenheit und Gegenwart (gemeinsam mit Kurt Renz). Gotha 1957.
Referências
- ↑ Biographies of Nambia: Paul Vageler.
- ↑ a b c d Bispo, A.A. "Cidades portuárias do Báltico como "portões ao mundo" e expansão colonizadora no Brasil. A inspeção de terras de São Paulo e Sul do Mato Grosso à luz da tradição de estudos de solos e agroeconômicos da Prússia". Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira, n.º 143/12 (2013:3).
- ↑ Paul Vageler, Beobachtungen in Südwestangola und im Ambolande: Vortrag gehalten in der Fachsitzung der Gesellschaft für Erdkunde am 17. November 1919. Zeitschrift der Gesellschaft für Erdkunde zu Berlin, 1920.
- ↑ Paul Vageler, Südwest, edição de 12 de Janeiro de 1915, Windhoek.
- ↑ Frank-Rutger Hausmann:„Auch im Krieg schweigen die Musen nicht.“ Die Deutschen Wissenschaftlichen Institute im Zweiten Weltkrieg. Vandenhoeck & Ruprecht, Göttingen 2001. ISBN 3-525-35357-X , S. 101
- ↑ Paul Vageler & Kurt Renz, Brasilien. Gigant der Zukunft. Streiflichter und Eindrücke aus Vergangenheit und Gegenwart.. VEB Hermann Haack, Gotha, 1957.
- ↑ CEPS.IO.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Paul Vageler 80 Jahre alt. In: Mitteilungen der Deutschen Landwirtschafts-Gesellschaft, Jg. 77, 1962, S. 1459.
- Prof. Dr. Paul Vageler zum Gedenken. In: Deutsche Nachrichten (São Paulo), 14. Dezember 1963, S. 3.