Rabo-branco-do-tapajós

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Rabo-branco-do-tapajós
Taxocaixa sem imagem
CITES Appendix II (CITES)[2]
Classificação científica edit
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Apodiformes
Família: Trochilidae
Gênero: Phaethornis
Espécies:
P. aethopygus
Nome binomial
Phaethornis aethopygus
(Zimmer, 1950)
Sinónimos

Phaethornis aethopyga Zimmer, 1950
Phaethornis longuemareus aethopyga Zimmer, 1950

O rabo-branco-do-tapajós,[3] também conhecido pelo nome de eremita-do-tapajós[4] e, anteriormente, por rabo-branco-de-garganta-escura[5] (nome científico: Phaethornis aethopygus), é uma espécie de ave apodiforme pertencente à família dos troquilídeos, que inclui os beija-flores. É um dos mais de vinte representantes do gênero Phaethornis, conhecido popularmente como rabos-brancos, que pertence à subfamília dos fetornitíneos.[6] Pode ser encontrado endemicamente no centro do território amazônico do Brasil, especificamente nas partes orientais dos rios afluentes Tapajós e Teles Pires, entre o nível onde se fluem ambos os rios, ou seja, no nível do mar, sendo frequentemente observado em terra firme.[7][8] É uma das pouquíssimas espécies de beija-flor ameaçada, em algum nível significativo, de extinção.[1] Era, em algum momento em torno da década de 1950, uma subespécie do rabo-branco-de-garganta-escura, até os dias atuais sendo denominado como este.[9]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O nome do gênero deriva de uma amálgama de dois termos do idioma grego antigo φᾰέθων, phaéthōn, que significa literalmente "radiante, brilhante", derivado de um outro termo do mesmo idioma, se tratando de um adjetivamento de φᾰέθω, phaéthō, que significa "eu brilho, eu radio"; adicionado do sufixo -ornis, derivado do grego antigo ὄρνις, órnis, equivalente grego antigo para a palavra "ave".[10] Esta primeira parte do nome também denomina um gênero de aves conhecidas como rabos-de-palha, que, assim como os beija-flores, também pertencem à uma família própria. Seu sufixo também pode ser muitas vezes encontrado na ornitologia, ou, menos comumente, em mastozoologia, denominando qualquer tipo de animal com alguma característica marcante, como nos beija-flores Lampornis, os psittaciformes Agapornis ou na infraordem de fósseis Ornithopoda.[11][12] Seu descritor específico aethopygus deriva da mesma língua, especificamente dos termos αιθος, aithós, que significa literalmente "fogo, incêndio" adicionado do sufixo -πυγος, transliterado -pugos, que significa algo como "aquele ou aquilo que apresenta em suas ancas", também um adjetivamento, desta vez do substantivo πυγη, pugē, que significa literalmente "quadril, garupa".[11][13]

Seu nome na língua portuguesa varia de acordo com a região e dialeto predominante da localidade em que se encontra.[3][4][5] No português brasileiro, onde se distribui mais ao norte do país, este denomina-se como rabo-branco-do-tapajós.[8][14] Ambas as denominações comuns se iniciam pelo termo "rabo-branco", um nome genérico para qualquer uma das mais de vinte espécies reconhecidas, que se caracterizam pela plumagem mais clara que se encontra no uropígio e nas coberteiras infracaudais e superiores;[3] com isso, um outro termo presente no nome vernáculo se trata de um adjetivo que descreve sua distinta distribuição geográfica, que coincide com a bacia e os adjacentes do rio Tapajós e seu aparentado Teles Pires. Por sua vez, o nome na variante europeia da língua portuguesa, difere significantemente das duas anteriores, eremita-de-garganta-fusca, onde a primeira palavra constituinte do termo se trata de um termo genérico para a subfamília dos fetornitíneos, que são conhecidos popularmente como "beija-flores eremitas"; adicionado do termo "do-tapajós" se referindo, também, a sua distribuição geográfica.[4][15][16] O nome mais antigo, rabo-branco-de-garganta-escura, remonta ao período anterior a sua descrição original como espécie, quando o mesmo era considerado subespeciação de Phaethornis longuemareus.[9][17]

Descrição[editar | editar código-fonte]

O rabo-branco-do-tapajós apresenta, em média, cerca de nove centímetros de comprimento em ambos os sexos, além de massa corporal entre 2,5 a 3,5 gramas. As partes superiores são esverdeadas oliváceas, com coberteiras superiores e partes inferiores apresentando coloração mais ocrácea, com seu abdômen sendo geralmente mais cinzento. Assim como outros beija-flores eremitas, possui um bico mais curvilíneo que o de outras subfamílias, com em torno de 25 milímetros de comprimento, sendo escuro na parte superior e amarelado na mandíbula, não incluindo a extremidade anterior. Suas coberteiras infracaudais são esbranquiçadas, assim como uma mancha escura em torno dos olhos, que se denomina por uma listra supraciliar, assim como uma listra malar mais creme. Sua cauda apresenta penas com pontas em branco, se afunilando nas extremidades. A garganta do macho é notavelmente mais escura do que àquela da fêmea, porém, além disso, não apresenta dimorfismo sexual acentuado.[18][19]

Distribuição e habitat[editar | editar código-fonte]

Estes beija-flores se distribuem exclusivamente na bacia amazônica na região mais setentrional dos estados brasileiros do Pará e Amazonas, sendo pouco frequentemente encontrado ao sul do Amapá e ao extremo norte do Mato Grosso. Tal área coincide com a extensão da Floresta Nacional do Tapajós e uma parte majoritária da junção JuruenaTeles Pires. A espécie se distribui uniformemente e constantemente pela totalidade de sua extensão geográfica, com suas populações estando, possivelmente, em contato, considerando a ausência de populações isoladas do restante.[19]

Por ser restrita aos aspectos climáticos e vegetativos da área de distribuição onde se encontra, habita, especificamente, as formações características da floresta tropical e subtropical úmida, tropicais pluviais e biomas fluviais, preferindo as florestas primárias, embora, mais recentemente, se adapte a florestas secundárias afetadas pelo deflorestamento. Ainda, pode ser encontrada em torno do Xingu e no Amazonas. Pode ser observada em ambientes altamente degradados.[1][19]

Sistemática e taxonomia[editar | editar código-fonte]

O rabo-branco-do-tapajós seria descrito primeiramente em 1950, sendo sua autoridade o ornitólogo estadunidense John Todd Zimmer, como uma subespécie do rabo-branco-de-garganta-escura (P. longuemareus).[9] Esta ave era considerada uma subespécie, na época, ao lado de outras espécies, o rabo-branco-de garganta-estriada (P. striigularis), o rabo-branco-mirim (P. idaliae) e rabo-branco-de-garganta-escura (P. atrimentalis), com rabo-branco-do-tapajós sendo mais aparentada com esta última espécie.[9] Em 1996, foi sugerido que o rabo-branco-do-tapajós não se trataria de uma espécie válida, mas um híbrido entre rabo-branco-rubro (P. ruber) e rabo-branco-do-rupunúni (P. rupurumii).[20] Em 2009, porém, a hipótese seria confirmada como incorreta, resultando na validação do rabo-branco-do-tapajós como uma espécie válida.[21][22] É um beija-flor monotípico.

Comportamento[editar | editar código-fonte]

Movimentação[editar | editar código-fonte]

Presumivelmente, os rabos-brancos-do-tapajós se tratam de uma espécie sedentária, não realizando nenhum tipo de migração.[19]

Alimentação[editar | editar código-fonte]

Os rabos-brancos-do-tapajós se alimentam do néctar adquirido através das flores e, menos frequentemente, de pequenos insetos e outros artrópodes.[19]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

Durante o período de reprodução, os machos se reúnem em grupos onde se exibem para as fêmeas, que escolhem o parceiro com as características mais atraentes, em um processo denominado acasalamento lek. Não se conhecendo mais nenhum aspecto de sua fenologia reprodutiva.[19]

Vocalização[editar | editar código-fonte]

As vocalizações do rabo-branco-do-tapajós são descritas como um "agudo e longo fraseamento que incessantemente se repete sem qualquer pausa entre as frases; exemplificado como 'tsi ... tsi ... tsi ... tsi .. tsi-tsi-tse-tsee-chup-chup'".[19]

Estado de conservação[editar | editar código-fonte]

Em sua Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, a União Internacional para a Conservação da Natureza classifica o rabo-branco-do-tapajós como "espécie vulnerável". Embora não se conheça sobre o tamanho se suas populações, acredita-se que se afetado por uma diminuição populacional causada pelo deflorestamento, a pavimentação de rodovias e crescente desenvolvimento na região.[1]

Referências

  1. a b c d BirdLife International (14 de agosto de 2018). «Tapajós Hermit (Phaethornis aethopygus. The IUCN Red List of Threatened Species. 2018: e.T22736463A131358580 (em inglês). doi:10.2305/iucn.uk.2018-2.rlts.t22736463a131358580.enAcessível livremente. Consultado em 17 de março de 2023 
  2. «Appendices | CITES». cites.org. Consultado em 14 de janeiro de 2022 
  3. a b c Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. pp. 111–116. ISSN 1830-7809. Consultado em 6 de fevereiro de 2023 
  4. a b c Alves, Paulo; Elias, Gonçalo; Frade, José; Nicolau, Pedro; Pereira, João, eds. (2019). «Trochilidae». Nomes das Aves PT. Lista dos Nomes Portugueses. Consultado em 21 de dezembro de 2022 
  5. a b Lepage, Denis; Elias, Gonçalo (2003). «Phaethornis aethopygus (rabo-branco-do-tapajós)». Avibase: The World Bird Database. Consultado em 16 de março de 2023 
  6. «2021 eBird Taxonomy Update - eBird Science». eBird Science. Consultado em 11 de fevereiro de 2023 
  7. Gill, Frank; Donsker, David; Rasmussen, Pamela, eds. (20 de janeiro de 2022). «Hummingbirds». IOC World Bird List (em inglês) 12.1 ed. Consultado em 21 de janeiro de 2023 
  8. a b Pacheco, José Fernando; Silveira, Luís Fábio; Aleixo, Alexandre; Agne, Carlos Eduardo; Bencke, Glayson A.; Bravo, Gustavo A.; Brito, Guilherme R. R.; Cohn-Haft, Mario; Maurício, Giovanni Nachtigall (junho de 2021). «Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee—second edition». Ornithology Research (2): 94–105. ISSN 2662-673X. doi:10.1007/s43388-021-00058-x. Consultado em 29 de agosto de 2022 
  9. a b c d Zimmer, John Todd (1950). «Studies of Peruvian birds. No. 55, The hummingbird genera Doryfera, Glaucis, Threnetes, and Phaethornis» (PDF). American Museum Novitates (1499): 1–52. Consultado em 21 de outubro de 2022 
  10. Liddell, Henry George; Scott, Robert (1940). «Φαέθων». A Greek-English Lexicon. Perseus Digital Library. Consultado em 24 de janeiro de 2023 – via Perseus Digital Library 
  11. a b Beekes, Robert S. P. (2010). van Beek, Lucien, ed. «Etymological Dictionary of Greek». Brill Academic Pub. Leiden Indo-European Etymological Dictionary Series. 10. ISBN 9789004174207. Consultado em 23 de dezembro de 2022 
  12. Liddell, Henry George; Scott, Robert (1889). «ὄρνις». An Intermediate Greek–English Lexicon. Nova Iorque: Harper & Brothers. Consultado em 27 de janeiro de 2023 – via Perseus Digital Library 
  13. Jobling, James A. (1991). A Dictionary of Scientific Bird Names. Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-854634-3. OCLC 45733860 
  14. Nahur, André; Dias, André; Lentini, Marco; Machado, Frederico; Kimura, Glauco; Bourscheit, Aldem; Timmers, Jean François; Gesisky, Jaime (Abril de 2016). Campanilli, Maura, ed. «Uma visão de conservação para a bacia do Tapajós» (PDF) 1.ª ed. Brasília, Brasil: WWF Brasil: 22. ISBN 978-85-5574-027-5. CDU 556 (81) (05)-20. Consultado em 21 de março de 2023 
  15. McGuire, Jimmy A.; Witt, Christopher C.; Remsen, J. V.; Dudley, R.; Altshuler, Douglas L. (1 de janeiro de 2009). «A higher-level taxonomy for hummingbirds». Journal of Ornithology (em inglês) (1): 155–165. ISSN 2193-7206. doi:10.1007/s10336-008-0330-x. Consultado em 3 de fevereiro de 2023 
  16. Bleiweiss, R.; Kirsch, J. A.; Matheus, J. C. (1 de março de 1997). «DNA hybridization evidence for the principal lineages of hummingbirds (Aves:Trochilidae)». Molecular Biology and Evolution (3): 325–343. ISSN 0737-4038. doi:10.1093/oxfordjournals.molbev.a025767. Consultado em 3 de fevereiro de 2023 
  17. Clements, J. F., T. S. Schulenberg, M. J. Iliff, S. M. Billerman, T. A. Fredericks, J. A. Gerbracht, D. Lepage, B. L. Sullivan, and C. L. Wood. (2021). «The eBird/Clements checklist of Birds of the World: v2021». Cornell Lab of Ornithology. Consultado em 2 de outubro de 2022 
  18. Huynh, Lihn (2020). «Little Hermit (Phaethornis longuemareus), version 1.0». Birds of the World (em inglês). doi:10.2173/bow.lither2.01. Consultado em 25 de fevereiro de 2023 
  19. a b c d e f g Fjeldså, Jon; Boesman, Peter F. D. (2020). «Tapajos Hermit (Phaethornis aethopygus), version 1.0». Birds of the World (em inglês). doi:10.2173/bow.lither3.01. Consultado em 21 de março de 2023 
  20. Hinkelmann, C. (1996). «Evidence for natural hybridisation in hermit hummingbirds (Phaethornis spp.)». Londres: British Ornithologists' Union. Bulletin of the British Ornithologists' Union. 116: 5—14 
  21. Piacentini, Vítor de Q.; Aleixo, Alexandre; Silveira, Luís F. (julho de 2009). «Hybrid, Subspecies, or Species? The Validity and Taxonomic Status of Phaethornis longuemareus aethopyga Zimmer, 1950 (Trochilidae)». The Auk (3): 604–612. ISSN 0004-8038. doi:10.1525/auk.2009.08130. Consultado em 22 de março de 2023 
  22. Piacentini, V. Q. (2010). «Proposal #442: Recognize Phaethornis aethopyga as a valid species». South American Classification Committee. Consultado em 22 de março de 2023. Arquivado do original em 28 de junho de 2010 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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