Regulamentação da profissão de historiador no Brasil

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A regulamentação da profissão de historiador no Brasil, oficialmente Lei nº 14.038, de 17 de agosto de 2020,[1] é a lei que regula o exercício da atividade profissional de historiador(a) no Brasil. A categoria buscava a regulamentação para sua profissão desde o ano de 1968, mas a efetivação apenas ocorreu em 2020[2][3], durante a gestão "História em Combate". O projeto de lei foi, originalmente, vetado pelo presidente Jair Bolsonaro, mas uma votação conjunta entre o Senado e a Câmara de Deputados derrubou o veto presidencial.[4][3] A regulamentação foi comemorada pela classe profissional como uma conquista de direitos[5] e vitória histórica.[6]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Logo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela qual os diplomas devem ser reconhecidos para que o registro profissional de historiador(a) possa ser efetivado.

A lei afirma que poderão exercer a profissão de historiador aqueles que tiverem diploma de curso superior, mestrado e doutorado em cursos ou linhas de pesquisa em história reconhecidos pela Capes. Também estão aptos aqueles que, não tendo diploma em história, comprovarem exercício da profissão por mais de 5 anos, contando a partir do dia de aprovação da lei. Entre as atribuições da profissão estão o ensino de história no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, assim como a pesquisa histórica e a construção de laudos, pareceres, relatórios e planos sobre temáticas relativas ao conhecimento histórico.[7]

História[editar | editar código-fonte]

Paulo Paim, autor do projeto da lei que regulamentou a profissão de historiadores(as) no Brasil.

A regulamentação da profissão dos(as) historiadores é uma antiga reivindicação da principal associação da classe no país, a Associação Nacional de História (ANPUH). Fundada no ano de 1961, a Associação impetrou a primeira tentativa de normatização em 1968, apresentando um projeto à Câmara Federal. Entretanto, em meio a repressão da didadura militar, o projeto foi sumariamente arquivado pelos representantes dos militares no Congresso Nacional. Depois disso, foram feitas oito tentativas visando a regulamentação entre os anos de 1983 e 2004. Todos os oito projetos foram arquivados por distintos.[2][8]

Entre os anos 2012 e 2015, a luta pela regulamentação voltou a gerar debates na sociedade brasileira. Uma série de posições contrárias foram emitidas, até mesmo dentro da comunidade acadêmica.[2] Na ocasião, o então presidente da ANPUH, junto ao senador Paulo Paim, autor do projeto de Lei, opinaram que as controvérsias derivavam da falta de conhecimento sobre o projeto.[9] Diante dos questionamentos e depois de muito debate e algum consenso, o projeto teve texto substitutivo apresentado em 2015.[2]

O veto presidencial[editar | editar código-fonte]

No ano de 2020, a regulamentação tornou-se polêmica em virtude do veto presidencial ao projeto da lei Lei nº 14.038.[4][6]O veto do presidente Jair Bolsonaro baseou-se no entendimento de que a regulamentação feria o livre exercício da profissão.[10] Tal concepção pautou-se na consideração equivocada de que a regulamentação da profissão seria uma tentativa de controle ideológico e cerceamento à liberdade de expressão.[6] Evocou-se como justificativa o artigo 5º da Constituição Federal Brasileira que garante o "livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão".[11]

A situação foi revertida pela derrubada do veto em votação conjunta dos deputados e senadores.[12]

O mesmo artigo citado na justificativa do veto afirma que o exercício da profissão é livre desde que "atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer".[6]

Derrotado, o referido presidente se viu obrigado a sancionar a Lei, publicada em 17 de agosto do ano de 2020.[12]

O ofício de historiador(a)[editar | editar código-fonte]

O ofício dos historiadores é um trabalho orientado por regras e princípios. A regulamentação significou o reconhecimento legal das especificidades da profissão, de sua função social, bem como, das competências e habilidades técnicas necessárias ao profissional de história, distinguido-se do exercício amador.[6]

"O historiador, como qualquer cientista, formula hipóteses, ampara-se em evidências (as chamadas fontes históricas) e usa métodos específicos de análise e tratamento de fontes cujo intuito é afastá-lo do perigo de distorções históricas ou de produzir análises meramente especulativas".[6]

A regulamentação do trabalho dos(as) historiadores se colocava como uma necessidade tanto para o campo da produção acadêmica, quanto para o magistério da disciplina. Setores da categoria argumentaram que a regulação possibilitaria o alcance de uma melhora da qualidade da educação ofertada no Brasil, além de alargar as possibilidades de contratação no mercado de trabalho para os profissionais do campo.[6]

Referências

  1. BRASIL, Senado Federal (17 de agosto de 2020). «Lei N. 14038 de 17/08/2020. Publicação Original [Diário Oficial da União de 18/08/2020] (p. 4, col. 2)». legis.senado.leg.br. Consultado em 28 de maio de 2021 
  2. a b c d CARVALHO, Bruno Leal Pastor de (24 de fevereiro de 2020). Regulamentação da profissão de historiador no Brasil: muitas oportunidades e um risco considerável (Artigo). In: Café História. ISSN: 2674-5917.
  3. a b Leal, Bruno. «Historiadores já podem requisitar o registro profissional da categoria». Consultado em 27 de maio de 2021 
  4. a b BRASIL, Congresso Nacional (27 de abril de 2020). «Veto nº 10/2020 - Vetos - Congresso Nacional». www.congressonacional.leg.br. Consultado em 28 de maio de 2021 
  5. «Comunicado aos/às associados/as da ANPUH-Brasil sobre o requerimento de registro profissional da categoria de historiador/a». anpuh.org.br. Consultado em 28 de maio de 2021 
  6. a b c d e f g David João, Maria Thereza (20 de agosto de 2020). «Uma vitória histórica: a Lei 14.038/20 e a regulamentação da profissão de historiador - Jornal de Beltrão». www.jornaldebeltrao.com.br. Consultado em 28 de maio de 2021 
  7. «Publicada lei que regulamenta a profissão de historiador». Senado Federal. Consultado em 27 de maio de 2021 
  8. Associação Nacional de História (s.d.). Dossiê sobre a regulamentação da profissão do historiador. ANPUH.
  9. Paim, Paulo; Schmidt, Benito (30 de novembro de 2012). «Opinião - Regulamentação da profissão de historiador». Folha online. Consultado em 28 de maio de 2021 
  10. «Lei que regulamenta profissão de historiador é publicada após derrubada de veto». Agência Câmara de Notícias. 18 de agosto de 2020. Consultado em 27 de maio de 2021 
  11. BRASIL. Constituição (1988). "Artigo 5°, Inciso XIII. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988.
  12. a b CARVALHO, Bruno Leal Pastor de (18 de agosto de 2020). Bolsonaro sanciona Lei que regulamenta a profissão de historiador (Notícia). Café História. ISSN: 2674-5917.
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