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Revisão das 18h29min de 25 de março de 2013
Rodrigo (Ruderic, Roderic, Roderik, Roderich ou Roderick nas línguas germânicas; Ludharīq لذريق em árabe) (? — 714) foi rei visigodo da Hispânia de 710 a 711. Com ele terminou o Reino Visigótico de Toledo. Foi o lendário "último rei dos godos". Sob o ponto de vista histórico, é na verdade uma figura extremamente obscura sobre a qual pouco pode ser dito com certeza, exceto que governou parte da Península Ibérica ao mesmo tempo em que seus adversários governavam o resto do território e que foi derrotado e morto pelos muçulmanos, que conquistariam a maior parte da península.
Origem
De acordo com a Crônica de Alfonso III, Rodrigo era filho do rei Chindasvinto, e de uma senhora chamada Riccilo. A data exata de nascimento de Rodrigo é desconhecida, mas provavelmente foi depois de 687, uma vez que o casamento de seu pai ocorreu após seu exílio em Córdova como consequência da ascensão do rei Égica ao pode naquele ano.[1]
Sucessão
Usurpação
De acordo com a Crônica de 754, Rodrigo "tumultuosamente [tumultuose] invadiu o reino [regnum] com o incentivo do Senado [senatus]."[2][3] Os historiadores têm debatido por muito tempo o significado exato destas palavras. O que é geralmente reconhecido é que não se tratou de um golpe palaciano típico como havia ocorrido em ocasiões anteriores, e sim de uma invasão violenta do palácio, que dividiu o reino.
É provável que a "invasão" não tenha partido de fora do reino, já que a palavra regnum pode referir-se ao escritório do rei; é provável que Rodrigo tenha apenas usurpado o trono.[3] Entretanto, é possível também que Rodrigo fosse um comandante regional (dux de Bética segundo as lendas) ou até mesmo um exilado, quando ele forjou o golpe.[4][5]
O "tumulto" que envolveu esta usurpação foi provavelmente violento, embora as circunstâncias deste tem dividido os estudiosos. Alguns creem que envolveu a deposição ou o assassinato do rei legítimo, Vitiza, enquanto outros acreditam que foi uma consequência da morte natural do monarca.[6] Outros acreditam que o rei Ágila II, que governou em oposição a Rodrigo, era de fato o filho e sucessor de Vitiza e que Rodrigo tinha tentado usurpar o trono dele.[7]
O Senado com o qual Rodrigo planejou seu golpe era provavelmente composto de "líderes aristocratas e talvez também alguns bispos".[3] A participação de clérigos na revolta é contestada; alguns estudiosos argumentam que o apoio dos bispos não teria levado o ato a ser rotulado de usurpação. Thompson, por exemplo, acredita que o golpe tenha sido orquestrado apenas por palacianos.[8] O grupo de senhores seculares e eclesiásticos era determinante na sucessão visigótica desde o reinado de Recaredo I.[4] Algumas medidas foram tomadas nas últimas décadas do reino para tentar diminuir a influência dos palacianos, mas eles não foram muito afetados por tais medidas, como a participação deles em um golpe em 711 indica.[2]
Divisão do Reino
Após o golpe, o reino foi dividido em dois, com a porção sudoeste (a província de Lusitânia e a parte ocidental da província de Carthaginiensis ao redor de Toledo, capital do Reino Visigótico) sendo controlada por Rodrigo e a porção nordeste (Tarraconense e Narbonense) sendo controlada por Águila. Tal fato foi confirmado por evidências arqueológicas e numismáticas. As doze moedas ainda existentes do reinado de Rodrigo, todas chamadas Rvdericvs, foram cunhadas em Toledo, provavelmente a capital do reino dele, e "Egitânia" (provavelmente a freguesia de Idanha-a-Velha).[9] As regiões onde as moedas foram encontradas não se sobrepõem, sendo altamente provável que os dois governantes reinavam em oposição um ao outro. Não se sabe com quem ficou o controle das províncias de Galécia e Baetica.[9] O fato de que Rodrigo e Águila provavelmente nunca se enfrentaram militarmente é melhor explicado pela preocupação de Rodrigo com as incursões árabes na Hispânia e não com a divisão formal do Reino Visigótico.[10]
Uma lista de sucessão real visigótica menciona que "Ruderigus" teria reinado por um período de sete anos e seis meses, enquanto duas continuações da Chronicon Regum Visigothorum registra que o governo de Águila durou três anos.[4] Em contraste às listas de sucessão real, cuja data não pode ser determinada, a Crônica de 754, escrita em Toledo, atesta que "Rudericus" reinou por um ano.[4] Especula-se que o reinado de Rodrigo tenha começado em 710 ou, mais comumente, em 711 e tenha se estendido até o final de 711 ou 712. O reinado de Águila provavelmente começou pouco depois do de Rodrigo e durou até 713.
Guerra com os árabes
Segundo a Crônica de 754, imediatamente após garantir seu trono, Rodrigo reuniu forças para se opor aos árabes e berberes (Mauri), que estavam invadindo o sul da Península Ibérica e tinham destruído muitas cidades sob o comando de Tariq ibn Ziyad e outros generais muçulmanos.[5] Enquanto fontes posteriores de origem árabe tornaram a conquista da Hispânia como um evento singular realizado sob as ordens de Musa ibn Nusair, governador de Ifriqiya, de acordo com a Crônica de 754, que foi escrita numa época mais perto dos eventos que relata, os árabes começaram sua incursão pela região com ataques desorganizados e só conseguiram conquistar a península após a morte de Rodrigo e o colapso da nobreza visigótica. Segundo Historia Langobardorum, de Paulo, o Diácono, os sarracenos invadiram "toda a Hispânia" a partir de Septem (Ceuta).[11][12]
Rodrigo fez várias expedições contra os invasores antes de ser abandonado em batalha por suas tropas e morto em 712.[5] O cronista de 754 afirma que alguns dos nobres que haviam acompanhado Rodrigo em sua última expedição decidiram abandoná-lo por "ambição pelo reino", talvez a intenção deles era deixá-lo morrer na batalha para que pudessem assegurar o trono para um deles.[5] Quaisquer que tenham sido as intenções, a maioria deles teriam morrido na batalha também.[5] Outros historiadores sugerem que a baixa moral entre os soldados por causa da ascensão contestada de Rodrigo ao trono foi a causa da derrota.[12] A maioria dos soldados de Rodrigo seriam mal treinados e escravos indispostos à batalha; provavemente haveria poucos homens livres lutando pelos godos.[13] O local da batalha é incerto. Provavelmente ocorreu perto da foz do rio Guadalete, daí seu nome, Batalha de Guadalete. De acordo com Paulo, o Diácono, o local era desconhecido.[12]
Segundo a Crônica de 754, os árabes conquistaram Toledo em 711 e executaram muitos nobres que ainda estavam na cidade sob o pretexto de que ajudariam na fuga de Oppas, filho de Égica.[5] Tendo isto acontecido, de acordo com o próprio texto, após a morte de Rodrigo, a derrota das tropas dele deve ser atrasada para 711 ou a conquista de Toledo deve ser adiada para 712; este último é preferido por Collins.[14] É possível que o Oppas que fugiu de Toledo e era filho de um rei anterior tenha sido a causa da "fúria interna" que arrasou a Hispânia na época narrada pela Crônica. Talvez Oppas tenha sido declarado rei em Toledo pelos rivais de Rodrigo e Águila, seja antes da derrota de Rodrigo ou entre a morte dele e a conquista de Toledo pelos árabes.[10] Se assim for, os nobres que tinham "ambição pelo reino" podem ter sido os apoiantes de Oppas que foram mortos em Toledo pelos árabes logo após a batalha no sul.[14]
Segundo um relato do século IX, uma tumba com a inscrição Hic requiescit Rodericus, rex Gothorum ("aqui jaz Rodrigo, rei dos godos") foi encontrada em Egitânia (atual freguesia de Idanha-a-Velha, em Portugal). Segundo a lenda de Nazaré, o rei fugiu do campo de batalha sozinho. Rodrigo deixou uma viúva, Égilo, que mais tarde se casaria com um dos governantes árabes da Hispânia.[12]
Na literatura
Rodrigo foi tema de várias obras literárias. O escrito escocês Walter Scott tratou poeticamente das lendas associadas a ele em The Vision of Don Roderick (1811), assim como o fizeram os escritores britânicos Walter Savage Landor e Robert Southey em Count Julian (1812) e Roderick, the Last of the Goths (1814), respectivamente.
O escritor estadunidense Washington Irving recontou as lendas de Rodrigo em Legends of the Conquest of Spain (1835), obra escrita enquanto o autor morou na Espanha. As lendas recontadas por ele no livro são Legend of Don Roderick, Legend of the Subjugation of Spain e Legend of Count Julian and His Family.
Rodrigo também foi tema de duas óperas: Rodrigo (1707), de Georg Friedrich Händel e Don Rodrigo (1964), de Alberto Ginastera.
Notas de rodapé
- ↑ Collins, Visigothic, p. 136.
- ↑ a b Thompson, p. 249.
- ↑ a b c Collins, Visigothic, p. 113.
- ↑ a b c d Collins, Visigothic, 132.
- ↑ a b c d e f Collins, Visigothic, 133.
- ↑ Collins acredita que Vitiza foi alvo do golpe.
- ↑ Bachrach, p. 32.
- ↑ Thompson, p. 249.
- ↑ a b Collins, Visigothic, p. 131.
- ↑ a b Collins, Visigothic, p. 139.
- ↑ HL, VI, 46
- ↑ a b c d Thompson, p. 250.
- ↑ Thompson, 319.
- ↑ a b Collins, Visigothic, p. 134.
O rodrigo é parvo
Referências bibliográficas
- Bachrach, Bernard S. "A Reassessment of Visigothic Jewish Policy, 589-711." The American Historical Review, Vol. 78, No. 1. (Fev., 1973), pp 11–34.
- Collins, Roger. The Arab Conquest of Spain, 710–97. Blackwell Publishing, 1989.
- Collins, Roger. Visigothic Spain, 409–711. Blackwell Publishing, 2004.
- Hodgkin, Thomas. "Visigothic Spain." The English Historical Review, Vol. 2, No. 6. (Abr., 1887), pp 209–234.
- Ibn Abd-el-Hakem. "The Islamic Conquest of Spain."
- Shaw, R. Dykes. "The Fall of the Visigothic Power in Spain." The English Historical Review, Vol. 21, No. 82. (Apr., 1906), pp 209–228.
- Thompson, E. A. The Goths in Spain. Oxford: Clarendon Press, 1969.
Ligações externas
- (em inglês) Rodrigo rei visigodo da Hispânia (Medieval Lands)
- (em inglês) Ibn Abd-el-Hakem: The Islamic Conquest of Spain
Precedido por Vitiza |
Rei visigodo da Hispânia 710 - 711 |
Sucedido por --- (invasão árabe) |