Sebastião Leite de Vasconcelos

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Sebastião Leite de Vasconcelos, Bispo de Beja

Sebastião Leite de Vasconcelos (Porto, , 3 de Maio de 1852Roma, 29 de Janeiro de 1923) foi um bispo português.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Fez a instrução primária e secundária no Colégio dos Órfãos do Porto, entrando em 1868 para o Seminário do Porto, onde em 1871 recebeu as Ordens Menores. Foi ordenado presbítero em 15 de Novembro de 1874 pelo Cardeal-Bispo do Porto D. Américo Ferreira dos Santos Silva, e a 8 de Dezembro celebrou a sua primeira missa na Igreja de Santo Ildefonso, na mesma cidade. Exerceu sempre cargos relativos à Câmara Eclesiástica da Diocese e em 1883 fundou as Oficinas de São José, tendo como principal objectivo a promoção de menores sem família, incutindo-lhes hábitos de trabalho e assegurando-lhes a formação humana, através da aprendizagem de um ofício e de uma educação moral e religiosa que lhes permitisse garantir o seu futuro na sociedade. O grande inspirador desta obra do então Pe. Sebastião, foi São João Bosco, fundador da Pia Sociedade São Francisco de Sales, que teve a mesma acção pelos jovens orfãos em Turim, na Itália.

Sebastião Leite de Vasconcelos era conhecido de Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, 1.° Visconde de Correia Botelho, com quem manteve correspondência.

Bispo de Beja[editar | editar código-fonte]

Apresentado Bispo de Beja por decreto de 1 de Agosto de 1907, e confirmado a 19 de Dezembro por Bula do Papa São Pio X, foi ordenado bispo na Sé do Porto a 2 de Fevereiro de 1908, data esta em que também escreveu a sua saudação aos diocesanos, na qual faz uma alusão aos “actos que são de domínio público e que tanto amarguram o coração da nossa Mãe, a Santa Igreja”, devido ao estado lastimoso em que se encontrava a diocese, vítima da secular indiferença religiosa.

Tomou posse na diocese a 11 de Março, na Igreja do Salvador, tendo uma recepção fora do normal, pois, segundo os relatos da época, foi "imponentíssima e grandiosa", e o número de participantes rondava os seis mil. Como gesto de caridade cristã, D. Sebastião vestiu completamente 57 crianças pobres da cidade.

A sua primeira preocupação como Bispo de Beja foi a catequização do povo e o levantamento físico e moral do Seminário diocesano. No dia após a tomada de posse, começou a percorrer ao Domingo as paróquias da cidade, fazendo as Conferências Quaresmais. Tendo também conhecimento de que os presos da cadeia civil de Beja dormiam em más condições, deu-lhes, como esmola, 20 enxergas.

O caso Ançã[editar | editar código-fonte]

Em 1909, Leite de Vasconcelos demitiu dois professores muito influentes do Seminário de Beja, o padre Manuel Ançã que, por motivos de disciplina, fora suspenso das suas funções de escrivão da Câmara Eclesiástica, e o seu irmão, o cónego José Maria Ançã,[1] que o apoiara. O ministro da Justiça, Francisco José de Medeiros, invocando a prerrogativa da Coroa (lei de 28 de Abril de 1845), segundo a qual o facto devia ter sido comunicado ao ministro, exigiu a recondução dos dois professores. O bispo não cedeu, o Governo não quis impor-se e o Ministro pediu a demissão.[2][3]

Este episódio seria bastante prejudicial para o bispo, já que os padres Ançã (pouco dados ao celibato, vivendo em concubinato com duas mulheres, de quem tinham filhos), vingativamente acusariam o prelado de ser homossexual. Este caso inspiraria, em 1910, o poema satírico-obsceno e anti-clerical O Bispo de Beja, de Homem-Pessoa, um autor anónimo, talvez pseudónimo do seu editor, dos Santos Vieira.[4][5]

Perseguição republicana e exílio[editar | editar código-fonte]

Inicia pelos vários concelhos a sua visita pastoral, e a 28 de Setembro de 1910 dirige-se às Freguesias dos Concelhos de Moura e Barrancos, até ao dia 5 de Outubro de 1910, altura em que se deu a proclamação da República.[6] Querendo regressar à cidade, é avisado pelo vice-reitor do Seminário do lastimoso e inconveniente estado da cidade em estado de revolução, bem como dos desacatos cometidos no Paço Episcopal, do qual foram roubados documentos, móveis e obras de arte que foram queimados em frente da mesma habitação.

Vendo-se impotente e com ameaças de morte, decide refugiar-se em Rosal de la Frontera, Espanha, e, mais tarde, no Seminário de Sevilha, esperando a altura propícia para regressar à diocese. Comunicando cinco dias depois a sua ausência ao Ministro da Justiça, bem como as nomeações para governadores do Bispado (o vigário geral mais dois cónegos substitutos), o Governo respondeu-lhe com arrogância a 21 de Outubro, suspendendo-o de todas as temporalidades por se ter ausentado sem licença do poder civil, e declarou nulas as nomeações que tinha feito.

D. Sebastião consultou a Santa Sé a fim de mostrar a sua disponibilidade para renunciar ao Bispado, o que não lhe foi concedido. No entanto o Governo confiou provisoriamente o governo da diocese ao Arcebispo Metropolita, D. Augusto Eduardo Nunes, como administrador apostólico.

Embora os Bispos portugueses tenham manifestado ao Ministério da Justiça a defesa de D. Sebastião, o Governo, por decreto de 18 de Abril de 1911, destituiu o Prelado de Beja das suas funções e instaurou contra ele um processo judicial.

Em 1912 D. Sebastião deixa Sevilha para ir para Roma, Itália, onde, a 17 de Setembro de 1915, foi nomeado assistente ao Solio de Pontifício, e, a 15 de Dezembro de 1919, foi elevado a arcebispo titular de Damietta.

Morreu em Roma a 29 de Janeiro de 1923, tendo sido os seus restos mortais transladados de Roma para o Porto, onde chegaram em Novembro de 1923.

Obras literárias[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Referências

Precedido por
D. António Xavier de Sousa Monteiro
Brasão episcopal
Bispo de Beja

19071919
Sucedido por
D. José do Patrocínio Dias