Suicídio forçado

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A Morte de Sócrates (1787), quadro de Jacques-Louis David, retrata o suicídio forçado do filósofo grego.

Suicídio forçado é uma forma de execução que envolve a prática do suicídio pela vítima, como alternativa a algo percebido como sendo muito pior, como torturas ou punições dos mais variados graus a familiares e amigos.

Grécia e Roma antigas[editar | editar código-fonte]

O suicídio forçado era uma forma comum de execução na Grécia e na Roma antiga. Como forma de respeito, era geralmente reservada aos membros da aristocracia sentenciados à morte: as vítimas podiam escolher entre beber cicuta ou cair sobre suas espadas. As dificuldades econômicas motivaram parte desses suicídios no Império Romano: uma pessoa condenada à morte teria sua propriedade passada ao governo, mas se viesse a se suicidar antes da prisão, a propriedade passaria aos herdeiro. O suicídio forçado mais conhecido foi o do filósofo Sócrates, que bebeu cicuta após o julgamento que o condenou pela corrupção da juventude de Atenas. O filósofo estoico Sêneca também se matou em reação à ordem de um ex-aluno, o imperador romano Nero, ele próprio mais tarde forçado a cometer suicídio. Outros casos conhecidos da Antiguidade foram os de Bruto, Marco Antônio, de Otão e o do general romano Córbulo.

Ásia[editar | editar código-fonte]

A prática muito antiga do sati, na qual uma mulher recentemente enviuvada imola-se na pira funerária do marido,[1][2][3] não é geralmente considerada um tipo de crime de honra.[4][5] Entretanto, a extensão pela qual o sati representa um ato puramente voluntário ou no qual existe coerção é algo fortemente debatido. Em casos acontecidos no final do século XX e no início do século XXI tais como o de Roop Kanwar, suspeita-se que o suicídio foi forçado.[6] Outros casos estiveram sob investigação,[7] ainda que não se tenham encontrado evidências de suicídio forçado.[8][9][10] O seppuku japonês (também conhecido como harakiri) também entra nessa categoria. A cultura samurai esperava que se seus membros se matassem a qualquer mostra de deslealdade, poupando o daimyō ou o shogun da desonra e da indignidade de ter que executar um seguidor.

Europa Moderna[editar | editar código-fonte]

Outro caso conhecido é o suicídio forçado de Erwin Rommel,[11] um marechal-de-campo do Exército Alemão durante a II Guerra Mundial. Após Rommel ter perdido a esperança na capacidade de a Alemanha nazista ganhar a guerra e ao se tornar suspeito de tomar parte no atentado de 20 de julho de 1944 - que tinha o objetivo de assassinar Adolf Hitler - Rommel foi forçado a cometer suicídio. Em função da popularidade de Rommel com o povo alemão, Hitler deu-lhe a opção de cometer suicídio com cianureto ou encarar a desonra pessoal e retaliações contra sua família e seus subordinados. Uma vez que o veredicto de culpa já fora dado, a opção de encarar um julgamento justo era fútil (a execução era uma certeza), o marechal optou por salvar sua família e sua honra tomando a cápsula de cianureto.

Durante a II Guerra Mundial houve vários suicídios forçados em várias organizações militares e paramilitares. Há evidências de que fracassos militares foram punidos dessa forma como alternativa à corte marcial, como na Guerra de Inverno e na Batalha de Stalingrado. Além de Erwin Rommel, vários militares alemães também suicidaram-se forçadamente. Uma exceção foi Friedrich Paulus, que foi promovido ao marechalato, na esperança de Hitler que se matasse em batalha ou fora dela com o insucesso de Stalingrado, mas que se rendeu ao Exército Vermelho[12] e foi poupado, sobrevivendo à guerra.

Como alternativa aos crimes de honra[editar | editar código-fonte]

Os suicídios forçados são tidos como alternativa a um crime de honra nos casos de mulheres que se considerem ter violado o código de honra conhecido como namus nas sociedades socialmente conservadoras e patriarcais do Oriente Médio. Em 2006, as Nações Unidas investigaram relatos de suicídios forçados de mulheres curdas na Turquia.[13]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Hawley, John C. (1994). Sati, the blessing and the curse: the burning of wives in India. Oxford [Oxfordshire]: Oxford University Press. pp. 102, 166. ISBN 0-19-507774-1 
  2. Smith, Bonnie G. (2004). Women's history in global perspective. Urbana: University of Illinois Press. p. 103. ISBN 0-252-02997-6 
  3. Jörg Fisch (2005). Immolating Women: A Global History from Ancient Times to the Present. [S.l.]: Orient Longman. p. 320. ISBN 81-7824-134-X 
  4. Rajeswari Sunder Rajan, Real and Imagined Women, Routledge, 1993.
  5. Lata Mani: Contentious Traditions: The Debate on Sati in Colonial India. Berkeley & Los Angeles, 1998
  6. Douglas James Davies and Lewis H. Mates (eds.), Encyclopedia of Cremation, p371, Ashgate Publishing, 2005.
  7. Mani, Lata (2003). Kim, Seung-Kyung; McCann, Carole R., eds. "Multiple Mediations" in Feminist theory reader: local and global perspectives. New York: Routledge. pp. 373–4. ISBN 0-415-93152-5 
  8. «Woman commits Sati in Uttar Pradesh». rediff.com. Consultado em 8 de fevereiro de 2008 
  9. «Woman dies after jumping into husband's funeral pyre». rediff.com. Consultado em 22 de agosto de 2006 
  10. «Visitors flock to 'sati' village». bbc.co.uk. 23 de agosto de 2006. Consultado em 8 de fevereiro de 2008 
  11. André Luiz (24 de novembro de 2008). «O Suicídio Obrigado de Rommel». Ecos da Segunda Guerra 
  12. André Luiz (10 de fevereiro de 2013). «Georgi Kireev, Ex-Combatente da Segunda Guerra que Visita seu Próprio Túmulo há 70 anos!». Ecos da Segunda Guerra. Consultado em 8 de dezembro de 2013 
  13. "UN probes Turkey 'forced suicide", BBC News, 2006-05-24.