Supergrupo Espinhaço

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Figura 1:Localização do Supergrupo Espinhaço. Fonte:adaptado de Martins (2006).[1]

O Supergrupo Espinhaço[2] corresponde a uma unidade geológica estratigráfica originadas no paleoproterozoico (BRITO NEVES et al, 1995) que compreende rochas entre os estados de Minas Gerais e Bahia. Em Minas Gerais ele está localizado na porção norte do estado compreendendo grandes estruturas (e.g. Serra do Cabral) e importantes regiões para o estado, como por exemplo a cidade de Diamantina. Na Bahia ele está presente na porção sul do estado compreendendo a Chapada Diamantina.

O Supergrupo Espinhaço, em sua parte meridional, se encontra à margem leste do cráton São Francisco, enquanto a parte setentrional se encontra totalmente interna ao cráton, como pode ser observado na figura 1.[1]

Em virtude das descobertas diamantíferas no século XII, sobretudo na cidade de Diamantina, as pesquisas se concentram mais no setor Meridional do que no setor Setentrional'.

Descrição Estratigráfica do Supergrupo Espinhaço[3][editar | editar código-fonte]

Na região meridional do Supergrupo Espinhaço, Dussin et al (1984) o descreveu pertencendo a oito formações estratigráficas, divididas em dois grupos: Grupo Diamantina e Grupo Conselheiro Mata. No entanto, em uma versão mais atual, Knauer (1990) atualiza a nomenclatura, desmembrando o grupo Diamantina em Grupo Guinda e formação Galho do Miguel. Desse modo a estratigrafia do Supergrupo Espinhaço é composta por três principais divisões estratigráficas (KNAUER, 2007): Grupo Guinda, Formação Galho do Miguel e Grupo Conselheiro Mata, sendo registradas ao todo 9 formações.

Grupo Guinda[editar | editar código-fonte]

Domínio deposicional caracteristicamente continental (DUSSIN et al, 1990) dominado por uma sequência metasedimentar característica de ambientes fluvial entrelaçado, deltáico e marinho pouco profundo com eventual ocorrência metavulcânica (DUSSIN e DUSSIN, 1995). O Grupo Guinda é composto pelas formações São João da Chapada, Sopa-Brumadinho, Itapanhoacanga e pela Suíte Metaígnea Conceição do Mato Dentro.[4]

Formação São João da Chapada[editar | editar código-fonte]

Na base, há o predomínio de intercalações de quartzitos sobre metaconglomerados e metabrechas quartzíticas. Em sua parte intermediária têm-se filitos hematíticos (e rochas associadas) intercalados com xistos de fácies xisto verde. No topo há o predomínio de quartzitos médios a grosseiros.

Figura 2: Serra do Cabral, localizada em Minas Gerais abrangendo os municípios de Augusto de Lima, Buenópolis, Francisco Dumont, Joaquim Felício, Lassance e Várzea da Palma. Essa serra é um super afloramento do Supergrupo Espinhaço com uma extensão de aproximadamente 40 km. Fonte: IEPHA - MG

Formação Sopa-Brumadinho[editar | editar código-fonte]

Composto por filitos e quartzo-filitos em sua base, avançando para quartzitos (muitas vezes ferruginosos) e metaconglomerados, os quais são localmente diamantíferos. Ainda na porção intermediária, têm-se os filitos hematíticos. No topo da estratigrafia da formação, têm-se filitos, metassiltitos e quartzitos finos até corpos descontínuos de metabrechas diamantíferas, cuja matriz é filítica.

Formação Itapanhoacanga[editar | editar código-fonte]

Composta por variados tipos de quartzito com intercalações de formações ferríferas bandadas com filitos, filitos hematíticos e metaconglomerados.

Suíte Metaígnea Conceição do Mato Dentro[editar | editar código-fonte]

Típica da borda leste da Serra do Espinhaço, engloba rochas metavulcânicas de caráter mais ácido, em que predominam rochas claras, com matriz fina e fenocristais de quartzo azulado e feldspato (metariolitos). Localmente também são observados metadacitos (rochas de coloração mais escura, matriz fina e fenocristais de quartzo).

Formação Galho do Miguel[editar | editar código-fonte]

Sequência de rochas de ambiente eólico e marinho raso (DUSSIN e DUSSIN, 1995) caracterizadas por quartzitos puros e finos que abrangem aproximadamente 90% dessa unidade (KNAUER, 2007). As demais rochas que compõem a unidade são representadas por quartzitos finos micáceos e intercalações de metargilitos acinzentados ou esverdeados.

Figura 3: Chapada Diamantina, localizada no estado da Bahia, abrange dezenas de municípios com sua área de aproximadamente 41 751 km². Trata-se de um afloramento do Supergrupo Espinhaço que é uma das maravilhas brasileiras.

Grupo Conselheiro Mata[editar | editar código-fonte]

Rochas características de ambiente marinho que marca a transgressão da bacia do Espinhaço à época de seu desenvolvimento (DUSSIN et al, 1990). Composto pelas formações Santa Rita, Córrego dos Borges, Córrego da Bandeira,Córrego Pereira e Rio Pardo Grande.

Formação Santa Rita[editar | editar código-fonte]

Formada por uma gradação entre quartzitos, filitos e metaconglomerados restritos.

Formação Córrego dos Borges[editar | editar código-fonte]

Representado por quartzitos finos a médios, que podem apresentar intercalações de metabrechas e metaconglomerados.

Formação Córrego da Bandeira[editar | editar código-fonte]

Filitos e metassiltitos compreendem a base e gradam verticalmente para quartzitos fino a médio, com presença de feldspatos, os quais representam o topo da formação.

Formação Córrego Pereira[editar | editar código-fonte]

Compreende rochas quartzíticas de granulação fina a média, localmente puros.

Formação Rio Pardo Grande[editar | editar código-fonte]

A base é formada por metassiltitos e metargilitos que são sobrepostos verticalmente por quartzitos finos e muito micáceos. Eventualmente são identificadas intercalações finas de rochas calcáreas.

No setor setentrional, o Supergrupo Espinhaço possui algumas divisões, feitas por diferentes autores. Knauer (2007) explica que em Itacambira, Karfunkel e Karfunkel (1975)[5] propuseram uma divisão em quatro formações que são, da base para o topo: Itacambiruçu, Resplandescente, Água Preta e Matão. Essas são utilizadas para exemplificar a estratigrafia, muito embora sejam semelhantes ao Grupo Guinda da região meridional.

Formação Itacambiruçu[editar | editar código-fonte]

Unidade pouco expressiva na estratigrafia com cerca de 40m (KNAUER, 2007), caracterizada por micaxistos, quartzo filitos, turmalina quartzitos e metarcósios.

Formação Resplandecente[editar | editar código-fonte]

Unidade bastante extensa com cerca de 300m (KNAUER, 2007), formada essencialmente por quartzitos, podendo ser micáceos ou não.

Formação Água Preta[editar | editar código-fonte]

Novamente uma sequência pouco expressiva com cerca de 30m (KNAUER, 2007) caracterizadas por metaconglomerados, quartzitos, metabrechas e clorita xistos.

Formação Matão[editar | editar código-fonte]

Fechando a estratigrafia da região de Itacambira, essa formação possui uma expressividade grande com aproximadamente 200m (KNAUER, 2007) de quartzitos, quartzitos micáceos e lentes de conglomerados.

As demais classificações estratigráficas do setor setentrional que não compreendem a região de Itacambira, Knauer (2007) indica a seguinte divisão: Unidade Metavulcanossedimentar; Unidade Inferior; Unidade Superior.

Unidade Metavulcanossedimentar[editar | editar código-fonte]

Caracterizada por metavulcanitos ácidos a intermediários com metassedimentos associados, em especial metaconglomerados polimíticos e variados tipos de quartzito. Podem ser observadas rochas vulcanoclásticas metamorfizadas.

Unidade Inferior[editar | editar código-fonte]

Representada por intercalação entre quartzito e metaconglomerado e, mais raramente, quartzo filitos. Observa-se ainda intercalações de quartzo xisto, muscovita quartzo xistos e raros muscovita filitos com metaconglomerados matriz suportados. Localmente, os quartzitos podem se apresentar diamantíferos.

Unidade Superior[editar | editar código-fonte]

Compreende quartzitos laminados, micáceos e finos, podendo apresentar variados conteúdos de óxido de ferro. Mais raramente ocorrem quartzitos arcóseos.

Aspectos Estruturais do Supergrupo Espinhaço[editar | editar código-fonte]

Os aspectos estruturais das litologias do Supergrupo Espinhaço são bastante variados(KNAUER, 2007 - apud Schöll & Fogaça 1981; Herrgesell 1984; Kalt 1991). Podemos destacar algumas características estruturais presentes não só nas rochas do Supergrupo Espinhaço mas também nas unidades estratigráficas adjacentes da região tais como:

-Foliação, predominantemente de origem milonítica, com direção aproximadamente norte-sul e com mergulhos caindo para o quadrante leste;

-Duas lineações de interseção onde uma de direção norte-sul, em concordância com a direção do plano axial das dobras, que representa a clivagem com acentuado mergulho, e outra de direções similares a leste-oeste;

Figura 4: Perfil esquemático no sul da cidade de Diamantina. É possível observar a deformação nos quartzitos do Supergrupo Espinhaço. Fonte: KNAUER, 2007 - apud Knauer, 1999 (adaptado).

-Lineações de estiramento mineral de direções aproximadamente S75º- 85º (KNAUER 2007), coincidente com a direção dos seixos de metaconglomerados;

-Assimetria de elementos tais como foliação “S/C”, sombras de pressão, “boudinage” de veios, “rod’s” rotacionados e “mica-fish”.

Segundo Knauer (2007), as características estruturais regionais indicam sucessivos eventos deformacionais marcados por grande movimentação de massa no sentido leste para oeste. As foliações miloníticas transparecem a predominância de movimentos aproximadamente horizontais de caráter heterogêneo não coaxial, o que resultou em numerosas e expressivas quantidades de deformação.

A foliação predominante de direção norte-sul é facilmente identificada nas camadas de origem pelítica e em menor quantidade nos quartzitos e metaconglomerados do Supergrupo Espinhaço. Em Diamantina, a direção varia entre N05°W e N15°E (KNAUER, 2007) com mergulhos entre altos e moderados com caimento para leste. O aparecimento das estruturas tipo “S/C”, a identificação das “boudinage” nos filitos e a aparência anastomosada em diferentes diferentes tamanhos são usados como base para determinar uma origem “sensu lato” milonítica. Além disso, uma outra estrutura planar (Sn + 1) é identificada como uma clivagem de fratura ou ardosiana e que desenvolve-se para uma xistosidade (Knauer, 2007). Essa relação de direcionamento das deformações é bem exemplificada na figura 2.

O perfil geológico aproximadamente no sul de Diamantina (Figura 4) ilustra como os principais valores de “strain” estão concentrados na região centro-leste do perfil. Desta forma enfatizando a heterogeneidade da deformação.

Modelo de Evolução Geodinâmica[6][editar | editar código-fonte]

A evolução tectônica do Supergrupo Espinhaço ainda não é unânime entre os cientistas, mas a teoria mais aceita atualmente é bem descrita por Dussin & Dussin (1995). De acordo com eles, a deposição das sequências basais do Supergrupo Espinhaço iniciou por um processo de rifteamento durante o Mesoproterozóico, como pode ser exemplificado pela figura 5a. O grupo Guinda e a Formação Galho do Miguel exemplificam essa fase do processo de rifteamento e início de uma formação de uma possível margem passiva. Todavia, o rifte é abortado e toda a deposição do grupo Conselheiro Mata reflete uma possível tendência transgressiva em toda a bacia, indicando essa mudança tectônica. Em desacordo, devido a ausência de dados que corroborem um possível desenvolvimento de margem passiva, Knauer (2007[3]) pondera sobre essa fase de desenvolvimento tectônico, defendendo que o rifte foi abortado antes da fase de margem passiva.

Fase Rifte (1,7 Ga)[editar | editar código-fonte]

A sequência basal do Supergrupo Espinhaço é caracterizado por sedimentos terrígenos encontrados em ambientes fluviais entrelaçados, deltaico e marinho pouco profundo (DUSSIN, I.A e DUSSIN, T.M. (1995) - apud Garcia & Uhlein, op.cit.) ao qual foi depositado durante a fase rifte principal. As sedimentações das formações São João da Chapada e Sopa-Brumadinho e a rápida variação das faces laterais são evidências da grande instabilidade da bacia durante este período.

São encontrados quartzitos com intercalações de metassiltitos, filitos e conglomerados localmente diamantíferos. Tais sedimentos foram, posteriormente, recobertos por quartzitos característicos de ambientes eólicos e marinho raso dando origem para a Formação denominada Formação Galho do Miguel. Esta marca o fim da instabilidade crustal da fase rifte. A ocorrência de rochas vulcânicas está associado a diques verticais de direção NS e EW (DUSSIN, I.A e DUSSIN, T.M., 1995) cortam o embasamento ou com derrames de lavas alternando com tufos.

Durante o movimento extensional da região, a crosta tornou-se menos espessa, o que induziu o levantamento da astenosfera, consequentemente gerando a fusão por descompressão da fonte mantélica e na formação de magmas alcalinos. Os magmas kimberlíticos provavelmente foram gerados nesta fase e penetraram na crosta que justificaria a presença de diamantes associados aos conglomerados da Formação Sopa Brumadinho (DOSSIN et al., 1990). Além disso, a ascensão da astenosfera resultou na fusão dos magmas Borrachudos como é ilustrado na figura 5b.

Fase pós-Rifte[editar | editar código-fonte]

Em direção ao topo do Supergrupo Espinhaço, o Grupo Conselheiro Mata é composto por quartzitos, metassiltitos alternados com filitos sem a ocorrência de vulcanismos sinsedimentar e sua deposição ocorreu em um período onde a bacia, gradativamente, tornava-se mais funda que o nível do mar. Este evento de rebaixamento deve-se ao reajuste da crosta devido ao decréscimo da taxa térmica da crosta-manto em profundidade, e os sedimentos juntaram-se em um ambiente marinho transgressivo como é observado na Figura 5c. A idade deste evento ainda não é conhecida.

Devido a diferença dos aspectos das depósitos sedimentares e a presença de discordâncias erosivas que dividem as sequências rifte e pós-rifte, indicam que provavelmente houve um longo período onde não houve a deposição de sedimentos na região.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Martins, M. S. (2006) - GEOLOGIA DOS DIAMANTES E CARBONADOS ALUVIONARES DA BACIA DO RIO MACAÚBAS (MG),Tese de doutorado, Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, 210 p. Belo Horizonte.
  2. Brito Neves, B.B.; Sá, J.M.; Nilson, A.A. e Botelho, N.F., (1995) -A TAFROGÊNESE ESTATERIANA NO BLOCOS PALEOPROTEROZÓICOS DA AMÉRICA DO SUL E PROCESSOS SUBSEQUENTES. , Centro de Pesquisa Professor Manoel Teixeira da Costa - Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, Geonomos, V.3 (2), 21 p. Belo Horizonte.
  3. a b Knauer, L.G. (2007) - O SUPERGRUPO ESPINHAÇO EM MINAS GERAIS: CONSIDERAÇÕES SOBRE SUA ESTRATIGRAFIA E SEU ARRANJO ESTRUTURAL. ,Centro de Pesquisa Professor Manoel Teixeira da Costa - Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, Geonomos, V.15 (1), 10 p. Belo Horizonte.
  4. Dussin, I.A; Dussin, T.M. e Chaves, M.L.S.C. (1990) - COMPARTIMENTAÇÃO ESTRATIGRÁFICA DO SUPERGRUPO ESPINHAÇO EM MINAS GERAIS: OS GRUPOS DIAMANTINA E CONSELHEIRO MATA.Revista Brasileira de Geociências, V.20 (1-4), 9 p. São Paulo.
  5. KARFUNKEL,B. & KARFUNKEL,J. 1975. Fazielle entwicklung der mittleren Espinhaço Zone mit besonderer besucksichtigung des tillit problems . Un. Freiburg, Tese Dout., 86 pp. Freiburg.
  6. Dussin, I.A e Dussin, T.M. (1995) - SUPERGRUPO ESPINHAÇO: MODELO DE EVOLUÇÃO GEODIN MICA.,Centro de Pesquisa Professor Manoel Teixeira da Costa - Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, Geonomos, V.3 (1), 8 p. Belo Horizonte.