Tema do Quersoneso

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 Nota: Para a cidade homônima e capital do tema, veja Quérson.
Χερσῶνος θέμα
Tema do Quersoneso
Tema do(a) Império Bizantino
 
ca. 833/840–1204


Quersoneso ca. 1025
Capital Quersoneso
Líder estratego

Período Idade Média
ca. 833/840 Estabelecimento do tema
1204 Controlado pelo Império de Trebizonda

O Tema do Quersoneso ou Quérson (em grego: θέμα Χερσῶνος; romaniz.:thema Chersōnos), originalmente - e formalmente - chamado de Clímata (em grego: τὰ Κλίματα), foi um tema (uma província civil-militar) bizantino localizado ao sul da Crimeia. Sua capital era Quersoneso.

Foi oficialmente fundado no início da década de 830 e foi um importante centro comercial da região do Mar Negro. A despeito da destruição da cidade do Quersoneso na década de 890, o tema se recuperou e prosperou, sobrevivendo até se tornar parte do Império de Trebizonda após a Quarta Cruzada e a dissolução do Império Bizantino em 1204.

História[editar | editar código-fonte]

A região esteve sob controle bizantino desde o início do século VIII, mas passou para o controle dos cazares a partir daí. A autoridade bizantina foi restabelecida pelo imperador Teófilo (r. 829–842), que demonstrou interesse no literal norte do Mar Negro e, especialmente, nas relações com os cazares. Tradicionalmente, os estudiosos datam o estabelecimento do Quersoneso como capital do tema por volta de 833-834,[1][2][3] mas pesquisadores mais recentes ligaram o evento com a missão bizantina para construir uma nova capital cazar em Sarquel em 839 e identificam Petronas Camatero, o arquiteto de Sarquel, como o primeiro estratego temático em 840-841. A nova província foi chamada primeiramente de "Clímata" ("as regiões/distritos"), mas, por conta da proeminência da capital Quersoneso, por volta de 860 o tema já era referido nos documentos oficiais como "Tema do Quersoneso".[1][4][5]

A província teve um importante papel nas relações dos bizantinos com os cazares e, depois do colapso do Grão-Canato Cazar, com os pechenegues e os rus'. Funcionava como centro para a diplomacia bizantina ao invés de, como era tradicional nos demais temas, uma província militar, até por que a guarnição local parece ter sido pequena e formada majoritariamente por milícias alistadas localmente. Sua fraqueza é reforçada e atestada pela cláusula, que aparece nos tratados bizantinos com os rus' em 945 e 971, de que os rus' seriam responsáveis por defender a região contra os búlgaros do Volga.[6]

Quersoneso foi muito próspero entre os séculos IX e XI como um centro comercial no Mar Negro, mesmo com a destruição da cidade por Vladimir I de Quieve em 988-989.[1][2] A cidade se recuperou rapidamente: as fortificações foram restauradas e expandidas para cobrir o porto no início do século XI. Ao mesmo tempo, possivelmente depois da derrota de Jorge Tzul em 1016, o tema também se expandiu para o leste da Crimeia, como é evidente no título de um tal Leão Alíates como sendo "estratego do Quersoneso e Sugdaia" em 1059. A região, porém, foi perdida novamente no final do século XI para os cumanos. Quase nada se sabe sobre Quersoneso no século XII, o que é uma indicação de um período de paz. A cidade e a província toda permaneceram sob o domínio bizantino até a dissolução do Império pela Quarta Cruzada em 1204, quando passaram para o controle do estado-herdeiro de Trebizonda (vide Perateia)[2][7]

Administração[editar | editar código-fonte]

O Tema do Quersoneso parece ter sido organizado de maneira típica, com a gama completa de oficiais imperiais, dos quais um turmarca de Gótia é conhecido na virada do século XI, assim como os oficiais fiscais e alfandegários conhecidos como comerciários.[8] As cidades do tema, porém, parecem ter mantido uma considerável autonomia de governo, como exemplificado pela própria capital, Quersoneso, que era administrada pelos magnatas locais (arcontes) sob um prótevo ("o primeiro").[2][5] Quersoneso também manteve o direito de cunhar suas próprias moedas a partir do reinado do imperador Miguel III, o Ébrio (r. 842–867) e foi, por um longo tempo, a única casa da moeda provincial fora de Constantinopla.[1] Essa autonomia também é evidenciada pelo fato de que o governo imperial pagava subsídios anuais (pakta) para os líderes da cidade, algo reservado para os governantes aliados. Aconselhado pelo imperador Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959), em sua Sobre a Administração Imperial, os estratego locais deveriam, quando ameaçados por revoltas na cidade, cessar o pagamento destes subsídios e realocá-los para outras cidades no mesmo tema.[8] No final do século XI, o 'tema era governado por um catepano.[7]

Referências

  1. a b c d Nesbitt 1991, p. 182–183.
  2. a b c d Kazhdan 1991, p. 418–419.
  3. Pertusi 1952, p. 182–183.
  4. Kazhdan 1991, p. 1133.
  5. a b Papageorgiou 2008, Capítulo 1.
  6. Papageorgiou 2008, Capítulo 3.
  7. a b Papageorgiou 2008, Capítulo 4.
  8. a b Papageorgiou 2008, Capítulo 2.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Nesbitt, John W.; Oikonomides, Nicolas (1994). Catalogue of Byzantine Seals at Dumbarton Oaks and in the Fogg Museum of Art, Volume 2: South of the Balkans, the Islands, South of Asia Minor (em inglês). Washington, Distrito de Colúmbia: Dumbarton Oaks Research Library and Collection. ISBN 0-88402-226-9 
  • Papageorgiou, Angeliki (2008). «Theme of Cherson (Klimata)» (em inglês). Encyclopaedia of the Hellenic World, Black Sea. Foundation of the Hellenic World. Consultado em 10 de abril de 2016 
  • Pertusi, A. (1952). Constantino Porfirogenito: De Thematibus (em italiano). Roma: Biblioteca Apostolica Vaticana