Templo do Dente

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Templo do Dente
Templo da Relíquia do Dente Sagrado • Sri Dalada Maligawaශ්‍රී දළදා මාළිගාව
Templo do Dente
Tipo templo budista
Fim da construção 1595 (429 anos)
Promotor / construtor Vimaladharmasuriya I de Cândia
Religião budismo teravada
Website www.sridaladamaligawa.lk
Património Mundial
Designação Cidade sagrada de Cândia
Critérios (iv)(vi)
Ano 1988
Referência 450 en fr es
Geografia
País Seri Lanca
Cidade Cândia
Coordenadas 7° 17' 38" N 80° 38' 19" E
Mapa
Localização em mapa dinâmico
Corredor no interior do templo

O Templo da Relíquia do Dente Sagrado (em inglês: Temple of the Sacred Tooth Relic) ou Sri Dalada Maligawa (em cingalês: ශ්‍රී දළදා මාළිගාව) é um templo budista teravada em Cândia, Seri Lanca, situado no complexo do palácio real do antigo Reino de Cândia, onde está guardado a relíquia do dente sagrado de Buda.

Desde tempos remotos que a relíquia teve uma grande importância na política local, pois acredita-se que quem tenha a sua posse detém o poder no país. Historicamente, a relíquia foi detida pelos monarcas das várias dinastias que dominaram a ilha. O templo faz parte do sítio do Património Mundial "Cidade sagrada de Cândia", classificado em 1988.[1]

Na câmara interior do templo são realizadas cerimónias de adoração, conduzidas por bicos (monges budistas) de duas ordens religiosas, a Malwatta e a Asgiri. Os rituais ocorrem três vezes por dia: ao nascer do sol, ao meio dia e ao fim da tarde. Nas quartas feiras é realizado um banho simbólico da relíquia com uma mistura de água perfumada com ervas e flores, chamada Nanumura Mangallaya; acredita-se que esta água benta tem poderes curativos e é distribuída aos presentes.

O templo sofreu danos provocados por ataques levados a cabo por guerrilheiros, tâmiles do Janatha Vimukthi Peramuna em 1989 e dos Tigres de Libertação do Eelam Tâmile em 1998. Em ambas as ocasiões, o templo foi completamente restaurado.

História[editar | editar código-fonte]

Segundo a tradição, após a morte (maha parinirvāṇa) de Buda Gautama, um dos seus dentes foi preservado em Calinga e levado clandestinamente para a ilha do Seri Lanca pela princesa Hemamali e pelo seu marido, o príncipe Dantha, seguindo as instruções do pai de Hemamali, o rei Guhasiva.[2] Hemmamali escondeu a relíquia no cabelo durante a viagem para a ilha. O par desembarcou em Lankapattana e ofereceu o dente ao rei de Anuradapura Sirimeghavanna (século IV d.C., que o mandou guardar num relicário na viara Meghagiri (atual templo Isurumuniya) de Anuradapura. A guarda da relíquia passou a ser responsabilidade do monarca, pelo que ao longo dos anos, a guarda da relíquia passou a simbolizar o direito de governar a ilha. Por isso, os vários templos da relíquia do dente construídos por vários monarcas reinantes situavam-se muito perto das residências reais, como foi o caso dos reinos de Anuradapura, de Polonaruva e de Dambadeniya. Durante o período do Reino de Gampola, a relíquia foi guardada na viara Niyamgampaya. Em diversos sandeśa kāvya ("poemas de messageiro") como o Hamsasandeśa, Gira e Selalihini lê-se que o templo da relíquia do dente se situava na cidade de Seri Jaiavardenapura-Cota quando o Reino de Cota lá foi estabelecido no início do século XV.[2][3]

Durante o reinado de do rei católico de Cota Darmapala (nome de batismo: João Darmapala), a relíquia foi escondida numa pedra de amolar na viara Delgamuwa, em Kuruvita, atualmente no distrito de Ratnapura.[2] Foi levado para Cândia por Hiripitiye Diyawadana Rala e Devanagala Rathnalankara Thera, onde o rei Vimaladharmasuriya I de Cândia (batizado pelos portugueses João da Áustria) mandou construir um edifício de dois andares, já desaparecido, para guardar a relíquia.[4]

Em 1603, quando os portugueses invadiram Cândia, o dente foi levado para Meda Mahanuwara, em Dumbara. Foi recuperado durante o reinado de Rajá Sinha II (r. 1635–1687), que reconstruiu o santuário original ou constriu um novo.[2] O edifício atual do Templo do Dente foi construído pelo rei Vira Narendra Sinha (r. 1707–1739).[5] O Paththirippuwa (pavilhão octogonal à entrada do templo) e o fosso foram adicionados durante o reinado de Seri Vicrama Rajá Sinha (r. 1798–1815). A autoria do Paththirippuwa é creditada ao arquiteto real Devendra Moolacharya; inicialmente o pavilhão era usado pelo rei para atividades recreativas e mais tarde foi oferecido ao templo; atualmente alberga a bibioteca do templo.

Em 1989, a organização separatista tâmile Janatha Vimukthi Peramuna levou a cabo um ataque com o objetivo (fracassado) de capturar a relíquia.[6] A 25 de janeiro de 1998, três membros dos Tigres Negros (unidade de elite dos Tigres de Libertação do Eelam Tâmile), realizou um ataque suicida, fazendo explodir um camião carregado de explosivos[7] no recinto do templo, onde poucas horas depois iriam ocorrer as principais comemorações do dia da independência do Seri Lanca.[8] O ataque provocou 16 mortes (incluindo os atacantes),[9] mais de 25 feridos e danos severos ao templo, especialmente na fachada e no telhado, mas não afetou o santuário interior.[10] As obras de restauro foram quase imediatamente iniciadas e o complexo foi reaberto a 10 de fevereiro,[11] embora as obras só tivessem terminado um ano e meio depois.[12][13]

Arquitetura[editar | editar código-fonte]

"Muro das ondas de água" e Paththirippuwa (torre na entrada do templo)

O muro de tijolo ao longo do fosso e o lago Bogambara são conhecidos como o muro das ondas de água.[5] Nesse muro há nichos para colocar lâmpadas de óleo de coco. O portão principal de entrada, situado acima do fosso, é chamado Mahawahalkada. Na base da escadaria do Mahawahalkada há uma sandakada pahana ("pedra de lua")[a] esculpida em estilo candiano, a qual, como o resto da entrada, foi completamente destruída no ataque bombista de 1998, tendo sido reconsctruída.[14] Em cada um dos lados da entrada há elefantes esculpidos na pedra. No cimo da escadaria há uma torana[b] makara e duas pedras guardiãs. A câmara dos tambores Hewisi[c] situa-se em frente ao santuário principal. Os dois andares este último são chamados palle malaya (andar inferior) e udu malaya (andar superior) ou Weda Hitina Maligawa.[15] As portas do Weda Hitina Maligawa são de marfim esculpido.

A câmara onde a relíquia é guardada é conhecida como Handun kunama. O baldaquino dourado que cobre o santuário principal e a grade dourada que o rodeia o complexo do templo foram feitos em 1987 por iniciativa do então primeiro-ministro Ranasinghe Premadasa.[16] a relíquia é guardada em sete guarda-joias dourados com pedras preciosas embutidas,[17] que representam uma estupa. O guarda-joias que é usado durante as procissões realizadas durante o Kandy Esala Perahera (Festival do Dente Sagrado) também está exposição na mesma sala.

Outros edifícios es estruturas do complexo[editar | editar código-fonte]

Palácio real[editar | editar código-fonte]

Ulpen Ge(pavilhão de banhos da rainha)

O antigo palácio real encontra-se a norte do templo.[18] John Pybus, que ali esteve numa embaixada em 1762, fez uma descrição detalhada do edifício.[19] Vikramabahu III (r. 1356–1374) e Senasammata Vikramabahu (r. 1469–1511) construíram palácios reais no local. Vimaladharmasuriya I (r. 1590–1604) adicionou várias decorações ao palácio. O orientalista neerlandês Philippus Baldaeus visitou o palácio com o general Gerard Pietersz Hulft em 1656. A residência real era conhecico como Maha Wasala em cingalês desde o período de Polonaruva. O palácio é também conhecido como Maligawa (මාළිගාව; māḷigāva, "palácio"). Além do edifício principal, fazem parte do palácio real o Ulpen Ge (ou Ulpange; pavilhão de banhos da rainha) e o Palácio da Rainha.

Originalmente havia um muro com 8 m de altura e três wahalkadas que eram usadas como entradas principais. A ala mais antiga do palácio é alegadamente a do lado do Natha Devale[d] Durante os primeiros anos do domínio britânico foi usado pelo agente do governo John D'Oyl, que teve um papel chave na anexação de facto do Reino de Cândia pelos britânicos em 1815.[18] Os sucessores de D'Oyly como administradores coloniais em Cândia continuaram a usar o palácio como residência oficial. Atualmente o palácio é um museu arqueológico.

Salão de audiências[editar | editar código-fonte]

O salão de audiências ou Magul Maduwa é o local onde funcionava o tribunal dos reis candianos.[20] Foi completado em 1783 pelo rei Sri Rajadhi Rajasinha Foi no Magul Maduwa que decorreu a conferência que culminou na Convenção de Cândia, que formalizou a anexação do reino candiano pelo Império Britânico, assinado no salão em 2 de março de 2015. O espaço foi depois usado para o Kachcheri (governo distrital) e Supremo Tribunal de Cândia. Atualmente é usado para cerimónias de Estadp e é mantido pelo Departamento de Arqueologia.

Os relevos nos pilares em madeira que suportam o teto também de madeira são um exemplo de talha do período candiano. O Salão foi renovado para a receção em 1872 ao então Príncipe de Gales Alberto Eduardo — originalmente o salão tinha 17,7 por 10,9 m e as obras aumentaram o comprimento e 9,6 m.[21] Acredita-se que alguns edifícios que eram vizinhos do salão foram demolidos pelos britânicos.

Mahamaluwa[editar | editar código-fonte]

O Mahamaluwa é o espaço onde o público assistia ao festival anual Esala perahera.[14] Atualmente tem um memorial com uma estátua de Madduma Bandara Ehelapola e a caveira de Keppetipola Disawe, dois heróis nacionais do Seri Lanca, O primeiro foi executado por traição pelo último rei de Cândia e o segundo foi executado pelos britânicos na sequência da Grande Rebelião de 1817–1818 contra o domínio britânico. Há também uma estátua da princesa Hemamali e dos seu esposo Dantha, que levaram o dente sagrado de Calinga para o Seri Lanca.

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Complexo do Templo do Dente Sagrado
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Mahawahalkada (entrada principal)
3
Fosso
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Paththirippuwa (pavilhão octogonal)
5
Handun kunama
6
Baldaquino Dourado
7
Museu do Templo do Dente (palácio novo)
8
Palácio Real de Cândia
9
Museu Nacional de Cândia
10
Museu Iternacional Budista (edifício dos antigos tribunais)
11
Lago de Cândia
12
Ulpange (pavilhão de banhos da rainha)
13
Jayatilleke Mandapaya
14
Reserva florestal de Udawattakele

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Uma sandakada pahana é uma laje semicircular de pedra com relevos muito elaborados, que geralmente é colocada na base de escadarias e entradas.
  2. Uma torana ou vandanamalika é uma entrada ornamental ou em arco com fins cerimoniais, característica do subcontinente indiano, de onde é originária, e de muitos países do Sudeste Asiático.
  3. Hewisi é uma forma tradicional de música cingalesa, tocada sobretudo em cerimónias e eventos religiosos.
  4. O Natha Devale é um santuário que se diz ser a estrutura mais antiga de Cândia, tendo sido construído no século XIV.

Referências

  1. Cidade sagrada de Cândia. UNESCO World Heritage Centre - World Heritage List (whc.unesco.org). Em inglês ; em francês ; em espanhol. Páginas visitadas em 17-6-2023.
  2. a b c d Abeywardena 2004, p. 25.
  3. Brockman 2011, p. 561.
  4. Seneviratna 1989, pp. 90—91.
  5. a b Seneviratna 1989, p. 92.
  6. Wickrematunge, Raine (2 de dezembro de 2001), I was a member of the JVP team that attacked the Dalada Maligawa (em inglês), Colombo: www.TheSundayLeader.lk 
  7. Ramasubramanian 2004, p. 23
  8. The Commonwealth Yearbook 2006, p. 369
  9. South Asia Terrorism Portal
  10. «LTTE bombs Sri Dalada Maligawa in Sri Lanka One of the UNESCO designated World Heritage Sites» (em inglês). Melbourne: Society for Peace, Unity and Human Rights for Sri Lanka. www.spur.asn.au. Arquivado do original em 24 de março de 2012 
  11. Handunnetti, Dilrukshi (12 de abril de 1998). «Maligawa: A Slow Restoration» (em inglês). The Sunday Times. sundaytimes.lk. Consultado em 17 de junho de 2023 
  12. Attygala, Udena (31 de janeiro de 1999). «One year after the LTTE attack, Maligawa is slowly returning to its former glory» (em inglês). The Sunday Times. sundaytimes.lk. Consultado em 17 de junho de 2023 
  13. Wijesuriya 2007, pp. 87–97.
  14. a b Abeywardena 2004, p. 28.
  15. Seneviratna 1989, p. 93.
  16. Abeywardena 2004, p. 26.
  17. Seneviratna 1989, p. 94.
  18. a b Abeywardena 2004, p. 36.
  19. Seneviratna 1989, p. 73.
  20. Abeywardena 2004, p. 428.
  21. Seneviratna 1989, p. 87.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Abeywardena, H.A.P. (2004), Kandurata Praveniya, ISBN 9789555750929 (em cingalês) 1.ª ed. , Colombo: Central Bank of Sri Lanka 
  • Brockman, Nobert (2011), Encyclopedia of Sacred Places, Volume 1, ISBN 978-1598846546 (em inglês) 
  • Green, Richard (ed.), The Commonwealth Yearbook 2006, ISBN 9780954962944 (em inglês), Commonwealth Secretariat / Nexus Strategic Partnerships 
  • Lahiri, Latika (1974), «Ceylon and China : The Account of Ceylon in the Dynastic History of the T'ang Period», Proceedings of the Indian History Congress (em inglês), 35: 388–391, JSTOR 44138805 
  • Maduggalle, Sunil J. (1989), Raja, the Sri Dalada Maligawa Tusker (em inglês), Central Cultural Fund, Ministry of Education, Cultural Affairs and Information, consultado em 17 de junho de 2023 
  • McDaniel, Thomas (2018), Architects of Buddhist Leisure, ISBN 978-0824876753 (em inglês), University of Hawaii 
  • Ramasubramanian, R. (agosto de 2004), «Suicide Terrorism in Sri Lanka» (PDF), Nova Deli: Institute of Peace and Conflict Studies, IPCS Research Papers (em inglês), arquivado do original (PDF) em 12 de janeiro de 2014 
  • Seneviratna, Anuradha (1989), «Dalada Maligawa», in: Vethara Mahinda Thera, Kanda Udarata Mahanuwara (em cingalês), Colombo: Ministry of Cultural affairs (Sri Lanka) 
  • Siriweera, W. I. (2004), History of Sri Lanka, ISBN 955-551-257-4 (em inglês), Colombo: Dayawansa Jayakodi & Company 
  • Wijesooriya, S. (2006), A Concise Sinhala Mahavamsa, ISBN 955-9140-31-0 (em inglês), Kotte: Participatory Development Forum 
  • Wijesuriya, Gamini (2007), «The restoration of the Temple of the Tooth Relic in Kandy, Sri Lanka: a post-conflict cultural response to loss of identity», in: Stanley-Price, Nicolas, Cultural Heritage in Postwar Recovery. Papers from the ICCROM Forum held on October 4-6, 2005 (PDF), ISBN 92-9077-201-8 (em inglês), Roma: International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property, consultado em 17 de junho de 2023, arquivado do original (PDF) em 16 de maio de 2011 
  • «Suicide Attacks by the LTTE», Nova Deli: Institute for Conflict Management, South Asia Terrorism Portal (em inglês), arquivado do original em 24 de setembro de 2015 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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