Usuário(a):CorraleH/Emissão otoacústica

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Emissões Otoacústicas Evocadas Produto de Distorção (EOAPD) são a resposta produzida pela cóclea em função de dois tons puros (f1 e f2) com intensidade moderada (55-65 dB) que são apresentados de forma simultânea com frequências sonoras muito próximas (relação entre f2/f1 = 1,22).[1][2][3][4][5][6]As EOAPD são uma consequência da natureza não-linear da cóclea, que a partir da apresentação de um estímulo sonoro, composto por dois tons, produz energia diferente do sinal apresentado.[7][8][9][10]

Emissões Otoacústicas Evocadas Produto de Distorção[editar | editar código-fonte]

De forma que o produto de distorção é resultado da incapacidade da cóclea em amplificar dois sinais diferentes, levando a ocorrência de uma intermodulação, que ocasiona um sinal tonal que não estava presente nos tons puros evocados.[1][3] Com algumas pesquisas apontando para a possibilidade de geração das EOAPD pela não linearidade dos feixes estereociliares das células ciliadas externas.[11][12]

A cóclea produz diferentes produtos de distorção como resposta à estimulação bitonal, com a relação 2f1-f2 (diferença cúbica tonal) sendo comumente mais utilizada clinicamente por apresentar a maior resposta detectada. De modo que, a partir de dois tons puros primários de frequências f1 (mais baixa) e f2 (mais alta) apresentados, respectivamente, nas intensidades L1 (menor e tipicamente em 65 dB) e L2 (maior e tipicamente em 55 dB).[1][10]

O registro da resposta é realizado pela inserção de uma sonda no meato acústico externo com dois geradores de sinal e um microfone.[3][8] A resposta é registrada em função das frequências primárias, com 2f1-f2 correspondendo a região de máxima resposta do estado de funcionalidade coclear, por exemplo, com f1 = 3165Hz e f2 = 3833Hz (razão entre f2/f1 = 1,22) que resulta em 2f1-f2 = 2498Hz (resposta da região testada).[1][10]

Critérios de análise das EOAPD[editar | editar código-fonte]

A resposta é considerada presente na avaliação das EOAPD quando estiver presente entre 3 a 6 dB acima do ruído e amplitude dentro dos padrões de normalidade, que depende da relação entre os estímulos tonais e a intensidade de apresentação. Com pesquisas, considerando a apresentação do estímulo em F1 de 65 dB e F2 de 55 dB, indicando como critérios clínicos de análise das respostas produto de distorção:[1]

  • Amplitude de resposta: valor da medida positivo e acima de 5 dBNPS para indivíduos com audição normal e abaixo de -10 dB para caracterização de casos de perda auditiva, com outros autores apontando para normalidade do valor da amplitude entre -3 e 3 dB (possibilidade de audição normal ou caracterização de perda auditiva até 40 dB);[13]
  • Amplitude do ruído: valor da medida deve ser negativa (relação sinal-ruído), indicando boas condições de teste; e
  • Amplitude resposta-ruído: acima de 6dB.

Com a relação entre os achados das EOAPD e possíveis diagnósticos podendo ser resumidos com base na comparação da amplitude da resposta, nível de ruído e relação sinal-ruído.[14]

Amplitude Ruído Relação sinal-ruído Possível diagnóstico
positiva negativo > 6 dB normal
negativa negativo < 6 dB perda auditiva
positiva positivo < 6 dB incoclusivo
negativa negativo > 6 dB incoclusivo

Além disso, outros parâmetros de análise das EOAPD que devem ser considerados são: o Dpgram, a curva de crescimento/razão de crescimento e o latenciograma.[1]

Dpgram[editar | editar código-fonte]

O Dpgram ou cócleograma é um gráfico que apresenta as amplitudes de resposta (em dbNPS) mensuradas a partir da variação de f1 e f2 com base em níveis de intensidade sonora fixos (F1=F2= 70 dB ou F1=65 dB e F2 = 55 dB) com F2/F1 = 1,22. De forma a fornecer uma avaliação rápida da função das células ciliadas externas nas frequências sonoras selecionadas, assim, caso a alteração do paciente seja estritamente coclear a configuração da curva do Dpgram assemelha-se à curva audiométrica.[1][15]

Assim, o gráfico Dpgram pode ser comparado ao audiograma, dado que apresenta as amplitudes de resposta (em dB NPS) medidas nas frequências sonoras testadas. A amplitude de resposta tipicamente utilizada nas análises clinicas situada entre 0 e 10 dBNPS em indivíduos adultos e 20 dBNPS em neonatos.[1][15][16]

Com a alteração coclear podendo ser considerada quando a resposta estiver ausente (abaixo do ruído) ou presente, porém fora dos padrões de normalidade, como nos casos de perdas auditiva de grau leve (de 16 a 30 dB) ou moderado (de 31 até 60 dB). De forma que as EOAPD não tem sido indicadas como método primário de avaliação para a triagem auditiva de neonatos, com a recomendação de redução dos níveis de intensidade sonora (L1 = 65 dB e L2 = 55 dB) para a avaliação de recém-nascidos.[16][17]

Curva de crescimento/razão de crescimento[editar | editar código-fonte]

A curva de crescimento/razão de crescimento ou "Input-Output function" (Growth Rate), corresponde a amplitude do produto de distorção medida com base em valores fixos de f1 e f2 e decrescendo-se os níveis de intensidade, até o desaparecimento da resposta.[1]

Latenciograma[editar | editar código-fonte]

O latenciograma é o cálculo da latência das emissões, medidas em microssegundos (ms), em relação às frequências sonoras, com a latência decrescendo com o aumento da frequência pela disposição das frequências na cóclea (tonotopia).[1]

Aplicações clínicas das EOAPD[editar | editar código-fonte]

As EOAPD são um método objetivo e não invasivo de avaliação do funcionamento das células ciliadas externas, indicadas para avaliação complementar em casos de ausência da detecção de Emissões Otoacústicas Transientes (EOAT).[6][11] Destaca-se como vantagem na realização das EOAPD é maior especificidade de frequência, avaliando a função coclear desde a espira basal até a porção apical da cóclea por meio da variação das frequências primárias utilizadas.

Com as EOAPD fornecendo informações mais precisas para as frequências acima de 2000Hz, até 6000Hz ou 8000Hz, e com a resposta em frequências baixas apresentando maior dificuldade de detecção em função de ruído (externo do ambiente ou interno do paciente).[1] A resposta em 8000Hz tende a apresentar distorção em vista de necessidade de maior tensão elétrica no alto-falante.[18]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e f g h i j k Emissões otoacústicas e BERA. Marina Stela Figueiredo. Sao Jose dos Campos: Pulso. 2003. OCLC 817087063 
  2. Avan, Paul; Bonfils, Pierre (janeiro de 1993). «Frequency Specificity of Human Distortion Product Otoacoustic Emissions». International Journal of Audiology (em inglês) (1): 12–26. ISSN 1499-2027. doi:10.3109/00206099309072924. Consultado em 27 de julho de 2022 
  3. a b c Sousa, Luiz Carlos; Piza, Marcelo Ribeiro; Alvarenga, Kátia de Freitas; Cóser, Pedro Luis (2016). Eletrofisiologia da Audição e Emissões Otoacústicas: Princípios e Aplicações Clínicas 3 ed. [S.l.]: Book Toy. 372 páginas. ISBN 9788565027410 
  4. Balkany T, Telischi FF, McCoy M, Lonsbury-Martin BL, Martin GK. Otoacoustic emissions in otologic practice. American Journal of Otology. 1994 Jan 1;15(SUPPL. 1):29-38.
  5. Diniz, Jaqueline Batista; Carvalho, Sirley Alves da Silva; Ferreira, Daniele Barreto Cunha; Ramos, Camila Vilaça; Bassi, Iara Barreto; Resende, Luciana Macedo de (março de 2014). «Análise das emissões otoacústicas evocadas por produto de distorção em neonatos prematuros». Revista CEFAC: 92–98. ISSN 1516-1846. doi:10.1590/1982-0216201419012. Consultado em 28 de julho de 2022 
  6. a b Marone, Marisa Ruggieri (22 de junho de 2006). «"Emissões otoacústicas produto de distorção em recém-nascidos medicados com ototóxicos"». São Paulo. doi:10.11606/t.5.2006.tde-16082006-120318. Consultado em 28 de julho de 2022 
  7. Edilene., Marchini Boéchat, (2015). Tratado de audiologia (2a. ed.). [S.l.]: Grupo Gen - Livraria Santos Editora. OCLC 939264789 
  8. a b Bess, Fred H; Humes, Larry E (2012). Audiologia: fundamentos 4 ed. Rio de Janeiro: Revinter. p. 156-161. 373 páginas. ISBN 978-85-372-04-76-4 
  9. Otoacoustic emissions : clinical applications. Martin S. Robinette, Theodore J. Glattke 3rd ed ed. New York: Thieme. 2007. OCLC 122499391 
  10. a b c Kemp, David T (1 de outubro de 2002). «Otoacoustic emissions, their origin in cochlear function, and use». British Medical Bulletin (1): 223–241. ISSN 0007-1420. doi:10.1093/bmb/63.1.223. Consultado em 28 de julho de 2022 
  11. a b Audiologie pratique, audiométrie. François Legent 3e édition ed. Paris: Elsevier, Masson. 2011. OCLC 774687418 
  12. Verpy, Elisabeth; Weil, Dominique; Leibovici, Michel; Goodyear, Richard J.; Hamard, Ghislaine; Houdon, Carine; Lefèvre, Gaelle M.; Hardelin, Jean-Pierre; Richardson, Guy P. (novembro de 2008). «Stereocilin-deficient mice reveal the origin of cochlear waveform distortions». Nature (em inglês) (7219): 255–258. ISSN 0028-0836. PMC 3338146Acessível livremente. PMID 18849963. doi:10.1038/nature07380. Consultado em 27 de julho de 2022 
  13. Coube CZV. Emissões otoacústicas evocadas - produto de distorção: estudo em indivíduos com perda auditiva coclear.
  14. Gorga, Michael P.; Stover, Lisa; Neely, Stephen T.; Montoya, Danielle (1 de agosto de 1996). «The use of cumulative distributions to determine critical values and levels of confidence for clinical distortion product otoacoustic emission measurements». The Journal of the Acoustical Society of America (2): 968–977. ISSN 0001-4966. doi:10.1121/1.416208. Consultado em 28 de julho de 2022 
  15. a b Otacilio, Lopes Filho; Carlos, Rosimeire; Thomé, Daniela; Eckley, Claudia (1 de julho de 1996). «Transient Evoked and Acoustic Distortion Products Otoacoustic Emissions in Hearing Evaluation of Newborns with Few Horas of Life». Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. 62 (3): 220-228. Consultado em 28 de julho de 2022 
  16. a b Gorga, Michael P.; Neely, Stephen T.; Bergman, Brenda; Beauchaine, Kathryn L.; Kaminski, Jan R.; Peters, Jo; Jesteadt, Walt (1 de abril de 1993). «Otoacoustic emissions from normal‐hearing and hearing‐impaired subjects: Distortion product responses». The Journal of the Acoustical Society of America (4): 2050–2060. ISSN 0001-4966. doi:10.1121/1.406691. Consultado em 28 de julho de 2022 
  17. Mendel, Lisa Lucks. Contemporary Perspectives in Hearing Assessment. Ear and Hearing: December 1999 - Volume 20 - Issue 6 - p 521
  18. Giraud, Anne Lise; Collet, Lionel; Chéry-Croze, Sylviane; Magnan, Jacques; Chays, André (24 de dezembro de 1995). «Evidence of a medial olivocochlear involvement in contralateral suppression of otoacoustic emissions in humans». Brain Research (em inglês) (1): 15–23. ISSN 0006-8993. doi:10.1016/0006-8993(95)01091-2. Consultado em 28 de julho de 2022