Usuário(a):Isabella Luiza Mori/Testes

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Isabella Luiza Mori/Testes

A obra Batalha dos Guararapes, produzida em 1879, foi pintada pelo pintor e professor brasileiro, natural de Florianópolis, Victor Meirelles de Lima. Ela representa a vitória das tropas brasileiras contra as holandesas em um dos muitos duelos ocorridos na região dos Montes dos Guararapes. Em especial, esse combate foi escolhido por representar o exército brasileiro em menor número vencendo seu inimigo com coragem e braveza, fazendo-os recuarem devido ao número de holandeses mortos e feridos. A expulsão definitiva das tropas holandesas da Capitania de Pernambuco só veio ocorrer em 1654. [1]

Inicialmente, a pintura sobre a batalha ocorrida nos Montes dos Guararapes teria sido designada ao pintor paraibano Pedro Américo, encomendada pelo Ministro do Império João Alfredo Correira de Oliveira. Aceita a proposta, o pintor foi à Itália e recolheu-se no Convento de Annunziata de Florença para iniciar a obra. Pedro Américo desistiu de pintar a batalha encomendada e decidiu fazer uma tela retratando a Guerra do Paraguai que se chamaria Batalha do Avai. Com o ocorrido, o Ministro transferiu a encomenda à Victor Meirelles, em 1872.[2]

A obra de Meirelles é a única das pinturas históricas que mais circularam no Brasil, juntamente com telas como “A Primeira Missa no Brasil”, também de sua autoria e “Independência ou Morte” de Pedro Américo. [3]

A pintura Batalha dos Guararapes, de Meirelles, foi exibida na Exposição Geral da Academia Imperial das Belas Artes em 1872 e 1879, ao lado de obras de Pedro Américo, as quais representam episódios vitoriosos da “história militar nacional” e contribuíram para a formação da identidade nacional e uma definição de nação brasileira. [4]

Essa batalha também tem como particularidade ser o primeiro momento de comunhão nacional da história brasileira. Representa a união do povo brasileiro em prol de um sentimento nacional. Essa interpretação sobre a invasão holandesa foi construída no oitocentos embasada na produção historiográfica do IHGB, Instituto Histórico Geográfico Brasileiro criando-se a “memória visual da nação”. As frequentes invasões holandesas e estrangeiras em geral, ocasionavam um laço nacional que unia as três etnias no Brasil. [5]

Desta forma, considerou-se um acontecimento importante para ser retratado pois foi um marco simbólico para a formação do Exército Nacional, dada a união e o sentimento de patriotismo e nacionalismo que alinhou europeus, luso-brasileiros, índios, negros, em busca da expulsão dos holandeses do Nordeste do Brasil. [6]

Descrição[editar | editar código-fonte]

A obra Batalha dos Guararapes, de Victor Meirelles, segue a técnica de óleo sobre tela, colorida, e possui 494,5 cm × 923 cm. Retrata uma das batalhas entre portugueses e holandeses a qual ocorreu no Monte dos Guararapes, em solo brasileiro, no período do Segundo Reinado.

O quadro segue um movimento pertencente a um período de projeto de construção de moldes visuais da identidade nacional no Brasil, referente a estética romancista, fazendo das batalhas uma nova fonte de imagens evocativas do Brasil. O título do quadro se refere ao nome que foi dada a essa batalha, relacionando—o com o nome do local onde ocorreu, “Montes dos Guararapes”.

Em primeiríssimo plano, em grande tamanho, centralizado e praticamente monumentalizado, vê-se André Vidal de Negreiros, mestre de campo do exército português, que mostra uma grande espada e está montado num cavalo marrom e branco que no momento congelado, empina, deixando sua imagem mais alta do que qualquer outra. Ao mesmo tempo, o mestre traça um golpe com sua espada contra o coronel holandês Keeweer, o qual o olha atordoado caído no chão. Este é o ponto nevrálgico da cena. Ao redor do conteúdo central, muitos guerreiros com várias lanças, bandeiras e espadas se enfrentam, tendo uma concentração de homens ao redor do afrontamento dos dois chefes. A batalha está sendo vencida pelo exército português que se dispõe do lado esquerdo do quadro, tendo ao lado direito, vários holandeses mortos, feridos ao chão e outros ainda em pleno duelo, com seus corpos inclinados para frente, o que dirigi o olhar do leitor. Próximo ao coronel golpeado estão guerreiros que o protegem do mestre português, acobertando-o como numa barricada e apontando suas armas para o inimigo. O cavalo branco do coronel holandês se encontra ferido ao chão. Meirelles também representa as estratégias militares utilizadas, dessa forma, ele expõe os guerreiros holandeses que se dispunham em várias faixas humanas criando-se fases do exército.

À esquerda da tela, avista-se o comandante da tropa montado à cavalo, mostrando sua espada, Barreto Menezes, que vai à captura do governador dos holandeses, Segismundo Van Schkoppe. Do lado direito alguns guerreiros mais afastados do caos da batalha ao centro, observam e comentam a cena. Os holandeses assim como os portugueses, todos de pele branca, vestem roupas coloridas, de tons diversos: vermelho, verde, amarelo, azul, laranja, marrom, cinza, preto, e branco, cores que chamam atenção em suas roupas de tecidos grossos, vistosas, detalhadas, com penas, cinturões, acabamentos, botas de couro. Também usam armaduras de ferro e possuem numerosos equipamentos como escudos, lanças e espadas, estas últimas apontadas contra o inimigo. O exército português é composto por portugueses de pele branca e de alguns índios e negros os quais são mal representados, vestem roupas simples, alguns até estão sem armaduras. Os brancos possuem cavalos, e os de pele escura lutam todos no chão. Ao lado esquerdo, em direção às terras do cenário, avista-se uma teoria de soldados portugueses à cavalo em segundo plano, aproximando-se ferozmente à zona de combate. Estes são retratados com cores mais apagadas que se misturam com a vegetação e uma poeira envolvente. No lado inferior da tela, ao chão de terra batida com algumas manchas de sangue, estão vários homens feridos, mortos, jogados entre alguns galhos secos, armas e peças de roupas abandonadas. Outros, também ao chão, observam e se protegem da batalha, acuados.Todo o caos e movimentação da cena faz levantar uma poeira produzida pelo chão de terra, que envolve todo o quadro causando um efeito de moldura de penumbra.

As expressões faciais dos personagens são todas muito expressivas, representando medo, susto, dor, raiva, mas nenhuma figura expressa tanta valentia como a de Negreiros. D. Antônio Felipe Camarão e Henrique Dias ocupam as laterais da tela, direita e esquerda respectivamente. Suas expressões são pobres, não representam ato de bravura e valentia. Os grupos de guerreiros aos poucos desaparecem em direção ao espaço aberto, no fundo. Eles são representados de tamanho menor e com cores neutras o que gera um efeito visual de profundidade e grandeza da batalha, como se pelo enquadramento utilizado não fosse possível retratar o tamanho da batalha em si, mas um recorte específico: o golpe do português André Vidal de Negreiros contra o holandês Keeweer.

O encontro dos exércitos se dá em primeiro plano, no Monte dos Guararapes, local com árvores altas, um chão plano terroso, largo. A paisagem ocupa o canto esquerdo superior da tela com um imenso céu é azul que carrega nuvens e compõe juntamente com a poeira cinza. Meirelles compõe a topografia da região e insere ao fundo, em terceiro plano, o Cabo do Santo Agostinho, local que representa o motivo do confronto entre os dois grupos. Nesse plano mais distante,é usada uma técnica de profundidade com a utilização de uma paleta de cores apagadas, a cor branca e pouca nitidez, ao contrário do centro e dos primeiros planos do quadro onde há mais nitidez e cores vivas. Nota-se uma natureza composta por várias espécies de árvores, e o fluxo do mar em direção ao horizonte montanhoso. A linguagem utilizada por Meirelles é clara e procura ser fiél ao acontecimento e ao local, tem a intenção de resgatar o espírito de uma época a partir de seus vestígios, já que as pinturas de batalhas tornaram-se, nessa época, formas de documentar as explorações reais, e de registrá-las como um testemunho ocular.

Processo e Inspirações[editar | editar código-fonte]

Para a feitura da obra, Victor Meirelles executou um trabalho de investigação. Um deles foi a ida ao Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP), onde pode visualizar e pesquisar sobre armas e outros utensílios presentes em sua tela. [7]

Outra pesquisa que fez foi através do acervo do Museu Histórico Nacional (MHN) onde estão vários equipamentos de defesa, cópias de instrumentos bélicos os quais Meirelles pôde se embasar para produzir sua obra. [8]

Para a feitura de uma obra histórica, o artista utilizou como uma de suas principais fontes a narrativa do historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen “História das Lutas dos Holandeses no Brasil”. Com as inúmeras informações e detalhamentos de como se dispões a batalha presentes nessa narrativa, Meirelles compôs seu quadro em três partes segundo a posição do exército português. O cuidado em ser fiél ao acontecimento fez da obra de Meirelles não só uma representação de um episódio histórico nacional mas uma espécie de janela para esse passado. [10]

O vínculo da narrativa com a obra é tão desenvolvida que obtém-se uma relação entre imagem e palavra. A influência é tão presente que a pintura não se limita a apenas expor a estratégia militar descrita na narrativa mas também representa o momento como um combate entre heróis e não entre civilizados e bárbaros. Segundo Christiane Raynaud, [11] "Batalha dos Guararapes” parece se tornar imagem-cópia de “História das Lutas dos Holandeses no Brasil”.

Também se nota a ideia de imagem-cópia através do resumo histórico que acompanha a tela, como uma espécie de tradução através da imagem ao parafrasear o texto de Varnhagen. [12]

A menção da obra do historiador foi uma estratégia utilizada por Meirelles, para a legitimação de sua narrativa. O instrumento de citação de renomados historiadores, relatos de testemunhas oculares ou até de experiências pessoais do próprio artista –no momento da própria batalha ou a observação in loco do lugar onde a mesma ocorreu- é várias vezes aplicado por pintores afim de mostrar referências da sua criação visual. Esses mecanismos confirmam a narrativa como verdadeira e demarcam o limite do verossímil em uma pintura historiográfia, tornando a imagem mais crível. [13]

Contexto[editar | editar código-fonte]

A obra Batalha dos Guararapes está inserida no Império de D. Pedro II. A pintura estava sintonizada com um anseio trazido pelo período, um projeto político-ideológico-cultural afirmado pela Academia Imperial de Belas Artes juntamente com o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o qual se preocupava na construção de uma nacionalidade brasileira visual que incorporasse imagens do passado com lutas e heróis. [14]

Havia-se, no Brasil do Segundo Império, uma necessidade de uma nova legitimação política , já que agora a região tinha mais independência de Portugal, e, nesse momento, ganharam importância e notoriedade as grandes histórias da formação nacional. [15]

A Academia Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro recebeu diversas manifestações artísticas, tais como o Neoclassicismo, o Impressionismo e o Romantismo, principalmente entre os anos 1850 e 1920, encaixando-se as obras de Meirelles nesta última estética já que fez parte da primeira geração de pintores romancistas, juntamente com Pedro Américo, Almeida Júnior, Rodolfo Amoedo, Bernadelli e outros. É uma época, sobretudo, na qual o Brasil elege seus momentos mais memoráveis e os expõe para o mundo, de forma teatralizada, a partir de cores vibrantes pelas mãos de seus melhores artistas. [16]

Esses pintores, seguindo a estética romântica, se empenharam em produzir cenários comemorativos de forma a dirigir o olhar do espectador para enquadramentos específicos . Ao representar o passado, Victor Meirelles, teve uma forte influência na criação do presente e do futuro, pois de certa forma criou, a partir de imagens, o que poderia se conhecer sobre a história do país. Trata-se da pedagogia de suas obras e de suas intenções em relação a forma com que a nação brasileira se organizava, esta guiada por uma perspectiva civilizadora. A partir de obras que alimentavam uma memória coletiva, era possível que o espectador relacionasse histórias individuais. [17]

Os produtores de imagem, como Victor Meirelles, um dos mais solicitados pintores e considerado uma das maiores expressões da arte acadêmica oitocentista no Brasil, ao alimentar a ideia de identidade nacional em ”Batalha dos Guararapes”, tinha controle não só dos olhares para o passado mas também das projeções do que seria o futuro de um país, juntamente com o Estado que era contratante desses produtores e encomendava essas memórias. [18]

Ao retratar a Batalha dos Guararapes, transforma a própria batalha num mero pano de fundo para uma cena na qual acontece uma comunhão entre o passado e os valores do presente como a honra, o patriotismo, o conhecimento. Esse relacionamento de valores com o pretérito esboça uma civilização composta numa comemoração. Desta forma, entende-se o século XIX guiado pelo Romantismo, uma estética que orienta a criação de cenas. [19]

O sucesso da política cultural propagada através das obras de Victor Meirelles pode ser identificada se analisada as reações populares que estas causaram como também a incorporação das mesmas nos livros didáticos de história nacional. [20]

A obra Batalha dos Guararapes assim como a obra Batalha do Avai inserem-se num momento em que as representações de ações gloriosas começam a ser mais frequentes. Com a Guerra do Paraguai, a partir da década de 70, houve uma mudança em relação a figura que representava o herói, sendo antes a figura do monarca, agora também eram pintados os heróis anônimos. [21]

Com a Guerra do Paraguai, alimentou-se um mito fundador da nação brasileira pautada num patriotismo herdado da vitória deste combate, deste modo, a obra de Meirelles recebeu como uma de suas intenções a reprodução desta ideia: relatar a união de brancos, índios e negros que se irmanaram com o objetivo de manter a soberania nacional. Na época da feitura do quadro, umas das preocupações do Império era justamente a construção dessa ideia de união em toda a nação brasileira. Outra intenção que carregavam as obras encomendadas neste período foi a de motivar a população brasileira a esquecer as mazelas da guerra pois, mesmo vitoriosa, havia perdido vários soldados e ainda contabilizada os prejuízos. [23]

A cena retratada na obra Batalha dos Guararapes foi consequência de um passado exaustivo para muitos pernambucanos vítimas da tirania das invasões holandesas em 1648. As frequentes opressões e sacrilégios geravam queixas e um sentimento de revolta nos brasileiros. Por seus legítimos direitos e pelo fim da exploração holandesa, reuniram-se todas as classes gerando um exército de negros, índios e brancos. Desta forma, pode-se constatar na obra a presença conjunta de D. Antônio Felipe Camarão, o governador dos índios, Henrique Dias, governador dos pretos, minas e crioulos, André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira e Barreto de Menezes, os Mestres-de-Campo que comandavam brancos. Entre os motivos da batalha retratada estava a ambição dos holandeses pela região do Cabo Santo Agostinho, conhecida por ter bom êxito em suas colheitas. [24]

Meirelles teve uma preocupação científica ao fazer sua obra. Embasou-se nas teorias de Louis-François Lejeune que dissertou sobre pinturas militares. No século XVII, as pinturas de batalhas se transformaram em uma maneira de documentação das explorações reais, e de registro de viagens, sendo o artista testemunha ocular. Essa tradição foi resgatada por Louis-François Lejeune com sua obra Batalha de Marengo com a qual podemos traçar paralelos conceituais com a obra de Meirelles. [26]

Uma das preocupações do pintor foi produzir sua obra seguindo a demanda de uma precisão histórica. Atentou-se aos detalhes que pudessem fornecer informações históricas como por exemplo, uma fiél representação do ambiente em que a batalha ocorreu, isto é, o cenário da cena. Meirelles atentou-se com a topografia, as ruínas e montanhas que compunham a região, fazendo com que o espectador identifique e reconheça o lugar onde a cena se desenvolveu. Ao fundo da cena de batalha, na linha do horizonte, há o Cabo do Santo Agostinho. [27]

Esta região, segundo a obra “História das Lutas dos Holandeses no Brasil” de Varnhagen, foi muito importante para o desenrolar da batalha representada. Havia interesse holandês pela área por se tratar de uma região fértil, o que deflagrou na batalha no Montes dos Guararapes. A representação do Cabo do Santo Agostinho traz um resumo histórico do momento e ainda esclarece ao leitor a importância da área na época sendo um elemento que remete a história oficial e pesquisar do autor. [28]

Outra forma utilizada pelo autor para legitimar a narrativa de sua obra e aproximá-la ao verossímil foi a representação das estratégias militares adotadas pelos dois exércitos, estratégias estas as quais Meirelles já tinha algum conhecimento. Dessa forma, a obra Batalha dos Guararapes recorta um momento específico da trama, com enfoque em ações e personagens especiais. [30]

Como solicitado, o autor ressaltou a vitória e união do exército português, auxiliando na construção da ideia de bem-estar da pátria e fundação de uma identidade nacional. Apesar do horror e violência também representada, o orgulho nacional, o patriotismo, de certa forma, rouba a cena. É importante salientar que embora a ideia de união de etnias e povos tenha sido abordada na obra, esta não deixou de ser feita de forma hierarquizada, como demonstra os elementos distribuídos na tela. Os brancos foram representados por figuras como os mestres de campo André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Dias Cardoso e Barreto de Menezes e Dias da Silva, os índios por D. Antônio Felipe Camarão e os negros por Henrique Dias. Dessa forma, a história nacional de miscigenação ganhava sua primeira imagem com Victor Meirelles. [31]

A representação do exército real, ressaltando o branco como exemplo de civilização a ser seguido pelas demais raças era uma tendência da tradição oitocentista. A ideia de união se baseava justamente na premissa de que a nação brasileira, se unida, teria forças e oportunidades para vencer qualquer outra civilização, confrontando o movimento de repúdio ao “outro” no qual se constituía a nação brasileira. Este “outro”, sendo estrangeiro, recebia a definição de bárbaro e a ideia de que a os brasileiros representavam o ideal de civilização do Novo Mundo. [32]

Mesmo de compromisso com a exaltação do orgulho nacional, Meirelles não inferioriza os guerreiros holandeses, e sim, os representa com braveza e dignidade até mesmo no momento em que são derrotados, detalhe que enfatiza a sincronia da pintura com a obra de Varnhagen. Debatendo as críticas, o pintor explica que seu objetivo foi ressaltar todos os heróis reunidos. [34]

A obra Batalha dos Guararapes traz a ideia de heroísmo nacional extremamente necessário para a época em que foi lançada, final do século XIX, quando ainda havia reflexos da Guerra do Paraguai na sociedade, na economia. [36]

Recepção[editar | editar código-fonte]

A obra de Meirelles foi alvo de muitas críticas e debates por tratar de um momento histórico e haver diferentes opiniões sobre como ele realmente ocorreu e deveria ser representado. Em 1879, Meirelles foi acusado de produzir uma cena enganosa sobra a Invasão Holandesa. Alegava-se que este acontecimento não poderia ter sido retratado de maneira tão pacífica. Diferentes opiniões sobre como a cena ocorreu conflitavam com as pesquisas que o próprio autor havia feito antes de produzir a obra Batalha dos Guararapes, como seu meticuloso trabalho em Pernambuco onde realizou estudos e pesquisas no Intituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP), local onde pode visualizar armas e outros adereços que o auxiliaram na confecção da tela. [37]

Alguns dos princípios do artista André Félibien foram adotados por Meirelles, em resposta à acusação de ausência de emoção na obra Batalha dos Guararapes, como a teoria do princípio de unidade da obra. Essa doutrina exigia uma idealização na composição para que todas as figuras fossem associadas e auxiliassem na caracterização da ação do herói retratado, ou seja, todo o recorte deveria servir a ação virtuosa central no mesmo momento. Esta regra sistematizada seria aplicada em pinturas do gênero histórica, segundo Félbien, categoria esta que contribuiu demasiadamente para o ensino acadêmico além de possibilitar ao pintor um status e reconhecimento social valoroso. [38]

O artista sentiu a necessidade de desenvolver uma crônica com o objetivo de esclarecer a tradição artística europeia que sua obra seguia, citando alguns preceitos da arte acadêmica aos quais seguiu para a sua produção, e coloca como principal a unidade de composição. Meirelles conta que sua obra Batalha dos Guararapes traz um recorte específico central, e elimina de sua narrativa tudo que possa confundir a compreensão da mensagem principal. Por fim, legitima toda a sua produção alegando que esta segue uma tradição que concebe apenas obras de arte guiadas pelo princípio de unidade. [40]

Desta forma, Meirelles utiliza de seus conhecimentos de sua formação artística, ricos em doutrinas da tradição pictórica e combina suas pesquisas sobre a Batalha dos Guararapes para afirmar que a figura é uma representação verossímil, e não, fonte de sua imaginação. Outra crítica que recebeu foi a feita pelo Jornal do Comércio, em 1879, a qual acusava o pintor de representar modelos de armas e roupas que pertenciam ao Teatro do Sr. Ferrari e não os originais utilizados na época do combate. [42]

Em resposta a crítica, Rangel de Sampaio, amigo de Meirelles, lembra que o pintor se locomoveu até Pernambuco afim de pesquisar e de fato, ver diversos artefatos da época referida. Mesmo sem possuir em abundância como na Europa, o Instituto Arqueológico Pernambucano armazenava modelos dos itens em questão. Além dos vestuários e acessórios, Sampaio também afirma que Meirelles examinou o próprio lugar onde a batalha havia ocorrido, os Montes dos Guararapes. [44]

Polêmicas[editar | editar código-fonte]

Entre as várias polêmicas relacionadas à obra de Meirelles, estava também a contestação da representação do índio Filipe Camarão, o qual, segundo a crítica estaria mal desenhado já que sua imagem, na época em que participou da batalha, não constaria com a jovialidade retratada na obra. Mais uma vez, o pintou utilizou da obra de Varnhagen, “História das lutas com os holandeses no Brasil”, para se justificar. Nesta bibliografia, o historiador apresenta uma análise da vida de Camarão, como o ano em que faleceu, em que foi batizado, o mesmo o qual ocorria a disputa pela Coroa, em Portugal, entre dois religiosos, sendo o nome de Filipe uma homenagem a eles. Comprovava-se, assim, que Meirelles não havia errado na sua representação, pois ele mesmo rebateu que havia acrescentado mais idade à figura de Camarão. [46]

Outras críticas foram feitas sobre ao modo com que Filipe Camarão foi representado, principalmente na época de execução do quadro, quando sua obra recebeu as mais variadas visitas. Muitos dos visitantes julgaram impróprio a maneira com que foi representado um dos heróis da batalha, pois jamais poderia ser colocado como um idoso ou uma pessoa decadente, pois fugiria da ideia da imagem de um herói nacional. Neste momento, teve-se um conflito entre a função da moral da pintura e seu compromisso com a fidelidade ao passado. A figura de um herói não deveria ser descontruída e sim reforçada como exemplo para a posterioridade, desta forma, o pintor não deveria se prender a esses preciosismos históricos. Para aqueles visitantes, a função mais importante de uma obra era seu papel pedagógico , mesmo que comprometesse seu aspecto verossímil. Após a polêmica, o pintor alterou a imagem do personagem em questão. [47]

Antes de ceder, Meirelles continuou o debate, agora, embasando seus argumentos na obra de Orbigny, “O homem americano da América Meridional”. Nessa bibliografia, se afirmava que os índios possuíam um processo de envelhecimento diferente, que se dava de forma mais lenta, assim como a manifestação dessa passagem de tempo na sua estética. Mesmo com cem anos, os índios permaneceriam com sua apresentação jovem. [49]

A escolha de representar Camarão com uma imagem jovial, mesmo este possuindo 70 anos de idade, foi fundamentada em fontes consultadas por Meirelles, pelo seus conhecimentos pictóricos e sobre o tema e também em teorias raciais da época, ou seja, esse ato seguia um teor científico histórico. Assim sendo, a representação de Camarão é uma marca de enunciação da obra que marcou um momento de diálogo entre a pintura histórica e a disciplina história. [51]

A Questão Artística de 1879[editar | editar código-fonte]

A questão artística de 1879 foi uma polêmica nomeada por Donato Melo Júnior. Neste acontecimento, a crítica se emancipou e marcou presença nas exposições daquele ano, atacando fortemente Victor Meirelles e Pedro Américo, com suas publicações de artigos em folhetins e apedidos. Nessa Questão, diversos críticos especializados em artes plásticas se dividiram conforme suas opiniões sobre as obras e autores. Havia também publicações de articulistas anônimos em jornais, recurso permitido pela imprensa no século XIX, ou pseudônimos , com o intuito de destruir a reputação dos artistas e de negar a seriedade jornalística. As acusações eram diversas, desde plágio dos artistas até representações falsas ou inapropriadas de pessoas, objetos, adereços, cenas, alegando a falta de comprometimento com a fidelidade da obra ao passado. [52]

Referências

  1. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  2. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  3. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  4. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  5. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  6. CASTILHO, F. Roberto Freire, da Cultura e Raul Jungmann, da Defesa anunciam revitalização do Parque Nacional dos Guararapes. JC Negócios, 2017. Disponível em:<http://jc.ne10.uol.com.br/blogs/jcnegocios/2017/05/12/roberto-freire-da-cultura-e-raul-jungmann-da-defesa-anunciam-revitalizacao-do-parque-nacional-dos-guararapes/>. Acesso em: 19 de Novembro de 2017
  7. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  8. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  9. SAMPAIO, Op. cit., 1880))SAMPAIO, João Zeferino Rangel de. Combate Naval de Riachuelo. História e Arte. Quadro de Victor Meirelles. Notas para os visitantes da exposição. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1883.
  10. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  11. RAYNAUD, Christiane. Le commentaire de documentfiguréenhistoiremédiévale. Paris: Masson& Armand Colin Éditeurs, 1997
  12. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  13. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  14. SALGUEIRO, V. A arte de construir a nação: pintura de história e a Primeira República. 2002. 20f. Artigo Estudos Históricos, n°30, Rio de Janeiro.
  15. BEZERRA, C. C. Caminha, Meirelles e Mauro: narrativas do (re)descobrimento do Brasil; decifrando as imagens do paraíso. 2008. 92f. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Campinas e Faculdade de educação. Campinas.
  16. BITTENCOURT, J. N. O teatro da memória: Palco e comemoração na pintura histórica brasileira. 2000. 10f. Artigo, Projeto História, São Paulo.
  17. BITTENCOURT, J. N. O teatro da memória: Palco e comemoração na pintura histórica brasileira. 2000. 10f. Artigo, Projeto História, São Paulo.
  18. BITTENCOURT, J. N. O teatro da memória: Palco e comemoração na pintura histórica brasileira. 2000. 10f. Artigo, Projeto História, São Paulo.
  19. . BITTENCOURT, J. N. O teatro da memória: Palco e comemoração na pintura histórica brasileira. 2000. 10f. Artigo, Projeto História, São Paulo.
  20. PEREIRA, S. G. Revisão historiográfica da arte brasileira do século XIX. n°54, 2012. 20f. Artigo revista Ieb, Rio de Janeiro.
  21. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  22. Victor Meirelles, apud Rosa. Angelo de Proença. Victor Meirelles de Lima. Rio de Janeiro, Pinakothéke, 1982, p.62
  23. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  24. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  25. 128 Folhetim do Jornal do Commercio – Academia de Belas-Artes (exposição). Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 05 de abril de 1879.
  26. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  27. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  28. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  29. Catálogo das obras expostas na Academia das Belas Artes, em 15 de março de 1879. Rio de Janeiro: Tip. Pereira Braga &cia., 1879, p. 18-22
  30. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  31. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  32. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  33. COLI, Jorge. Victor Meirelles e a pintura internacional. [Tese de livre docência] Campinas: UNICAMP, 1997.
  34. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  35. SAMPAIO, João Zeferino Rangel de. Combate Naval de Riachuelo. História e Arte. Quadro de Victor Meirelles. Notas para os visitantes da exposição. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1880.
  36. VENÂNCIO, G. M. Pintando o Brasil: artes plásticas e construção da identidade nacional (1816-1922. 2008. 18f. Revista História em Reflexão : Vol. 2 n° 4. UFGD. Minas Gerais.
  37. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  38. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  39. Cf: FÉLIBIEN, André. Entretiensurles viés etlesouvragesdesplusexcellentspeintresanciens et modernes. Paris, Trévoux, 1725; Id. Diálogos sobre as vidas e as obras dos mais excelentes pintores antigos e modernos. In: LICHTENSTEIN, Jacqueline (org.). A pintura – textos essenciais. vol. 3. São Paulo: Editora 34, 2004
  40. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  41. SAMPAIO, João Zeferino Rangel de. Combate Naval de Riachuelo. História e Arte. Quadro de Victor Meirelles. Notas para os visitantes da exposição. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, , 1880, p.244
  42. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  43. SAMPAIO, João Zeferino Rangel de. Combate Naval de Riachuelo. História e Arte. Quadro de Victor Meirelles. Notas para os visitantes da exposição. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1880, p. 24-25
  44. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  45. SAMPAIO, João Zeferino Rangel de. Combate Naval de Riachuelo. História e Arte. Quadro de Victor Meirelles. Notas para os visitantes da exposição. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, Cit, 1880, p.10
  46. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  47. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  48. SAMPAIO, João Zeferino Rangel de. Combate Naval de Riachuelo. História e Arte. Quadro de Victor Meirelles. Notas para os visitantes da exposição. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1880, p. 241.
  49. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  50. SAMPAIO, João Zeferino Rangel de. Combate Naval de Riachuelo. História e Arte. Quadro de Victor Meirelles. Notas para os visitantes da exposição. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1880, p. 241
  51. CASTRO, Isis Pimentel de. Os Pintores de História. A relação entre ate e história através das telas de batalhas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Rio de Janeiro: IFCS/UFRJ, 2007.
  52. GUARILHA, H.X. A questão artística de 1879: um episódio da crítica de arte no segundo reinado. 2005. 587f. Dissertação de Mestrado, Insituto de filosofia e ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas.

Ver também[editar | editar código-fonte]


Categoria:Pinturas de Victor Meirelles Categoria:Batalha dos Guararapes