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Aroldo Pereira[editar | editar código-fonte]

João Aroldo Pereira (Coração de Jesus, 06 de outubro de 1959) é poeta, ator, compositor, performer, agitador cultural e funcionário público. Reside em Montes Claros-MG desde 1961, é um dos fundadores do grupo de literatura e teatro Transa Poética, surgido em 1979, e coordena o festival de arte contemporânea Psiu Poético,[1] criado em 1987. O Psiu ocorre anualmente em Montes Claros, do dia 04 (dia municipal da poesia) a 12 de outubro, com sede no Centro Cultural Hermes de Paula.

A produção poética de Aroldo Pereira é multifacetada. Envolve temas como política, desigualdade social, questões existenciais, cotidianas, eróticas e familiares, além de refletir o próprio fazer poético (metapoesia). Suas performances são caracterizadas pelo uso de parangolés, inspirado em Hélio Oiticica, e pela performatização das poesias através do movimento e da dança.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em Coração de Jesus no ano de 1959, mudou-se com sua mãe Juscelina Pereira Neta (1930-2022) para Montes Claros em 1961 e vive nesta cidade desde então, onde é secretário adjunto da Secretaria Municipal de Cultura e agitador cultural. Sua trajetória artística começou no final da década de 1970, quando foi vocalista da banda punk "ataq. cardíaco", de cujo experimento musical, ainda que breve, reflete na sua linguagem poética. Em 2017, teve a canção Deprê gravada por Elcio Lucas no disco Vago Universo.[2]

Além da música, Aroldo também se aventurou na dramaturgia, através do grupo teatral Transa Poética, em torno do qual surgiu, em 1987, o festival de arte contemporânea Psiu Poético. Nos palcos do Psiu Aroldo se consolidou como performer e poeta, num ativismo artístico e cultural permanente que perdura há mais de três décadas.

Por sua poesia, em 2001 o nome do poeta ganhou verbete na Enciclopédia de Literatura Brasileira,[3] e é considerado um dos representantes da literatura afrodescendente no Brasil.[4]

Em 2007, Aroldo ajudou a fundar o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

Sua atuação cultural lhe rendeu diversos distintivos, como a mais alta condecoração do governo do estado de Minas Gerais, a Medalha da Inconfidência,[5] no ano de 2006. Em 2007, recebeu a medalha do Sesquicentenário de Montes Claros, onde também é cidadão honorário.[6] No ano seguinte, em 2008, seu nome foi atribuído ao Centro Acadêmico de Letras, da Universidade Estadual de Montes Claros.[7] Em 2010, sua obra Parangolivro foi selecionada para o vestibular dessa Universidade que, em 2017, honrou-lhe também com o título de Doutor Honoris Causa.[8]

Aroldo é pai de seis filhos, Amora, Amanda, Renata, Samuel, Lucas e Maluh.

Aroldo Pereira e a Geração Mimeógrafo[editar | editar código-fonte]

Aroldo, como outros integrantes da Geração mimeógrafo, emergiu na cena poética nacional dos anos 1980 através da poesia marginal, ou seja, do ponto de vista político-estético, dentro de uma corrente de contestação aos valores estabelecidos, ao autoritarismo e aos padrões de publicação literária, apelando para o mimeógrafo como forma de pôr em circulação suas produções rebeldes.

Seu primeiro livro mimeografado, Canto de encantar serpente, foi lançado através de um recital em 1981, e foi barrado pela diretoria do Centro Cultural por considerar a obra um atentado à moral e aos bons costumes da família.[9] Seguiu-se a esse a publicação alternativa de Azul geral (1981), que não foi liberado para vendas na Feira de Artes de Montes Claros.[10] Nos anos seguintes foram lançados Haikai quem quer (1984) e Amor inventado: doces pérolas púrpuras (1986), que mantiveram a tendência de publicação independente da geração mimeógrafo nos anos 1980. Situado no norte de Minas Gerais e distante dos centros editoriais do eixo Rio-São Paulo, a clandestinidade foi a única solução viável encontrada por Aroldo para a publicação de suas poesias rebeldes em plena vigência autoritária do regime civil-militar brasileiro (1964-1985).[11]

Poesia de Aroldo Pereira[editar | editar código-fonte]

Na década de 1990, Aroldo Pereira publicou seu primeiro livro em formato convecional, Cinema bumerangue (1997), que foi acompanhado de textos assinados por Lêdo Ivo[12] e Jorge Mautner.[13] Dez anos depois lançou Parangolivro (2007).

Do primeiro ao último livro, a poesia de Aroldo apresenta forte caráter autobiográfico e narcísico, ao tempo que busca ser representativa de uma coletividade. O poeta, além de ativista cultural, atua na cena pública como militante político que dá a sua poesia teor de denúncia às opressões e desigualdades sociais, econômicas e raciais.

Do ponto de vista estético seus escritos são marcados por versos livres, ausência de métrica e usos de neologismos. Seus poemas revelam constantemente o atrito do "eu versus mundo", típico de Carlos Drummond, que traduz as inquietações cotidianas/existenciais sem respeito à métrica. Sua marginalidade dialoga com Leminski, Chacal, Cacaso e Ana Cristina Cesar, que conformam a linguagem e o plano de fundo histórico de suas primeiras criações. O Tropicalismo também se faz presente nos seus versos, com destaque para os diálogos com Torquato Neto e Waly Salomão.[14]

Outras correntes estética do século XX, como a Geração beat e o rock and roll, constituem a poética de Aroldo Pereira, tendente à coloquialidade, ao humor, ao erotismo, à crítica e ao experimento rítmico que envolvem a banalidade do cotidiano. Ivana Ferrante Rebello[15] descreve eixos temáticos da poesia de Aroldo a partir desses critérios e influências. O poeta mantém, na contemporaneidade, a postura marginal que se traduz na relação de:

  • Sentimento de inadequação ao mundo (deboche, irreverência, extrema subjetividade, inquietação cotidiana, erotismo);
  • Crítica social (ativismo político, denúncia à opressão e desigualdade racial, reinvindicação à cidade, contestação da ordem socioeconômica capitalista e da moral vigente);
  • Subversão estética (neologismos, intertextualidade, metapoesia, irreverência, rock and roll, crítica à formalidade, às instituições).

Esse conjunto estabelece a matriz da poesia aroldiana: o eu-lírico situado à margem cultural, social, econômica, política e geográfica. Busca afirmar a arte como ferramenta de interação e transformação, simbolizada no Parangolé, avessa à arte com finalidade em si mesma.

Obras[editar | editar código-fonte]

Poesia[editar | editar código-fonte]

  • Canto de encantar serpente (1980)[16]
  • Azul geral (1981)[17]
  • Hai Kai quem quer (1984)[18]
  • Amor inventado: doces pérolas púrpuras (1986)[19]
  • Cinema bumerangue (1997)[20]
  • Parangolivro (2007)[21]

Participação em antologias[editar | editar código-fonte]

  • Antologia da moderna poesia brasileira. 1992.[22]
  • Signopse - a poesia na virada do século. 1995.[23]
  • Aroldo Pereira 5 poemas. 1998.[24]
  • Vozes do Psiu Poético. 1999.[25]
  • Cantária. 2000.[26]
  • O melhor da poesia brasileira - Minas Gerais. 2002.[27]
  • Trinta anos-luz: poetas celebram 30 anos de Psiu Poético. 2016.[28]

Referências

  1. Minas, Estado de (8 de outubro de 2022). «Psiu Poético transforma Montes Claros na 'Capital Nacional da Poesia'». Estado de Minas. Consultado em 6 de fevereiro de 2023 
  2. «Músico e professor da Unimontes apresenta CD autoral no Centro Cultural UFMG». Universidade Federal de Minas Gerais. 2017. Consultado em 5 de fevereiro de 2023 
  3. COUTINHO, Afrânio; SOUZA, José Afrânio de (2001). Enciclopédia de Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras. ISBN 8526007238 
  4. DUARTE, Eduardo de Assis (2014). Literatura e Afrodescendência no Brasil. antologia crítica. Belo Horizonte: UFMG. ISBN 9788570419040 
  5. «JusBrasil». Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais. Diário Oficial do Estado de Minas Gerais: 2. 21 de abril de 2006. Consultado em 6 de fevereiro de 2023 
  6. Gontijo, Marina (11 de agosto de 2022). «Projeto Arte da Palavra realiza programação literária em Uberlândia, Montes Claros e Poços de Caldas». Sesc em Minas. Consultado em 6 de fevereiro de 2023 
  7. PEREIRA, Aroldo. Parangolivro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2010.
  8. SÍMBOLO na defesa da cultura, poeta Aroldo Pereira recebe o título Doutor Honoris Causa da Unimontes. Disponível em: https://unimontes.br/simbolo-na-defesa-da-cultura-poeta-aroldo-pereira-recebe-o-titulo-doutor-honoris-causa-da-unimontes/. Acesso em: 13/01/2023.
  9. JOSÉ, Adair (28 ago. 1981). «Canto de irritar serpentes». Caderno Destaque. Jornal de Minas. 
  10. OLIVEIRA, Ilca Vieira de; LUCAS, Elcio (2014). Aroldo Pereira. In.: (DUARTE, Eduardo de Assis (Org). Literatura e Afrodescendência no Brasil. 3. Belo Horizonte: UFMG. p. 363-368. ISBN 9788570419040 
  11. OLIVEIRA, Ilca Vieira de; LUCAS, Elcio (2014). «Aroldo Pereira». Eduardo de Assis Duarte (Org). Literatura e Afrodescendência: antologia crítica. 3. Belo Horizonte: Editora UFMG. pp. 363–364. ISBN 9788570419040 
  12. IVO, Lêdo (1997). Claro cinema alegre. In: PEREIRA, Aroldo. Cinema Bumerangue. Belo Horizonte: Cuatiara. 
  13. MAUTNER, Jorge (1997). Partido do Kaos. In: PEREIRA, Aroldo. Cinema bumerangue. Belo Horizonte: Cuatiara. 
  14. OLIVEIRA, Ilca Vieira de; LUCAS, Elcio (2014). Aroldo Pereira. In.: DUARTE, Eduardo de Assis (Org). Literatura e Afrodescendência no Brasil. 3. Belo Horizonte: UFMG. pp. 364–374. ISBN 9788570419040 
  15. Versos e Parangolés: A poesia marginal de Aroldo Pereira. Londrina, Volume 12, p. 301-315, jan. 2014
  16. PEREIRA, Aroldo (1980). Canto de encantar serpente. Montes Claros: Mimeografado. 
  17. PEREIRA, Aroldo (1981). Azul geral. Montes Claros: Mimeografado. 
  18. PEREIRA, Aroldo (1984). Haikai quem quer. Montes Claros: Mimeografado. 
  19. PEREIRA, Aroldo (1986). Amor inventado: doces pérolas púrpuras. Montes Claros: Mimeografado. 
  20. PEREIRA, Aroldo (1997). Cinema bumerangue. Belo Horizonte: Cuatiara. 
  21. PEREIRA, Aroldo (2007). Parangolivro. Rio de Janeiro: 7Letras. 92 páginas. ISBN 9788575777114 
  22. Organização: Olga Savary. Rioarte/hipocampo, 1992.
  23. Organização: Wagner Torres. Plurart's, 1995.
  24. MACHADO, Jovino (1998). Disco. Belo Horizonte: Orobó. pp. 41–45. 
  25. TORRES, Wagner (Org). (1999). Vozes do Psiu Poético. Belo Horizonte: Plurarts. 
  26. Organização: Wagner Torres. Plurart's, 2000.
  27. Organização: Sérgio Alves Peixoto; Gilberto Mendonça Teles. Sucesso Pocket, 2002.
  28. Organização: Aroldo Pereira; Luis Turiba; Wagner Merije. São Paulo: Aquarela Brasileira Livros, 2016.