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Micologia Forense[editar | editar código-fonte]

As Ciências Forenses compreendem um grupo de áreas que apresentam como objetivo principal auxiliar na elucidação de investigações criminais. As ciências forenses englobam dois componentes fundamentais, a justiça e a ciência. A perícia criminal exerce uma função de extrema importância, já que é por meio de laudos periciais que muitas vezes o réu pode ser inocentado ou condenado. Dentre as áreas que estão inseridas nesse grupo pode-se citar a genética forense, entomologia forense, microbiologia forense, micologia forense, entre outras. [1]

A micologia é o estudo dos fungos em geral e quando evidências micológicas são utilizadas para fins de investigação criminal é chamado de micologia forense. Os fungos são organismos que não conseguem adquirir seu próprio alimento, sendo assim, necessitam de outros organismos sejam eles vivos ou mortos. Como os fungos estão presentes nos organismos em decomposição, já que fornecem nutrientes suficientes para seu desenvolvimento, também podem servir como ferramenta para auxiliar na elucidação de casos criminais. A micologia forense é uma área relativamente nova se comparada com outras áreas, e apesar dos fungos serem pouco estudados na área forense, também possuem sua importância para a elucidação de casos criminais, como na descoberta de locais de crimes, como complemento quando há escassez de provas e no intervalo post mortem. [2] Alguns fungos chamados de pós putrefação podem ser indicadores de covas clandestinas e identificados através dos basidiomas. Além disso, esporos e seus remanescentes podem servir para elucidar diversos casos criminais. [3]

A dispersão fúngica se dá por meio dos esporos, e apesar de alguns fungos apresentarem dispersão através de esporângios, a grande maioria se da por dispersão passiva, ou seja, dispersos por agentes externos como vento, sementes, chuva, insetos, entre outros. [2] Por apresentarem uma certa especificidade em sua distribuição, produção de esporos sazonais, entre outros fatores, há um grande potencial para a utilização dos fungos em perícias criminais. [4]

Aplicação em casos forenses[editar | editar código-fonte]

Um dos primeiros casos relatados para a determinar o IPM (intervalo post mortem) utilizando fungos foi em 1982, através de um trabalho publicado por Van de Voorde e Van Dijck. A polícia belga localizou o corpo de uma mulher em sua casa com sinais de facadas. De acordo com o estado de putrefação e através das colônias fúngicas encontradas no cadáver, foi estipulado que o crime ocorrera semanas atrás. Para determinar o IPM, os pesquisadores decidiram recriar as mesmas condições em que encontraram os fungos presentes no corpo. A temperatura da casa estava a 12°C e era controlada por um termostato. Os fungos foram cultivados a 12°C, mesma temperatura presente na casa. Deduziu se então através da análise do crescimento fúngico que a mulher estava morta há pelo menos 18 dias. [5]

Outro caso documentado que mostra a importância da micologia forense ocorreu no Japão. Um homem de 71 anos caiu em um poço presente em seu jardim. O corpo estava parcialmente imerso na água e a temperatura média do poço estava entre 12°C a 13,8°C. O corpo apresentava ausência de insetos quando foi localizado, as condições ambientais podem ser um dos fatores que contribuiu para essa ausência, pois não são ideais para o seu desenvolvimento. Com isso, os fungos que estavam colonizando o cadáver forem coletados e identificados como Penicillium sp. e Aspergillus terreus. A informação de que o homem havia sido visto pela última vez há 12 dias e com o tempo de colonização dos fungos identificados sendo geralmente de 3 a 7 dias, foi estipulado que ele estava morto aproximadamente há 10 dias. [6]

A intoxicação pode ser tanto acidental como deliberada, podendo ser fatal, sendo muito importante quando há casos de intoxicação fúngica de proteger o conteúdo estomacal/intestinal e se possível os restos do cogumelo ingerido. [2] Um caso relata que um homem participou de uma cerimônia xamânica em que os participantes consumiam Ayahuasca (infusão de plantas sul-americanas) e 4 dias depois o homem morreu. Foi informado às autoridades que o homem tinha o hábito de consumir cogumelos alucinógenos e foi encontrado em seus pertences um cogumelo identificado como Psilocybe semilanceata. Através da análise do conteúdo estomacal, foi constatado além dos esporos do fungo em questão outras 2 evidências, sendo pólen de cannabis e semente da papoula do ópio. Com isso, a acusação do xamã foi reduzida de assassinato para posse de drogas. [7]

Um caso em que foi possível que os esporos fúngicos fossem usados para complemento de evidência criminal é referente a um homem que matou seu sócio. O atirador se escondeu atrás de um tronco que estava infectado por um fungo. Como havia presença de serapilheira e galhos secos o homem acabou tendo contato com os esporos do fungo. Através da análise dos pertences e do carro do atirador foram identificados os mesmos esporos que estavam presentes no ambiente em que o atirador estava escondido. Essas evidências foram importantes para a elucidação do crime. [2]

Os fungos pós putrefação e fungos de amônia são fungos que fazem a utilização de compostos nitrogenados liberados durante a decomposição. Esses fungos apresentam potencial tanto para atuar como marcadores de covas clandestinas como para estimar o intervalo pós sepultamento. Esses fungos apresentam uma sucessão de frutificação, ou seja, um conjunto de fungos substitui outro. Divididos em estágio inicial e estágio tardio, esses fungos apresentam tempos diferentes em sua colonização. Os iniciais geralmente apresentam uma colonização de 1 a 10 meses após a sua fertilização no solo, já os de estágio tardio podem frutificar de 1 a 10 anos. A base para determinar a estimativa pós sepultamento se dá tanto pelo tempo que a sucessão fúngica ocorre como pela concentração de nitrogênio liberado durante a decomposição cadavérica. [8] [9]

Referências

  1. FACHONE, Patrícia; VELHO, Léa. Ciência forense: interseção justiça, ciência e tecnologia. Revista Tecnologia e Sociedade, v. 3, n. 4, 2007.
  2. a b c d HAWKSWORTH, David L.; WILTSHIRE, Patricia EJ. Forensic mycology: the use of fungi in criminal investigations. Forensic Science International, v. 206, n. 1-3, p. 1-11, 2011.
  3. JASIM, Neeran O. Forensic Mycology: Fungal Evidences in Forensic Analysis: A Review. Journal of Pharmaceutical Quality Assurance, v. 12, n. 2, p. 100-103, 2021.
  4. GOEBEL, Cristine Souza et al. Análise micológica durante a decomposição cadavérica. Rev. Ciênc. Méd. Biol., v.12, n.1, p.28-32, 2013.
  5. ILLANA-ESTEBAN, Carlos et al. Micología forense. Bol. Sol. Micol. Madrid (37)(Recuperado de: https://www. researchgate. net/profile/Carlos_Illana/publication/286453325_Micologia_forense/links/566a965c08ae62b05 f02baf4/Micologia-forense. pdf), 2013.
  6. HITOSUGI, Masahito et al. Fungi can be a useful forensic tool. Legal Medicine, v. 8, n. 4, p. 240-242, 2006.
  7. HAWKSWORTH, David L.; WILTSHIRE, Patricia EJ. Forensic mycology: current perspectives. Research and Reports in Forensic Medical Science, v. 5, p. 75-83, 2015.
  8. CARTER, David O.; TIBBETT, Mark. Taphonomic mycota: fungi with forensic potential. Journal of Forensic Science, v. 48, n. 1, p. 1-4, 2003
  9. CARTER, David O.; TIBBETT, Mark. Mushrooms and taphonomy: the fungi that mark woodland graves. Mycologist, v. 17, n. 1, p. 20-24, 2003.