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Usuário(a):RBiazzi/Solutreano

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O Solutreano é uma cultura pré-histórica que se desenvolveu na França e na Península Ibérica durante a segunda metade do Paleolítico Superior, de 23.000 a 18.000 anos DC. Seu nome vem do sítio pré-histórico de Solutré, em Saône-et-Loire. É precedido pelo Gravetiano (31.000 a 22.000 DC). O Magdaleniano (17.000 a 15.000) segue o Solutreano.

RBiazzi/Solutreano (Europa)
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RBiazzi/Solutreano (Europa)

No período do Paleolítico Superior Europeu, o complexo tecnológico Solutreano emerge como um dos fenômenos culturais mais únicos e intrigantes. Geograficamente confinado ao sudoeste da França e à Península Ibérica, e ocorrendo durante um intervalo cronológico moderadamente curto (c. 25-19 ka cal AP), que corresponde aproximadamente ao curso do Último Máximo Glacial (LGM), representa uma clara ruptura em relação aos complexos tecnológicos pan-europeus anteriores.

Bastante excepcional, a característica que isola mais visivelmente o Solutreano entre a variabilidade tecno-tipológica do Pleistoceno Superior é o conjunto de inovações tecnológicas desenvolvidas para a fabricação de armaduras líticas usando retoque plano invasivo unifacial e bifacial.

Devido à sua singularidade, os utensílios Solutreano receberam muita atenção ao longo do tempo. A sua caracterização tecno-tipológica tem sido o princípio norteador de alguns dos tópicos Solutreanos mais debatidos, como as origens tecno-tipológicas em si (por exemplo, influência externa vs. desenvolvimento nativo); a possível expansão demográfica e cultural em direção à América do Norte durante a LGM; ou a organização cronológica interna do complexo tecnológico (por exemplo, subdivisões de estágios vs. variabilidade funcional no Norte da Península Ibérica).

Em um estudo sobre a transição das formas culturais na França por volta de 23ka cal AP, Boccaccio[1] analisou como que devem ter acontecido as interações entre as culturas humanas da região. A transição Solutreana para Badegouliana não apresenta resquícios transicionais de tecnologia. Já a transição Solutreana para um pequeno grupo conhecido como Salpetriana apresenta tanto rupturas quanto continuidades tecnológicas. Assim, ainda há, atualmente, dificuldades em definir a relação entre os diferentes grupos culturais que existiam junto da cultura Solutreana, como a Badegouliana e a Salpetriana. Os autores consideram que um trabalho extenso deva ser realizado para fornecer novos dados arqueológicos, análises tecnológicas e datação de vestígios. Isto também ajudará a compreender a evolução de sociedades do Paleolítico que carregaram pontas durante a LGM na borda noroeste do mar Mediterrâneo.

Arte[editar | editar código-fonte]

O Solutreano, uma fase do Paleolítico Superior, é conhecido por suas distintas manifestações artísticas. A arte Solutreana é principalmente caracterizada pela produção de ferramentas líticas finamente trabalhadas e pela arte rupestre. Os instrumentos líticos incluem pontas foliáceas com retoques bifaciais sofisticados, demonstrando um alto nível de habilidade técnica.

Em relação à arte rupestre, os Solutreanos produziram gravuras e pinturas em cavernas, muitas vezes representando figuras de animais como cavalos e cervos. Essas representações são notáveis pela sua precisão e detalhamento, refletindo uma observação cuidadosa da fauna da época. Além disso, os motivos geométricos e abstratos são também uma característica marcante, sugerindo uma dimensão simbólica ou ritualística na sua produção artística.

As práticas artísticas dos Solutreanos são vistas como um reflexo da complexidade cultural e das habilidades cognitivas avançadas desses grupos humanos, evidenciando uma profunda ligação com o seu meio ambiente e uma capacidade para a expressão simbólica.[2]

A arte parietal (no estudo da arte pré-histórica, de maneira geral, o conjunto de obras realizado pelo Homem em paredes de grutas/cavernas e abrigos sob rochas) solutreana é conhecida notadamente pelo friso esculpido de Roc-de-Sers e uma parte das pinturas da Caverna de Cosquer. A arte rupestre do vale do Côa, em Portugal, está igualmente ligada ao Solutreano.

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Uma datação por carbono 14 sob os materiais escavados de Puits, na caverna de Lascaux,[3] tenderia a envelhecer as três datações anteriores (17 000 anos atrás), com uma idade aproximada de 18 900 anos, o que atribui Lascaux ao Solutreano. No entanto, não existem objetos Solutreanos na única camada arqueológica da caverna, mas apenas numerosos objetos do período Madgaleniano II.

Na caverna do Moro, Espanha, também encontra-se arte Solutreana, a qual se tornou um ponto-chave para entender o fenômeno da arte rupestre no sul da Península Ibérica. A descoberta de gravuras de cavalos Solutreanos em 1995 confirmou a presença de arte do Paleolítico Superior na região, particularmente na área do Campo de Gibraltar e da antiga lagoa La Janda, na província de Cádiz, Espanha.

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Os padrões de pontos encontrados na caverna Moro são comparáveis a outros sítios da região, como nas cavernas Estrellas, Palomas-I e Palomas-IV, que também apresentam padrões de pontos regulares considerados do Paleolítico Superior, presumivelmente Solutreanos. Além disso, não há arte explícita pós-paleolítica na caverna Moro, o que a torna uma exceção notável na região, onde a maioria dos sítios conhecidos compartilha espaço com figuras esquemáticas.

Para melhorar o estudo da arte rupestre, na pesquisa que se deu na região, foram utilizados métodos digitais de registro, como fotogrametria e ortofotomosaicos. Isso levou à modelagem espacial do abrigo rochoso, à microtopografia dos painéis e à descoberta de numerosos motivos inéditos em todo o sítio. Foram identificados padrões pintados de pontos (espirais/círculos concêntricos, alinhamentos e agregações) relacionados a um grande cavalo no andar inferior da caverna, sugerindo uma cronologia do final do Solutreano/início do Magdaleniano, com base no tamanho e formato dos pontos, arranjo e composição, comparação com outros sítios e grau de degradação.[4]

Práticas rituais[editar | editar código-fonte]

Quanto às práticas rituais, existe, na margem esquerda da Ribeira da Casqueira (também conhecida por Ribeira da Caranguejeira e do Sirol), em Portugal, o chamado “Abrigo do Lagar Velho”, onde foi encontrado um depósito conservado no interior de uma reentrância profunda da parte de trás do abrigo. Com cerca de 60 cm de espessura, este depósito pendurado cerca de 2 m acima da superfície atual do solo contém vestígios estratigrafados de ocupações do Proto-Solutreano, do Solutrano inferior e do Solutreano médio. A terraplanagem expôs uma superfície de ocupação do Paleolítico Superior inicial. Ainda, junto à parede na extremidade leste, foi descoberta e escavada uma sepultura infantil. O esqueleto encontrava-se em conexão anatômica, com exceção da cabeça, fragmentada pela terraplanagem, e do antebraço, mão e pé direitos, cujos ossos se encontravam soltos no interior de um buraco que perturbou a estreita faixa de sedimentos que separava o corpo da parede. Os ossos da criança e as terras situadas no interior da fossa sepulcral encontravam-se tingidas de ocre vermelho. Na zona do pescoço foi recolhida uma concha perfurada de Littorina obtusata. Ao longo do ombro e braço direito e junto aos pés, o contorno da fossa sepulcral encontrava-se marcado por uma série de ossos de herbívoro de médio porte que poderão ter constituído oferendas funerárias. A anatomia do maxilar inferior e o estado de desenvolvimento da dentição indicam que se trata de um indivíduo de tipo moderno com uma idade estimada em cerca de 4 anos. Esta se trataria da mais antiga ocupação identificada até o momento no Abrigo do Lagar Velho, em uma altura na qual o local teria sido utilizado como espaço funerário, datado de há cerca de 29 000 anos, o que o enquadraria como inaugurado no período Gravetiano, o anterior ao Solutreano. [5]

Estilo de Vida[editar | editar código-fonte]

Os habitantes do período Solutreano eram principalmente caçadores-coletores, vivendo em grupos nômades ou semi-nômades. A ocupação dos sítios variava conforme as estações do ano e a disponibilidade de recursos naturais. Em locais como o Vale Boi, em Portugal, as ocupações solutrenses se distribuíam por diferentes áreas, incluindo terraços e abrigos, que forneciam proteção e uma base para atividades diárias.

A organização social dos grupos solutrenses não é completamente conhecida, mas presume-se que eles viviam em pequenas bandas familiares. A divisão do trabalho era provavelmente baseada em gênero e idade, com homens caçando grandes mamíferos e mulheres e crianças coletando plantas e realizando atividades domésticas.

Hábitos alimentares[editar | editar código-fonte]

Quanto aos hábitos alimentares dos solutrenses, entende-se que esta era variada e baseada nos recursos disponíveis em seu entorno. Incluía a caça de grandes mamíferos, como cavalos, veados e outros ungulados; a pesca e coleta de mariscos, como se observa em sítios costeiros como Vale Boi; e a coleta de plantas e frutos e nozes, a qual, embora menos evidente nos registros arqueológicos, é bastante provável.[6]

No Vale Boi, as camadas solutrenses contêm uma abundância de restos faunísticos, demonstrando a importância da caça e da pesca. Os ossos de animais encontrados indicam que esses grupos eram caçadores eficientes, capazes de abater grandes presas e explorar intensivamente os recursos disponíveis.

Os solutrenses demonstraram uma capacidade notável de adaptação ao ambiente, utilizando de maneira sustentável os recursos naturais. Eles desenvolveram estratégias eficazes de caça e coleta que lhes permitiram sobreviver durante o Último Máximo Glacial, uma época de condições climáticas adversas.

Essa combinação de uma dieta variada e uma tecnologia avançada auxiliou os solutrenses a prosperar em uma época de grandes desafios ambientais.

Ambiente e Fauna[editar | editar código-fonte]

Ambiente[editar | editar código-fonte]

A Península Ibérica é um local perfeito para se analisar as relações entre ambiente, clima e comportamento humano por conta da sua variedade geográfica e climática. Além disso, o comportamento espacial que existia no modelo caça-coleta da cultura Solutreana foi moldado conforme as deformidades do terreno e a disponibilidade de recursos disponíveis no entorno.

Distribuição dos potenciais tipos de vegetação reconstruídos na Península Ibérica com base na temperatura média anual simulada e precipitação para PI, LGM e H1. A vegetação é agrupada em tipos arbóreos para as condições climáticas de (a) PI, (b) LGM (c) H1 e tipos não arbóreos para as condições climáticas de (d) PI, (e) LGM, (f) H1. A distribuição de áreas com solo descoberto também é mostrada para as condições climáticas de (g) PI, (h) LGM e (i) H1.

Por conta do período Solutrense abranger principalmente a Last Glacial Maximum (LGM, O Último Máximo Glacial refere-se ao período correspondente à maior extensão dos mantos de gelo durante o último período glacial, há aproximadamente 20000 anos), ainda há certa incerteza quanto à caracterização climática do período. Por um lado, há a ideia de que, quando as mudanças climáticas ocorreram, houve um aumento na predominância de climas frio e seco, com desenvolvimento de vegetação semi-árida. Por outro lado, esta é uma visão clássica e inconsciente sobre como seria o clima, e, logo, estudos mais recentes indicam que talvez a LGM possa ter sido mais quente e úmida em várias regiões da Ibérica do que em muitos eventos do Pleistoceno Tardio*.[7] Apesar disso, a questão permanece em discussão, com os resultados obtidos para a interpretação sendo dependentes do local da coleta de dados e da quantidade de fatores considerados na elaboração do estudo. A exemplo, certos estudos que não consideraram a temperatura superficial dos oceanos* indicaram que, durante o período, pudesse ter acontecido um aumento das taxas de precipitação e, logo, da umidade na costa do Mediterrâneo; enquanto estudos que abarcaram maior quantidade de fatores talvez possam ter obtido resultados que se aproximem mais da representação real do período.

Para a situação na qual se considera que de fato o período foi marcado por altas temperaturas e clima seco, a escassez da disponibilidade de água durante o verão pode ter causado uma degradação e um crescimento limitado das plantas, em especial na região sul da península. Desta forma, ocorreria um retraimento da vegetação, limitando a acessibilidade a fontes de alimento por outros animais e plantas dependentes daquelas. Ademais, por meio de reconstruções da paleovegetação* do período, nota-se um aumento da vegetação do tipo estepe em vez da do tipo arbóreo, além de um aumento de solos descobertos, o que fortaleceriam a hipótese de desertificação do período.

Por outro lado, parece que particularmente a região sul da Península esteve mais sujeita a drásticas mudanças ambientais durante o período de condições climáticas fria e seca do período. Tal fato pode ser analisado pelas sequências de pólen no assoalho marinho do sul da Península Ibérica, que revelam uma mudança para táxons de estepe durante o primeiro semestre. Essas mudanças climáticas não causaram um intervalo temporal na ocupação da parcela do norte, o que se imagina que seja por conta de uma maior resiliência das plantas da região a mudanças climáticas. Observa-se na imagem abaixo essas condições conforme os diferentes períodos.[8]

Num estudo sobre o impacto da variabilidade climática no padrão de ocupação humana durante a LGM, Burke et. al[9] verificaram que as médias das temperaturas e precipitações anuais parecem não ter afetado significativamente a distribuição humana na península. Por meio do Índice Padronizado de Evapotranspiração de Precipitação (Standard Precipitation Index (SPI)), puderam criar um modelo que medisse as distribuições de chuvas na Península Ibérica durante o período solutreano. A partir de seus resultados, o modelo é consistente com a hipótese de que a Península Ibérica tenha funcionado como um refúgio para os hominínios durante as condições glaciais mais extremas. Em especial, é importante notar que este modelo é compatível com o modelo de distribuição da vegetação observado anteriormente.

Distribuição espacial e frequência de valores de SPI extremamente secos (‘SPIarid’). Cores quentes indicam maior frequência de ocorrência de anomalias de precipitação levando a eventos de seca, as cores frias indicam uma frequência mais baixa.

Adiante, comentam sobre a importância da seca enquanto mecanismo de influência da distribuição da vida humana. Secas afetam a produtividade através de seus efeitos no crescimento da vegetação e na biomassa dos sistemas ecológicos, afetando a capacidade de prever os recursos que estariam disponíveis num processo de migração — uma situação potencialmente fatal, dados os custos associados à mobilidade para caçadores-coletores. Desta forma, prevê-se que as regiões afetadas por secas mais frequentemente contribuíram para a falha de oferecer suporte à persistência da população humana, durante a LGM, devido a níveis inaceitavelmente elevados de risco ecológico. Observa-se na imagem abaixo as distribuições de chuva nas diferentes localidades.

Desta forma, imagina-se que a península tenha funcionado como um ambiente relativamente hospitaleiro ao oferecer refúgio às populações durante a LGM, justamente por possuir uma paisagem espacialmente heterogênea em termos de variabilidade climática. Ademais, essa heterogeneidade, por sua vez, provavelmente criou descontinuidades espaciais na distribuição das populações humanas, as quais são visíveis no registro arqueológico. Essas descontinuidades criariam, então, lacunas tanto no fluxo gênico quanto cultural na própria península, o que poderia explicar as diferenças regionais e tipológicas entre as composições solutreanas.

Fauna[editar | editar código-fonte]

Animais como bovino de grande porte (bisões), veado-vermelho, íbex, corça, cavalo, javali, camurça e rena faziam parte do dia a dia da cultura solutreana. Em especial, merecem destaque os veado-vermelho, íbex, camurça e cavalo, que possuíam participação significativa em sua dieta. Num estudo recente de 2018, Andrés-Herrero, Becker e Weniger,[7] por meio da técnica de modelagem preditiva de distribuição de espécies* (Species distribution modelling*), puderam fazer essas inferências com base neste modelo probabilístico e descobriram o veado-vermelho foi o mais caçado na maioria dos sítios que investigaram. Nos que não foi o primeiro, foi o segundo em 75% dos casos, demonstrando a importância significativa desses animais na dieta dessa cultura. Não obstante, o íbex também foi muito caçado, estando entre as primárias opções em muitos sítios analisados pelos pesquisadores. Já para os cavalos, sua parcela na dieta também é significativa, estando entre as primeiras opções em diversos sítios.

Em relação aos animais menos caçados, como a corça, a explicação apresentada pelos pesquisadores é de que o animal, de fato, parece nunca ter tido uma real importância na dieta para caçadores-coletores. Ademais, sua baixa importância ainda pode ser reforçada no fato de que corças não aparecem nas pinturas nas cavernas, enquanto outras espécies mais caçadas aparecem em representações ou gravuras, como os grandes bovinos, cervos, íbexes, cavalos e renas.

Ainda conforme o mesmo estudo, parece haver uma relação de preferência entre os animais caçados a depender se se observa a região norte ou sul da península. Essa preferência, mais do que considerar as individualidades dos diferentes grupos de cada região, deve-se considerar também a heterogeneidade geográfica e da flora das respectivas localidades, que também afetam a distribuição dos animais.

Genética[editar | editar código-fonte]

Até o presente momento, existe significativa escassez de material genético sequenciado referente aos solutrenses. Devido a esse empecilho, é inviável saber a extensão da similitude hereditária da cultura em questão com os outros grupos humanos do Paleolítico Superior. Porém, é aceito na comunidade científica que a cultura Solutreana adveio da Gravetiana e, consequentemente, da Aurignaciana. Além disso, sabe-se que os indivíduos da cultura Magdaleniana, do período posterior ao LGM, originaram-se dos solutrenses. Ademais, está associado a essas povos ascendentes e descendente os componentes genéticos dos aglomerados Fournol e GoyetQ (e variações relacionadas). Os DNAs conectados à cultura Solutreana disponíveis para análise são dos indivíduos Piage II (23 mil anos, sudoeste da França) e La Riera (21 mil anos, norte da Espanha) e esses apresentam similaridade com os genomas de indivíduos das outras culturas citadas (como El Mirón, dos Magdalenianos).[10]

Os estudos no campo da genética têm grande potencial de promover maior entendimento científico sobre a dispersão dos povos do Paleolítico Superior, porém, no estágio atual das pesquisas, os resultados geraram descobertas conflituosas. A comparação de frequências genéticas entre as populações atuais indica evidências que corroboram com a hipótese da migração solutrense para as Américas (pelo cruzamento do oceano Atlântico), como a verificação da presença de um haplogrupo mitocondrial X muito comum na população europeia em indígenas do nordeste da América do Norte.

Entretanto esse haplogrupo tem versões diferentes, sugerindo origens diferentes também. Em europeus, as mais comuns são a X2b, X2c e X2d, ao passo que, em nativos americanos, são encontradas a versão X2a e a X2g, essa segunda mais raramente, ambas exclusivas dos ameríndios. A aceitação do haplogrupo X2 como ancestral do X2a é fortemente criticada pelos geneticistas.[11][12] Em julho de 1996, foi encontrado um esqueleto datado de 8,5 mil anos no Rio Columbia (noroeste da América do Norte, lado oposto da suposta entrada europeia), ele foi nomeado de Kennewick e acabou envolvido em lutas judiciais pela sua posse.[13] O mapeamento de seu genoma apresentou mais similaridade com os nativos da Sibéria do que com os da Europa, grande agravante contra a defesa da entrada pelo oceano Atlântico, principalmente pois o sequenciamento de Kennewick forneceu o DNA mitocondrial mais basal já encontrado do haplogrupo X2a. Além disso, a datação do surgimento da variação X2a - particular das Américas - é próxima da dos haplogrupos A, B, C e D, comuns em nativos americanos. Esses outros quatro haplogrupos são habitualmente encontrados na Ásia, o que sugere que eles provavelmente vieram na mesma migração.

Em contrapartida, outro dado que fortalece a entrada solutreana nas Américas é a alta frequência do haplogrupo R1 do cromossomo Y presente nos europeus e nos ameríndios. Porém, a credibilidade desse fato como evidência é questionada pela possibilidade de miscigenação recente entre esses conjuntos humanos. Em suma, ao se tratar da contribuição do estudo dos genes para compreensão da ocupação das Américas, os resultados genéticos apontam preponderantemente para a origem asiática. É importante salientar que o saber científico é constituído pelo conjunto da análise de diferentes áreas e a genética não representa hierarquia nisso.






Antigo[editar | editar código-fonte]

A indústria Solutreana fabricação de ferramentas de sílex relativamente avançado do Paleolítico Superior do Gravetciano Final, de cerca de 22.000 a 17.000 AP . Sítios Solutreanos foram encontrados na atual França, Espanha e Portugal.

Detalhes[editar | editar código-fonte]

O termo Solutrean vem do sítio-tipo "Cros du Charnier", datado de cerca de 21.000 anos atrás e localizado em Solutré, no centro-leste da França, perto de Mâcon. O sítio A Rocha de Solutré foi descoberto em 1866 pelo geólogo e paleontólogo francês Henry Testot-Ferry. O lugar agora é preservado como Parque arqueológico e botânico de Solutré.

A indústria foi nomeada por Gabriel de Mortillet para descrever a segunda fase do seu sistema de cronologia de caverna, seguindo o Mousteriano, e considerou-a sincronizada com a terceira divisão do período Quaternário. [14] As descobertas da época incluem ferramentas, beads ornamentais e alfinetes de osso, a assim como arte pré-histórica.

A fabricação de ferramentas Solutreanas empregava técnicas nunca vistas antes e não redescobertas há milênios. Tais ferramentas têm pontos bifaciais trabalhados de maneira relativamente fina, feitos com percussão de redução lítica e descamação por pressão, em vez de moldagem por flintknapping. Tal técnica era realizada com bastões de chifre, bastões de madeira de lei e martelos de pedra macia. Este método permitia o trabalho com delicadas lascas de sílex para fazer projéteis leves e até mesmo elaborar pontas de flechas farpadas e pontiagudas. Pontas de lança grandes e finas; raspadores com borda não lateral, mas na extremidade; facas e serras de sílex, mas todas ainda lascadas, não polidas; assim como pontas de lança longas, que também são instrumentos característicos desta indústria. Osso e chifre também foram usados. [14]

O Solutreano pode ser visto como um estágio de transição entre os instrumentos de sílex dos Mousterianos e os instrumentos de osso das épocas Magdalenianas. Os achados da fauna incluem cavalos, renas, íbex, mamutes, leões das cavernas, rinocerontes, ursos e auroques. [15] Descobertas solutreanas também foram feitas nas cavernas de Les Eyzies e fr, e em Lower Beds of Creswell Crags em Derbyshire, Inglaterra (Proto-Solutreano). [14] A indústria apareceu pela primeira vez no que hoje é a Espanha [carece de fontes?], e desaparece do registro arqueológico por volta de 17.000 AP.

Hipótese Solutreana na arqueologia norte-americana[editar | editar código-fonte]

A hipótese Solutreana argumenta que os povos da Europa podem ter estado entre os primeiros colonizadores das Américas. [16][17] Seus notáveis proponentes recentes incluem Dennis Stanford, do Smithsonian Institution, e Bruce Bradley, da Universidade de Exeter. [18] Esta hipótese contrasta com o consenso arqueológico dominante de que o continente norte-americano foi povoado pela primeira vez por pessoas da Ásia, seja pela ponte terrestre de Bering (ou seja, Beringia ) há pelo menos 13.500 anos, [19] ou por viagens marítimas ao longo da costa do Pacífico, ou por ambos. A ideia de uma ligação Clovis-Solutreana permanece controversa e não goza de ampla aceitação. A hipótese é desafiada por grandes lacunas no tempo entre a cultura Clovis e as eras Solutreanas, a falta de evidências da navegação marítima Solutreana, a falta de características e ferramentas Solutreanas específicas na tecnologia Clovis, as dificuldades da rota e outras questões. [20] [21]

Em 2014, o DNA autossômico de uma criança do sexo masculino ( Anzick-1 ) de um depósito de 12.500 anos em Montana foi sequenciado. [22] O esqueleto foi encontrado em estreita associação com vários artefatos de Clovis. As comparações mostraram fortes afinidades com DNA de sítios siberianos e virtualmente descartaram qualquer afinidade próxima do Anzick-1 com fontes europeias. O DNA da amostra Anzick-1 mostrou fortes afinidades com amostras de populações nativas americanas, o que indicou que as amostras derivam de uma população antiga que viveu na Sibéria ou perto dela, a população Mal'ta do Paleolítico Superior. [23]

Características físicas[editar | editar código-fonte]

O exame dos restos físicos do período Solutreano determinou que eles eram de um tipo ligeiramente mais gracioso do que a cultura gravetiana anterior. Os machos eram bastante altos, com alguns esqueletos chegando a 179 cm de altura. [24] [25] [26] O volume 4 da Revista Portuguesa de Arqueologia de 2001 examinou uma mulher Solutreana cujos restos físicos são descritos como "possuindo elementos pós-cranianos que derivam de um indivíduo relativamente pequeno e grácil". [27] Os dentes dos indivíduos Solutreanos são descritos como sendo semelhantes em aparência aos pertencentes ao povo Gravettian. [28]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Gravetiano
Solutreano
22,000–17,000 BP
Sucedido por
Magdaleniano

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Boccaccio, Guillaume (20 de abril de 2021). «The Salpetrian culture toward the end of the Solutrean around 23 ka cal BP in the Rhône Valley (France)». Quaternary International. 581-582: 84-98. ISSN 1040-6182. doi:10.1016/j.quaint.2020.12.005. Consultado em 25 de junho de 2024 
  2. García-Alonso, Beatriz; Fernández, Mario M.; Pérez-Diez, Silvia; Maguregui, Maite (outubro de 2022). «A study of the artistic corpus of red cave paintings in El Buxu cave (Cangas de Onís, Asturias, Spain)». Journal of Archaeological Science: Reports. 45. 103636 páginas. ISSN 2352-409X. doi:10.1016/j.jasrep.2022.103636. Consultado em 25 de junho de 2024 
  3. Ministério da Cultura francês (ed.). «Datation des figures de Lascaux». archeologie.culture.fr (em francês). Consultado em 25 de junho de 2024 .
  4. Barcia-García, Camilo; Mas-Cornellà, Martí; Castillejo, Alfredo M. M.; Pardo, Jesús F. J. (fevereiro de 2023). «Dots, circles and horses: New rock art evidence through image-based digital methods in Moro Cave (Tarifa, Spain)». Journal of Archaeological Science: Reports. 47. 103826 páginas. ISSN 2352-409X. doi:10.1016/j.jasrep.2023.103826. Consultado em 25 de junho de 2024 
  5. Portal do Arqueólogo (ed.). «Abrigo do Lagar Velho - Lapedo». patrimoniocultural.gov.pt. Consultado em 25 de junho de 2024 .
  6. Cascalheira, João (2013). «O solutrense em Portugal: Novidades do século XXI» (PDF). Associação dos Arqueólogos Portugueses. Arqueologia em Portugal 150 anos. ISBN 978-972-9451-52-2. Consultado em 25 de junho de 2024 
  7. a b Andrés-Herrero, María; Becker, Daniel; Weniger, Gerd-Ch (20 de agosto de 2018). «Reconstruction of LGM faunal patterns using Species Distribution Modelling. The archaeological record of the Solutrean in Iberia». Quaternary International. 485: 199-208. ISSN 1040-6182. doi:10.1016/j.quaint.2017.10.042. Consultado em 25 de junho de 2024 
  8. Ludwig, Patrick; Shao, Yaping; Kehl, Martin; Weniger, Gerd-Christian (novembro de 2018). «The Last Glacial Maximum and Heinrich event I on the Iberian Peninsula: A regional climate modelling study for understanding human settlement patterns». Global and Planetary Change. 170: 34-47. ISSN 0921-8181. doi:10.1016/j.gloplacha.2018.08.006. Consultado em 25 de junho de 2024 
  9. Burke, Ariane; Levavasseur, Guillaume; James, Patrick M. A.; Guiducci, Dario; Izquierdo, Manuel A.; Bourgeon, Lauriane; Kageyama, Masa; Ramstein, Gilles; Vrac, Mathieu (agosto de 2014). «Exploring the impact of climate variability during the Last Glacial Maximum on the pattern of human occupation of Iberia». Journal of Human Evolution. 73: 35-46. ISSN 0047-2484. doi:10.1016/j.jhevol.2014.06.003. Consultado em 25 de junho de 2024 
  10. Posth, Cosimo; Yu, He; Ghalichi, Ayshin (1 de março de 2023). «Palaeogenomics of Upper Palaeolithic to Neolithic European hunter-gatherers». Nature. 615: 117–126. ISSN 1476-4687. doi:10.1038/s41586-023-05726-0. Consultado em 25 de junho de 2024 
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  14. a b c Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
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Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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