Saltar para o conteúdo

Virgilina de Souza Salles

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Virgilina de Sousa Salles
Virgilina de Souza Salles
Retrato de Virgilina de Souza Salles
Nascimento
Brasil
Morte 1918 (0 ano)
São Paulo, Brasil
Nacionalidade Brasileira
Ocupação diretora, escritora, intelectual e feminista

Virgilina de Souza Salles (São Roque - São Paulo, 31/05/1918) - foi uma intelectual e feminista brasileira, fundadora e diretora da primeira revista paulista inteiramente dedicada à mulher, a Revista Feminina. Esteve à frente do periódico de 1915 a 1918, e promoveu ativamente a leitura, a escrita feminina e a cultura em artigos direcionados à mulher.

Foi casada com João Salles e irmã do médico e teatrólogo Cláudio de Souza.

Família[editar | editar código-fonte]

Virgilina de Souza Salles era filha de Antônia Barbosa de Souza e Cláudio Justiniano de Souza, fazia parte da elite paulistana e começou a sua carreira na imprensa em 1914 com o seu pequeno folheto quinzenal. Em 1915 torna-se uma periódico mensal com o nome Revista Feminina, destinada às mulheres da classe média e alta.[1]

Teve muito apoio de seu irmão, escritor, teatrólogo e membro da Academia Brasileira de Letras, Cláudio de Souza(dono do "Castelinho" da avenida Brigadeiro Luis Antônio) que patrocinou os primeiros exemplares, enviados gratuitamente com o intuito de promover a circulação da revista.[1] Ele também foi responsável pelos contatos com diversos intelectuais renomados.[2]

Em 1918, com o seu falecimento, a revista passou para as mãos de seu marido e de suas filhas, Avelina Salles Haynes e Marina Souza Salles. Seu irmão continuou na revista, porém ele preferiu a elaboração e redação dos editoriais.[1] Virgilina faleceu a 31 de maio de 1918, após dias antes ter sido submetida à uma cirurgia no Hospital Santa Catharina. Foi enterrada no Cemitério Ordem Terceira do Carmo.[3]

Ideologia[editar | editar código-fonte]

De acordo com texto de J. Machado na Revista Feminina de julho de 1918, a diretora do periódico paulista tinha como intuito a propagação da cultura feminina. Segundo o autor, para Virgilina,

"era preciso integrar a mulher brasileira na compreensão exacta de um programa de ideias. Desenvolver a instrução, muita instrução, muita cultura geral; muita cultura técnica, especializada; muitos dotes intelectuais, afectivos e morais, expansão completa de toda a alma feminina; muito espirito associativo, muita harmonia de vistas e aspirações; muita actividade, muita perseverança; muita compreensão dos problemas e questões que se agitam no redemoinho do mundo contemporâneo — tudo isto era a base que ela queria, que ela pretendia para o seu alto feminismo".[4]

O Jornal do Commercio, de 5 de Junho de 1918, dedica um extenso artigo sobre Virgilina na ocasião de seu falecimento, sob o titulo "Uma Jornalista Brasileira", definindo-a como

"uma das primeira senhoras brasileiras que se se dedicado ao jornalismo fazendo-o como uma profissão, e que, em cinco anos de lula constante, se manifestou como um espirito- de alto destaque, do qual tudo tinha a esperar nossa imprensa."

Também na Revista, uma nota define parte do espírito de luta de Virgilina:

"A nossa revista representa um gesto abnegado de altruísmo. Criâ-mo-la pela necessidade premente de que se ressentia o nosso meio de uma leitura sã e moral e que, ao lado da parte recreativa e literária, colaborasse eficaz e diretamente na educação doméstica e na orientação do espírito feminino. Não tivemos, não temos e não teremos nenhuma pretensão descabida; nosso esforço é modesto e humilde; não pretende ensinar nem reformar; o que pretende é apenas colaborar, na medida de suas forças, para a educação feminina."[5]

Vida intelectual[editar | editar código-fonte]

Virgilina de Souza Salles pode ser descrita como uma "senhora que integrava uma família tradicional, que havia tido acesso à educação e que tinha o intuito de compartilhar com outras mulheres não só questões pedagógicas, mas também a literatura, a cultura, o lazer e ainda as novidades na moda – principalmente européias e americanas[6]". De origem nobre, a viver num período em que a São Paulo urbaniza-se e a sociedade vive momentos de idealização da cultura européia, mas também discute a sua nacionalidade; em que a mulher começa a interpretar novos papéis sociais e luta por alguns direitos; vivência e relata, através do jornalismo, não só os fatos mais importantes do início do século XX, mas dialoga, orienta, forma opinião e recebe o retorno de suas leitoras.

Feminismo e conservadorismo[editar | editar código-fonte]

A revista feminina, produto da direção de Virgilina, revela a essência seus intuitos. Muitos aspectos da publicação denotam um feminismo bastante velado, mas ao mesmo tempo, notável. Importante salientar a atitude pioneira de confeccionar uma publicação voltada aos anseios femininos. Nota-se ainda, a intensa busca pela difusão da escrita, da cultura e da autoria feminina. Os estudos sobre o periódico por ela dirigido revelam sua essência que pode ser lida com aspectos de dualidade, mas que na verdade demonstram que Virgilina foi uma intensa lutadora pelos direitos femininos.

Referências

  1. a b c Mancilha, Virgínia M. N. (2011). «Nas páginas da Revista Feminina: a imprensa como espaço de visibilidade e atuação feminina (1920-1930)» (PDF). ANPUH - Associação Nacional de História. Consultado em 26 de março de 2021 
  2. Soares, Ana Carolina Eiras Coelho (2007). «A produção da Família Brasileira através de uma Revista produzida em família: um estudo de gênero na experiência da Revista Feminina no início do século XX» (PDF). ANPUH-Associação Nacional de História. Consultado em 26 de março de 2021 
  3. Feminina, Revista. «Revista Feminina - Julho 1918». Revista Feminina. Revista Feminina: 8, 10 
  4. «Revista Feminina» (PDF). Julho de 1918 
  5. Revista Feminina, dezembro de 1918
  6. Bonilha, Juliana Cristina (2014). Revista Feminina: tensão entre tradição e modernidade (tese). [S.l.: s.n.]