Zahidé Lupinacci Muzart

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Zahidé Lupinacci Muzart
Conhecido(a) por pioneira no estudo da crítica literária feminista no Brasil
Nascimento 14 de julho de 1939
Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil
Morte 28 de outubro de 2015 (76 anos)
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
Residência Brasil
Nacionalidade brasileira
Alma mater
Orientador(es)(as) Jean Roche
Instituições
Campo(s) Literatura e feminismo
Tese Etude Comparative du style: Jubiabá et O Moleque Ricardo (1970)

Zahidé Lupinacci Muzart (Cruz Alta, 14 de julho de 1939Florianópolis, 28 de outubro de 2015) foi uma professora universitária, editora, pesquisadora e historiadora literária feminista brasileira. Era professora titular aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Dedicou-se ao estudo acadêmico da literatura produzida por mulheres brasileiras, principalmente no século XIX, resgatando obras e nomes e criando um ambiente acadêmico de pesquisa desta literatura no Brasil.[1] Contribuiu para a definição do status da crítica literária como uma disciplina de caráter científico, bem como para a consolidação de uma crítica literária feminista no Brasil a partir de meados da década de 1980.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Zahidé nasceu no município de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, em 1939, onde estudou em colégio católico e editou, aos 16 anos, o jornal da instituição.[2] Em 1961, graduou-se no curso de Letras Neolatinas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e em 1966 graduou-se em Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Como bolsista da CAPES, especializou-se em Literatura Francesa no Centre d'études supérieures de français em 1962.[2]

Entre os anos de 1967 e 1968, fez uma nova especialização em Língua Francesa, pela Universidade de Toulouse, com bolsa da CAPES. Com a escassez de recursos para a pesquisa científica no Brasil entre as décadas de 1950 e 1960, Zahidé conseguiu uma bolsa do governo francês, pela mesma universidade, onde obteve o doutorado em Letras, em 1970, com a tese Étude comparative du style: Jubiabá et O Moleque Ricardo.[2]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Iniciou na carreira docente como professora de francês, entre 1971 e 1974, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em São Paulo. Logo entrou na pesquisa acadêmica na área de Literatura Brasileira e Teoria Literária, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde ingressou em 1976 como professora visitante, tornando-se professora efetiva em 1979. Até sua aposentadoria, em 1993, Zahidé lecionou nos níveis de graduação e pós-graduação, além de ter sido coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Literatura (1981 a 1983 e 1986 a 1987).[2]

Na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, concluiu o pós-doutorado em literatura entre 1983 e 1984, como bolsista da CAPES. Foi uma das responsáveis pela implementação do curso de Pós-Graduação em Literatura da UFSC no nível de mestrado e em 1997 de doutorado. Junto de colegas e orientandos, Zahidé foi essencial para a definição do status da crítica literária como uma disciplina de caráter científico, bem como para a consolidação de uma crítica literária feminista no Brasil a partir de meados da década de 1980.[2]

Suas principais linhas de pesquisa eram Literatura, História e Memória (1979-1994), onde trabalhou no resgate e análise de textos esparsos e inéditos de autores catarinenses, como Ana Luísa de Azevedo Castro e Duarte Schütel, e Literatura e Mulher (1994-2015), onde desenvolveu (e orientou) pesquisa de resgate de escritoras brasileiras do século XIX. Zahidé percebeu que na academia havia um olhar já consolidado de que as mulheres praticamente não escreveram ou publicaram no século XIX e que por isso não eram de interesse acadêmico. Com seus grupos de pesquisa, Zahidé não apenas desmentiu o senso comum como também resgatou livros, contos, crônicas, poemas e coletâneas de brasileiras da época.[1][2]

Notando que apenas resgatar os nomes e publicá-los em artigos científicos, que ficariam longe do público em geral, Zahidé teve a ideia de abrir uma editora, a Editora Mulheres,[3] capaz de organizar as obras e publicá-las. Suas pesquisas valorizavam as abordagens de cunho sociológico e cultural, onde ela tentava articular texto literário com o contexto de produção. Sob seu ponto de vista, era necessário estudar a literatura dessas mulheres, mas também o contexto político e social em que os textos foram produzidos.[2][3]

Publicou cerca de 40 livros, 82 capítulos em livros, organizou várias publicações com outros especialistas na área, escreveu artigos e resumos para eventos e por vários anos foi colaboradora do periódico O Catarina, com cerca de 46 matérias lá publicadas.[2][4] Foi criadora da Revista Travessia da UFSC em 1980 e sua editora por 13 anos. Foi parecerista de várias revistas brasileiras de literatura no ambiente acadêmico, além de editora da Revista Estudos Feministas (REF) da UFSC e coordenadora do Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da mesma universidade por vários anos.[2] Organizou e coordenou o 1º Encontro Fazendo Gênero, em 1994, que hoje tem renome internacional.[3]

Aposentou-se da universidade em 1993, mas continuou orientando alunos e editando livros pela Editora Mulheres, além de participar de eventos. A Editora Mulheres já conta com mais de cem livros no acervo entre coletâneas e traduções.[3]

Reconhecimentos[editar | editar código-fonte]

Em 2023, o Instituto de Estudos de Gênero, da Universidade Federal de Santa Catarina instituiu o Prémio Zahidé Muzart que visa distinguir as melhores teses e dissertações, na área dos estudos feministas.[5]

Morte[editar | editar código-fonte]

Zahidé esteve vários dias internada em um hospital em Florianópolis e morreu no dia 28 de outubro de 2015, aos 76 anos. Ela foi velada no cemitério Jardim da Paz, na capital catarinense.[1][6]

Referências

  1. a b c Notícias de Santa Catarina (ed.). «Morre a professora aposentada da UFSC, Zahide Muzart, especialista em literatura brasileira». ND+. Consultado em 28 de outubro de 2019 
  2. a b c d e f g h i j k Risolete Maria Hellmann (ed.). «Crítica Literária Feminista: o legado de Zahidé Lupinacci Muzart» (PDF). Seminário Internacional Fazendo Gênero. Consultado em 28 de outubro de 2019 
  3. a b c d Priscilla Pasko (ed.). «O gênero, a importância e o papel de uma Editora chamada Mulheres». Nonada. Consultado em 28 de outubro de 2019 
  4. Tânia Regina de Oliveira Ramos (ed.). «Zahidé Lupinacci Muzart». Revista Estudos Feministas. Consultado em 28 de outubro de 2019 
  5. «Prêmio Zahidé Muzart | Instituto de Estudos de Gênero». ieg.ufsc.br (em inglês). Consultado em 10 de novembro de 2023 
  6. Universidade Federal de Santa Catarina (ed.). «Falece a professora aposentada Zahide Lupinacci Muzart». Portal de Notícias. Consultado em 28 de outubro de 2019