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Maria Firmina dos Reis: diferenças entre revisões

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* Composições musicais: ''Auto de bumba-meu-boi'' (letra e música); ''Valsa'' (letra de [[Gonçalves Dias]] e música de Maria Firmina dos Reis); ''Hino à Mocidade'' (letra e música); ''Hino à liberdade dos escravos'' (letra e música); ''Rosinha, valsa'' (letra e música); ''Pastor estrela do oriente'' (letra e música); ''Canto de recordação'' (“à Praia de Cumã”; letra e música).
* Composições musicais: ''Auto de bumba-meu-boi'' (letra e música); ''Valsa'' (letra de [[Gonçalves Dias]] e música de Maria Firmina dos Reis); ''Hino à Mocidade'' (letra e música); ''Hino à liberdade dos escravos'' (letra e música); ''Rosinha, valsa'' (letra e música); ''Pastor estrela do oriente'' (letra e música); ''Canto de recordação'' (“à Praia de Cumã”; letra e música).


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== Características da obra de Maria Firmina dos Reis ==
Para Conceição Evaristo, que alcunhou a expressão “escrevivência”, essa é representada pela escrita de um corpo, de uma condição, de uma experiência negra no Brasil. O primeiro elemento que compõe a escrevivência, o corpo, reporta à dimensão subjetiva do existir negro, sendo um arquivo de impressões ao longo da vida, marcado na pele e na luta constante por afirmação e reversão de estereótipos. (OLIVEIRA, 2006, p. 02) <ref>{{Citar periódico|ultimo=Oliveira|primeiro=Luiz Henrique Silva de|data=2009-8|titulo="Escrevivência" em Becos da memória, de Conceição Evaristo|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-026X2009000200019&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|jornal=Revista Estudos Feministas|lingua=pt|volume=17|numero=2|paginas=621–623|doi=10.1590/S0104-026X2009000200019|issn=0104-026X}}</ref>

A condição da mulher negra, o segundo elemento, evidência diversos problemas herdados da situação colonial, visto que através da escravidão foram subjugadas em diversos âmbitos. É isso que configura a experiência negra no Brasil, estruturada em uma diferenciação de gênero e etnia, visto que além de ser escravizada, considerada como objeto, era mulher, que na sociedade patriarcal colonial brasileira passam de seres humanos a objetos (LOPES; MARTINELLI FILHO, 2018, p. 7). <ref>{{Citar periódico|ultimo=Filho|primeiro=Nelson Martinelli|ultimo2=Lopes|primeiro2=Michelly Cristina Alves|data=2018|titulo=A escre(vivência) presente em Maria Firmina dos Reis e Conceição Evaristo: Uma análise dos contos “A escrava” e “Maria”.|url=https://periodicosonline.uems.br/index.php/REV/article/view/3164|jornal=REVELL - REVISTA DE ESTUDOS LITERÁRIOS DA UEMS|lingua=pt|volume=3|numero=20|paginas=314–334|issn=2179-4456}}</ref>

A escrevivência de Maria Firmina dos Reis, uma escritora negra, também pode ser percebida na representação das suas personagens negras, pois a história da literatura é uma grande influência na nacionalidade, e por consequência, também na construção da imagem dos gêneros, meio utilizado para consolidação do poder masculino (LOPES; MARTINELLI FILHO, 2018, p. 8).

Maria Firmina apresenta o negro em sua dimensão humana e confere à ele uma posição de sujeito de discurso, o que pode revelar uma íntima identificação com o escravo negro, apresentando uma solidariedade que, nas palavras de Eduardo de Assis Duarte (2004, p.269) “nasce de uma perspectiva outra, pela qual a escritora, irmanada aos cativos e a seus descendentes, expressa, pela via da ficção, seu pertencimento a este universo de cultura” (apud PINTO-BAILEY, 2012, p. 4-6). <ref>{{Citar web|titulo=Na contramão: A narrativa abolicionista de Maria Firmina dos Reis - Crítica - Literatura Afro-Brasileira|url=http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/29-critica-de-autores-feminios/316-na-contramao-a-narrativa-abolicionista-de-maria-firmina-dos-reis-critica|obra=www.letras.ufmg.br|acessodata=2019-07-01}}</ref>

Durante sua vida, considerando as restrições que sofriam as mulheres casadas, Maria Firmina dos Reis nunca se casou, e considerando também o fato de que a autora foi criada em um ambiente em que predominavam figuras femininas. Apesar disso, Maria Firmina exerceu seu lado maternal ao adotar e se responsabilizar pela educação de várias crianças e expressou seu interesse pelo bem-estar infantil ao fundar uma escola mista, atitude ousada para o Maranhão daquela época. Essa ação inovadora vai de encontro às lutas das feministas brasileiras do final do século XIX que desejam a igualdade de ensino para meninas (PINTO-BAILEY, 2012, p. 1-2). <ref>{{Citar web|titulo=Na contramão: A narrativa abolicionista de Maria Firmina dos Reis - Crítica - Literatura Afro-Brasileira|url=http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/29-critica-de-autores-feminios/316-na-contramao-a-narrativa-abolicionista-de-maria-firmina-dos-reis-critica|obra=www.letras.ufmg.br|acessodata=2019-07-01}}</ref>

É possível notar que os escritos de Maria Firmina possuem uma grande carga de sentimentos ao tratar da questão da mulher e do negro escravizado, duas condições intimamente presentes na vida de Maria Firmina, às quais a autora se dedica através de suas obras. Suas narrativas, apesar de possuírem um grande teor progressista, trazem um quadro de como se davam as relações de gênero e etnicidade em meados do século XIX, pois a autora possuía grande vivência destes assuntos para poder retratá-los com seus devidos destaques e importância.
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== Bibliografia ==
== Bibliografia ==

Revisão das 20h23min de 1 de julho de 2019

Maria Firmina dos Reis
Maria Firmina dos Reis- Maranhão.jpg
Nascimento 11 de março de 1822[1]
São Luís, MA
Morte 11 de novembro de 1917 (95 anos)[2]
Guimarães, MA
Nacionalidade brasileira
Ocupação escritora e educadora
Magnum opus Úrsula (1859)
Escola/tradição Romantismo

Maria Firmina dos Reis (São Luís, 11 de março de 1822Guimarães, 11 de novembro 1917) foi uma escritora brasileira, considerada a primeira romancista brasileira.[3]

Biografia

Juventude e família

Maria Firmina dos Reis nasceu na Ilha de São Luís, no Maranhão, em 11 de março de 1825. Foi registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Era prima do escritor maranhense Francisco Sotero dos Reis por parte da mãe. Em 1830, mudou-se com a família para a vila de São José de Guimarães, no continente. Viveu parte de sua vida na casa de uma tia materna mais bem situada economicamente. Em 1847, concorreu à cadeira de Instrução Primária nessa localidade e, sendo aprovada, ali mesmo exerceu a profissão, como professora de primeiras letras, de 1847 a 1881.[4]

Descreveu-se, em 1863, como tendo "uma compleição débil, e acanhada" e, por conta disso, "não poderia deixar de ser uma criatura frágil, tímida, e por consequência, melancólica."[5] Os que a conheceram, quando tinha cerca de 85 anos, descreveram-na como sendo pequena, parda, de rosto arredondado, olhos escuros, cabelos crespos e grisalhos presos na altura da nuca.[5] Uma antiga aluna caracterizou-a como uma professora enérgica, que falava baixo, não aplicava castigos corporais, nem ralhava, preferindo aconselhar.[5] Era reservada, mas acessível, sendo estimada pelos alunos e pela população da vila: toda passeata de moradores de Guimarães parava em sua porta, ao que davam vivas e ela agradecia com um discurso improvisado.[5]

Carreira

Em 1859, publicou o romance Úrsula, considerado o primeiro romance de uma autora do Brasil.[6] Em 1887, publicou na Revista Maranhense o conto "A Escrava", no qual descreve uma participante ativa da causa abolicionista.[7]

Aos 54 anos de idade e 34 de magistério oficial, anos antes de se aposentar, Maria Firmina fundou, em Maçaricó, a poucos quilômetros de Guimarães, uma aula mista e gratuita para alunos que não podiam pagar: conduzia as aulas num barracão em propriedade de um senhor de engenho, à qual se dirigia toda manhã subindo num carro de boi.[8] Lá, lecionava às filhas deste, aos alunos que levava consigo e a outros que se juntavam.[8] A acadêmica Norma Telles classificou a iniciativa de Maria Firmina como "um experimento ousado para a época".[8]

Maria Firmina dos Reis participou da vida intelectual maranhense: colaborou na imprensa local, publicou livros, participou de antologias, e, além disso, também foi música e compositora.[5] A autora era abolicionista:[7] ao ser admitida no magistério, aos 22 anos de idade, sua mãe queria que fosse de palanquim receber a nomeação, mas a autora optou por ir a pé, dizendo a sua mãe: "Negro não é animal para se andar montado nele."[9] Chegou também a escrever um "Hino da Abolição dos Escravos"[9]

Morte

Maria Firmina dos Reis morreu, cega e pobre, aos 95 anos, na casa de uma ex-escrava, Mariazinha, mãe de um dos seus filhos de criação.[9]

É a única mulher dentre os bustos da Praça do Pantheon, que homenageiam importantes escritores maranhenses, em São Luís.[10]

Lista de obras

Seleção obtida a partir do livro Escritoras brasileiras do século XIX: Antologia.[4]

  • Úrsula. Romance, 1859.
  • Gupeva. Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da Juventude).
  • Poemas em: Parnaso maranhense, 1861.
  • A escrava. Conto, 1887 (A Revista Maranhense n° 3)
  • Cantos à beira-mar. Poesias, 1871.
  • Hino da libertação dos escravos. 1888.
  • Poemas em: A Imprensa, Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do Maranhão; Pacotilha; Federalista.
  • Composições musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); Hino à Mocidade (letra e música); Hino à liberdade dos escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação (“à Praia de Cumã”; letra e música).


Características da obra de Maria Firmina dos Reis

Para Conceição Evaristo, que alcunhou a expressão “escrevivência”, essa é representada pela escrita de um corpo, de uma condição, de uma experiência negra no Brasil. O primeiro elemento que compõe a escrevivência, o corpo, reporta à dimensão subjetiva do existir negro, sendo um arquivo de impressões ao longo da vida, marcado na pele e na luta constante por afirmação e reversão de estereótipos. (OLIVEIRA, 2006, p. 02) [11]

A condição da mulher negra, o segundo elemento, evidência diversos problemas herdados da situação colonial, visto que através da escravidão foram subjugadas em diversos âmbitos. É isso que configura a experiência negra no Brasil, estruturada em uma diferenciação de gênero e etnia, visto que além de ser escravizada, considerada como objeto, era mulher, que na sociedade patriarcal colonial brasileira passam de seres humanos a objetos (LOPES; MARTINELLI FILHO, 2018, p. 7). [12]

A escrevivência de Maria Firmina dos Reis, uma escritora negra, também pode ser percebida na representação das suas personagens negras, pois a história da literatura é uma grande influência na nacionalidade, e por consequência, também na construção da imagem dos gêneros, meio utilizado para consolidação do poder masculino (LOPES; MARTINELLI FILHO, 2018, p. 8).

Maria Firmina apresenta o negro em sua dimensão humana e confere à ele uma posição de sujeito de discurso, o que pode revelar uma íntima identificação com o escravo negro, apresentando uma solidariedade que, nas palavras de Eduardo de Assis Duarte (2004, p.269) “nasce de uma perspectiva outra, pela qual a escritora, irmanada aos cativos e a seus descendentes, expressa, pela via da ficção, seu pertencimento a este universo de cultura” (apud PINTO-BAILEY, 2012, p. 4-6). [13]

Durante sua vida, considerando as restrições que sofriam as mulheres casadas, Maria Firmina dos Reis nunca se casou, e considerando também o fato de que a autora foi criada em um ambiente em que predominavam figuras femininas. Apesar disso, Maria Firmina exerceu seu lado maternal ao adotar e se responsabilizar pela educação de várias crianças e expressou seu interesse pelo bem-estar infantil ao fundar uma escola mista, atitude ousada para o Maranhão daquela época. Essa ação inovadora vai de encontro às lutas das feministas brasileiras do final do século XIX que desejam a igualdade de ensino para meninas (PINTO-BAILEY, 2012, p. 1-2). [14]

É possível notar que os escritos de Maria Firmina possuem uma grande carga de sentimentos ao tratar da questão da mulher e do negro escravizado, duas condições intimamente presentes na vida de Maria Firmina, às quais a autora se dedica através de suas obras. Suas narrativas, apesar de possuírem um grande teor progressista, trazem um quadro de como se davam as relações de gênero e etnicidade em meados do século XIX, pois a autora possuía grande vivência destes assuntos para poder retratá-los com seus devidos destaques e importância.


Referências

  1. Maria Firmina dos Reis - Faculdade de Letras - UFMG
  2. Souza Dorea 1995.
  3. Lobo, Luiza. «A literatura de autoria feminina na América Latina». Consultado em 17 de setembro de 2018. Cópia arquivada em 29 de setembro de 2009 
  4. a b Muzart 1999, pp. 271-272.
  5. a b c d e Priore & Pinsky, p. 412.
  6. Priore & Pinsky, p. 410.
  7. a b Priore & Pinsky, p. 415.
  8. a b c Priore & Pinsky, pp. 411-412.
  9. a b c Priore & Pinsky, p. 416.
  10. «Notícia: Concluída primeira etapa das obras na Rua Grande, em São Luís (MA) - IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional». portal.iphan.gov.br. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  11. Oliveira, Luiz Henrique Silva de (agosto de 2009). «"Escrevivência" em Becos da memória, de Conceição Evaristo». Revista Estudos Feministas. 17 (2): 621–623. ISSN 0104-026X. doi:10.1590/S0104-026X2009000200019 
  12. Filho, Nelson Martinelli; Lopes, Michelly Cristina Alves (2018). «A escre(vivência) presente em Maria Firmina dos Reis e Conceição Evaristo: Uma análise dos contos "A escrava" e "Maria".». REVELL - REVISTA DE ESTUDOS LITERÁRIOS DA UEMS. 3 (20): 314–334. ISSN 2179-4456 
  13. «Na contramão: A narrativa abolicionista de Maria Firmina dos Reis - Crítica - Literatura Afro-Brasileira». www.letras.ufmg.br. Consultado em 1 de julho de 2019 
  14. «Na contramão: A narrativa abolicionista de Maria Firmina dos Reis - Crítica - Literatura Afro-Brasileira». www.letras.ufmg.br. Consultado em 1 de julho de 2019 

Bibliografia

Ligações externas