Compras de asilo

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Compras de asilo (em inglês: asylum shopping) é a expressão que designa a prática dos candidatos a asilo que se candidatam a asilo em vários países em simultâneo ou que se tentam candidatar num determinado país da sua preferência depois de já terem transitado por outros países. A expressão é usada habitualmente no contexto da União Europeia e do Espaço Schengen, mas também já foi usada pelo Tribunal Federal do Canadá, e demonstra que vários candidatos a asilo são meros consumidores que apenas procuram o melhor negócio em termos de asilo humanitário.[1][2][3][4][5][6][7][8][9][10]

Os refugiados e os candidatos a asilo são protegidos por convenção internacional sob o princípio da não devolução (em francês: non-refoulement), que estabelece que um país não pode obrigar um refugiado ou um candidato a asilo a retornar ao seu país de origem apenas no caso de haver risco grave comprovado de perseguição nesse país. O Regulamento de Dublim que abrange a União Europeia estipula que os candidatos a asilo sejam devolvidos ao estado-membro onde a sua entrada na União Europeia foi registada pela primeira vez e onde foram recolhidas as primeiras impressões digitais. Em consequência do Regulamento de Dublim e do aumento da pressão migratória tem sido prática comum das autoridades dos estados-membros situados na fronteira externa da União Europeia serem permissivos com esta obrigação legal de fazer o registo destes candidatos a asilo para que os mesmos não lhes venham mais tarde a ser transferidos por outros estados-membros para onde se tenham deslocado.[11] Um dos objetivos desta política da União Europeia é evitar que os candidatos a asilo fiquem em órbita, por exemplo, impedindo a transferência contínua de candidatos a asilo entre os estados-membros procurando fazer com que outros os aceitem. Um dos objetivos do Espaço de liberdade, de segurança e de justiça (ELSJ) é prevenir as chamadas compras de asilo (asylum shopping).[2][10]

Na legislação europeia, o Regulamento de Dublim exige que os candidatos a asilo tenham a sua candidatura a asilo registada no primeiro país a que chegam, e que a decisão do primeiro estado-membro da UE em que se candidatam a asilo seja a única decisão final válida em todos os estados-membros da UE.[12] No entanto, alguns candidatos a asilo resistem e recusam-se a serem registados no primeiro país da UE a que chegam porque preferem ir para outros estados-membros da UE.[13] Por exemplo, alguns indivíduos procuram apenas candidatar-se a asilo na Alemanha e na Suécia, onde alegadamente existiriam economias mais prósperas, seria adotada uma abordagem mais séria em relação ao bem-estar e ao apoio à integração e onde os direitos fundamentais teriam maior probabilidade de serem cumpridos.[14][8]

O grau de resistência ao cumprimento do Regulamento de Dublim chega a ser de tal forma elevado, que vários candidatos a asilo queimam intencionalmente os seus próprios dedos para evitar o controlo do registo de impressões digitais na Itália, para que assim possam candidatar-se a asilo num outro estado-membro da sua preferência.[15] O registo das impressões digitais, conhecido como sistema Eurodac, é obrigatório e é usado para intercetar candidaturas a asilo múltiplas ou falsas.[16] Na Irlanda, descobriu-se que dois terços dos candidatos a asilo cujas candidaturas foram recusadas já tinham sido registados pelas autoridades de fronteira do Reino Unido, e que um terço dos indivíduos afinal tinham uma nacionalidade diferente daquela que declaravam, como os tanzanianos que mentiam às autoridades declarando estarem a fugir da perseguição política na Somália.[6][17]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Double-edged risk: Unaccompanied minor refugees (UMRs) in Sweden and their search for safety». academic.oup.com. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  2. a b Moore, Kerry (abril de 2013). «'Asylum shopping' in the neoliberal social imaginary». Media, Culture & Society (em inglês) (3): 348–365. ISSN 0163-4437. doi:10.1177/0163443712472090. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  3. «asylum shopping». home-affairs.ec.europa.eu (em inglês). Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  4. «Canada plans to end 'asylum shopping'». France 24 (em inglês). 10 de abril de 2019. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  5. «Priti Patel slammed for 'asylum shopping' remark | indy100». www.indy100.com (em inglês). Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  6. a b «EU aims to stop 'asylum shopping'». POLITICO (em inglês). 6 de abril de 2016. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  7. «Norway wants to combat 'asylum shopping'». The Local Norway (em inglês). 11 de março de 2016. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  8. a b Hymas, Charles (30 de agosto de 2022). «'Asylum shopping' Albanians sneaking in to Britain to join crime gangs, says Priti Patel». The Telegraph (em inglês). ISSN 0307-1235. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  9. «Minister declares 'Hotel Britain' must end to deter 'asylum shopping'». St Albans & Harpenden Review (em inglês). Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  10. a b «Clampdown on 'asylum shopping'». The Irish Times (em inglês). Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  11. «Fact Sheet on the Dublin Convention». web.archive.org. 19 de março de 2005. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  12. Regulation (EU) No 604/2013 of the European Parliament and of the Council of 26 June 2013 establishing the criteria and mechanisms for determining the Member State responsible for examining an application for international protection lodged in one of the Member States by a third-country national or a stateless person (recast) (em inglês) (32013R0604), 29 de junho de 2013, consultado em 16 de janeiro de 2023 
  13. Yardley, Jim; Pianigiani, Gaia (29 de novembro de 2013). «Out of Syria, Into a European Maze». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  14. «Human rights court deals blow to EU asylum system». EUobserver (em inglês). 21 de janeiro de 2011. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  15. «Dublin regulation leaves asylum seekers with their fingers burnt». the Guardian (em inglês). 7 de outubro de 2011. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  16. «Why is EU struggling with migrants and asylum?». BBC News (em inglês). 18 de outubro de 2013. Consultado em 16 de janeiro de 2023 
  17. «Two-thirds of failed asylum seekers had used false identities». independent (em inglês). Consultado em 16 de janeiro de 2023