Confederação Polaco-Checoslovaca

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Mapas da Confederação Polônia - Checoslováquia. À esquerda, há um mapa com as fronteiras pré-Segunda Guerra Mundial, e à direita estão as fronteiras do pós-guerra.

A [Con]federação Polaco-Checoslovaca [a] foi um conceito político durante a Segunda Guerra Mundial, apoiado pelo governo polonês no exílio e, em menor medida, pelo Reino Unido e Estados Unidos. Era uma revitalização do conceito Międzymorze, propondo a criação de uma federação baseada na Polônia e na Checoslováquia. O projeto teve um menor apoio do governo checoslovaco no exílio, que acreditava que não precisava do apoio polonês contra a União Soviética, e acabou por desmoronar-se pelo crescente domínio da URSS, uma vez que Josef Stalin também não via necessidade de uma federação forte e independente na Europa, que poderia ameaçar seus projetos para aquele território.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Logo após a derrota polonesa na Campanha de Setembro, tanto o governo polonês como o checoslovaco (a Checoslováquia seria reduzida a um Estado fantoche alemão após o Acordo de Munique), são formados no exílio no Ocidente. [1] No entanto, apesar do inimigo comum, as relações entre Checoslováquia e Polônia foram menos amigáveis devido ao histórico de conflitos fronteiriços entre os países. [2][3] O governo polonês visava revitalizar o conceito da federação Międzymorze e criar uma forte federação de Estados na Europa Oriental e Central, centrada em torno da Polônia e da Checoslováquia, como uma barreira para outras agressões dos alemães e soviéticos. [4][5] O governo checoslovaco, inicialmente dividido entre dois grupos (aqueles de Milan Hodža e os de Edvard Beneš), era timidamente favorável ​​à ideia, pelo menos publicamente. [5][6]

Negociações[editar | editar código-fonte]

Edvard Beneš, líder do governo checoslovaco no exílio
Władysław Sikorski, líder do governo polonês no exílio

Considerando que, entre os políticos checoslovacos, tanto Hodža como Jan Masaryk eram bastante favoráveis ​​à ideia de confederação,[6] Beneš era mais desinteressado; seu objetivo era assegurar que o contestado território de Zaolzie, que havia passado para a Polônia na sequência do Acordo de Munique, fosse recuperado pela Checoslováquia, [2][7] e isso se tornou uma das principais questões de discórdia nas negociações em curso. [2][8] Beneš, que via a recuperação deste território como um objetivo primordial, via a União Soviética (especialmente na sequência da invasão soviética da Polônia) como um aliado em potencial e como um contrapeso para a Polônia, e iria constantemente alinhar seu governo mais com a União Soviética do que a Polônia, acreditando que uma aliança com um país poderoso seria mais vantajosa à Checoslováquia do que uma federação com várias outras potências menores.[2][3][6][7] Isso era totalmente contrário à postura polonesa, visto que o líder polonês da época, Władysław Sikorski, via a União Soviética como uma grande ameaça para a ordem europeia do pós-guerra. [2][9]

Assim, quando em 1939 Sikorski se aproximou de Beneš e propôs discussões sobre uma futura federação polaco-checoslovaca, com o objetivo de criar uma Polônia e uma Checoslováquia mais fortes no pós-guerra, a resposta de Beneš foi indiferente na melhor das hipóteses, já que ele não estava interessado em fortalecer a Polônia; ao contrário, se contentava em ver a Checoslováquia restabelecida dentro de suas fronteiras pré-1938. [2] No entanto, Beneš não recusou a proposta de Sikorski abertamente, uma vez que a proposta de federação era apoiada pelo Reino Unido e, posteriormente, pelos Estados Unidos (que também apoiava planos para outras federações, como a Confederação Greco-Iugoslava), e como temia que sua recusa conduziria os poloneses a uma abertura de negociações com a oposição checoslovaca ou ao seu governo sendo marginalizado pelo Foreign Office britânico.[2][9][10] Assim, Beneš decidiu continuar as negociações sobre a possibilidade de federação com os poloneses, mas com pouca celeridade; na verdade, muitos dos movimentos do governo checoslovaco foram projetados para prolongar as negociações sem qualquer compromisso real. [2] As negociações avançavam lentamente, com inúmeras conferências, e com declarações conjuntas em 11 de novembro de 1940 (uma declaração pelos dois governos sobre como entrar em "uma associação política e econômica mais estreita"), em 23 de janeiro de 1942 (em que ambos os governos concordaram em formar uma confederação após a guerra e que mencionava políticas comuns de diplomacia, defesa, comércio, educação e comunicação) e em 10 de junho de 1942.[2][10][11] Em janeiro de 1941, viu-se a criação do Comitê de Coordenação Checoslovaco-Polonês, um órgão encarregado de supervisionar o processo das negociações. [8]

Algumas propostas iniciais focaram na cooperação econômica, política externa unificada, uma união aduaneira e uma moeda comum, mas com ofícios governamentais separados. [5] A proposta polaca de 1941 apelava para a coordenação das políticas econômica e externa, incluindo a unificação econômica total. [8] Beneš tentou moldar a potencial federação como não mais do que uma ferramenta para a defesa mútua contra a Alemanha, e argumentou que a União Soviética não era uma ameaça, mas sim um potencial aliado. [2] A posição checoslovaca era tão pró-soviética que o governo Beneš passou documentos secretos das negociações checo-polacas para os soviéticos e lhes assegurou que estavam agindo no melhor interesse das relações entre Checoslováquia e União Soviética.[2] Os soviéticos, por sua vez, viram uma federação polaca liderada pelos Estados da Europa Oriental e Central como uma ameaça à sua planejada esfera de influência.[10][12][13] Puseram ainda mais pressão sobre o governo checoslovaco, com promessas de aliança e garantias territoriais. [10][12][13] Pelo final de 1942 e início de 1943, como a posição da União Soviética foi impulsionada por suas vitórias militares, a cooperação checoslovaco-soviética tornou-se muito mais forte; em 12 de novembro de 1942, o lado checoslovaco suspendeu as conversações com os poloneses até que uma permissão da União Soviética fosse obtida, e em 10 de fevereiro de 1943, o diplomata checoslovaco Hubert Ripka informou o governo polonês que nenhum acordo que fosse visto como antagônico em relação à União Soviética seria apoiado pelo governo checoslovaco. [2][14] Isso foi um grande golpe para as negociações polaco-checoslovacas.

Consequências[editar | editar código-fonte]

Logo depois, a Polônia e a União Soviética romperam suas relações diplomáticas durante o controverso Massacre de Katyn. [2][13][15] Beneš, entretanto, focou-se na busca de uma aliança Checoslováquia-União Soviética. [2][13][15] A morte de Sikorski naquele ano seria mais um duro golpe para a planejada federação, uma vez que ele era visto como um grande defensor do projeto no cenário internacional. [12] Em dezembro de 1943, um novo Tratado de Aliança (para os próximos vinte anos) foi assinado entre o governo checoslovaco no exílio e a União Soviética, em Moscou, e um tratado de cooperação militar entre os dois seguiu-se na próxima primavera. [15]

O apoio de Beneš a União Soviética chegou ao ponto de, durante sua visita aos Estados Unidos em 1943, argumentar que a União Soviética jamais seria uma ameaça quer para a Checoslováquia ou para a Polônia. [2] Beneš provavelmente viu uma ameaça de perda de identidade da Checoslováquia e do povo checoslovaco em tal federação como mais provável do que uma ameaça de conflito ou de tomada de poder pela União Soviética, a qual percebia como um aliado benevolente. [2][7][12][15] No final, o projeto de federação polonesa (por Sikorski) foi infrutífero; em vez disso, a vitória de curto prazo em relação ao cenário geopolítico na Europa Central e Oriental foi para Beneš, e, a longo prazo para seus aliados soviéticos. [12] A Checoslováquia recuperaria a maior parte do disputado território de Zaolzie, mas em 1948, tanto os checoslovacos como os poloneses teriam apenas uma independência nominal, uma vez que cairiam para o controle dos comunistas e tornariam-se parte do bloco oriental na esfera de influência soviética. Beneš morreu em 1948, logo após um golpe de Estado comunista que o obrigou a se retirar da política.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

a ^ Como os detalhes da união planejada nunca foram concluídos, não está claro se seria uma federação ou uma confederação. As fontes usam tanto o termo "federação polaco-checoslovaca" como o termo "confederação polaco-checoslovaca".

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Jonathan Levy (6 de junho de 2007). The Intermarium: Wilson, Madison, & East Central European Federalism. [S.l.]: Universal-Publishers. p. 199. ISBN 978-1-58112-369-2 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p (Polonês) Alicja Sęk, EDVARD BENEŠ KONTRA GEN. WŁADYSŁAW SIKORSKI, Zaolzie-Polski Biuletyn Informacyjny, nr 6/2005 (18)
  3. a b Roy Francis Leslie; R. F. Leslie (1983). The History of Poland since 1863. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 231. ISBN 978-0-521-27501-9 
  4. Anita Prażmowska (1995). Britain and Poland, 1939–1943: the betrayed ally. [S.l.]: Cambridge University Press. pp. 67–68. ISBN 978-0-521-48385-8 
  5. a b c Jonathan Levy (6 de junho de 2007). The Intermarium: Wilson, Madison, & East Central European Federalism. [S.l.]: Universal-Publishers. p. 200. ISBN 978-1-58112-369-2 
  6. a b c A. T. Lane; Elżbieta Stadtmüller (2005). Europe on the move: the impact of Eastern enlargement on the European Union. [S.l.]: LIT Verlag Münster. p. 190. ISBN 978-3-8258-8947-0 
  7. a b c Andrea Orzoff. Battle for the Castle. [S.l.]: Oxford University Press US. p. 199. ISBN 978-0-19-974568-5 
  8. a b c Anita Prażmowska (1995). Britain and Poland, 1939–1943: the betrayed ally. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 142. ISBN 978-0-521-48385-8 
  9. a b Piotr Stefan Wandycz (1980). The United States and Poland. [S.l.]: Harvard University Press. pp. 245–246. ISBN 978-0-674-92685-1 
  10. a b c d Jonathan Levy (6 de junho de 2007). The Intermarium: Wilson, Madison, & East Central European Federalism. [S.l.]: Universal-Publishers. p. 201. ISBN 978-1-58112-369-2 
  11. Ludger Kühnhardt (2009). Crises in European integration: challenge and response, 1945–2005. [S.l.]: Berghahn Books. p. 23. ISBN 978-1-84545-441-8 
  12. a b c d e Walter Lipgens (1985). Documents on the history of European integration: Plans for European union in Great Britain and in exile, 1939–1945 (including 107 documents in their original languages on 3 microfiches). [S.l.]: Walter de Gruyter. p. 648. ISBN 978-3-11-009724-5 
  13. a b c d Klaus Larres (2002). Churchill's Cold War: the politics of personal diplomacy. [S.l.]: Yale University Press. pp. 64–65. ISBN 978-0-300-09438-1 
  14. Roy Francis Leslie; R. F. Leslie (1983). The History of Poland since 1863. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 242. ISBN 978-0-521-27501-9 
  15. a b c d Jonathan Levy (6 de junho de 2007). The Intermarium: Wilson, Madison, & East Central European Federalism. [S.l.]: Universal-Publishers. p. 202. ISBN 978-1-58112-369-2 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]