Ergonomia

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Demonstrações práticas de princípios ergonômicos

Ergonomia (comumente chamados de fatores humanos) é a aplicação de princípios psicológicos e fisiológicos à engenharia e design de produtos, processos e sistemas. Quatro objetivos principais do aprendizado de fatores humanos são reduzir o erro humano, aumentar a produtividade e aumentar a segurança, a disponibilidade do sistema e o conforto com foco específico na interação entre o sistema humano e o de engenharia.[1]

O campo é uma combinação de várias disciplinas, como psicologia, sociologia, engenharia, biomecânica, design industrial, fisiologia, antropometria, design de interação, design visual, experiência do usuário e design de interface de usuário. A pesquisa de fatores humanos emprega métodos e abordagens dessas e de outras disciplinas de conhecimento para estudar o comportamento humano e gerar dados relevantes para os quatro objetivos principais acima. Ao estudar e compartilhar o aprendizado sobre o design de equipamentos, dispositivos e processos que se adaptam ao corpo humano e seus processos cognitivos, habilidades, os dois termos "fatores humanos" e "ergonomia" são essencialmente sinônimos de seu referente e significado na literatura atual.[2][3][4]

A Associação Internacional de Ergonomia define ergonomia ou fatores humanos da seguinte forma:[5]

Ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica preocupada com a compreensão das interações entre humanos e outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica teoria, princípios, dados e métodos para projetar para otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral do sistema.

Os fatores humanos são empregados para cumprir as metas de saúde e segurança ocupacional e produtividade. É relevante no design de coisas como móveis seguros e interfaces fáceis de usar para máquinas e equipamentos. O design ergonômico adequado é necessário para evitar lesões por esforços repetitivos e outros distúrbios musculoesqueléticos, que podem se desenvolver com o tempo e levar a incapacidades de longo prazo. Fatores humanos e ergonomia estão preocupados com o "encaixe" entre o usuário, equipamento e ambiente ou "encaixar um trabalho para uma pessoa"[6] ou "encaixar a tarefa para o homem".[7] Leva em conta as capacidades e limitações do usuário na busca de garantir que as tarefas, funções, informações e o ambiente sejam adequados a esse usuário.

Para avaliar o ajuste entre uma pessoa e a tecnologia utilizada, especialistas em fatores humanos ou ergonomistas consideram o trabalho (atividade) que está sendo feito e as demandas do usuário; o equipamento usado (seu tamanho, forma e quão apropriado é para a tarefa) e as informações usadas (como são apresentadas, acessadas e alteradas). A ergonomia baseia-se em muitas disciplinas em seu estudo dos seres humanos e seus ambientes, incluindo antropometria, biomecânica, engenharia mecânica, engenharia industrial, design industrial, design da informação, cinesiologia, fisiologia, psicologia cognitiva, psicologia industrial e organizacional e psicologia espacial.

Aplicações[editar | editar código-fonte]

Os mais de vinte subgrupos técnicos da Sociedade de Fatores Humanos e Ergonomia (Human Factors and Ergonomics Society - HFES) [8] indicam a ampla faixa de aplicações desta ciência. A engenharia de fatores humanos continua a ser aplicada na aeronáutica, envelhecimento, transporte, ambiente nuclear, cuidados de saúde, tecnologia da informação, projeto de produtos (design industrial), ambientes virtuais e outros. Kim Vicente, professor de ergonomia da Universidade de Toronto, afirma que o acidente nuclear de Chernobil pode ser atribuído ao fato de os projetistas da instalação não prestarem suficiente atenção aos fatores humanos. "Os operadores eram treinados, mas a complexidade do reator e dos painéis de controle ultrapassavam sua habilidade de perceber o que eles estavam vendo, durando o prelúdio do desastre".[9]

Assuntos de ergonomia também aparecem em sistemas simples e em produtos de consumo. Alguns exemplos incluem telefones celulares e outros dispositivos computacionais manuais que continuam diminuindo de tamanho e se tornando cada vez mais complexos. No tempo em que gravadores de vídeo-cassetes eram amplamente usados, "milhares de gravadores de vídeo-cassetes continuavam piscando '12:00' em todo o mundo, porque poucas pessoas conseguiam descobrir como programá-los"[10] ou "relógios despertadores que permitem usuários sonolentos inadvertidamente desligar o alarme quando pretendiam somente silenciá-lo momentaneamente".[10] Um projeto centrado no usuário, também conhecido como abordagem de sistemas, ou ciclo de vida da engenharia de usabilidade[10][11] ajuda a melhorar o ajuste entre usuário e sistema.

Ergonomia e usabilidade de interfaces humano-computador[editar | editar código-fonte]

Teclado ergonômico

A ergonomia é a qualidade da adaptação de um dispositivo a seu operador e à tarefa que ele realiza. A usabilidade se revela quando os usuários empregam o sistema para alcançar seus objetivos em um determinado contexto de operação.[10] Pode-se dizer que a ergonomia está na origem da usabilidade, pois quanto mais adaptado for o sistema interativo, maiores serão os níveis de eficácia, eficiência e satisfação alcançado pelo usuário durante o uso do sistema. De fato, a norma ISO 9241, em sua parte 11, define usabilidade a partir destas três medidas de base:

  • Eficácia: a capacidade que os sistemas conferem a diferentes tipos de usuários para alcançar seus objetivos em número e com a qualidade necessária.
  • Eficiência: a quantidade de recursos (por exemplo, tempo, esforço físico e cognitivo) que os sistemas solicitam aos usuários para a obtenção de seus objetivos com o sistema.
  • Satisfação: a emoção que os sistemas proporcionam aos usuários em face dos resultados obtidos e dos recursos necessários para alcançar tais objetivos.

Por outro lado, um problema de ergonomia é identificado quando um aspecto da interface está em desacordo com as características dos usuários e da maneira pela qual ele realiza sua tarefa.

Já um problema de usabilidade é observado em determinadas circunstâncias, quando uma característica do sistema interativo (problema de ergonomia) ocasiona a perda de tempo, compromete a qualidade da tarefa ou mesmo inviabiliza sua realização. Como consequência, ele estará aborrecendo, constrangendo ou até traumatizando a pessoa que utiliza o sistema interativo.

Ergonomia e sistema da qualidade[editar | editar código-fonte]

Mousepad com apoiador se punho.

A ergonomia aplica-se ao desenvolvimento de ferramentas de ações sistematizadas em virtude uma política da qualidade e a critérios de averiguação de sua aplicação, como na assimilação da cultura do bem fazer por bem estar e compreender, nas chamadas auditorias ou análises de qualificação e mapeamentos de processos, e atinge a segmentos diversos quando margeia a confiança aos métodos de interpretação e a introdução de novos aplicativos, artefatos e até de gerenciamento de pessoas inerentes ou inseridas a um grupo. Os sistemas de qualidade em disseminação, quando de sua possibilidade em humanizar os processos volta-se a racionalizar o homem ao sistema e a interface da pessoa com o método.

Análise de acidentes[editar | editar código-fonte]

A ergonomia tem importância especial na análise de acidentes, tendo sido utilizada no processo de investigação das causas do acidente da Usina Nuclear em Three Mile Island na Pensilvânia, Estados Unidos, conforme apresentado no relatório "Report of the President´s Commission on the accident at Three Mile Island", publicado em 1979.[12]

No Brasil[editar | editar código-fonte]

No Brasil, as condições ergonômicas de trabalho são regulamentadas pela Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e Previdência Social, que também dispõe sobre a utilização de materiais e mobiliário ergonomia, condições ambientais, jornada de trabalho, pausas, folgas e normas de produção.[13]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Wickens; Gordon; Liu (1997), An Introduction to Human Factors Engineering (PDF), cópia arquivada (PDF) em 19 de junho de 2018 
  2. ISO 6385 defines "ergonomics" and the "study of human factors" similarly, as the "scientific discipline concerned with the understanding of interactions among humans and other elements of a system, and the profession that applies theory, principles and methods to design to optimize overall human performance."
  3. «What is ergonomics?». Institute of Ergonomics and Human Factors. Essentially yes, they are different terms with the same meaning but one term may be more in favour in one country or in one industry than another. They can be used interchangeably. 
  4. «CRIOP» (PDF). SINTEF. Ergonomics is a scientific discipline that applies systematic methods and knowledge about people to evaluate and approve the interaction between individuals, technology and organisation. The aim is to create a working environment and the tools in them for maximum work efficiency and maximum worker health and safety ... Human factors is a scientific discipline that applies systematic methods and knowledge about people to evaluate and improve the interaction between individuals, technology and organisations. The aim is to create a working environment (that to the largest extent possible) contributes to achieving healthy, effective and safe operations. 
  5. International Ergonomics Association. Human Factors/Ergonomics (HF/E). Website. Retrieved 7 June 2020.
  6. «Safety and Health Topics | Ergonomics | Occupational Safety and Health Administration». www.osha.gov. Consultado em 28 de março de 2019 
  7. Grandjean, E. (1980) Fitting the Task to the Man: An Ergonomic Approach. Taylor & Francis; 3rd Edition.
  8. Human Factors Ergonomics Society. «Human Factors Ergonomics Society» (em inglês). HFES. Consultado em 14 de junho de 2010. Arquivado do original em 10 de maio de 2010 
  9. Vicente, Kim (2005). Homens e Máquinas. como a tecnologia pode revolucionar a vida cotidiana 1 ed. Rio de janeiro: Ediouro. ISBN 85-00-01689-2 
  10. a b c d Nielsen, Jakob (1993). Usability Engineering 1 ed. Boston: Academic Press. ISBN 0-12-518405-0 
  11. Cybis, Walter; Betiol, Adriana Holtz; Faut, Richard (2007). Ergonomia e Usabilidade 1 ed. São Paulo: Novatec. 352 páginas. ISBN 978-85-7522-138-9 
  12. «Report of the President´s Commission on the accident at Three Mile Island» (PDF). Consultado em 2 de junho de 2014. Arquivado do original (PDF) em 9 de abril de 2011 
  13. «NR 17 – Ergonomia» (PDF). Brasília, DF, BR: Ministério do Trabalho e do Emprego. 21 de junho de 2007 [1978] 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • APARÍCIO, P.; POMBEIRO, A.; REBELO, F.; SANTOS, R. (2005),Relationship between palm grip strength in different positions and associated discomfort level, 4th International Cyberspace Conference on Ergonomics, IEA, Johannesburg, South Africa.
  • COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia aplicada ao trabalho. Belo Horizonte: Ergo, 1995.
  • CYBIS, W.A, BETIOL, A.H. & FAUST, R, Ergonomia e Usabilidade – Conhecimentos, Métodos e Aplicações . Novatec Editora. ISBN 978-85-7522-138-9.
  • DEJOURS, Cristophe. O fator humano. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1997.
  • DUL, J., WEEDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo : Edgard Blücher, 1995.
  • FERREIRA, P (2007) Human reliability: Analysis of procedure violations on traffic control of a light railway network in De Waard, D; Hockey, G.R.J; Brookhuids, K.A. Human Factors in complex systems performance (pp 145 – 156). Shaker Publishing - Maastricht, the Netherlands.
  • GRANDJEAN, Etienne. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 2. ed. Porto Alegre : Bookman, 1998.
  • IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo : Edgard Blücher, 2005.
  • ISO (1997). ISO 9241-11: Ergonomic requirements for office work with visual display terminals (VDTs). Part 11 — Guidelines for specifying and measuring usability. Gènève: International Organization for Standardization.
  • MONTMOLLIN, Maurice de. A ergonomia. Lisboa : Piaget, 1990.
  • MORAES, Anamaria; MONT’ALVÃO, Cláudia. Ergonomia: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro : 2AB, 1998.
  • SIMõES, A.; CARVALHAIS, J.; FERREIRA, P.; CORREIA, J.; LOURENçO, M. (2007) Research on Fatigue and Mental Workload of Railway Drivers and Traffic Controllers in Wilson, J.R; Norris, B; Clarke, T; Mills, A. People and Rail Systems (pp 553 – 563). Ashgate – Aldershot, UK.
  • VIDAL, M.C.R. Ergonomia na Empresa: útil, prática e aplicada. 2a. ed., Rio de Janeiro, Editora Virtual Cientifica, 2002.
  • ZAMPROTTA, Luigi; La qualité comme philosophie de la production.Interaction avec l'ergonomie et perspectives futures, thèse de Maîtrise ès Sciences Appliquées - Informatique, Institut d'Etudes Supérieures L'Avenir, Bruxelles, année universitaire 1992-93, TIU [1] Press, Independence, Missouri (USA), 1994, ISBN 0-89697-452-9

Ligações externas[editar | editar código-fonte]