Giordano Bruno

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 Nota: Se procura filme italiano de 1973, com Gian Maria Volontè, veja Giordano Bruno (filme).
Giordano Bruno
Giordano Bruno
Nascimento 1548
Nola [1]
Morte 17 de fevereiro de 1600 (52 anos)
Roma
Principais interesses Filosofia e Cosmologia

Giordano Bruno (Nola, Reino de Nápoles, 1548[2]Roma, Campo de Fiori, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano [carece de fontes?] condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício) com a acusação de heresia[1] ao defender erros teológicos. É também referido como Bruno de Nola ou Nolano.[3]

Notas biográficas

Origem e formação

Filho do militar Giovanni Bruno e Fraulissa Savolino,[4]seu nome de batismo era Filippo Bruno.[2] Adotou o nome de Giordano quando ingressou na Ordem Dominicana, aos 15 anos de idade.[2]

No seminário, estudou Aristóteles e Tomás de Aquino, predominantes na doutrina Católica da época, doutorando-se em Teologia.

Suas ideias avançadas, porém, suscitaram suspeitas por parte da hierarquia da Igreja. Em 1576 foi acusado de heresia e levado a Roma para ser julgado. Poucos meses depois, abandonou o hábito[2] e em 1579 deixou a Itália.[5]

Iniciou-se, então, o período de peregrinação de sua vida. Em Gênova, ainda em 1579, aparentemente, adotou o Calvinismo, o que negaria mais tarde, ao ser julgado em Veneza.[2] Acabou sendo excomungado pelos calvinistas e expulso de Gênova.[2] Viajou sucessivamente para França (Toulouse, Paris[2]), Suíça e Inglaterra.[5]Em Londres, onde permaneceu de 1583 a 1585, esteve sob a proteção do embaixador francês, e frequentou o círculo de amigos do poeta inglês Sir Philip Sidney. Em 1585, Bruno retornou a Paris, indo em seguida para Marburgo, Wittenberg, Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde conseguiu publicar vários de seus escritos.

Prisão, julgamento e execução

O Julgamento de Giordano Bruno pela Inquisição Romana. Relevo em bronze por Ettore Ferrari, Campo de' Fiori, Roma.

Em Roma, o julgamento de Bruno durou oito anos, durante os quais ele foi preso, por último, na Torre de Nona. Alguns documentos importantes sobre o julgamento estão perdidos, mas outros foram preservados e entre eles um resumo do processo, que foi redescoberto em 1999.[6] As numerosas acusações contra Bruno, com base em alguns de seus livros, bem como em relatos de testemunhas, incluíam blasfêmia, conduta imoral e heresia em matéria de teologia dogmática e envolvia algumas das doutrinas básicas da sua filosofia e cosmologia. Luigi Firpo lista estas acusações feitas contra Bruno pela Inquisição Romana:[7]

  • sustentar opiniões contrárias à fé católica e contestar seus ministros;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre Jesus como Cristo;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica sobre a virgindade de Maria, mãe de Jesus;
  • sustentar opiniões contrárias à fé católica tanto sobre a Transubstanciação quanto a Missa;
  • reivindicar a existência de uma pluralidade de mundos e suas eternidades;
  • acreditar em metempsicose e na transmigração da alma humana em brutos, e;
  • envolvimento com magia e adivinhação.

Giovanni Mocenigo (1558-1623), membro de um das mais ilustres famílias venezianas, encontrou Bruno em Frankfurt em 1590 e convidou-o para ir a Veneza, a pretexto de lhe ensinar mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, em que Bruno era perito. Segundo Will Durant [8] Bruno estava havia muitos anos na lista dos procurados pela Inquisição, ansiosa por prendê-lo por suas doutrinas subversivas, mas Veneza gozava da fama de proteger tais foragidos, e o filósofo sentiu-se encorajado a cruzar os Alpes e regressar. Como Mocenigo quisesse usar as artes da memória com fins comerciais, segundo alguns, ou esperasse obter de Bruno ensinamentos de ocultismo para aumentar seu poder, prejudicar seus concorrentes e inimigos, segundo outros, Bruno se negou a ensiná-lo.[9] Segundo Durant, Mocenigo, católico piedoso, assustava-se com "as heresias que o loquaz e incauto filósofo lhe expunha", e perguntou a seu confessor se devia denunciar Bruno à Inquisição. O sacerdote recomendou-lhe esperar e reunir provas, no que Mocenigo assentiu; mas quando Bruno anunciou seu desejo de regressar a Frankfurt, o nobre denunciou-o ao Santo Ofício. Mocenigo trancou-o num quarto e chamou os agentes da Inquisição para levarem-no preso, acusado de heresia. Bruno foi transferido para o cárcere do Santo Ofício de San Domenico de Castello, no dia 23 de maio de 1592.[10]

No último interrogatório pela Inquisição do Santo Ofício, não abjurou e, no dia 8 de fevereiro de 1600, foi condenado à morte na fogueira. Obrigado a ouvir a sentença ajoelhado, Giordano Bruno teria respondido com um desafio: Maiori forsan cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam ("Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la").[11]

A execução de sua sentença ocorreu no dia 17 de fevereiro de 1600. Na ocasião teve a voz calada por um objeto de madeira posto em sua boca.[12]

Ideário

Foi trágico o desfecho do processo contra Giordano Bruno (séc. XVI ), acusado de panteísmo e queimado vivo por defender com exaltação poética a doutrina da infinitude do Universo e por concebê-lo não como um sistema rígido de seres, articulados em uma ordem dada desde a eternidade, mas como um conjunto que se transforma continuamente.[13]

Um dos pontos chaves de sua cosmologia é a tese do universo infinito e povoado por uma infinidade de estrelas, como o Sol, e por outros planetas, nos quais, assim como na Terra, existiria vida inteligente.[13] Sua perspectiva se define a partir das idéias do cardeal Nicolau da Cusa, do padre Copérnico e de Giovanni Battista della Porta.

As suas ideias sobre a relatividade anteciparam as de Galileu[14][15]: num universo infinito, qualquer perspectiva de qualquer objeto é sempre relativa à posição do observador, há infinitos referenciais possíveis e não existe nenhum privilegiado em relação aos demais.[16] Além de defender a existência de planetas extrassolares,[16].

Seu livro Spaccio de la Bestia Trionfante era um ataque à religião e mostrava o panteísmo do seu autor.[1]

Segundo John Gribbin, em seu livro Science: A History (1543-2001), Bruno filiou-se ao hermetismo, baseado em escrituras egípcias, da época de Moisés. Entre outras referências, esse movimento utilizava os ensinamentos atribuídos ao deus egípcio Thoth, cujo equivalente grego era Hermes (daí hermetismo), conhecido pelos seguidores como Hermes Trismegisto. Bruno teria abraçado a teoria do padre Copérnico porque ela se encaixava bem na ideia egípcia de um universo centrado no sol.

Deus seria a força criadora perfeita que forma o mundo e que seria imanente a ele. Bruno defendia a crença nos poderes humanos extraordinários, a crença de que todas as coisas tinham alma, criou a Geometria Sagrada e enfrentou abertamente a Igreja Católica,[3] a Igreja Luterana, Calvinista, sendo excomungado de todas elas e expulso de Oxford na Inglaterra por plagiar o trabalho de seu colega de sala.Erro de citação: Parâmetro inválido na etiqueta <ref>

"Nós declaramos esse espaço infinito, dado que não há qualquer razão, conveniência, possibilidade, sentido ou natureza que lhe trace um limite." (Giordano Bruno, Acerca do Infinito, o Universo e os Mundos, 1584), com base nas ideias do cardeal Nicolau de Cusa.

Bruno era hilozoísta (pensava que tudo tem vida) e panpsiquista (pensava que tudo tem uma natureza psíquica, uma alma).

"A Terra e os astros (...), como eles dispensam vida e alimento às coisas, restituindo toda matéria que emprestam, são eles próprios dotados de vida, em uma medida bem maior ainda; e sendo vivos, é de maneira voluntária, ordenada e natural, segundo um princípio intrínseco, que eles se movem em direção às coisas e aos espaços que lhes convêm" (A ceia de cinzas).
"Todas as formas de coisas naturais têm almas? Todas as coisas são animadas? pergunta Dicson.[17] Theophilo, porta-voz de Bruno, responde: Sim, uma coisa, por minúscula que seja, encerra em si uma parte de substância espiritual, a qual, se encontra o sujeito [suporte] adequado, torna-se planta, animal (...); porque o espírito se encontra em todas as coisas, e não há mínimo corpúsculo que não o contenha em certa medida e que não seja por ele animado." (Causa, Princípio e Unidade, 1584).
"E o que se pode dizer de cada parcela do grande Todo, átomo, mônada, pode se dizer do universo como totalidade. O mundo abriga em seu coração a Alma do mundo" (idem).
"O mundo é infinito porque Deus é infinito. Como acreditar que Deus , ser infinito, possa ter se limitado a si mesmo criando um mundo fechado e limitado?" (idem)
"Não é fora de nós que devemos procurar a divindade, pois que ela está do nosso lado, ou melhor, em nosso foro interior, mais intimamente em nós do que estamos em nós mesmos." (A ceia de cinzas).

Obras

  • De umbris idearum, 1582
  • Cantus Circaeus, 1582
  • De compendiosa architectura, 1582
  • Il Candelaio, 1582
  • Ars reminiscendi, 1583
  • Explicatio triginta sigillorum, 1583
  • Sigillus sigillorum, 1583
  • Le ombre delle idee, 1582
  • La cena de le ceneri, 1583
  • De l’infinito universo e mondi, 1584
  • De la causa, principio e uno, 1584
  • Spaccio de la Bestia Trionfante, 1584 [1][Nota 1]
  • Cabala del Cavallo Pegaseo, 1585
  • Gli eroici furori, 1585
  • Figuratio Aristotelici Physici auditus, 1585
  • Dialogi duo de Fabricii Mordentis Salernitani, 1586
  • Idiota triumphans, 1586
  • De somni interpretatione, 1586
  • Animadversiones circa lampadem lullianam, 1586
  • Lampas triginta statuarum, 1586
  • Centum et viginti articuli de natura et mundo adversus peripateticos, 1586
  • De lampade combinatoria Lulliana, 1587
  • De progressu et lampade venatoria logicorum, 1587
  • Oratio valedictoria, 1588
  • Camoeracensis Acrotismus, 1588
  • De specierum scrutinio, 1588
  • Articuli centum et sexaginta adversus huius tempestatis mathematicos atque Philosophos, 1588
  • Oratio consolatoria, 1589
  • De magia, 1591
  • De vinculis in genere, 1591
  • De triplici minimo et mensura, 1591
  • De monade numero et figura, 1591
  • De innumerabilibus, immenso, et infigurabili, 1591
  • De imaginum, signorum et idearum compositione, 1591
  • Summa terminorum metaphisicorum, 1595
  • Artificium perorandi, 1612

Notas e referências

Notas

  1. A data de 1584, segundo o jornal inglês Spectator (não confundir com a revista The Spectator, publicada mais de cem anos depois), corresponde à data em que o livro foi impresso em Londres.

Referências

  1. a b c d Spectator, edição de 27 de maio de 1712, p.331 [em linha]
  2. a b c d e f g Enciclopédia Católica, Giordano Bruno
  3. a b Bombassaro, Luiz Carlos. Giordano Bruno e a filosofia na Renascença, Caxias do Sul: Educs, 2008 Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "2008Bombassaro" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  4. McIntyre, J. Lewis. Giordano Bruno
  5. a b Ingegno, Alfonso (2004). Introduction. In de Lucca, Robert e Blackwell, Richard J. (org.) Giordano Bruno: "Cause, Principle and Unity" and Essays on Magic, pp. vii-xxix. Cambridge Texts on History of Phylosophy. Cambridge: Cambridge Press. ISBN 0-521-59359-X.
  6. "II Sommario del Processo di Giordano Bruno, con appendice di Documenti sull'eresia e l'inquisizione a Modena nel secolo XVI", edited by Angelo Mercati, in Studi e Testi, vol. 101.(em italiano)
  7. Luigi Firpo, Il processo di Giordano Bruno, 1993. (em italiano)
  8. DURANT, Will e Ariel. A História da Civilização. Começa a Idade da Razão. Trad. Mamede de Souza Freitas. 2ª edição, v. 7, Editora Record.
  9. Giordano Bruno: His Life and Thought. Chapter seven. "Martyrdom (1591-1600)" a. Padua and Venice (1591-92).
  10. ROWLAND, Ingrid D. Giordano Bruno: Philosopher / Heretic. University of Chicago Press, 2008.
  11. Singer, Dorothea Waley, Giordano Bruno, His Life and Thought, New York, 1950, ch. 7. O texto menciona um relato feito em carta por Caspar Schoppe, convertido ao Catolicismo e protegido do Papa Clemente VIII. É considerado certo que o autor do relato esteve presente ao julgamento de Giordano Bruno.
  12. "II Sommario del Processo di Giordano Bruno, con appendice di Documenti sull'eresia e l'inquisizione a Modena nel secolo XVI", edited by Angelo Mercati, in Studi e Testi, vol. 101; o objeto de madeira posto na boca de Giordano Bruno é descrito como una morsa di legno.
  13. a b [ fonte :Livro: Filosofando de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins.] Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "hjbirx" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  14. MOURÃO, Ronaldo Rogerio de Freitas Explicando a Teoria da Relatividade
  15. Princípio da relatividade de Galileu
  16. a b Bruno, Giordano. Dell'Infinito
  17. Alexander Dicson, um inglês, aluno de mnemônica e amigo de Bruno. Ver Giordano Bruno: His Life and Thought. Chapter Two. "Bruno in England (1583-85).

Obras disponíveis na Internet

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Bibliografia

Em língua portuguesa
  • Bruno, Giordano. Sobre o infinito, o universo e os mundos. São Paulo: Abril Cultural, 1992.
  • Bruno, Giordano. Acerca do infinito, do universo e dos mundos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.
  • Bruno, Giordano. Castiçal, Caxias do Sul: Educs, 2010.
  • Bruno, Giordano. A ceia de Cinzas, Caxias do Sul: Educs, 2012.
  • Bombassaro, Luiz Carlos. Giordano Bruno e a filosofia na Renascença, Caxias do Sul: Educs, 2008.
  • Ordine. Nuccio. O umbral da sombra. São Paulo: Perspectiva, 2006.
  • Reale, G. & Antiseri, D. - História da Filosofia, Volume II, Ed.Paulus, São Paulo, 1990.
  • Yates, F. A. - Giordano Bruno e a Tradição Hermética, Ed. Cultrix, São Paulo, 1988.
  • Bossy, John, Giordano Bruno e o Mistério da embaixada, Ediouro, 1993, 272p.
  • West, Morris L., O Herege, Record, 1969, 195p.
E, outros idiomas

Filmografia

Ligações externas